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10 de dezembro de 2020
PIB do Agronegócio avança em agosto
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O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), cresceu 1,65% em agosto, acumulando crescimento de 8,48% no período (Tabela 1).

Em agosto, apenas o PIB do segmento de insumos recuou, ligeiros 0,11%. Os demais segmentos cresceram no mês: o PIB do segmento primário cresceu 3,92%, o dos agrosserviços cresceu 1,36% e o da agroindústria, 0,43% (Tabela 1). No acumulado até agosto, o segmento primário, o de agrosserviços e o de insumos tiveram altas no PIB, de 23,03%, 7,28% e 3,13%, respectivamente. O PIB da agroindústria, por sua vez, ficou praticamente estável, com leve baixa de apenas 0,09% (Tabela 1).

Tabela 1. PIB do Agronegócio: Taxa de variação mensal e acumulada no período (%)

Como discutido em relatórios anteriores, a agroindústria foi o segmento do agronegócio mais afetado pelas medidas relacionadas à pandemia. Mas, depois de recuar em abril e maio, o PIB do segmento tem demonstrado alguma recuperação desde junho, levando à estabilidade observada no acumulado do período completo.

 No caso do segmento primário, o resultado positivo reflete, pelo lado da oferta, a volumosa produção de grãos, com o país tendo produzido uma safra 2019/2020 recorde, e as expansões de produção para suínos e ovos. Por outro lado, reflete o avanço dos preços agropecuários reais, resultado dos aumentos expressivos na demanda, tanto externa quanto doméstica, e do alto patamar da taxa de câmbio. No mercado doméstico, os instrumentos de políticas públicas voltados à garantia de renda aos mais impactados pela crise gerada pela pandemia têm contribuído para a sustentação da demanda de diversos produtos do agronegócio. Quanto às exportações, além da demanda crescente, reforçada pelo “efeito China”, a rentabilidade e a competitividade têm sido favorecidas pela desvalorização do Real frente ao Dólar.

Quanto aos ramos do agronegócio, ambos cresceram no mês e no acumulado dos 8 primeiros meses do ano. No ramo agrícola, o PIB teve alta de 1,55% em agosto e de 6,12% de janeiro a agosto e, no ramo pecuário, os crescimentos foram de 1,9% no mês e 13,79% no período (Tabela 2 e Tabela 3).

A Tabela 2 mostra os resultados do ramo agrícola. A agroindústria de base agrícola seguiu em leve recuperação no mês, com alta de 0,12%, mas manteve queda no acumulado do período, de 3,72%. Ao contrário, para o segmento de insumos, registrou-se redução de 0,12% em agosto, mas o segmento cresceu 3,25% no acumulado. Já os segmentos primário e de agrosserviços cresceram tanto no mês quanto de janeiro a agosto. O segmento primário agrícola avançou 4,75% no mês e 30,19% no período. Por fim, o segmento de agrosserviços cresceu 1,12% em agosto e 2,99% de janeiro a agosto (Tabela 2).

Tabela 2. Taxa de variação mensal e acumulada no período (%)

O resultado de alta do segmento primário agrícola reflete os preços maiores na comparação com o mesmo período de 2019 – com destaques para arroz, café, milho, soja e trigo –, assim como a expectativa de maior produção na safra atual, com uma safra recorde de grãos e crescimento importante para o café.

Alguns pontos relevantes devem ser enfatizados nesse contexto. Primeiramente, ressalta-se que se trata, em partes, de uma recuperação. O PIB desse segmento apresentou quedas sucessivas de 2017 a 2019, resultando numa redução acumulada de 20% nesses 3 anos. Nesse período, de 2017 a 2019, a queda na renda ocorreu mesmo com a produção agrícola tendo crescido quase 20%, refletindo um movimento desfavorável de preços. Em segundo lugar,

no caso de grãos, a maior parte dos produtores não se beneficiou com a forte alta dos preços ao longo de 2020, pelo fato de que o aumento mais intenso ocorreu quando a maior parte da safra já havia sido negociada. Em terceiro lugar, os custos de produção também subiram. Dados da CNA mostram que o aumento de custo foi de até 15,1% para o café, 14,6% para o milho, 14,2% para a soja, 9,6% para o arroz e 8,5% para o feijão.

A Tabela 3 mostra os resultados do ramo pecuário. Com exceção do segmento de insumos, que teve leve queda em agosto (-0,08%), foram registradas altas no mês e no acumulado do ano para todos os demais segmentos. Em agosto, as altas foram as seguintes: 2,54% para o primário, 1,51% para a agroindústria e 1,9% para os agrosserviços. No acumulado do período, os crescimentos foram de 2,88% para os insumos, 11,84% para o primário, 12,7% para a agroindústria e 16,43% para os agrosserviços.

Tabela 3. Ramo Pecuário: Taxa de variação mensal e acumulada no período (%)

O bom resultado do PIB no ramo pecuário reflete os maiores preços das proteínas até agosto de 2020, frente ao mesmo período de 2019. Mas, apesar dos preços maiores, o forte aumento nos custos de produção tem afetado negativamente as margens dentro da porteira e dificultado os investimentos na produção. Além dos insumos de alimentação, que estão expressivamente encarecidos já que os grãos operam em patamares recordes, no caso da pecuária de corte, deve-se destacar também as fortes elevações nos preços do bezerro e o boi magro.

Além de condições climáticas severas em 2020, com destaque para a estiagem no Sul do País, o aumento nos custos de produção em relação a 2019 tem dificultado os investimentos na produção. Apesar do preço médio do boi para abate ser recorde, o pecuarista de reposição não tem sido favorecido, tendo em vista que o bezerro e o boi magro seguem igualmente em patamares recordes. No caso do pecuarista criador, os desembolsos são altos com a compra de insumos, com os produtos importados encarecidos pelo patamar cambial e os insumos de alimentação (milho e farelo de soja). A elevação dos preços dos principais insumos, milho e farelo de soja, tem impulsionado também os custo de produção das atividades de aves e suínos.

Então, de modo geral, apesar dos efeitos negativos da pandemia em segmentos específicos do agronegócio - particularmente hortícolas, flores, leite e diversas agroindústrias -o desempenho geral do PIB do setor tem se mostrado favorável em 2020. Apesar desse crescimento em termos de atividade econômica, as margens dos produtores têm sido significativamente afetadas pelos maiores custos de produção, refletindo a alta do preço do Dólar.

SEGMENTO DE INSUMOS: insumos agrícolas e pecuários crescem no período

Em agosto, o PIB do segmento de insumos do agronegócio retraiu 0,11%. No acumulado deste ano, contudo, registra-se crescimento de 3,13% (Tabela 1). No ramo agrícola, o recuo em agosto foi de 0,12%, mas com crescimento de 3,25% no acumulado (Tabela 2); no pecuário, houve recuo de 0,08% no mês, praticamente estável, e crescimento de 2,88% no período (Tabela 3). Entre as atividades que compõem o segmento, apenas fertilizantes e corretivos do solo, defensivos e rações apresentam projeção de crescimento do seu faturamento anual – Ver Figura 1.

Para a indústria de fertilizantes e corretivos de solo, a projeção indica crescimento de 11,54% do faturamento anual, impulsionado pelo aumento de 18,12% esperado para a produção anual, tendo em vista o recuo de 5,57% dos preços reais, na comparação entre janeiro a agosto de 2019 e de 2020. Conforme a equipe Custos/Cepea, a indústria de fertilizantes tem sido beneficiada pelo cenário das commodities agrícolas, em especial, da soja e do milho. A maior rentabilidade do produtor tem alavancado as negociações de insumos para uma ou duas safras à frente, devido à boa relação de troca de grãos por fertilizantes agrícolas.

Figura 1. Insumos: variação (%) anual de volume, dos preços e do faturamento – 2020/2019 com informações de agosto

A indústria de rações apresenta projeção de crescimento de 6,85% do seu faturamento anual, impulsionado pelo avanço de 3,24% dos preços, na comparação entre períodos iguais, e pelo aumento de 3,50% esperado para produção anual. O desempenho positivo dessa indústria reflete o esforço da pecuária brasileira para atender aos incrementos de demanda. Contudo, conforme relatórios anteriores, pontua-se que a alimentação animal tem sido um dos principais insumos pecuários a pressionar as margens do produtor, em virtude da alta dos preços da soja e do milho.

Quanto à indústria de máquinas agrícolas, a projeção indica redução do faturamento anual (-6,76%), combinação da queda dos preços (-2,78%), na comparação entre períodos iguais, e da queda esperada para a produção anual (-4,10%). A produção de máquinas agrícolas foi afetada pela pandemia da covid-19. De um lado, houve interrupção temporária do fornecimento de matéria-prima oriunda da China e da Europa; de outro, mesmo após a regularização das entregas dos componentes importados, a produção nacional foi paralisada em virtude das medidas de distanciamento social, com algumas fábricas tendo suas atividades interrompidas entre 20 a 30 dias. Ainda assim, de acordo com a Anfavea, é esperado crescimento no setor para este ano, devido ao bom desempenho das commodities agrícolas e ao Plano Safra – perspectiva que poderá ser avaliada nos próximos relatórios.

SEGMENTO PRIMÁRIO: PIB agropecuário mantém destaque no agronegócio

O PIB do segmento primário do agronegócio cresceu 3,92% em agosto, acumulando alta de 23,03% no período[1] (Tabela 1). Em agosto, o PIB do segmento primário agrícola cresceu 4,75% e o do segmento primário pecuário, 2,54% (Tabela 2). Nos primeiros oito meses do ano, as altas foram de 30,19% para o segmento primário agrícola e 11,84% para o segmento primário pecuário (Tabela 3).

Para o segmento primário agrícola, o crescimento esperado do faturamento no ano é de 21,09%, refletindo as altas de 17,27% dos preços e de 3,25% da produção, considerando as variações médias ponderadas das culturas acompanhadas. Entre os produtos, os destaques em termos de altas de preços no período foram: milho, arroz, café, soja, trigo e cacau. O preço da cana, produto de alta relevância no PIB, também cresceu. Quanto à produção, são esperadas safras maiores em 2020 para algodão, arroz, cacau, café, feijão, milho, soja, trigo e madeira para celulose.

Para o segmento primário pecuário, considerando a média das atividades acompanhadas, houve alta de 14,51% nos preços na comparação entre os períodos. Já para a produção, espera-se recuo anual médio de 1,71%. Como destacado em relatórios anteriores, a redução da produção média esperada do segmento reflete exclusivamente o comportamento para o boi gordo, haja vista os aumentos esperados para suínos, ovos, leite e frango. Como reflexo dos bons preços, espera-se crescimento do faturamento anual do segmento, de 12,55%.

As Figuras 2 e 3 e a Tabela 4 detalham os resultados específicos do segmento por atividades agrícolas e pecuárias. Entre as culturas do segmento primário agrícola acompanhadas, espera-se crescimento de faturamento em 2020 para: arroz, cacau, café, cana-de-açúcar, feijão, milho, soja, trigo e uva. Já as culturas para as quais se esperam quedas no faturamento são: algodão, banana, batata, fumo, laranja, mandioca, tomate, madeira em tora, madeira para celulose e lenha e carvão.

Dentre as culturas com projeção de crescimento do faturamento anual, destaca-se o caso do trigo. Para o cereal, os aumentos na produção esperada, de 32,57%, e nos preços, de 21,43% na comparação entre janeiro a agosto de 2020 e o mesmo período de 2019, explicam o avanço projetado de 60,98% no faturamento. Segundo a equipe Trigo/Cepea, as negociações de trigo no mercado interno foram pontuais nos meses de julho e agosto, pois os produtores estavam atentos às ofertas da nova safra e à contabilização de possíveis danos da frente fria que assolou a região Sul do país. Então, a alta das cotações na comparação entre períodos foi reflexo especialmente do seu comportamento no primeiro semestre do ano, influenciado pela desvalorização do Real frente ao dólar, pelo período de entressafra no Brasil e na Argentina e pela alta dependência das importações (escassez de trigo no mercado doméstico e firme demanda interna). No que tange à produção, a Conab aponta que o avanço é reflexo do incremento de área e da expectativa de melhor produtividade. Até o momento, este cenário se mantém, uma vez que as possíveis perdas de produtividade em decorrência das intempéries climáticas serão contabilizadas com o progresso da colheita.

Na cultura do café, os aumentos na produção esperada, de 24,98%, e nos preços, de 24,75% na comparação entre períodos, resultaram no avanço projetado de 55,92% no faturamento. De acordo com a Conab, a maior produção é resultado do efeito dos investimentos em tecnologias, da bienalidade positiva e das boas condições climáticas na produtividade. Com relação aos preços, a equipe Café/Cepea destaca que o movimento de alta refletiu o comportamento das cotações no primeiro trimestre do ano e nos meses de julho e agosto. Nos primeiros três meses do ano, a alta refletiu o período de entressafra e a oferta restrita de cafés finos da safra 2019-2020, a desvalorização cambial e os impactos da pandemia na cadeia do café – aumento da demanda internacional no curto prazo (devido às estocagens de produtos), problemas de logística decorrentes das restrições de mobilidade interna nos países produtores e aceleração do consumo dos estoques de passagem nos países consumidores. Nos meses de julho e agosto, as cotações foram impulsionadas pela demanda firme (especialmente para cafés de melhor qualidade), implicando em valorização externa do grão, e pela desvalorização do Real frente ao dólar.

Para a cultura do arroz, a elevação dos preços na comparação entre janeiro a agosto de 2019 e de 2020 (32,47%) e da produção esperada do ano (6,68%) explicam a projeção de crescimento do faturamento (41,31%). Segundo a Conab, a maior produção está relacionada aos ganhos produtivos, haja vista a redução da área destinada ao cultivo do grão, especificamente para o arroz irrigado. Devido aos eventos climáticos que favoreceram o desenvolvimento da cultura, a Companhia destaca que as lavouras das principais regiões produtoras, sobretudo no Rio Grande do Sul, tiveram um bom desempenho na safra. Com relação aos preços, a equipe Arroz/Cepea destaca que as sucessivas valorizações que se iniciaram em março refletiram a desvalorização do Real frente ao dólar, a postura mais ativa dos agentes que anteciparam suas compras nos meses de março e abril devido à pandemia e o alto ritmo de negociação das indústrias e beneficiadoras no mês de maio, com a demanda doméstica aquecida. Em julho e em agosto, as cotações foram impulsionadas pela demanda aquecida e pela retração por parte dos orizicultores, que limitaram as vendas de novos lotes de arroz em casca no mercado spot à espera de preços maiores. Em agosto, as cotações registraram recordes reais da série histórica do Cepea, iniciada em 2005.

Com relação à cultura do milho, a projeção de maior faturamento anual (38,06%) é reflexo da alta de 34,73% nos preços reais na comparação entre períodos e do crescimento de 2,47% esperado para a produção anual. Segundo a equipe Milho/Cepea, a alta nas cotações é resultado das valorizações que ocorreram no primeiro trimestre do ano e nos meses de maio, julho e agosto; em abril e junho, elas foram pressionadas pela redução na demanda interna, influenciada pela pandemia, pela pressão de compradores, que estavam atentos à colheita da segunda safra, e pela maior oferta no mercado de lotes. No primeiro trimestre do ano, a elevação esteve relacionada à maior demanda pelo grão e à disponibilidade restrita. Em maio, as incertezas quanto ao desenvolvimento da segunda safra impulsionaram as cotações. No mês de julho, a alta foi influenciada pela desvalorização do Real frente ao dólar, pela firme demanda externa e pela elevação do frete. Já em agosto, em que as cotações atingiram recordes nominais da série do Cepea, a alta refletiu a demanda interna aquecida, o bom ritmo das exportações, o baixo interesse de vendedores em negociar grandes lotes, a desvalorização do Real frente ao dólar e o avanço nos preços internacionais. No que se refere à produção, a Conab aponta que apesar do crescimento modesto, a produção deve ser recorde. Segundo a Companhia, o avanço está relacionado à expansão da área e dos investimentos realizados na cultura, visto que condições climáticas adversas limitaram o potencial produtivo na primeira e segunda safras em importantes regiões produtoras. Para a terceira safra, há expectativa de boa produtividade em face do positivo quadro climático.

No caso da soja, a projeção de maior faturamento anual (31,14%) reflete as altas nas cotações do produto na comparação entre períodos (25,76%) e na produção esperada para o ano (4,28%). De acordo com a equipe Soja/Cepea, nos meses de março e abril, novos compradores internacionais direcionaram suas aquisições ao Brasil, visto o preço competitivo e o grande volume da produção. Em maio, as cotações renovaram as máximas nominais em algumas regiões e, em junho, houve algum recuo, resultado da finalização da colheita de soja na Argentina, do amplo estoque norte-americano, do clima favorável nos Estados Unidos e da valorização cambial. No mês de julho, as cotações avançaram devido ao baixo excedente interno, à firme demanda das indústrias brasileiras e à retração dos sojicultores em negociar novos volumes a curto prazo, cenário que estimulou agentes a negociarem a produção das duas próximas safras. Já em agosto, os preços atingiram novos recordes nominais, resultado da demanda aquecida, tanto de indústrias domésticas quanto de importadores. De acordo com a Conab, mesmo com o forte impacto negativo causado pelo desempenho da safra no Rio Grande do Sul, a produção de soja atingiu recorde histórico, reflexo da expansão da área e dos ganhos produtivos médios, com importantes estados produtores apresentando produtividade recorde.

Figura 2. Agricultura: Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2020/2019 com informações de agosto

No caso do feijão, a projeção de maior faturamento (14,82%) é resultado dos maiores preços reais (7,28%) na comparação entre períodos e da expansão da produção esperada para o ano (7,03%). De acordo com a Conab, a partir de fevereiro houve recuperação das cotações do produto, impulsionadas de forma significativa pelo aumento da demanda do varejo, que teve grande salto em março, como reflexo do coronavírus, e se manteve aquecida desde então. A baixa oferta do produto (quantidade e qualidade) em abril e maio reforçou esse movimento. Nos meses de julho e agosto, os preços permaneceram atrativos, reflexo da retração dos produtores em negociar o grão. Com relação à produção, a Companhia aponta que o crescimento é decorrente dos ganhos produtivos, tendo em vista que não se observou aumento significativo na área.

Para a cana-de-açúcar, a expansão esperada de 4,71% no faturamento é reflexo apenas da alta nos preços reais, de 4,81% na comparação entre janeiro a agosto de 2020 e o mesmo período de 2019, uma vez que se espera ligeira redução de 0,10% na produção. De acordo com a Conab, a queda na produção advém da menor área destinada à cultura, visto que há projeção de maior produtividade (investimentos em tecnificação, melhorias de manejo e clima favorável). A elevação nas cotações reflete o comportamento altista para o açúcar, como será retratado posteriormente.

Tabela 4. Agricultura: Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2020/2019 com informações de agosto

Entre as culturas para as quais se projetam quedas no faturamento frente a 2019, destacam-se as que compõem a horticultura. Para a batata, a projeção de queda (-37,56%) é reflexo dos menores preços reais (-29,22%), quando comparados períodos iguais, e da menor produção esperada (-11,78%). De acordo com a equipe Hortifruti/Cepea, de junho a agosto os preços foram pressionados para baixo pela demanda enfraquecida, mesmo com a flexibilização das medidas relacionadas à pandemia, e pela maior oferta dos tubérculos, devido à intensificação da safra das secas, ao início da safra de inverno e à antecipação do ciclo das primeiras lavouras na região de Vargem Grande do Sul (SP). Segundo a equipe, a desvalorização só não foi maior por causa da acentuada quebra de safra na temporada das secas nas regiões do Sul do País, o que elevou os preços e fez com que produtores de outras regiões adiantassem a colheita – cenário que diminuiu a quantidade de batatas nos meses de julho e agosto.

Para o tomate, a redução esperada no faturamento (-24,11%) é reflexo da projeção de menor produção anual (-1,92%) e dos menores preços reais (-22,62%) na comparação entre os primeiros oito meses de 2019 e de 2020. Segundo a equipe Hortifruti/Cepea, de maio a julho, as cotações foram pressionadas pela maior oferta de tomate, devido às temperaturas mais elevadas (que aceleram a maturação) e ao avanço da safra de inverno, e pela demanda limitada por conta das restrições relacionadas à pandemia. Já em agosto, os preços subiram, devido à menor oferta do tomate. Segundo a equipe, a desaceleração da primeira parte da safra de inverno e o frio intenso (maturação mais lenta) em agosto também contribuíram para a menor disponibilidade.

No caso da banana, a projeção de redução de faturamento é de 4,60%, via queda de 4,98% esperada na produção. Para os preços, houve ligeira valorização de 0,41% na comparação entre períodos. A equipe Hortifruti/Cepea evidencia que, nos meses de abril e maio, os preços da variedade nanica recuaram significativamente, devido ao ritmo dos negócios afetados pela prorrogação da quarentena, ao menor poder de compra dos comerciantes e à intensificação da colheita. No mês de junho, os preços foram pressionados devido aos problemas de qualidade, ao leve aumento na oferta em algumas regiões e às menores negociações na segunda quinzena do mês, mesmo com a flexibilização da quarentena. Em agosto, ao contrário, as cotações subiram devido à menor oferta, reflexo da entressafra nas principais regiões produtoras, do efeito do ciclone bomba que atingiu o Norte de Santa Catarina no início de julho e das recentes frentes frias e chuvas de granizo registradas no estado.

Com relação à laranja, a retração esperada no faturamento (-2,64%) é reflexo apenas da menor produção esperada (-3,44%), uma vez que se observam maiores preços reais (0,83%) na comparação entre janeiro a agosto de 2020 e o mesmo período de 2019. Segundo a equipe Hortifruti/Cepea, a partir de abril, as variedades de laranja tiveram suas cotações pressionadas devido: i) ao menor ritmo de comercialização (desaceleração da demanda no período de quarentena, clima mais ameno no mês de maio e processamento industrial reduzido); ii) à intensificação da oferta de laranjas precoces nos pomares paulistas; iii) e à  menor qualidade das frutas em São Paulo no mês de maio – afetada pela ausência de chuva. No mês de julho, os preços subiram, impulsionados pela demanda industrial mais aquecida, pela menor oferta da fruta e pela safra mais tardia. Já no mês de agosto, mesmo com o início da colheita das variedades tardias no estado de São Paulo, os preços da laranja seguiram em alta. Segundo a equipe, este resultado é reflexo da disponibilidade controlada – devido à boa absorção das indústrias e à menor produção na temporada – e da firme demanda, principalmente diante de temperaturas acima da média para o período.

Para a cultura do algodão, a queda de faturamento esperada é de 1,01%, reflexo dos preços reais 5,62% menores na comparação entre períodos, visto que se projeta crescimento de 4,88% na produção anual. Segundo a Conab, o avanço da colheita vem confirmando a produção esperada recorde na série histórica da cultura, resultado do incremento de área, dos grandes investimentos feitos no setor e dos ganhos produtivos – influenciados pelas boas condições climáticas. Com relação aos preços, a equipe Algodão/Cepea destaca que, em março e abril, as cotações foram pressionadas pelo descompasso entre oferta e demanda, esta última afetada negativamente pela pandemia. Já em junho e julho, as negociações envolvendo algodão em pluma registraram melhora. Especificamente em julho, as cotações foram impulsionadas devido à menor oferta no mercado spot (priorização do cumprimento de contratos) e à demanda ligeiramente aquecida (algumas empresas estiveram mais ativas na busca por novos lotes). No mês de agosto, as cotações também subiram, reflexo da posição firme de vendedores, que priorizaram o cumprimento de contratos a termo, especialmente para exportação, aproveitando a rentabilidade mais atrativa.

Quanto às atividades que compõem o segmento primário de base pecuária, conforme Figura 3, destacam-se as projeções de crescimento do faturamento anual da criação de boi gordo e suíno para corte e da avicultura de postura, considerando as informações até agosto.

Figura 3. Pecuária: Variação anual dos preços e do faturamento 2020/2019 com informações de agosto

Para a suinocultura para corte, a projeção indica crescimento do faturamento anual (26,70%), impulsionado tanto pelo avanço dos preços no acumulado de janeiro a agosto de 2020 frente ao de 2019 (17,21%), quanto pelo aumento esperado para a produção anual (8,09%). Em agosto, conforme a equipe Suíno/Cepea, o ritmo acelerado de alta nos preços do animal se deveu ao incremento na demanda por novos lotes de carne pelos frigoríficos, frente ao consumo aquecido, tanto doméstico quanto externo. Esse movimento de alta foi intensificado pela oferta reduzida de animais em peso ideal para abate. Em termos nominais, os preços renovaram as máximas em todas as praças acompanhadas pelo Cepea; em termos reais, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul registraram recordes na série histórica do Cepea, iniciada em julho de 2010.

Para a bovinocultura de corte, a projeção indica crescimento do faturamento anual (18,24%), devido ao avanço de preços (27,67%) na comparação entre períodos iguais; haja vista a redução esperada para a produção anual (-7,39%). Segundo a equipe Boi/Cepea, a redução do abate está atrelada à oferta restrita de boi gordo no campo, o que, consequentemente, mantém os preços da arroba do animal em alta, sobretudo frente ao contexto de forte demanda internacional combinado à desvalorização do Real frente ao dólar. Todavia, apesar dos patamares recordes dos preços do boi, a margem do pecuarista tem sido pressionada pelos altos preços dos animais de reposição (bezerro e boi magro) e pela valorização de insumos pecuários – como milho e farelo de soja, que operam com altas importantes ao longo do ano.

Para a avicultura de postura, a projeção indica crescimento do faturamento anual (21,07%), dado o avanço dos preços (16,82%) na comparação entre períodos e o crescimento esperado da produção anual (3,63%). Especificamente em agosto, conforme a equipe Frango/Cepea, houve recuo nos preços médios pelo quarto mês consecutivo. Como estratégia para conter a queda dos preços, produtores buscaram reduzir os estoques, tanto a partir da concessão de descontos, quanto por meio do descarte das poedeiras mais velhas – o que foi limitado pelas dificuldades de negociação com frigoríficos.

Sobre a avicultura para corte, projeta-se redução do faturamento anual (-3,03%), devido ao recuo dos preços (-3,18%) na comparação entre períodos iguais, haja vista a quase estabilidade esperada para a produção anual (0,16%). Embora, comparativamente aos patamares de 2019 os preços estejam mais baixos, em agosto houve alta pelo terceiro mês consecutivo, conforme equipe Frango/Cepea. A elevação se deveu à alta competitividade da proteína no mercado doméstico frente às concorrentes e ao alto volume de embarques, que atingiram o segundo maior patamar do ano em agosto. Frente a isso, a indústria tem aumentado a procura por animais a fim de assegurar o atendimento de sua linha de produção, impulsionando os preços do animal vivo.

Por fim, a atividade leiteira apresenta projeção de queda do seu faturamento anual (-5,09%), devido ao recuo dos preços (-5,48%) na comparação entre períodos iguais, haja vista a sutil alta esperada para a produção anual (0,41%). Apesar de os preços estarem em patamares inferiores aos praticados em 2019, em agosto deste ano o preço pago ao produtor registrou recorde real na série histórica do Cepea. O aumento dos preços esteve relacionado à redução da captação de leite, associada incialmente a um efeito sazonal (entre março e agosto há diminuição do volume de chuvas no Sudeste e Centro-Oeste, o que reduz a disponibilidade de pastagens). Essa redução foi ainda intensificada por fatores climatológicos e pelo aumento dos custos. A alta dos preços também foi resultado da redução considerável dos estoques de lácteos, destacando-se a disputa das indústrias pela matéria-prima, cuja disponibilidade também foi prejudicada pela redução das importações devido à forte desvalorização do Real frente ao dólar.

SEGMENTO INDUSTRIAL: agroindústria cresce em agosto e registra estabilidade no acumulado do ano

Entre os segmentos do agronegócio, a agroindústria tem sido a mais prejudicada pelas medidas relacionadas à Covid-19. Desde junho, no entanto, tem sido observada alguma recuperação. Especificamente em agosto, o PIB do segmento cresceu novamente (0,43%), tornando o resultado acumulado no ano de estabilidade (-0,09%). A agroindústria de base agrícola cresceu pelo segundo mês consecutivo em agosto, 0,12%; mas, no acumulado, o resultado se manteve negativo, em 3,72%. Já a agroindústria de base pecuária, cresceu 1,51% em agosto e 12,7% no período (Tabelas 1, 2 e 3).

Na indústria de base agrícola, a variação anual do faturamento se tornou positiva em agosto, em 0,27%. Essa variação resulta de preços médios 3,06% maiores e de queda de 2,71% na produção média do segmento. A queda de produção no acumulado anual se tornou menos intensa em agosto, com destaque para produtos de madeira, móveis de madeira, têxteis e vestuários de base natural e bebidas. Por outro lado, ainda não se observou recuperação da produção industrial para papel, biocombustíveis e conservas de frutas, legumes e outros vegetais. Para a indústria de base pecuária, o aumento esperado no faturamento anual é de 6,87%, com preços 14,02% maiores e queda de 6,27% na produção.

No acompanhamento feito pelo Cepea para a evolução do PIB, as indústrias de base agrícola para as quais se espera crescimento do faturamento em 2020, com base em informações até agosto, são, apenas: moagem e fabricação de produtos amiláceos, açúcar, óleos vegetais e produtos de fumo. Para todas as demais indústrias de base agrícola, se espera queda do faturamento em 2020 (Figura 4).

Destaque é dado para a indústria do açúcar, em que os aumentos na produção esperada, de 32,0%, e nos preços, de 20,6% na comparação entre períodos, resultam no avanço projetado de 59,2% no faturamento. Como destacado em relatórios anteriores, o setor tem destinado uma maior quantidade de ATR para a produção de açúcar em detrimento do etanol, com o intuito de reduzir os impactos da crise que atingia o mercado de biocombustíveis. Quanto aos preços, segundo a equipe Açúcar/Cepea, foram pressionados nos meses de março e abril dado o cenário de incerteza na economia mundial devido à pandemia. Já de maio a agosto, mesmo com uma maior produção, a demanda externa aquecida, a recuperação dos preços do petróleo e o volume destinado para as exportações contribuíram para a sustentação das cotações no mercado doméstico. A equipe destaca os preços nos primeiros oito meses de 2020 foram impulsionados, de modo geral, pela projeção de déficit global (menor produção em importantes países produtores) e pela desvalorização cambial.

Com relação à indústria de óleos vegetais, o crescimento esperado de 29,4% para o faturamento anual reflete a alta de 22,9% nos preços reais, na comparação entre períodos, e o aumento esperado da produção, de 5,3%. Segundo a equipe Soja/Cepea, apesar de a pandemia ter frustrado as expectativas para o início do ano, a partir de junho, as cotações foram impulsionadas pelo aumento da demanda do óleo de soja para a produção de biodiesel. Especificamente em agosto, a comercialização de óleo de soja esteve aquecida, com indústrias brasileiras apresentando dificuldade em suprir a demanda. Dessa forma, segundo a equipe, houve importação desse coproduto do Paraguai.

No caso dos biocombustíveis, espera-se redução de 17,3% no faturamento, tendo em vista a produção anual esperada 14,3% menor. Para os preços, também houve queda de 3,4% na comparação entre os primeiros oito meses de 2020 e de 2019. A Conab evidencia que a redução na produção esperada se deve à mudança de estratégia das unidades produtoras, em favor do açúcar. Segundo a equipe Etanol/Cepea, nos meses de março e de abril, os preços foram pressionados fortemente devido à queda nas cotações do petróleo e à diminuição da demanda por etanol em decorrência da pandemia. De maio em diante, em geral, as cotações foram impulsionadas diante da volta gradativa do consumo, por conta da flexibilização das normas de restrição, e da vantagem competitiva do biocombustível frente à gasolina C. Em agosto, a equipe aponta que o volume comercializado de etanol foi o maior da temporada (que se iniciou oficialmente em abril), apesar de apresentar queda no acumulado de abril a agosto.

Figura 4. Agroindústrias de base agrícola: variação anual do volume, preços reais e faturamento das indústrias agrícolas acompanhadas

No caso das indústrias têxtil e de vestuário, as projeções de queda de faturamento anual (-18,6% e -36,5%, respectivamente) são resultantes, principalmente, da queda na produção esperada para este ano (-17,1% e -34,7%, respectivamente). Estas indústrias foram fortemente impactadas pela pandemia, sofrendo influência do isolamento social, do direcionamento do consumo para alimentos e remédios e da condição econômica no País (aumento do desemprego e redução de salários). Quanto à produção industrial, houve alguma recuperação para a indústria têxtil de julho em diante e para a de vestuários em agosto.

Quanto à agroindústria de base pecuária, conforme se observa na Tabela 5, apenas a indústria de abate e preparação de carnes e pescado apresenta projeção de crescimento para este ano; ao passo que as indústrias de laticínios e de preparação de couros apresentam projeção de queda do faturamento anual.

No caso da indústria do abate e preparação de carnes e pescados, a projeção de crescimento do seu faturamento anual é de 12,30%, impulsionado pelo avanço dos preços (17,69%) na comparação do acumulado de janeiro a agosto de 2019 frente ao de 2020, haja vista a redução esperada para a produção anual (-4,18%). De forma geral, os preços da indústria do abate têm sido impulsionados pela alta liquidez no mercado doméstico e/ou externo, o que, em alguns casos, é intensificado pela oferta restrição de animais.

Conforme a equipe Suíno/Cepea, a alta nos preços está diretamente relacionada à oferta reduzida de animais em peso ideal para abate e aos embarques de carne suína aquecidos (apesar da redução em agosto em comparação a julho). No caso da carne bovina, segundo a equipe Boi/Cepea, o cenário é vantajoso para os frigoríficos que atendem o mercado externo, tendo em vista a elevada demanda internacional e a forte desvalorização do Real frente ao dólar. Por outro lado, os frigoríficos que atuam somente no mercado doméstico têm sido prejudicados pelos patamares recordes do preço da matéria-prima e pelo enfraquecimento da demanda por carne bovina, em comparação às demais proteínas. Para a carne de frango, a alta liquidez, seja no mercado doméstico ou no externo, impulsionou tanto os preços do frango inteiro quanto os preços dos cortes e miúdos.

Quanto à indústria de laticínios, projeta-se queda para o faturamento anual (-1,45%), resultado da contraposição do avanço dos preços (6,42%) na comparação entre períodos e da queda esperada para a produção anual (-7,40%). Esse cenário reflete a oferta limitada de matéria-prima, que acirra a disputa entre a indústria e eleva os preços pagos ao produtor, que, por sua vez, são repassados aos preços dos derivados lácteos. Segundo a equipe Leite/Cepea, a demanda por alguns derivados também tem se mantido aquecida – em grande medida, impulsionada pelo aumento da renda proporcionado pelo auxílio emergencial. Concomitantemente, tem-se redução de estoques, em virtude da menor captação de leite no campo.

Tabela 5. Agroindústrias de base pecuária: variação anual do volume, preços reais e faturamento das indústrias pecuárias acompanhadas

SEGMENTO DE SERVIÇOS: PIB dos agrosserviços cresce em agosto e no período

O PIB dos agrosserviços do agronegócio brasileiro cresceu novamente em agosto, 1,36%. Com isso, o segmento acumula alta de 7,28% no período (Tabela 1). O resultado do segmento é positivo em ambos os ramos do agronegócio. No agrícola, o segmento cresceu 1,12% no mês e 2,99% no período (Tabela 2). No ramo pecuário, o PIB dos agrosserviços cresceu 1,9% no mês e 16,43% no período (Tabela 3).

Como destacado em relatórios anteriores, o resultado positivo do PIB do segmento reflete, por um lado, a continuidade do abastecimento do mercado doméstico, apesar dos problemas logísticos e dos desafios impostos pela pandemia, e por outro, o excelente desempenho em termos de exportações.

CONCLUSÕES

O PIB do agronegócio brasileiro cresceu 8,48% de janeiro a agosto de 2020. Os segmentos primário e de agrosserviços mantiveram destaque, com altas de 23,03% e de 7,28% no PIB, respectivamente. Já a agroindústria, segmento do agronegócio mais afetado pelas medidas relacionadas à pandemia, seguiu com o resultado menos satisfatório. Deve-se destacar, no entanto, que depois de recuar em abril e maio, o PIB do segmento agroindustrial tem demonstrado alguma recuperação desde junho – o que explica o resultado de estabilidade (-0,09%) registrado no acumulado do período de janeiro a agosto. Destaca-se também que as dificuldades para o crescimento do PIB agroindustrial se relacionam sobretudo às atividades de base agrícola. A agroindústria da pecuária, por sua vez, tem apresentado crescimento no período, impulsionada pelos maiores preços das carnes e dos laticínios frente a 2019.

Quanto ao forte crescimento do PIB agropecuário, ou do segmento primário, reflete, pelo lado da oferta, a volumosa produção de grãos, com o país tendo produzido uma safra 2019/2020 recorde, e as expansões de produção para suínos e ovos, na pecuária. Por outro lado, reflete o forte avanço dos preços agropecuários reais, resultado dos aumentos expressivos na demanda, tanto externa quanto doméstica, e do alto patamar da taxa de câmbio. No mercado doméstico, os instrumentos de políticas públicas voltados à garantia de renda aos mais impactados pela crise gerada pela pandemia têm contribuído para a sustentação da demanda. Quanto às exportações, além da demanda crescente, reforçada pelo “efeito China”, a rentabilidade e a competitividade têm sido favorecidas pela desvalorização do Real frente ao Dólar.

Alguns pontos relevantes devem ser enfatizados nesse contexto. Primeiramente, a alta no segmento primário de base agrícola, em partes, trata-se de uma recomposição de rendas perdidas entre 2017 e 2019, quando o PIB desse segmento acumulou redução de 20% – mesmo com a produção agrícola tendo crescido quase 20%, refletindo um movimento desfavorável de preços. Em segundo lugar, a maior parte dos produtores não se beneficiou com a forte alta dos preços ao longo de 2020, pelo fato de que o aumento mais intenso ocorreu quando a maior parte da safra já havia sido negociada. Finalmente, os custos de produção também subiram. Na agricultura, dados da CNA mostram que o aumento de custo foi de até 15,1% para o café, 14,6% para o milho, 14,2% para a soja, 9,6% para o arroz e 8,5% para o feijão. A situação em termos de custos é agravada na pecuária. Além dos insumos de alimentação, que estão expressivamente encarecidos já que os grãos operam em patamares recordes, no caso da pecuária de corte, deve-se destacar também as fortes elevações do bezerro e o boi magro.

Então, de modo geral, apesar dos efeitos negativos da pandemia em segmentos específicos do agronegócio - particularmente hortícolas, flores, leite e diversas agroindústrias - o desempenho geral do PIB do setor tem se mostrado favorável em 2020. Apesar desse crescimento em termos de atividade econômica, as margens dos produtores têm sido significativamente afetadas pelos maiores custos de produção, refletindo a alta do preço do Dólar.

ANEXO I – Evolução mensal do PIB DO AGRONEGÓCIO

A1) PIB do Agronegócio: Taxas de variação mensal e acumulado do período (em %)

A2) PIB do Agronegócio: Participações de segmentos (em %)

A3) PIB Volume do Agronegócio: Taxa anual (em %)

A4) PIB DO AGRONEGÓCIO - METODOLOGIA

O Relatório PIB do Agronegócio Brasileiro é uma publicação mensal resultante da parceria entre o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (FEALQ). O agronegócio é entendido como a soma de quatro segmentos: insumos para a agropecuária, produção agropecuária básica (ou primária), agroindústria (processamento) e agrosserviços – como na Figura que segue. A análise desse conjunto de segmentos é feita para o ramo agrícola (vegetal) e para o pecuário (animal). Ao serem somados, com as devidas ponderações, obtém-se a análise do agronegócio.

Pelo critério metodológico do Cepea/Esalq-USP, o PIB do agronegócio é medido pela ótica do produto, ou seja, pelo Valor Adicionado (VA) total deste setor na economia. Ademais, avalia-se o VA a preços de mercado (consideram-se os impostos indiretos menos subsídios relacionados aos produtos). O PIB do agronegócio brasileiro refere-se, portanto, ao produto gerado de forma sistêmica na produção de insumos para a agropecuária, na produção primária e se estendendo por todas as demais atividades que processam e distribuem o produto ao destino final. A renda, por sua vez, se destina à remuneração dos fatores de produção (terra, capital e trabalho).

Após estimado o valor do PIB do agronegócio no ano-base, que desde janeiro/17 refere-se ao ano de 2010, parte-se para evolução deste valor de modo a se gerar uma série histórica, por meio de um amplo conjunto de indicadores de preços e produção de instituições de pesquisa e governamentais. Seja para a estimação anual do valor do PIB, ou para as reestimativas mensais das previsões anuais, consideram-se informações a respeito da evolução do Valor Bruto da Produção (VBP) e do Consumo Intermediário (CI) dos segmentos do agronegócio. Pela evolução conjunta do VBP e do CI, estima-se o crescimento do valor adicionado pelo setor. 

Com base nos procedimentos mencionados e processos adicionais realizados pelo Cepea, os cálculos do PIB do agronegócio resultam em dois indicadores principais, que retratam o comportamento do setor por diferentes óticas:

•      PIB-renda Agronegócio (equivale ao PIB divulgado anteriormente pelo Cepea): reflete a renda real do setor, sendo consideradas no cálculo variações de volume e de preços reais, sendo estes deflacionados pelo deflator implícito do PIB nacional.

•             PIB-volume Agronegócio: PIB do agronegócio pelo critério de preços constantes. Resulta daí a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.

Mensalmente, o foco de análise principal é o PIB-renda Agronegócio, que reflete a renda real do setor. Por conveniência textual, o PIB-renda do agronegócio é denominado apenas como PIB do Agronegócio ao longo deste relatório. Destaca-se que as taxas calculadas para cada período consideram igual período do ano anterior como base, exceto para as quantidades referentes às safras agrícolas, para as quais computa-se a previsão de safra para o ano (frente ao ano anterior).

Importante também destacar que cada relatório considera os dados disponíveis – preços observados e estimativas anuais de produção – até o seu fechamento. Em edições futuras, ao serem agregadas informações mais atualizadas, há a possibilidade, portanto, de ocorrer alteração dos resultados, tanto no que se refere ao mês corrente, como também ao que se refere a meses e anos passados. Recomenda-se, portanto, sempre o uso do relatório mais atualizado. Para uma análise mais detalhada dos aspectos metodológicos, bem como dos resultados dos demais indicadores (PIB volume, Consumo Intermediário, etc.) ver http://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx

[1] Esse resultado, a alta de 23,03%, reflete um crescimento real da renda da agropecuária, ou, a diferença entre o crescimento de 30% no PIB nominal do segmento e o crescimento estimado de 5,73% no deflator do PIB brasileiro, que é o índice de inflação considerado. Para referência, segundo dados das Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, o crescimento nominal do PIB da agropecuária entre os primeiros semestres de 2019 e de 2020 foi de 34,5%.