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Inovação no agronegócio
No início da segunda quinzena de maio, o Brasil teve uma das melhores notícias dos últimos dois anos, frente a tudo o que tem acontecido na nossa economia: estima-se que o País saia da recessão em 2017 e tenha crescimento de 0,5% e inflação abaixo de 4%, de acordo com o índice antecipado do Banco Central. Apesar da profunda crise política que traz um alto grau de incerteza a estas projeções, é possível afirmar que o setor do agronegócio será o salvador da pátria, mais uma vez, por representar metade da expansão do PIB neste ano. Quando dizemos “mais uma vez”, não agimos com prepotência ou arrogância, mas, sim, porque dados do último ano mostram que o setor de agropecuária – englobando insumos, indústria e serviços dentro da cadeia, teve seu PIB 4,48% maior do que 2015. Em escala mundial, a produção ainda precisa crescer para dar conta da demanda. Esse mercado em expansão é uma oportunidade de bons negócios, mas é, principalmente, um grande desafio – produzir mais sem destruir o planeta no caminho, trazendo mais inovação e sustentabilidade para o segmento.
A sustentabilidade deve ser vista, portanto, em três dimensões: social, ambiental e econômica. Tanto quanto a necessidade por alimentos, nas últimas décadas, observou-se um aumento significativo das pressões sociais em prol de causas ambientais em praticamente todo o mundo.
Segundo estimativa da ONU, será necessário alimentar mais de 9 bilhões de pessoas até o meio deste século. Para evitar uma crise alimentar em escala mundial, conforme estimativas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), é necessário aumentar a produção em 70%. Neste cenário, a inovação, em conjunto com práticas sustentáveis no campo, não será apenas lucrativa, mas necessária para a prosperidade da humanidade. Para isso, a humanidade conta com a sua habilidade inventiva.
A tecnologia empregada nos defensivos agrícolas ajudou a aumentar a produção agrícola brasileira nas últimas décadas, mas a inovação é, por definição, dinâmica e, portanto, precisa incessantemente de pesquisas. As novas tecnologias que estão no papel agora farão com que o Brasil aumente ainda mais a produtividade agrícola nos próximos anos.
O Brasil, um dos maiores produtores agrícolas do mundo, usou 18,5% da produção mundial de defensivos ou fitossanitários em 2015. Nos últimos cinco anos, esse consumo cresceu 14%, mas, no mesmo período, a produção de grãos aumentou 40%. Sobre os defensivos agrícolas, precisamos manter a responsabilidade para com o ambiente. O produto precisa ser inofensivo tanto ao produtor quanto ao consumidor final.
Pequenas propriedades rurais conseguem alta produtividade em pouco espaço graças a um intenso esforço para desenvolver técnicas e defensivos. Quando aplicado nas lavouras de forma consciente, ao proteger de pragas, doenças e ervas daninhas, os defensivos aumentam a produção sem necessitar ampliar a área de plantio.
Segundo Johan Schot e Frank W. Geels (2008), da Universidade de Tecnologia de Eindhoven, o desenvolvimento sustentável requer mudanças técnicas e sociais, por elas estarem profundamente relacionadas. O Relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento definiu o desenvolvimento sustentável como aquele que “atende às necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”.
No Brasil, a inclinação à inovação ainda é tímida. Uma parcela relevante da nossa competitividade internacional é fundamentada em uma produção que faz uso de recursos naturais.
Sobre os investimentos públicos, 0,61% do PIB brasileiro é destinado ao desenvolvimento de tecnologia, número um pouco abaixo do 0,69% investido em média pelos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Pela iniciativa privada, a diferença entre o Brasil e outros países é ainda maior: apenas 0,55% do PIB é aplicado em pesquisa e desenvolvimento. A Coreia do Sul, por exemplo, investe 2,68%.
Atualmente, o incentivo do governo aos investimentos para a inovação chega, principalmente, por meio de renúncia fiscal, a chamada Lei do Bem (Lei 11.196/05). No mundo, esse modelo se mostrou bem-sucedido em longo prazo.
Apesar de a inovação ser palavra-chave do novo milênio, temos carência na produção tecnológica. É preciso compreender que ampliar a capacidade competitiva do País visa investimento em inovação e acarretará em vantagens sociais e ambientais.
*Mario Von Zuben é Diretor executivo da Andef e organizador do Fórum Inovação para Sustentabilidade na Defesa Vegetal.