CNA debate logística e competitividade do Corredor Centro-Norte
Tema foi abordado em painel no 62º Congresso Sober, em Palmas (TO)
Brasília (31/07/2024) – A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) participou, na quarta (31), do 62º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (Sober), em Palmas (TO).
A assessora técnica de logística e infraestrutura da CNA, Elisangela Pereira Lopes, foi uma das expositoras do painel “Logística e Competitividade do Corredor Centro-norte do Brasil”.
Também participou do debate a economista sênior, Jing Liu, do Global Trade Analysis Project (GTAP) da Universidade de Purdue.
Lopes iniciou o debate destacando o crescimento significativo na produção de grãos, especialmente soja e milho, nas novas fronteiras agrícolas que abrangem os estados de Mato Grosso, Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Contudo, Elisangela alertou para a necessidade de uma infraestrutura que acompanhe a evolução do setor agropecuário por conta do crescimento das exportações de soja e milho pelos portos do Arco Norte.
Elisangela enfatizou que o transporte centrado no modo rodoviário, com carência de ferrovias e hidrovias, e a dificuldade de acesso aos portos, especialmente no Centro-Norte do país, dificultam o escoamento e as exportações.
A produção de soja e milho somou 286,5 milhões de toneladas em 2023. Grande parte da produção é proveniente das novas fronteiras agrícolas, acima do paralelo 16°S, que atravessa, na horizontal, do sul de Mato Grosso ao sul da Bahia. Para o agronegócio, essa é a linha divisória de preferência de escoamento da safra de grãos.
Segundo Elisangela, do total da safra de soja e milho, 197 milhões de toneladas (68,9%) foram produzidas na parte ao norte do paralelo, e 89 milhões (31,1%), na parte ao sul dessa linha. Entretanto, levando em conta as exportações, a parte norte é responsável por apenas 61,7 milhões de toneladas (34% do total), contra 119,7 milhões de toneladas (66%) exportadas em portos da região ao sul.
Apesar do avanço na produção, ela ressaltou que a infraestrutura de acesso aos portos ainda é insuficiente, resultando em altos custos de transporte devido às más condições das estradas. “No Tocantins, por exemplo, 72,2% das estradas apresentam problemas de pavimentação, classificadas como ruins, péssimas ou regulares, elevando os custos de transporte rodoviário em até 45,1%”.
Armazenagem - Sobre a armazenagem, o destaque apresentado foi o déficit de capacidade estática para a guarda de grãos. O estado que mais carece desse tipo de estrutura é o Mato Grosso, com déficit de 52 milhões de toneladas.
“Enquanto nos EUA os grãos são armazenados em 54% das propriedades rurais, no Brasil somente 16% das fazendas possuem essas estruturas. Os produtores explicaram na última pesquisa da CNA os motivos para não investirem em armazéns: alto custo de construção e operação, dificuldade de acesso ao crédito - taxas de juros altas - e falta de mão de obra qualificada”, disse Elisangela.
Ferrovias e hidrovias – A assessora apresentou, ainda, uma lista abrangente de obras de infraestrutura planejadas para melhorar a matriz de transportes terrestres, aumentando a participação das ferrovias e hidrovias no escoamento de produtos agropecuários.
Entre as propostas, destacou que os modos de transporte precisam interagir entre si, com maior uso das linhas férreas e dos rios navegáveis, de maneira a garantir a competitividade do corredor Centro-Norte do Brasil, essencial para o desenvolvimento regional e nacional.
A CNA enfatizou a necessidade urgente de investimentos na manutenção e ampliação das hidrovias. Segundo ela, o verão amazônico de 2023 levou ao desvio de cargas dos rios Madeira e Tapajós para o Porto de Santos, destacando a importância de uma manutenção constante para garantir o escoamento eficiente de commodities.
“A remoção do Pedral do Lourenço, um obstáculo de 43 km de pedras no Pará criará canal de navegação onde se poderá inicialmente escoar 20 milhões de toneladas de grãos, reduzindo os custos de transporte em 30%”.
No modo ferroviário, Lopes destacou o projeto da Ferrogrão, uma estrutura que tem o potencial de substituir 400 caminhões por viagem, trazendo ganhos econômicos, sociais e ambientais significativos. No entanto, ponderou, “o projeto encontra-se atualmente suspenso pelo STJ até a conclusão dos estudos de viabilidade, prevista para 13 de agosto”.
A Ferrogrão está parada desde 2021 devido a uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal questionando a alteração dos limites do Parque Nacional do Jamanxim, no Pará.
O Congresso Sober ocorre presencialmente, de 28 de julho a 1º de agosto, na Universidade Federal de Tocantins, em Palmas (TO). O tema deste ano foi “Bioeconomia, cadeias de valor e desafios do desenvolvimento regional”, reunindo especialistas e profissionais das áreas de economia, administração e sociologia rural para debater os avanços e desafios enfrentados pelo setor.