ALIMEN T AN D O O B R A SILEIRO

Rio Grande do Sul

Quem disse que Alegrete não produz leite?
IMG 20201117 WA0011

Com auxílio do Senar-RS, município da fronteira se torna um promissor player da bacia leiteira gaúcha

14 de julho 2021

Por: Tatiana Py Dutra

Fonte: Padrinho/ASCOM Senar-RS

O Rio Grande do Sul produz 4,5 bilhões de litros por ano. O município de Alegrete colabora com cerca de 14,4 milhões de litros por ano - 1,2 milhão por mês. Os números podem parecer modestos, mas só para quem não conheceu a jornada que, em 20 anos, transformou a cidade - conhecida pelo fornecimento de carne, arroz e soja - num promissor pólo de produção leiteira.

Essa transformação teve a participação do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS) que, em 2000, passou a realizar dias de campo e cursos de capacitação para um pequeno grupo de produtores que insistiam em produzir leite. É o caso de Alberto Ramos Niemeyer e Dirce Sueli Silveira Antunes. No começo do século 21, eles migraram da produção de gado de corte para gado leiteiro para poder pagar a faculdade do filho mais velho.

“A gente precisava formar o filho. Então vendia um lote de gado de corte e pagava a faculdade. No outro mês, tinha a mensalidade também, mas não tinha o corte para vender. Daí a gente passou para o leite, a única atividade rural que dá dinheiro todo o mês”, lembra Dirce.

“Quando eu comecei no leite, me chamaram de louco. Diziam que a gente ia deixar de ser fazendeiro para ser ‘leiteiro’. O pessoal tinha vergonha”, completa Alberto.

O casal recorda que entre 2000 e 2005, o caminhãozinho de uma empresa de leite viajava 135 quilômetros de Uruguaiana a Alegrete e, após rodar mais 100 quilômetros dentro da cidade, não recolhia mais do que 6 mil litros de leite por dia. A produtividade começou a acontecer quando os produtores começaram a aprender e a colocar em prática o que aprendiam nos cursos do Senar-RS.

“Lá por 2000, fui convidado por um técnico da Emater para falar para alguns produtores de leite sobre o que o Senar tinha para oferecer na pecuária leiteira. Eram os mais variados cursos na área do leite, e eles foram fazendo.Esse grupo foi se especializando, e com o tempo, cresceu, chegou a 100 produtores, entre pequenos, médios e grandes. Aí, começou-se a capacitar essa turma toda para a produção leiteira”, conta Hermenegildo de Freitas Uberti, coordenador regional do Senar-RS.

IMG 20201117 WA0010

Turbinando os tambos

Em 2007, com o lançamento do programa Desenvolvimento Regional Sustentável, do Banco do Brasil, que facilita crédito em projetos rurais, a maior parte do grupo pode financiar melhorias para as propriedades e a quantidade e a produtividade do leite atraíram outras duas indústrias para comprar o leite produzido em Alegrete.

Quatro anos depois, esse grupo de produtores-aprendizes deu origem a Associação de Criadores de Gado Leiteiro e Produtores de Leite de Alegrete (Acripeleite).

“Muita gente desistiu, mas aqueles que realmente acreditaram, que viram que assistência técnica, que conhecimento eram fundamentais para a atividade permaneceram e hoje são grandes produtores”, comenta Sueli Macedo, ex-presidente da Acripeleite.

Em 2017, o Senar-RS lançou o programa Leitec, uma capacitação em 11 módulos que abrangia diversas temáticas que envolviam a produção leiteira, como forrageiras, genética, sanidade etc. Em todo o Estado, foram criados 10 grupos para formação. Metade deles foi em Alegrete, tendo a participação de 50 produtores.

Juntos Para Competir

Para atender a necessidade de maior profissionalização dessas empresas rurais, em 2019, o programa Juntos Para Competir passou a atuar junto aos produtores. Formada por Farsul, Senar e Sebrae, a iniciativa visa organizar e desenvolver as principais cadeias produtivas do Estado, através da capacitação e de uma maior integração do setor, melhorando a qualidade dos produtos e agregando valor à produção agropecuária.

“É a primeira vez que o JPC tem um projeto de leite na região de Campanha e Fronteira. Sabia-se dessa demanda. O Senar sempre levantou essa questão e as potencialidades de Alegrete. Hoje, os 410 produtores participantes recebem consultorias gerenciais do Sebrae”, conta Cibele Bolzan Scherer, Analista de projetos no agronegócio do Sebrae.

Dentro do espectro do Juntos para Competir, este ano o Senar-RS começou a oferecer consultorias técnicas individuais (CTIs) voltadas à higiene e qualidade do leite.

“A falta de higiene afeta a produção de qualquer tambo. Isso é medido de duas formas: com a contagem de células somáticas (CCS) e contagem bacteriana total (CBT). Há um limite para a presença desses microrganismos no leite. Quanto mais baixa, mais vale o litro”, explica Hermenegildo.

Na CTI de higiene e qualidade do leite, um veterinário vai à propriedade, acompanha a ordenha e vai indicando erros e acertos. Como o modo de higienizar úberes, ordenhadeiras e resfriadores, por exemplo. Ele também fará uma análise da qualidade do produto, que depois servirá de termo de comparação com os boletins emitidos pela indústria a cada compra. Até o fim de 2021, deve ser oferecida a CTI de Manejo de Pastagens.

“Há áreas do Estado que, por falta de área de pasto, as vacas ficam praticamente em confinamento. Aqui, com um tambo em área maior, dá para usar mais pastagem e gastar menos com ração. Mas para ter sucesso nisso, o produtor tem de saber manejar, fazer uma escala de pastagens que dure o ano inteiro”, comenta Hermenegildo.

IMG 20201117 WA0008

Entusiasmo sempre

O casal Dirce e Alberto garantem que não vão perder nenhum curso de formação que venha a ser oferecido pelo Senar-RS.

“A gente foi fazendo curso e tomando gosto pela coisa, porque começou a ver resultado. Tudo o que um técnico diz e você coloca no papel e pratica, vai dar resultado. Pode não dar 100%, mas 80% dá. No momento em que tu faz a coisa certa e trabalha como empresa, aí a coisa rende. Nós só temos a agradecer por tudo o que a gente aprendeu”, diz Dirce.

Hermenegildo Uberti projeta um futuro em que a produção na Fronteira será uma referência na bacia leiteira gaúcha.

“Essa região tem muito a agregar. Aprimorando esse pessoal cada vez mais, quem sabe, um dia, faremos uma ‘região do leite do pampa’, criado a pasto, para um público mais exigente?”, imagina.

*Esse texto pode ser livremente reproduzido mediante crédito a Senar-RS/Padrinho Conteúdo

Matérias Relacionadas