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PIB do Agronegócio cresce em outubro
O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e com a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), apresentou alta de 0,96% em outubro. De janeiro a outubro, o agronegócio acumula crescimento de 1,15%.
Com exceção do segmento de insumos – cuja retração foi de -0,33% - todos os demais segmentos do agronegócio apresentaram expansão em outubro de 2019: ‘dentro da porteira’, ou segmento primário (0,71%), agroindustrial (1,06%) e agrosserviços (1,22%). No acumulado de 2019 (janeiro a outubro), somente o segmento primário recuou (-4,96%), uma vez que houve expansão de 7,19% de insumos, 2,76% da agroindústria e de 2,88% dos agrosserviços (2,88%), conforme Tabela 1.
Tabela 1. PIB do Agronegócio: Taxa de variação mensal e acumulada no período (%)
Entre os ramos, o agrícola apresentou crescimento de 0,51% em outubro, enquanto no acumulado de janeiro a outubro houve recuo de -3,24%, mantendo a tendência de queda apresentada nos relatórios anteriores.
No mês, apenas os insumos agrícolas caíram (-0,59%), enquanto os segmentos, primário (0,14%), agroindustrial (0,84%) e de agrosserviços (0,63%). Já no acumulado de janeiro a outubro, o segmento primário apresentou expressiva queda (-13,79%), bem como o de agrosserviços, que recuou -1,86%. Por sua vez, os segmentos de insumos (9,10%) e da agroindústria (0,65%) registraram alta (Tabela 2). Como mencionado em relatórios anteriores, o PIB do segmento primário agrícola segue pressionado por maiores custos de produção, somados a menores preços na comparação anual de produtos como algodão, café, milho, soja e trigo.
Tabela 2. Ramo Agrícola: Taxas de variação mensal e acumulada no período (%)
O ramo pecuário cresceu 2,11% em outubro, refletindo a expansão de todos os segmentos: insumos (0,27%), primário (1,91%), agroindústria (1,95%) e agrosserviços (2,56%). No acumulado de janeiro a outubro, as altas foram expressivas no segmento primário (13,94%), agroindustrial (11,54%) e de agrosserviços (14,65%), conferindo alta significativa de 13,09% no ramo pecuário como um todo. O segmento de insumos também apresentou resultado positivo (3,17%), como descrito na Tabela 3.
Tabela 3. Ramo Pecuário: Taxas de variação mensal e acumulada no período (%)
A queda expressiva do rebanho suíno chinês, em decorrência da Peste Suína Africana (PSA), seguiu impactando positivamente as exportações brasileiras de proteína animal. Essa expansão teve reflexos nos preços das carnes (sobretudo suína e bovina) praticados também no mercado doméstico, contribuindo para o bom desempenho do ramo pecuário no período entre janeiro e outubro de 2019. Além dos preços, o maior volume produzido também contribuiu para o crescimento do PIB do ramo pecuário nos 10 primeiros meses de 2019.
SEGMENTO DE INSUMOS: insumos agrícolas e pecuários mantêm crescimento
O segmento de insumos do agronegócio recuou 0,33% em outubro. Já no acumulado de janeiro a outubro, o movimento de alta observado desde o início do ano se manteve, com aumento de 7,19%. Quando analisado por ramos do agronegócio, os insumos agrícolas apresentaram redução de 0,59%, enquanto os pecuários apresentaram leve crescimento de 0,27% em outubro. No acumulado, tanto no ramo agrícola quanto no pecuário os insumos tiveram crescimento, de 9,10% e 3,17%, respectivamente (Tabelas 1 a 3).
Na Figura 1, é possível observar as variações anuais de volume, de preços e de faturamento para as atividades de insumos acompanhadas. Nota-se que, para todas as atividades, espera-se crescimento, exceto a produção de máquinas agrícolas. No ramo agrícola, a atividade de defensivos se destaca pelo significativo aumento esperado no faturamento anual, impulsionado pela maior quantidade produzida. Para o ramo pecuário, rações e medicamentos para animais apresentaram desempenhos semelhantes no faturamento anual, no primeiro caso, via maiores preços e, no segundo, via expansão esperada da produção (Figura 1).
Figura 1. Insumos: variação (%) anual de volume, preços e faturamento entre 2018 e 2019, com informações até outubro/2019
A indústria de fertilizantes e corretivos do solo mantém a projeção de crescimento do faturamento anual (10,22%), resultante da combinação de maiores preços (4,71%), na comparação entre janeiro a outubro de 2019 e o mesmo período de 2018, e aumento da produção anual esperada (5,27%) para o ano. Conforme mencionado no último relatório, embora os preços estejam, em média, acima dos patamares praticados em 2018, impulsionados pela desvalorização do Real frente ao Dólar, eles têm recuado ao longo do ano em virtude da formação de grandes estoques de fertilizantes no mercado internacional, ocasionados pelas condições adversas enfrentadas pelos produtores americanos na última safra que impediram a aplicação de Nitrogênio, Fósforo e Potássio (NPK).
A indústria de defensivos agrícolas apresenta o maior crescimento do faturamento anual esperado dentro do segmento (26,37%). O aumento da produção anual esperada (20,50%) deve refletir o esforço da indústria nacional em atender à demanda doméstica diante da redução brusca da oferta internacional, especialmente advinda da China, após a imposição de um conjunto de regras que objetivam a mitigação da emissão de poluentes. Na comparação entre períodos, os preços também variaram positivamente (4,87%), o que se pode atribuir, em partes, à desvalorização do Real frente ao Dólar.
Dentre as indústrias que compõem o segmento de insumos, a de máquinas agrícolas foi a única que registrou queda no faturamento anual (-5,66%) projetado. O resultado negativo reflete a queda esperada na produção de 9,20%, uma vez que houve alta de 3,90% dos preços na comparação entre janeiro a outubro de 2019 e o mesmo período de 2018. Segundo a ANFAVEA, a queda projetada da produção reflete o fraco desempenho das vendas, por sua vez, influenciadas negativamente pelas dificuldades na oferta de crédito em 2019.
SEGMENTO PRIMÁRIO: Renda do segmento agrícola permanece pressionada por alta nos custos e redução nos preços
O PIB do segmento primário do agronegócio cresceu 0,71% em outubro, resultado que interrompe retrações no setor verificadas desde março. Tal expansão mensal reflete principalmente a alta de 1,91% do PIB da pecuária, aliada ao avanço de 0,14% da agricultura. No acumulado de janeiro a outubro de 2019, o PIB do segmento primário do agronegócio caiu 4,96%, motivado, principalmente, pela expressiva queda no ramo agrícola (-13,79%), visto que no ramo pecuário o segmento apresenta significativa alta (13,94%) (Tabelas de 1 a 3).
Para 2019, espera-se redução de 0,90% no faturamento médio das atividades do segmento primário agrícola, considerando-se projeções de produção para o ano e preços de janeiro a outubro de 2019 comparados com os do mesmo período do ano anterior. Com relação à produção para 2019, espera-se alta de 2,05% na média ponderada das atividades acompanhadas, com destaque para as culturas como algodão e milho. Para preços, na comparação entre janeiro a outubro de 2019 frente ao mesmo período de 2018, houve recuo médio real de 2,89%. Como ressaltado em relatórios anteriores, os elevados custos de produção, associados a quedas nos preços de importantes produtos acompanhados, seguem pressionando a renda do segmento.
No caso do segmento primário da pecuária, em 2019, espera-se crescimento de 11,21% no faturamento, resultado dos avanços de 7,75% nos preços médios ponderados das atividades acompanhadas, como também do aumento na produção esperada para o ano, de 3,21%. Como mencionado em relatórios anteriores, vale destacar a importância do efeito da Peste Suína Africana sobre as exportações e, então, sobre os preços domésticos das carnes para esse desempenho.
As Figuras 2 e 3 e a Tabela 4 detalham os resultados específicos do segmento por atividades agrícolas e pecuárias. Entre as culturas do segmento primário agrícola acompanhadas pelo Cepea, projetam-se crescimentos nos faturamentos em 2019 para algodão, banana, batata, cacau, cana-de-açúcar, feijão, laranja, milho, tomate, uva e lenha/carvão. Já as culturas para as quais se projetam quedas no faturamento são arroz, café, fumo, mandioca, soja, trigo, madeira em tora e madeira para celulose – Figura 2 e Tabela 4
Os crescimentos anuais projetados para o faturamento das culturas da banana (17,89%), da cana-de-açúcar (6,13%) e da laranja (8,08%) são reflexos dos aumentos tanto na produção esperada para o ano quanto nos preços na comparação entre períodos. Na cultura da banana, a expectativa de expansão da quantidade produzida é de 5,91% e o aumento nos preços é de 11,32% na comparação de janeiro a outubro de 2019 em relação ao mesmo período de 2018. Apesar do leve recuo das cotações no mês de outubro, de acordo com a equipe Hortifrúti/Cepea, o aumento nos preços é atribuído às intempéries climáticas no início de 2019 e à baixa oferta de frutas. A equipe destaca que a menor oferta de frutas de melhor qualidade impediu maiores quedas dos preços em outubro, período em que geralmente ocorre desvalorização.
Para a cultura da cana-de-açúcar, a expansão esperada da quantidade produzida é de 3,59% para o ano, e o aumento nos preços é de 2,45% na comparação de janeiro a outubro de 2019 em relação ao mesmo período de 2018. De acordo com a Conab, a expectativa de crescimento da produção é reflexo do aumento da produtividade (4,9%) - devido às condições climáticas favoráveis, uma vez que há uma redução da área plantada destinada à cultura (-1,3%). Em São Paulo, estado responsável por mais da metade da produção da atual safra, o aumento da produtividade é de 5,4% e a redução na área plantada é de 2,8%.
No caso da laranja, a expansão da quantidade produzida é de 6,26% para o ano, e o aumento nos preços é de 1,72% na comparação entre períodos. Segundo a equipe Hortifrúti/Cepea, nos últimos meses tem ocorrido valorização no preço devido à oferta controlada e à baixa qualidade das frutas - prejudicada pelo clima seco e quente.
Os aumentos esperados no faturamento das culturas do algodão (12,33%) e do milho (19,68%) refletem as maiores produções esperadas. Na cultura do algodão, a expectativa de expansão da quantidade produzida para o ano é de 35,91%, enquanto houve redução nos preços reais, de 17,35% na comparação entre períodos. Segundo a Conab, a maior produção é reflexo do crescimento da área destinada à cultura. No Mato Grosso, principal estado produtor da fibra, houve um aumento de 40,7% na produção, reflexo do aumento de 40,5% na área plantada, uma vez que houve um ligeiro crescimento de 0,2% na produtividade. A Companhia também destaca que a produção é considerada recorde na série histórica nacional. De acordo com a equipe Algodão/Cepea e como destacado em relatórios anteriores, a redução nos preços é atribuída especialmente à conjuntura político-econômico de 2018. Adicionalmente, a equipe indica que os preços têm sido sustentados nos últimos meses pela maior paridade da exportação, cenário que limita as quedas nos preços e até mesmo os eleva. Especificamente em outubro, diante dessa conjuntura, os embarques de algodão em pluma estiveram intensos e foram recordes (somando 273,4 mil toneladas).
No caso do milho, o aumento esperado na produção é de 23,96% e os preços apresentaram queda de 3,45% na comparação de janeiro a outubro de 2019 frente a janeiro a outubro de 2018. De acordo com a Conab, a maior produção se deve à maior área destinada à cultura, juntamente com as maiores produtividades – influenciadas por condições climáticas favoráveis. Em relação aos preços, a equipe Grãos/Cepea destaca que a queda não foi maior devido ao comportamento dos preços em junho, agosto, setembro e outubro. Assim como em meses anteriores, a alta do preço em outubro refletiu as demandas interna e externa mais aquecidas, somadas a restrições por parte dos vendedores e a condições climáticas desfavoráveis.
Para as culturas da batata, do feijão e do tomate, o crescimento no faturamento anual é resultado apenas do aumento nos preços na comparação entre períodos, uma vez que há expectativa de redução nas produções para o ano. No caso da batata, a projeção de aumento no faturamento de 126,07% no ano é reflexo da alta nos preços reais de 126,41% na comparação entre períodos. Segundo a equipe Hortifrúti/Cepea, o bom controle fitossanitário e o clima seco contribuíram para o aumento de produtividade em outubro, apesar da menor expectativa de produção no ano. Como destacado em relatórios anteriores, a alta nas cotações no ano foi sustentada pela baixa produtividade e pela redução na área plantada destinada ao cultivo.
Na cultura do tomate, a projeção de crescimento do faturamento de 20,58% para o ano é reflexo do aumento nos preços de 20,89% na comparação entre janeiro a outubro de 2019 e o mesmo período de 2018, enquanto para a produção, a previsão para o ano é de queda, de 0,25%. De acordo com a equipe Hortifrúti/Cepea, a alta nos preços é mantida mesmo com a maior oferta e trajetória de queda a partir de junho, refletindo principalmente a forte elevação das cotações ocorrida no início do ano, resultado de questões climáticas.
Para a cultura do feijão, o aumento no faturamento esperado de 74,30% para o ano é reflexo do aumento nos preços reais de 79,68%, uma vez há projeção de queda na produção esperada de 2,99%. De acordo com a Conab, a menor produção é reflexo da menor área destinada à cultura (-7,5%), uma vez que houve um aumento na produtividade. Como destacado nos relatórios anteriores e segundo o Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses (Ibrafe), este resultado se deve às condições climáticas adversas e ao baixo desempenho da cultura na safra passada, que levaram à redução da área plantada e da produtividade.
Figura 2. Agricultura: Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2019/2018 com informações de outubro/2019
As reduções anuais projetadas para o faturamento das culturas do café, soja e trigo são reflexos das diminuições tanto na produção esperada para o ano quanto nos preços na comparação entre períodos. Para o café, a redução esperada na produção de 20,03%, somada à redução nos preços reais de 9,94%, na comparação de janeiro a outubro de 2019 em relação ao mesmo período de 2018, refletem na diminuição na expectativa de faturamento de 27,97% para o ano. De acordo com a Conab, a menor produção é reflexo da bienalidade negativa, de intempéries climáticas em importantes regiões produtoras e da menor área destinada à cultura. Segundo a equipe Café/Cepea, após as altas nos meses anteriores, especificamente em outubro, os preços recuaram como reflexo de um movimento de recuperação do Real frente ao Dólar e do menor valor no mercado futuro. Adicionalmente, o cenário de queda nos preços no contexto geral de 2019 é reflexo da maior oferta mundial do grão.
No caso da cultura da soja, a projeção de menor faturamento anual (-11,07%) também se deve às diminuições do preço (-7,78%), na comparação de janeiro a outubro de 2019 em relação ao mesmo período de 2018, e à menor produção anual (-3,56%). De acordo com a Conab, a queda na produção é reflexo de algumas intempéries climáticas nas principais regiões produtoras do país, que impactaram na produtividade da cultura. Com relação aos preços, a equipe Grãos/Cepea destaca que apesar das altas observadas desde junho de 2019, houve queda nos preços reais na comparação entre períodos. As intempéries climáticas nas principais regiões produtoras, a desvalorização do Real frente ao Dólar, os maiores preços externos, o baixo excedente da soja brasileira, as maiores demandas externa e interna e as elevações dos contratos futuros na CME Group (Bolsa de Chicago) impulsionaram as cotações entre os meses de junho e outubro.
No caso da cultura do trigo, espera-se redução no faturamento (-5,15%), reflexo de produção 3,88% menor, como também da redução nos preços, de 1,31% na comparação entre períodos. Segundo a Conab, a menor produção se deve tanto à menor área destinada à cultura (-0,1%) quanto à menor produtividade (-3,8%), em especial no principal estado produtor – Paraná. Com relação aos preços, a equipe de Trigo/Cepea evidencia que as cotações no mês de outubro foram pressionadas pelo avanço na colheita e pela necessidade de venda do produtor para pagamento de dívidas de custeio. Este cenário contribui para os menores preços reais, na comparação períodos, evidenciados nos relatórios anteriores.
Para a cultura do arroz, a redução no faturamento anual (-9,80%) é resultado apenas da expectativa de queda na produção (-13,39%) para o ano, uma vez que houve aumento nos preços reais (4,14%) na comparação entre períodos. De acordo com a equipe Arroz/Cepea, em outubro houve alta nos preços devido à menor oferta por parte dos vendedores. De acordo com a Conab, a expectativa de menor produção é reflexo da menor área e menor produtividade nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul – principais estados produtores, devido às condições climáticas adversas.
Tabela 4. Agricultura: Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2019/2018 com informações de outubro/2019
Para o segmento primário da pecuária, esperam-se aumentos nos faturamentos anuais de todas as atividades acompanhadas, como se observa na Figura 3. Para a bovinocultura de corte e de leite, para a suinocultura e para a produção de ovos, o crescimento é reflexo do aumento tanto na expectativa de produção quanto nos preços reais na comparação entre períodos. Para a avicultura de corte, o crescimento no faturamento é reflexo apenas do aumento nos preços reais, uma vez que houve leve redução na produção esperada. Destaca-se que, como evidenciado em relatórios anteriores, a alta de preços em 2019 para a bovinocultura, suinocultura e avicultura de corte, na comparação com 2018, tem sido influenciada pela maior procura externa em decorrência da Peste Suína Africana (PSA).
O crescimento esperado do faturamento da bovinocultura de corte é de 6,04%, reflexo da variação positiva de 3,01% do preço, na comparação entre períodos, e do avanço esperado de 2,94% na produção. De acordo com a equipe Boi/Cepea, em outubro, os valores da arroba e da carne atingiram recordes na série histórica nominal do Cepea até aquele momento. A alta nos preços é reflexo principalmente da baixa oferta de animais para abate e do bom desempenho das exportações brasileiras de carne bovina in natura, que no mês de outubro também alcançaram volume recorde.
Quanto ao mercado de aves para corte, o crescimento esperado no faturamento (15,22%) é reflexo do aumento significativo nos preços reais, de 15,49% na comparação entre janeiro a outubro de 2019 frente ao mesmo período de 2018, enquanto a projeção de produção para o ano apresenta redução de 0,23%. Segundo a equipe Frango/Cepea, a alta das cotações do frango ao longo do ano é reflexo da demanda interna aquecida em momentos pontuais e do bom desempenho das exportações para a China.
Figura 3. Pecuária: Variação anual dos preços e do faturamento 2019/2018 com informações de outubro/2019
No caso da suinocultura, projeta-se um aumento no faturamento de 31,29%, decorrente da alta de 27,41% nas cotações reais na comparação entre janeiro a outubro de 2019 e o mesmo período de 2018 e da maior produção esperada para o ano (3,04%). De acordo com a equipe Suínos/Cepea, os preços continuaram em alta no mercado suinícola no mês de outubro, impulsionados pela maior demanda de novos lotes de animais para abate por parte de frigoríficos. A equipe destaca ainda que a alta nos preços na comparação entre períodos também é reflexo dos baixos preços de 2018, que foram influenciados pela baixa demanda doméstica e externa.
Para a bovinocultura do leite, a variação do faturamento anual é de 9,63%, impulsionada pelos aumentos no preço (6,00%) e na produção (3,43%). De acordo com a equipe Leite/Cepea, outubro é usualmente marcado por uma maior produção e, por consequência, recuo intenso nos preços. Entretanto, o atraso nas chuvas no Sudeste e Centro-Oeste resultou em uma produção abaixo da expectativa para o período.
SEGMENTO INDUSTRIAL: Agroindústria acumula crescimento no ano
O segmento agroindustrial registrou alta de 1,06% em outubro, com crescimento de 0,84% para a indústria de base agrícola e de 1,95% para a de base pecuária. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o segmento registrou elevação de 2,76%, com crescimento de 0,65% na indústria de base agrícola e expressivo aumento de 11,54% na de base pecuária (Tabelas 1, 2 e 3).
Na indústria de base agrícola, espera-se uma queda de 0,34% no faturamento anual, resultado da redução de 0,49% nos preços médios, tendo em vista que houve um ligeiro aumento de 0,15% na produção média ponderada do segmento. Para a indústria de base pecuária, espera-se elevação de 8,11% no faturamento, em decorrência de preços 6,27% maiores, como também de aumento na produção em 1,73%, ambos em média.
No acompanhamento da evolução do PIB realizado pelo Cepea, as indústrias de base agrícola que apresentaram projeção de crescimento do faturamento foram as de conservas de frutas/legumes/outros vegetais, açúcar, biocombustíveis, bebidas, moagem e, de forma mais modesta, vestuários. As demais indústrias apresentaram, em menor ou maior grau, perspectivas de redução (Figura 4).
Figura 4. Agroindústrias de base agrícola: variação anual do volume, preços reais e faturamento das indústrias agrícolas acompanhadas
No que tange às indústrias do ramo agrícola, a projeção de crescimento de algumas atividades foi contrabalanceada com a de redução de outras com igual ou maior peso, o que explica o desempenho tênue do segmento. Reproduzindo o comportamento observado no último relatório, as indústrias de conservas e de açúcar mantiveram crescimento, com projeções de alta de faturamento expressivas de 25,3% e 11,2%, respectivamente. Para a indústria de bebidas, a variação também foi positiva, em 2,7%. Já para o conjunto de atividades inclusas em “outros produtos alimentares”, houve queda no faturamento anual esperado, de 1,4%.
Conforme mencionado no último relatório, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) reitera o crescimento consistente do faturamento da indústria de conservas, conduzido pela retomada da produção que se reafirma há alguns meses, após um período de sucessivas reduções. Dessa forma, o aumento esperado do faturamento reflete a projeção de alta na produção, de 28,5% para o ano, uma vez que os preços recuaram 2,5% na comparação entre janeiro a outubro de 2019, frente ao mesmo período de 2018.
Quanto ao açúcar, conforme aponta a Conab, espera-se, nessa temporada 2019, que produção mundial seja novamente superavitária, de modo que os preços internacionais sigam a tendência de queda. Ainda assim, no mercado doméstico, o preço cresceu 7,07% na comparação entre as médias de janeiro a outubro de 2019 e de 2018, quando os patamares estiveram mais baixos. Pode-se atribuir esse avanço, em partes, à desvalorização do Real frente ao Dólar. A projeção da produção de açúcar foi ajustada em relação aos últimos relatórios divulgados, com o total produzido passando a ser 3,82% maior que o registrado em 2018.
Especificamente no mês de outubro, a projeção para a produção de biocombustível também foi ajustada: antes de queda, passou para crescimento de 7,21% para 2019. O atual aumento esperado da produção se dá por meio da produção de etanol (anidro e hidratado) proveniente tanto da cana-de-açúcar quanto do milho. Esse último, ainda que represente uma pequena parcela do total, vem crescendo expressivamente, sobretudo na região Centro-Oeste do país, em função de fatores que vão desde o baixo custo de produção em comparação ao etanol da cana-de-açúcar até a infraestrutura deficiente de escoamento da produção do milho. O preço, por sua vez, registrou variação negativa (-2,86%) quando comparado ao mesmo período (janeiro a outubro) de 2018, o que se pode atribuir, em partes, aos altos patamares praticados naquele ano. Conforme a equipe Etanol/Cepea, no entanto, as cotações do biocombustível têm crescido contundentemente desde setembro.
No tocante às atividades que apresentam quedas nas projeções de faturamento anual destacam-se as indústrias de café e de óleos vegetais, com reduções de 11,7% e 9,9%, respectivamente. Referente à indústria do café, o resultado negativo advém da combinação de forte queda do preço (-12,4%), na comparação entre períodos, e aumento sutil (0,8%) na produção anual esperada.
No caso da indústria de óleos vegetais, a queda do faturamento anual esperado decorre de preços menores na comparação entre períodos (-7,22%) e da menor produção esperada (-2,9%). Vale destacar que, embora os preços médios de 2019 sejam menores que os de 2018 (até outubro), a partir de agosto de 2019 se observou elevação. Como mencionado em relatórios anteriores, a demanda interna pelo óleo de soja foi impulsionada pela determinação da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) sobre o aumento do volume de biodiesel adicionado ao óleo diesel mineral. Especificamente em outubro, segundo a equipe Grãos/Cepea, as indústrias estavam preocupadas com as altas nos preços domésticos da soja, indicando que estavam com estoques reduzidos e com dificuldades de repassar os aumentos do grão para os derivados. Em contrapartida, o maior consumo de óleo de soja para biodiesel atuava aliviando a preocupação das indústrias.
Também registram variação negativa no faturamento anual esperado as indústrias do ramo florestal, especificamente, as de produtos de madeira (-3,4%), móveis de madeira (-0,2%) e de papel e celulose (-0,8%). Em todos os casos, tem-se queda ou estagnação da produção anual esperada (-5,7%, 0% e -4,1%, respectivamente).
As indústrias de base pecuária, por sua vez, mantiveram o comportamento descrito nos últimos relatórios. A indústria de couro e calçados manteve redução do faturamento anual esperado (-5,52%) em resposta à combinação de recuo de preços, na comparação entre períodos (-3,43%), juntamente com a redução da produção anual esperada (-2,35%).
Também para a indústria de abate e preparação de carnes e pescado não houve mudanças importantes em comparação ao último relatório, mantendo-se como a principal contribuinte para o bom desempenho do segmento agroindustrial de base pecuária. O grande aumento da demanda externa por proteína animal brasileira desde a constatação de casos de Peste Suína Africana (PSA) tem impulsionado o aumento dos preços. Na comparação entre janeiro a outubro do biênio 2019-2018, tem-se o avanço de 9,25% das cotações. De forma análoga, a oferta também reage: a produção anual esperada avançou 2,19%.
Quanto aos laticínios, com o aumento da produção anual esperada de 1,50%, combinado à sutil elevação de preços na comparação entre períodos (0,20%), tem-se variação positiva do faturamento anual esperado (1,70%). Especificamente em outubro, conforme equipe Leite/Cepea, a cotação de laticínios recuou em função da baixa procura pelos consumidores, o que mantém os estoques atacadistas abastecidos.
Tabela 5. Agroindústrias de base pecuária: variação anual do volume, preços reais e faturamento das indústrias pecuárias acompanhadas
SEGMENTO DE SERVIÇOS: serviços agrícolas e pecuários crescem em outubro
Como observado na Tabela 1, o PIB dos agrosserviços do agronegócio brasileiro cresceu novamente em outubro, 1,22%. Após quatro meses sucessivos de baixas, o segmento de serviços agrícolas avançou em outubro (0,63%), impulsionado pela retomada do crescimento na agricultura e na agroindústria agrícola – que também vinham de meses sucessivos de decréscimo e tiveram alta no mês (Tabela 2). Já os serviços pecuários, mantiveram a tendência de alta já observada nos últimos meses, crescendo 2,56% em outubro (Tabela 3).
No acumulado dos dez primeiros meses de 2019, o segmento de agrosserviços cresceu 2,88%. O cenário já ressaltado em relatórios anteriores se mantém, com o segmento sendo impulsionado pelos serviços pecuários, que cresceram 14,65% no período. Já os serviços agrícolas, mesmo com o crescimento em outubro, acumularam queda de 1,86% no período. Enquanto os maiores preços e a expansão da produção nas cadeias pecuárias aumentam a demanda por serviços e afetam positivamente o PIB desse segmento, os menores preços agrícolas, dentro da porteira e na agroindústria, e a estagnação da produção agroindustrial da base vegetal exercem um efeito contrário, pressionando para baixo o PIB do segmento de serviços.
CONCLUSÕES
O PIB do agronegócio brasileiro cresceu 1,15% no acumulado de janeiro a outubro de 2019. O resultado decorre de comportamentos opostos entre os ramos, com queda de 3,24% no agrícola e alta expressiva de 13,09% no pecuário.
No ramo agrícola, o PIB continuou pressionado principalmente pela queda dentro da porteira. Como destacado em relatórios anteriores, a renda do segmento primário agrícola tem sido prejudicada por quedas de preços na comparação anual para diversos produtos (como algodão, café, mandioca, milho e soja) e, também e principalmente, pelo aumento dos custos de produção, apesar das boas safras de culturas como milho, algodão, laranja, banana e mandioca. Apesar da queda do PIB do segmento no acumulado dos 10 primeiros meses de 2019, houve melhora do cenário e crescimento em outubro, refletindo as altas de preços do milho e soja, e também uma perspectiva mais otimista da Conab para a produção anual da cana-de-açúcar.
Os resultados de outubro também foram favoráveis à agroindústria agrícola, que cresceu no mês, tornando o resultado acumulado do período positivo. No caso da indústria, o resultado positivo reflete o desempenho da produção – com avanço da oferta de conservas e perspectiva mais positiva da Conab para a produção de etanol.
Seguindo a tendência dos meses anteriores, o ramo pecuário continuou crescendo significativamente, acumulando alta em todos os segmentos no período. A ocorrência da Peste Suína Africana nos países asiáticos, e o consequente incremento das importações chinesas de carnes suína, bovina e de aves, têm favorecido as cadeias pecuárias brasileiras. Além de impulsionar os preços, o bom desempenho das exportações tem estimulado também a produção, dentro e fora da porteira.
ANEXO I – Evolução mensal do PIB DO AGRONEGÓCIO
A1) PIB do Agronegócio: Taxas de variação mensal e acumulado do período (em %)
A2) PIB do Agronegócio: Participações dos segmentos (em %)
A3) PIB Volume do Agronegócio: Taxa anual (em %)*
Nota técnica: O PIB Volume do Agronegócio trata-se do PIB do agronegócio calculado pelo critério de preços constantes. Resulta, portanto, a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.
A4) PIB DO AGRONEGÓCIO - METODOLOGIA
O Relatório PIB do Agronegócio Brasileiro é uma publicação mensal resultante da parceria entre o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (FEALQ). O agronegócio é entendido como a soma de quatro segmentos: insumos para a agropecuária, produção agropecuária básica (ou primária), agroindústria (processamento) e agrosserviços – como na Figura que segue. A análise desse conjunto de segmentos é feita para o ramo agrícola (vegetal) e para o pecuário (animal). Ao serem somados, com as devidas ponderações, obtém-se a análise do agronegócio.
Pelo critério metodológico do Cepea/Esalq-USP, o PIB do agronegócio é medido pela ótica do produto, ou seja, pelo Valor Adicionado (VA) total deste setor na economia. Ademais, avalia-se o VA a preços de mercado (consideram-se os impostos indiretos menos subsídios relacionados aos produtos). O PIB do agronegócio brasileiro refere-se, portanto, ao produto gerado de forma sistêmica na produção de insumos para a agropecuária, na produção primária e se estendendo por todas as demais atividades que processam e distribuem o produto ao destino final. A renda, por sua vez, se destina à remuneração dos fatores de produção (terra, capital e trabalho).
Após estimado o valor do PIB do agronegócio no ano-base, que desde janeiro/17 refere-se ao ano de 2010, parte-se para evolução deste valor de modo a se gerar uma série histórica, por meio de um amplo conjunto de indicadores de preços e produção de instituições de pesquisa e governamentais. Seja para a estimação anual do valor do PIB, ou para as reestimativas mensais das previsões anuais, consideram-se informações a respeito da evolução do Valor Bruto da Produção (VBP) e do Consumo Intermediário (CI) dos segmentos do agronegócio. Pela evolução conjunta do VBP e do CI, estima-se o crescimento do valor adicionado pelo setor.
Com base nos procedimentos mencionados e processos adicionais realizados pelo Cepea, os cálculos do PIB do agronegócio resultam em dois indicadores principais, que retratam o comportamento do setor por diferentes óticas:
• PIB-renda Agronegócio (equivale ao PIB divulgado anteriormente pelo Cepea): reflete a renda real do setor, sendo consideradas no cálculo variações de volume e de preços reais, sendo estes deflacionados pelo deflator implícito do PIB nacional.
• PIB-volume Agronegócio: PIB do agronegócio pelo critério de preços constantes. Resulta daí a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.
Mensalmente, o foco de análise principal é o PIB-renda Agronegócio, que reflete a renda real do setor. Por conveniência textual, o PIB-renda do agronegócio é denominado apenas como PIB do Agronegócio ao longo deste relatório. Destaca-se que as taxas calculadas para cada período consideram igual período do ano anterior como base, exceto para as quantidades referentes às safras agrícolas, para as quais computa-se a previsão de safra para o ano (frente ao ano anterior).
Importante também destacar que cada relatório considera os dados disponíveis – preços observados e estimativas anuais de produção – até o seu fechamento. Em edições futuras, ao serem agregadas informações mais atualizadas, há a possibilidade, portanto, de ocorrer alteração dos resultados, tanto no que se refere ao mês corrente, como também ao que se refere a meses e anos passados. Recomenda-se, portanto, sempre o uso do relatório mais atualizado. Para uma análise mais detalhada dos aspectos metodológicos, bem como dos resultados dos demais indicadores (PIB volume, Consumo Intermediário, etc.) ver http://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx