CNA mostra que margem de lucro do produtor foi menor em 2023 e cenário deve se manter em 2024
Análise foi apresentada em coletiva de imprensa realizada na quarta (6)
Brasília (06/12/2023) – A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil apresentou o balanço do setor em 2023 e trouxe as perspectivas para 2024 durante entrevista coletiva do presidente da CNA, João Martins, e dos diretores Bruno Lucchi (Diretoria Técnica) e Sueme Mori (Relações Internacionais).
De acordo com os números e análises apresentados pela CNA, apesar da produção recorde de grãos de 322,8 milhões de toneladas na safra 2022/23, a margem de lucro do produtor rural brasileiro foi menor.
A margem bruta da soja, por exemplo, teve redução de 68% em comparação com a safra 2021/22, segundo dados do Projeto Campo Futuro (Sistema CNA e Cepea/Esalq/USP). Para o milho primeira e segunda safra o desafio foi maior, com queda expressiva na margem do produtor.
Na pecuária de leite o impacto também foi sentido. Com o movimento de retração de preços maior do que o de custos, a margem de lucro dos produtores foi 67,4% menor em outubro de 2023, em relação ao mesmo período de 2022, de acordo com o levantamento do Campo Futuro. Já na bovinocultura de corte, o sistema de ciclo completo foi o que sofreu maior impacto na margem bruta (-48,7%).
Os custos de produção elevados e a queda no preço das commodities comprometeram a receita dos produtores neste ano. Na pecuária de leite e de corte as margens dos produtores também estão menores e a perspectiva da entidade para o próximo ano é de que o cenário de margem reduzida do produtor permaneça.
As alterações na temperatura média e nos índices de chuvas provocadas pelo fenômeno El Niño demandará maior volume de recursos para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), que em 2024 deve ser de apenas R$ 1,06 bilhão.
De acordo com a CNA, seriam necessários R$ 3 bilhões para cobrir uma área de aproximadamente 14 milhões de hectares, assim como foi em 2021. Na avaliação da entidade, a falta de seguro rural não apenas afeta a situação econômica dos agricultores, mas traz impactos para toda a sociedade.
O cenário do setor agropecuário no próximo ano vai continuar sendo impactado por uma série de fatores, como: incertezas sobre o cumprimento da meta fiscal, aprovação da reforma tributária e o aumento da insegurança jurídica no campo (invasões de terra).
Na área internacional, a previsão é de recorde nas exportações do agronegócio brasileiro em 2023, mas em um ritmo de crescimento menor do que no ano anterior. Até outubro, foram exportados US$ 139,6 bilhões, crescimento de 3% em relação ao mesmo período de 2022. A expectativa é que o valor chegue a US$ 164 bilhões até o fim do ano, principalmente pela maior participação da China e da Argentina nas compras de soja.
PIB – Para o Produto Interno Bruto do agronegócio no próximo ano, a CNA espera resultado próximo à neutralidade ou queda de até 2% em relação à 2023. Esse resultado vai depender, sobretudo, da relação entre preços de produtos e custos de produção nos diferentes segmentos, da magnitude da retomada da agroindústria e dos efeitos do El Niño sobre a produtividade no Brasil.
VBP – O Valor Bruto da Produção deve alcançar R$ 1,217 trilhão em 2024, registrando uma redução de 2,1% em relação à 2023. No segmento agrícola, o VBP deve encolher 3,4% em razão das incertezas causadas pelo El Niño. Já na pecuária, é esperada uma melhora de 0,8% associada a uma reação dos preços da arroba do boi.
Produção agrícola – A estimativa para a safra de grãos 2023/24 é de 316,7 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O volume deverá ser revisado para baixo na próxima divulgação do órgão.
Produção pecuária – A produção nacional de leite em 2024 deve permanecer estável, em torno de 34,1 bilhões de litros. O resultado será influenciado pelas margens negativas da atividade no final deste ano e pelo menor poder de investimento dos produtores, atrelado às perspectivas de aumento nos custos e ao clima adverso.
Para a produção de carne bovina no próximo ano, a projeção é de um leve aumento de 0,2% em relação à 2023. Os preços da arroba do boi gordo no Brasil continuarão sob influência da alta taxa de abate e da demanda interna tímida, somadas à recuperação da produção chinesa de proteína animal.
Comércio exterior – O cenário para o ano de 2024 será desafiador, principalmente no âmbito geopolítico. Ao lado do atual presidente do Uruguai, que pressiona por um acordo comercial com a China, o recente presidente eleito da Argentina, Javier Milei, já sinalizou que gostaria de conduzir o país para fora do bloco, o que implicaria mudanças significativas nas relações comerciais do Brasil com esses parceiros.
Na avaliação da CNA, a agenda de acordos avançou pouco em 2023 e as expectativas para 2024 também são baixas. Caso não seja concluído até o final do ano, é provável que o acordo do Mercosul já negociado com a União Europeia continue travado devido às novas exigências ambientais realizadas pelo bloco europeu e consideradas inaceitáveis. Além disso, é possível que os acordos em negociação com a Coreia do Sul e o Canadá encontrem entraves no bloco sul-americano.
A Lei Antidesmatamento, promulgada em 2023, entrará em vigor ao fim de 2024, o que pode impactar as exportações brasileiras de produtos agropecuários para o bloco europeu. A União Europeia deve acelerar ainda mais os programas relacionados ao Green Deal, com medidas mais restritivas na produção agropecuária.
Balanço 2023 – O PIB do Agronegócio em 2023 deve registrar recuo de 0,94% em relação à 2022. Apesar da queda nos preços dos produtos, a produção dentro da porteira e na agroindústria pecuária apresentaram excelentes resultados. Já o Valor Bruto da Produção deve alcançar R$ 1,24 trilhão, redução de 2,2% ante 2022.
O ciclo de cortes na taxa básica de juros, iniciado em agosto, levará a taxa Selic a 11,75% ao final do ano, contribuindo para queda no custo de equalização do crédito rural e queda das taxas de juros com recursos livres. A maior produção de alimentos em 2023 ajudará o IPCA a ficar dentro da meta, fechando o período em 4,75%.