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Os mercados de produtos florestais no Brasil
O sistema agroindustrial florestal (SAG-florestal), também conhecido como cadeia produtiva florestal, adquire dimensões bastante importantes na economia brasileira. Segundo o último relatório da IBÁ (Indústria Brasileira de Árvores, a principal associação deste SAG), apenas o segmento vinculado às florestas plantadas do SAG em análise gerou PIB de R$ 69,1 bilhões em 2015, equivalente a 1,15% do PIB brasileiro do mesmo ano. Esse grupo exportou US$ 9 bilhões em 2015, equivalentes a 4,7% das vendas externas totais do setor.
O SAG-florestal é composto por mercados com funcionamentos distintos, atrelados muitas vezes ao comportamento de oferta e demanda regionais, o que se reflete em magnitudes e/ou tendências diferentes nos preços dos produtos desse setor.
O SAG-florestal brasileiro produz uma grande gama de produtos, sejam in natura (como lenha, toras e folhas), semiprocessados (como tábuas, ripas, celulose) ou processados (como chapas de madeiras e papéis).
Peculiaridades - A negociação de uma floresta, plantada ou nativa (também chamada de natural), é feita com base no tipo de madeira que se pode retirar da mesma. Uma árvore tem o seu caule com diâmetros decrescentes à medida que se vai de sua base ao ápice. Assim, o comprador de uma árvore avalia o que se pode retirar da mesma ao vê-la em pé. Isso permite definir três tipos de preços para uma árvore em pé, em especial as de eucalipto e pinus: o preço total, o preço da parte que poderá ser processada em serraria e o preço da parte que poderá ser vendida como lenha. Essas cotações são denominadas, respectivamente, de preço da árvore em pé, preço da tora para processamento em serraria na árvore em pé e preço da lenha em pé.
Uma árvore de eucalipto de sete anos ou de pinus de onze anos pode ser inteiramente vendida para produzir cavacos a serem utilizados para produção de celulose ou chapas de madeira. Isso permite ter o preço da árvore em pé para produção de celulose. Os preços dessas partes da árvore podem também ser definidos após o abate e com os produtos empilhados na fazenda. Há, ainda, o preço desses produtos (lenha, toras e cavacos) postos no pátio do comprador.
Outra peculiaridade dos mercados de produtos florestais madeireiros é o uso do metro estéreo e do metro cúbico sólido. O metro estéreo é o metro cúbico de lenhas ou toras empilhadas, contando o espaço vazio entre as mesmas. O metro cúbico sólido equivale a descontar esses espaços. Normalmente, multiplica-se o metro estéreo de toras empilhadas por 0,70 (se o produto for mais uniforme, pode-se multiplicar por 0,75) para ter-se o metro cúbico sólido. Já as madeiras semiprocessadas (tábuas, ripas e caibros) são mensuradas em metro cúbico sólido. Celulose, papéis e aparas são medidos em toneladas.
A terceira peculiaridade dos mercados de produtos florestais é que, enquanto lenha, toras, madeira mecanicamente processada, aparas e papéis são negociados em reais no mercado doméstico, a celulose é em dólar, sendo que, nas vendas domésticas, o preço em dólar é convertido em Reais.
Preços – Analisando-se o intervalo de janeiro 2016 a fevereiro de 2017, os preços dos produtos florestais in natura oriundos de eucalipto e pinus se mostram menores em São Paulo, frente a outros estados brasileiros menos desenvolvidos. Para madeiras in natura e semiprocessadas da mesma espécie, os preços não apresentam variações similares no estado de São Paulo. Apesar das restrições ambientais às explorações de florestas nativas do Norte do Brasil, os preços de suas madeiras não têm subido. Para a celulose, os valores em dólar registram recente alta nos mercados interno e externo, revertendo a tendência de queda observada no segundo semestre de 2016.
Tradicionalmente, o estado de São Paulo apresenta valores mais elevados para uma série de commodities agropecuárias, pelo fato de suas produções estarem mais próximas dos principais mercados consumidores, o que permite ao produtor adicionar ao seu ganho o custo que precisaria ser arcado para transportar produtos elaborados em locais mais distantes. Mas, no caso de madeiras in natura oriundas de florestas plantadas (em especial lenha e madeira para produção de cavacos), os preços estão, ao longo do último ano, inferiores aos praticados em alguns estados do Nordeste.
O metro estéreo de madeira de eucalipto em pé na fazenda para produção de lenha, por exemplo, tem se mantido em média em R$ 31,05 no estado de São Paulo desde meados de 2016, após ter tido quedas nos 12 meses anteriores (em junho de 2015, o preço médio foi de R$ 33,14 por metro estéreo). Na Bahia, há negociações atuais (março/17) do metro estéreo do mesmo produto entre R$ 35,00 e R$ 38,00. Esse diferencial ocorre devido à relativa maior oferta em São Paulo desse produto em relação à sua demanda e ao fato dos grandes consumidores de energia desse estado poderem alternar o consumo de lenha com o de gás natural, esse último barateado com a valorização cambial nos dois primeiros meses de 2017.
Os preços de madeiras in natura e semiprocessadas de espécies exóticas, como pinus e eucalipto, não têm se alterado na mesma intensidade nos últimos 14 meses. Comparando os preços vigentes em fevereiro de 2017 com os de janeiro de 2016 no estado de São Paulo (dados do Grupo CEPEA-Florestal), observa-se que a cotação média do metro estéreo em pé na floresta da tora de eucalipto para processamento em serraria aumentou em 27,3% e a da tora de pinus, em 6,8%. No mesmo período, os preços médios do metro cúbico de pranchas de eucalipto e de pinus subiram respectivos 7,1% e 5,3%, para uma inflação acumulada de 6,1% segundo o IGP-DI. Há, claramente, mudanças de preços relativos devido às diferentes condições de oferta e demanda para esses produtos.
Há expressivo mercado para madeiras oriundas de florestas nativas apesar das restrições ambientais à exploração. Para pranchas e toras de essências nativas no Pará, os preços das de jatobá e maçaranduba caíram, ainda que de forma intermitente, de janeiro de 2016 a fevereiro de 2017. No mesmo período, os preços em reais das pranchas e toras de ipê, angelim pedra, angelim vermelho e cumaru permaneceram estáveis. Vale ressaltar que há mercados distintos para um mesmo produto dependendo da espécie utilizada.
Para a celulose, no segundo semestre de 2016, ocorreram sucessivas quedas dos preços em dólar, em especial na Europa e no Brasil. Já nos dois primeiros meses de 2017, esses valores têm subido. A tonelada da celulose de fibra longa na Europa, que em junho de 2016 era cotada a US$ 815, caiu para US$ 810 em dezembro do ano passado, elevando-se para US$ 818 em janeiro de 2017, segundo dados da Natural Resources Canada. No Brasil, as cotações em dólar da tonelada de celulose de fibra curta nesses mesmos meses foram de, respectivamente, US$ 688, US$ 658 e US$ 674 (segundo dados do Grupo CEPEA-Florestal).
*Carlos José Caetano Bacha é Professor da Esalq/USP e pesquisador do Cepea