CNA faz balanço da semana no mercado interno e no comércio internacional
Brasília (25/04/2020) – A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) traz um balanço do que aconteceu no período de 20 a 24 de abril no mercado interno e no cenário internacional.
Na pauta interna, medidas para o leite, pescados e a prorrogação do prazo para o envio de informações do Valor da Terra Nua às prefeituras, esta uma solicitação da CNA atendida pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, além da ampliação do auxílio emergencial.
No comércio exterior, o boletim traz medidas tomadas por alguns países e seus possíveis impactos para o Brasil.
Medidas de apoio ao setor
O Ministério da Agricultura publicou a Instrução Normativa 29/2020, que permite o livre comércio de produtos de origem animal na área de atuação de consórcios públicos de municípios perante o cumprimento de requisitos pré-estabelecidos.
Já o Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ) publicou os convênios ICMS 32/20, que estende aos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina a autorização para conceder benefícios às saídas de leite pasteurizado, e ICMS 34/20, que inclui a tambatinga entre os pescados autorizados a ter concessão de isenção de ICMS.
Em atendimento a solicitação da CNA, a Receita Federal prorrogou, até o último dia útil do mês de junho de 2020, o prazo para que municípios e o Distrito Federal encaminhem as informações sobre valor da terra nua ao fisco - dado utilizado no cálculo do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR). A solicitação foi em decorrência da impossibilidade de participação dos sindicatos rurais nessas reuniões devido às medidas de isolamento social.
No Congresso Federal, a aprovação do Projeto de Lei 873/2020 é uma das medidas emergenciais que avançou na semana. Após atuação da CNA e demais instituições, o Senado Federal aprovou a proposta, que visa incluir os agricultores familiares, pescadores artesanais, extrativistas e arrendatários no rol das categorias que acessarão o auxílio emergencial de R$600,00. A proposta precisa ser sancionada pelo Presidente da República.
Flores, plantas ornamentais e borracha natural
O setor de flores, bem como de borracha natural, aguarda medidas mais robustas de apoio. Enquanto isso, busca medidas paliativas para o comércio dos produtos no dia das mães, como campanhas, vendas por delivery e comercialização via drive thru.
A data comemorativa é considerada a principal pelo setor juntamente como dia da mulher e dia dos namorados. No entanto, mesmo com as medidas, o setor estima uma redução exponencial na comercialização de flores na data.
Com poucos negócios, os preços pagos ao produtor da borracha natural seguem em baixa em decorrência da menor procura pelas usinas de beneficiamento.
Frutas e hortaliças
Com a demanda ainda baixa, os preços dos produtos frescos no atacado continuam pressionados. A pressão de baixa tem sido acentuada pelas variações de produção.
Alface, mamão, tomate e cenoura encontram-se entre os produtos que têm sofrido drasticamente com o efeito negativo dos preços nos últimos dias.
No caso da alface, o clima tem favorecido os ganhos de produção. As consequências negativas de preço estão afetando diretamente os produtores, que já cogitam a redução da área cultivada.
Para o tomate, a entrada da safra de inverno em Minas Gerais contribuiu para o recuo dos preços após o aumento verificado no fim da safra verão. Já para a cenoura e o mamão, a baixa demanda tem reforçado as baixas de preço mesmo com a oferta reduzida nas principais regiões produtores.
A batata e a cebola encontram-se entre os poucos hortifrútis que têm sustentado leves aumentos de preço em decorrência do fim da safra. No caso da cebola, a perspectiva de redução da produção na região de Irecê (BA) e a importação ainda tímida dos bulbos argentinos mantêm altas mais expressivas no atacado nacional.
Quanto a comercialização, a plataforma de comércio eletrônico de produtos lançada pela CNA aumentou o número de adeptos na última semana. A busca por meios alternativos de negociação tem ampliado entre produtores, compradores e agentes logísticos.
Commodities agrícolas
No setor sucroenergético, a queda do preço do petróleo tem mantido em baixa, por consequência, o preço do etanol. Na última terça-feira, a Petrobras reduziu mais uma vez o preço médio da gasolina em 8%, uma queda superior a 50% no acumulado do ano.
No caso do açúcar, a semana iniciou em baixa e encerra com uma leve recuperação em consequência da pequena reação do preço do petróleo ao longo da semana.
Com a aproximação do início da colheita do café arábica, produtores buscam máquinas e equipamentos para aumentar a eficiência da colheita e reduzir a necessidade de mão de obra. Agentes do setor relatam aumento de 30% na venda desses produtos. Com as leves altas do dólar ao longo da semana, o preço do café no mercado interno tem se sustentado.
Já para o milho, verificou-se a retomada dos negócios em função do preço, que passou por uma leve ampliação ao longo da semana, seguindo o comportamento da cotação do dólar. No caso da soja, a manutenção das compras da commodity brasileira pela China impediu queda mais acentuada das cotações. O mercado andou de lado, mas sinaliza uma tendência de alta para as próximas semanas.
Lácteos
As consecutivas quedas nos valores internacionais de leite em pó inibem as importações brasileiras, apontando para um cenário positivo ao produtor brasileiro que suprirá, por inteiro, a demanda nacional.
A queda nos preços dos principais produtos (leite UHT e leite em pó) e do leite spot no mercado interno causam preocupação em relação aos que serão praticados nos próximos meses. O preço pago em abril - referente ao leite produzido em março - está 9% mais baixo que no mesmo período do ano de 2019, cotado atualmente a R$ 1,43/ litro.
Boi gordo
O valor da @ permaneceu praticamente estável, com queda de 1% em relação à semana anterior devido a ajustes quanto ao contrato futuro. Houve redução dos preços nos cortes nobres e manutenção nos mais baratos, uma forma de ajustar os preços nas gôndolas e equilibrar o preço da @. A preocupação do produtor no momento está relacionada a questões futuras, principalmente com a disponibilidade efetiva de crédito de custeio.
Aves e Suínos
Os efeitos da crise têm resultado na redução do preço pago aos produtores. Novas negociações apontam queda de 8% no valor pago aos produtores independentes de suínos em relação à semana anterior, 30% em relação ao mesmo período de março e 5% em relação ao mesmo período de 2019.
No setor de aves, o preço do frango vivo no interior de São Paulo segue em queda de 10,8% em relação a março/20 e 19,4% a abril/19. Esse movimento está causando cancelamentos e diminuição de contratos com incubatórios para forçar uma queda de alojamento de pintos a partir de maio e de matrizes a partir de junho.
Ovos
Com a reposição completa dos estoques pós Semana Santa, os volumes negociados essa semana foram baixos, o que fez com que os preços caíssem para R$108,00 a caixa de 30 dúzias, uma queda de 2,7% em relação à semana anterior (R$ 111,00). Esse preço faz com que, mesmo com a menor cotação do milho, a manutenção das poedeiras antigas nos galpões não seja viável, o que pode impactar na produtividade nos próximos meses.
Aquicultura
As iniciativas para manutenção do comércio de peixe após o fechamento do segmento do food service como a adequação para venda no varejo e a criação de plataformas online, não são suficientes para atender a oferta. Houve queda de 20% no preço da tilápia cotada no CEAGESP essa semana, passando de R$ 9,50 para R$8,00/kg.
Enquanto isso, o setor de carcinicultura está cauteloso e anunciou redução da densidade dos viveiros enquanto o estoque nas indústrias não for comercializado.
COMÉRCIO INTERNACIONAL
MERCADOS SELECIONADOS
Estados Unidos
- A crise da Covid-19 tem servido de pano de fundo para o aumento das tensões diplomáticas entre Estados Unidos e China. Em entrevista à agência de notícias Bloomberg, o embaixador chinês em Washington, CuiTiankai, afirmou que será preciso “repensar as relações entre os dois países”. Foi uma resposta à acusação do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, de que Pequim havia destruído amostras de coronavírus para descaracterizar o início da pandemia;
- O procurador-geral do estado americano de Missouri formalizou denúncia contra a China na Justiça Federal dos Estados Unidos. Alega que Pequim escondeu informações sobre a Covid-19 quando o coronavírus ainda não havia ultrapassado as fronteiras do país. Pelo direito internacional público, a China é protegida pela imunidade de sua soberania;
- O secretário de Agricultura, Sonny Perdue, anunciou no dia 17 de abril o programa de assistência alimentar no âmbito do coronavírus. O programa do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) disponibilizará US$ 19 bilhões para ajudar os agricultores e pecuaristas a manter a integridade da cadeia de suprimentos alimentares.
União Europeia
- A União Europeia anunciou em 22 de abril mais 3 medidas emergenciais para os agricultores do bloco. Bruxelas vai intensificar as linhas de crédito para estocagem de produtos lácteos (leite em pó, queijo e manteiga) e de carnes (bovina, cabra e ovelhas). O Conselho europeu também aprovou a flexibilização das políticas de apoio à comercialização de vinhos, frutas, vegetais, óleo de oliva e apicultura;
- A terceira medida será a facilitação das regras sobre concorrência para os setores de leite, flores e batata. A ideia é retirar o excesso desses produtos do mercado e incentivar a formação de estoques privados. Os Estados-membros ainda precisam aprovar esse pacote. Mas a intenção do Conselho europeu é que as medidas estejam em vigência até o final de abril;
- Os líderes europeus também pretendem reduzir a dependência do bloco por importações de produtos essenciais. A informação consta no documento que o Conselho do bloco divulgou no dia 21 de abril chamado “O caminho para a recuperação – por uma Europa mais resiliente, sustentável e justa”. Tornar a economia mais sustentável e digitalizada é outro desafio para a Europa pós-pandemia. O documento também chama a atenção da importância da Política Agrícola Comum (PAC) para acelerar a recuperação da economia europeia.
Irã
- No primeiro trimestre de 2020, o comércio entre Brasil e Irã alcançou US$ 153 milhões, queda de 70% em comparação com o mesmo período do ano passado. As exportações brasileiras somaram US$ 126,7 milhões, redução de 75% em relação ao primeiro trimestre de 2019. O superávit comercial brasileiro passou de US$ 506 milhões para US$ 100,5 milhões, retração de 80%. Na comparação interanual, as vendas brasileiras caíram muito em março (-98%) e janeiro (-79%) e consideravelmente menos em fevereiro (-16%);
- Os principais produtos da pauta de exportação brasileira ao Irã registraram queda nos últimos três meses. As exportações de milho registraram queda de 70% em valor e volume. As vendas de soja em grão tiveram redução de 48% em valor e volume, e as de farelo de soja caíram 95% em valor e volume;
- As exportações de carne bovina congelada caíram 87% em valor e volume;
- As associações iranianas que reúnem os importadores dos principais produtos exportados pelo Brasil indicaram que a queda nas exportações se deve às dificuldades de obter divisas pelo Banco Central iraniano para as importações e a redução da demanda ocasionada pela pandemia do Covid-19;
- O Brasil não exportou açúcar para o Irã em 2020, enquanto havia vendido US$ 35 milhões no primeiro trimestre de 2019. Os importadores relataram que a principal dificuldade é a recente exclusão desse produto da taxa de câmbio subsidiada de 42 mil rials. Desta forma, a importação de açúcar deve ser feita por taxa de câmbio próxima à de mercado;
- Parte das exportações de milho brasileiro para o Irã tem sido feita em operações de comércio compensado, envolvendo a compra de ureia iraniana.
China
- Houve aumento das importações chinesas de produtos agrícolas norte-americanos no primeiro trimestre do ano. De acordo com os dados divulgados pela alfândega chinesa, as exportações de produtos agrícolas dos EUA para a China chegaram a US$ 5,04 bilhões, aumento de 110% em comparação com o primeiro trimestre de 2019;
- Segundo informações das mídias chinesas, o país estaria em condições de cumprir com os compromissos da “fase I” do acordo comercial assinado em 15 de janeiro, mas o avanço da pandemia poderá afetar as cadeias globais de suprimento e a capacidade de oferta do lado norte-americano;
- O aumento das importações de produtos agrícolas neste primeiro trimestre de 2020 pode ser atribuído ao choque de oferta interna de alimentos, ocasionado pelas medidas de combate a pandemia;
- De acordo com a Associação Brasileira de Exportadores de Cereais (ANEC), os embarques de maio e abril já estariam 100% contratados. Até o final do mês de abril, as exportações de soja do Brasil deverão atingir 18,5 milhões de toneladas, das quais 74% para a China;
- A ANEC e a Aprosoja/MT afirmaram que os embarques de soja do Brasil para a China estão ocorrendo normalmente e que as dificuldades logísticas pontuais verificadas no Mato Grosso, já teriam sido solucionadas;
- A China Oil and Foodstuffs Corporation (COFCO) também confirmou que não há registro de dificuldades nas importações de soja provenientes do Brasil;
- Apesar da retração de 6,8% na economia e da redução do superávit na balança comercial chinesa no primeiro trimestre de 2020, houve aumento nas importações de carnes. Segundo dados recém-divulgados pela Administração-Geral de Aduanas da China (GACC), entre janeiro e março o país importou 951 mil toneladas de carne suína (aumento de 170%) e 513 mil toneladas de carne bovina (aumento de 64,9%). As exportações brasileiras para o mercado chinês no período apresentaram crescimento significativo (124% no caso de bovinos, 269% no caso de suínos e 55,6% no caso de aves);
- Os efeitos da pandemia na oferta mundial de produtos cárneos ainda são de difícil quantificação. Como a cadeia de processamento animal é intensiva em mão de obra, medidas de distanciamento social e a imposição de quarentena obrigatória nos países produtores poderão ocasionar redução de oferta;
- O Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China (MARA) anunciou, nas últimas semanas, medidas para assegurar o plantio da próxima safra de grãos, bem como para ajustar a política nacional de cereais aos riscos associados à pandemia;
- Mesmo tendo o governo chinês adotado medidas específicas para assegurar o fornecimento interno de produtos agrícolas e apoiar os produtores durante a crise, os preços dos alimentos sofreram alta de cerca de 14,9 % desde o início da epidemia. As medidas adotadas incluem isenções fiscais, condições facilitadas para reempréstimo e renegociação de dívidas, apoio direto aos agricultores e adoção de procedimentos facilitados para a importação e transporte de alimentos;
- Em relação ao estímulo às importações, desde o início de fevereiro, a GACC abriu o mercado chinês para 13 tipos de alimentos, incluindo carnes, produtos aquáticos e lácteos oriundos de diferentes países. Além disso, registrou mais de 900 estabelecimentos exportadores de Estados Unidos, Rússia, Costa Rica e Paquistão, entre outros;
- Os eventuais impactos da pandemia de Covid-19 no mercado chinês de alimentos são de difícil mensuração e dependerão, entre outros fatores, da elasticidade-renda dos produtos, da manutenção da capacidade de oferta dos principais fornecedores dos alimentos importados pelos chineses, da capacidade produtiva nacional e dos impactos da desaceleração econômica na renda dos consumidores do país;
- Um dos efeitos do Covid-19 que já se nota é a mudança da demanda chinesa por alimentos. Os chineses estão começando a procurar por determinados produtos, como lácteos, carnes, alimentos e bebidas de alto teor nutritivo, ou associadas a tratamentos medicinais;
- Em algumas cidades do país, o governo tem oferecido "vouchers" para estimular o consumo, com ênfase para os setores varejista e de "catering". Estudos também demonstram redução na compra de alimentos em redes offline, mas um aumento significativo da compra de produtos agrícolas por meio de plataformas de comércio eletrônico e serviços de entrega em domicílio;
- Em relação às importações, manifestações oficiais indicam que a diversificação dos parceiros comerciais tende a permanecer como estratégia voltada à redução da exposição do país a riscos de interrupção das cadeias globais de suprimento agrícola;
- O governo chinês tem afirmado que não pretende alterar o regime de cotas para importação de determinados produtos agrícolas e as estimativas para 2020 de produção, consumo e importação de alimentos, publicadas periodicamente pelo MARA, não foram substancialmente alteradas.
Coreia do Sul
- O Produto Interno Bruto da Coreia do Sul recuou 1,4% no primeiro trimestre de 2020, a pior queda desde a crise financeira de 2008. As quarentenas e bloqueios globais impactaram cadeias de suprimentos e reduziram os gastos de empresas e famílias no país.
OMC
- Na reunião por videoconferência dos ministros da Agricultura do G20 que aconteceu no dia 21 de abril, eles se comprometeram a cooperar na adoção de ações concretas para salvaguardar a segurança alimentar e nutrição global;
- Nesta reunião, foi destacada a importância de manter os mercados internacionais abertos para produtos médicos e alimentares. Além disso, todas as medidas comerciais relacionadas ao coronavírus devem ser “direcionadas, proporcionais, temporárias e transparentes”.
FAO
- Recém-lançado estudo da FAO avalia que a pandemia de Covid-19 afetará todos os elementos dos sistemas alimentares nacionais e globais, desde a produção primária à demanda final, passando pela limitação dos fatores de produção, pelo processamento, pelo comércio e pelas cadeias logísticas de distribuição. Segundo a FAO, os impactos na oferta e na demanda serão sentidos pelos países em diferentes momentos ao longo do ano, a depender da evolução da doença em cada lugar. Além disso, o choque de demanda estará diretamente relacionado a fatores macroeconômicos e aos efeitos na renda das famílias.