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PIB do Agro
9 de abril de 2025
Desempenho do quarto trimestre reverte a tendência de queda anual, e PIB do Agronegócio avança 1,81% em 2024
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O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), registrou crescimento de 4,48% no quarto trimestre de 2024. Esse bom desempenho permitiu uma reversão do movimento de queda que era observado até o terceiro trimestre, e, no acumulado de 2024, o PIB avançou 1,81% (Tabelas 1 e 2). Com isso, o resultado se aproximou da previsão anual para o PIB divulgada em dezembro de 2024 pela CNA, que indicava um crescimento de 2% (para mais detalhes, ver link).

Ao analisar os diferentes segmentos do setor e comparando o terceiro com o quarto trimestre de 2024, observam-se aumentos nos PIBs dos insumos (3,17%), do segmento primário (4,33%), das agroindústrias (3,72%) e dos agrosserviços (5,16%) – conforme demonstrado na Tabela 2. Esse desempenho positivo ao longo do trimestre foi impulsionado pela elevação do valor bruto da produção, fator que esteve relacionado ao aumento dos preços reais no período.

Sob a perspectiva dos ramos do agronegócio, houve crescimento tanto no agrícola (2,02%) quanto no pecuário (10,71%) no último trimestre de 2024. No ramo agrícola, todos os segmentos apresentaram aumentos: insumos (4,73%), primário (0,93%), agroindústria (2,03%) e agrosserviços (2,33%). Já no ramo pecuário, os aumentos foram ainda mais expressivos, com avanços no segmento primário (11,07%), nas agroindústrias (10,18%) e nos agrosserviços (12,15%), enquanto o segmento de insumos manteve-se praticamente estável (-0,09%) – conforme a Tabela 2.

No acumulado do ano, conforme indicado na Tabela 1, o ramo agrícola registrou queda de 2,19%, enquanto o pecuário apresentou expressivo crescimento, de 12,48%. Naquele, o desempenho negativo foi impactado por todos os segmentos, especialmente pelos de insumos e agropecuária; enquanto neste, a alta foi impulsionada por todos os segmentos, com destaque para a agroindústria e os agrosserviços.

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Sob a ótica dos segmentos, no acumulado do ano, o de insumos registrou retração de 4,65%, impactado, sobretudo, pela queda de 6,97% nos agrícolas, visto que os pecuários apresentaram avanço de 1,23%. No caso dos insumos agrícolas, a queda no PIB foi impactada pelo desempenho das indústrias de fertilizantes, defensivos e máquinas agrícolas, que enfrentaram pressões decorrentes do recuo das cotações e da redução na produção de máquinas agrícolas. Em contrapartida, o crescimento dos insumos pecuários foi impulsionado pelo avanço da indústria de medicamentos veterinários, refletindo a maior produção ao longo do ano.

No segmento primário, o ano de 2024 registrou leve queda de 0,16%, resultado da retração de 3,54% no PIB do ramo agrícola. Esse desempenho negativo foi influenciado pela redução dos preços e menor produção para a safra de 2024 de culturas de grande relevância, como milho, soja e cana-de-açúcar. Por outro lado, o setor primário pecuário registrou crescimento de 6,55% no ano, impulsionado pelo aumento da produção anual. Todavia, cabe destacar que esse desempenho também refletiu a recuperação dos preços reais, que se iniciou no terceiro trimestre e se intensificou no último, aliviando a pressão sobre o setor e contribuindo para a elevação do valor da produção das principais atividades do segmento.

O PIB do segmento agroindustrial registrou crescimento de 2,94% em 2024, impulsionado, principalmente, pelo expressivo avanço de 16,78% das agroindústrias de base pecuária. Em contrapartida, as agroindústrias de base agrícola recuaram 0,44%. O aumento do PIB da indústria pecuária foi resultado da combinação entre a expansão da produção e a elevação dos preços reais ao longo do ano. No segmento industrial agrícola, apesar do aumento na produção, o PIB caiu, influenciado pela redução no valor da produção no período. Esse recuo foi especialmente impactado pela queda nos preços reais, afetando especialmente as indústrias de biocombustíveis, óleos vegetais e têxteis de base natural.

O segmento de agrosserviços, por sua vez, apresentou alta de 3,25% em 2024, refletindo o crescimento expressivo de 16,79% dos agrosserviços de base pecuária, mesmo diante da retração de 1,86% nos serviços de base agrícola – o que reflete o desempenho dos demais segmentos considerando os respectivos ramos do agronegócio.

Com base no desempenho do setor e de seus diferentes ramos e segmentos ao longo do ano, a Tabela 3 apresenta os valores anuais do PIB para 2024. Nesse contexto, o PIB do agronegócio brasileiro alcançou R$ 2,72 trilhões no ano, sendo R$ 1,9 trilhão referente ao ramo agrícola e R$ 819,26 bilhões ao ramo pecuário, calculado a preços do quarto trimestre de 2024. Considerando o desempenho do PIB nacional no período, a participação do agronegócio na economia brasileira foi de 23,2% em 2024, valor próximo ao registrado no ano anterior, quando representou 23,5%.

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SEGMENTO DE INSUMOS: Apesar do crescimento observado no último trimestre, PIB do segmento recua no acumulado de 2024

No quarto trimestre de 2024, o PIB do segmento de insumos do agronegócio cresceu 3,17% (Tabela 2). No entanto, no acumulado do ano, o setor registrou retração de 4,65% (Tabela 1). Esse desempenho, conforme ilustrado na Figura 1, reflete a evolução das atividades monitoradas pelo Cepea, entre as quais apenas a indústria de medicamentos para animais apresentou aumento no valor bruto de produção.

Na indústria de fertilizantes e corretivos do solo, o valor bruto da produção recuou 4,47% em 2024, em decorrência da baixa de 5,30% nos preços reais em relação à média de 2023. Já a produção anual apresentou crescimento de 0,87%. Apesar do resultado negativo, o desempenho da indústria ao longo do ano foi caracterizado por uma recuperação gradual dos preços após as expressivas quedas dos primeiros meses. Inicialmente, os preços da indústria de fertilizantes e corretivos arrefeceram - após a escalada que se deu após a deflagração da guerra da Ucrânia. Esse movimento se deveu à combinação de dois fatores: no front externo, a normalização da oferta global pelos países envolvidos no conflito; no mercado interno, a lentidão no ritmo de aquisições de produtos, desencadeada pela queda nos preços dos grãos e por incertezas climáticas que influenciaram as decisões de compras pelos produtores. Entretanto, a partir de julho, esse cenário foi revertido com o aumento das cotações internacionais, que, por sua vez, foram impulsionadas pela alta dos custos de matérias-primas, como enxofre e petróleo, e pela oferta limitada de fosfato monoamônico (MAP) no mercado externo. No âmbito interno, a desvalorização do Real frente ao dólar destacou-se como principal fator de retomada dos preços, à medida que encareceu as matérias-primas importadas e reduziu o poder de compra dos agricultores – movimento que se intensificou no último trimestre de 2024.

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Para a indústria de defensivos, o valor bruto da produção caiu 1,20% em 2024, decorrente da combinação da redução de 12,18% nos preços reais e do crescimento significativo de 12,50% na produção anual, quando comparados ao ano anterior. Os preços menores refletiram o elevado volume de importações realizadas no período anterior, quando da valorização do Real frente ao dólar, que propiciou o aumento do volume de estoques. Apesar disso, ao longo do ano, houve recuperação gradual dos preços, em função do aquecimento da demanda por defensivos, tendo em vista a ampliação significativa da área tratada no Brasil, que cresceu 9,2%, ultrapassando 2 bilhões de hectares, de acordo com o Sindiveg. O crescimento da área tratada está associado às condições climáticas adversas que favoreceram a incidência de pragas como cigarrinha, mosca-branca, lagarta e bicudo, principalmente nas culturas de grãos. No setor da cana-de-açúcar, por exemplo, as chuvas escassas e as queimadas no primeiro semestre prejudicaram significativamente as plantações, enquanto as chuvas contínuas no final do ano trouxeram preocupações adicionais quanto à produtividade e ao aumento de pragas. Ademais, especialmente no último trimestre, a desvalorização do Real frente ao dólar voltou a impulsionar os preços domésticos, devido ao encarecimento das importações de matéria-prima.

No caso da indústria de máquinas agrícolas, o valor bruto de produção apresentou expressiva queda de 18,57% em 2024, resultante da combinação do recuo de 4,65% dos preços reais, na comparação com 2023, e da retração de 14,60% da produção anual. Entre os fatores que influenciaram o desempenho da indústria, destacam-se o aumento da taxa de juros e a desvalorização de importantes commodities. Além desses, os eventos climáticos adversos e as incertezas de produtores causaram o adiamento de investimentos em novos equipamentos, contribuindo para a desaceleração da atividade industrial. A Anfavea chama a atenção para o crescente déficit comercial brasileiro em máquinas agrícolas, influenciado pelo aumento das importações, especialmente da China e da Índia, o que tem gerado preocupações ao setor devido aos impactos na indústria nacional.

Por fim, a indústria de rações registrou ligeira queda de 0,20% no valor bruto da produção em 2024, atribuída principalmente à redução de 2,82% nos preços reais em comparação à média de 2023, apesar do crescimento de 2,70% na produção anual. O cenário do setor em 2024 foi marcado pela contínua redução dos preços, em decorrência especialmente da desvalorização das principais commodities utilizadas na composição das rações, como soja e milho. Essa queda nos custos favoreceu os agricultores ao aumentar seu poder de compra e aliviar os gastos com alimentação animal. Por outro lado, o crescimento da produção de rações foi sustentado pelo bom desempenho das cadeias produtivas de aves e suínos, beneficiadas significativamente pelo aumento das exportações.

O desempenho do setor de insumos está relacionado às atividades do setor primário, que serão analisadas detalhadamente na sequência. No que diz respeito aos insumos agrícolas, observou-se redução dos preços reais, o que sugere, por um lado, uma possível diminuição nos custos produtivos para os agricultores e, consequentemente, uma melhora geral nas relações de troca. No entanto, deve-se levar em consideração o impacto decorrente do desempenho das culturas agrícolas, que registraram quedas significativas nos preços. Quanto aos insumos destinados à pecuária, sobretudo às rações animais, a redução nos preços proporcionou algum alívio nas margens econômicas dos produtores, especialmente daqueles que há muito tempo vêm lidando com elevados custos na alimentação animal.

SEGMENTO PRIMÁRIO: Redução nos preços pressiona os PIBs dos ramos agrícola e pecuário em 2024

O PIB do segmento primário do agronegócio avançou 4,33% no quarto trimestre de 2024, encerrando o ano com leve queda de 0,16%. No segmento primário agrícola, houve crescimento modesto de 0,93% no último trimestre, mas, no acumulado do ano, retração, de 3,54%. Já o segmento primário pecuário apresentou aumento significativo de 11,07% no quarto trimestre, resultando em avanço de 6,55% no acumulado do ano (Tabelas 1 e 2).

No ramo agrícola, apesar da redução nos custos com insumos devido à queda nos preços de fertilizantes, defensivos e sementes, a baixa dos preços de comercialização e a menor produção de culturas importantes pressionaram negativamente o PIB. No ramo pecuário, os aumentos da produção e, consequentemente, da oferta de produtos impulsionaram o desempenho do setor, embora tenha gerado pressão sobre os preços, que conteve o crescimento do valor de produção. Entretanto, nos últimos meses do ano, verificou-se recuperação dos preços da pecuária, que contribuiu para o crescimento do segmento no fechamento do ano.

Especificamente no segmento primário agrícola, considerando a média ponderada das culturas monitoradas, houve queda de 4,71% no valor bruto da produção anual. Esse resultado reflete a redução média de 0,65% nos preços em 2024, em comparação com 2023, e a retração de 4,09% na produção. As maiores desvalorizações foram observadas em culturas como algodão, cana-de-açúcar, feijão, milho e soja. Quanto à produção, as reduções mais significativas ocorreram no milho e na soja. De modo geral, os preços dos hortifrutícolas apresentaram alta, enquanto os dos grãos, que têm maior peso na formação do PIB, registraram queda.

No segmento primário pecuário, considerando a média ponderada das atividades acompanhadas, o valor bruto da produção anual cresceu 6,17%. Em 2024, os preços médios foram 2,24% inferiores aos de 2023, pressionados sobretudo pela bovinocultura de corte e pelos ovos. Por outro lado, a produção pecuária registrou crescimento médio ponderado de 8,61%, com destaque para os avanços na bovinocultura (de corte e leite), na avicultura de corte e na postura. Em contrapartida, a produção de suínos permaneceu estável em relação a 2023.

A Tabela 4 detalha os resultados específicos do segmento por atividades agrícolas. Entre as culturas do segmento primário agrícola acompanhadas pelo Cepea, houve aumento do valor bruto da produção em 2024 para algodão, arroz, banana, batata, cacau, café, laranja, tomate, uva e madeira para celulose. Por outro lado, registraram queda no valor bruto da produção as culturas de cana-de-açúcar, feijão, fumo, mandioca, milho, soja, trigo, madeira em tora e lenha/carvão.

Com relação à cultura do algodão, o crescimento do valor bruto da produção anual (4,75%) em 2024 foi impulsionado pelo aumento da produção (15,77%), apesar da queda nos preços reais do produto (-9,52%) na comparação entre 2023 e 2024. De acordo com a Conab, a produção de algodão aumentou pelo terceiro ano consecutivo e atingiu recorde, impulsionada pela expansão da área. Esse avanço ocorreu mesmo diante da redução no rendimento da cultura, decorrente da irregularidade das chuvas e da instabilidade climática em alguns estados produtores no final de 2023. A Companhia destaca que a boa rentabilidade do algodão e as condições climáticas favoráveis, no geral, estimularam os produtores a investirem mais na cultura. Além disso, apesar da leve queda na produtividade em relação à safra anterior devido a fatores climáticos, o Brasil manteve uma das melhores produtividades globais, impulsionada pelo uso de tecnologias avançadas em sementes, plantio e manejo, além do rigoroso controle fitossanitário em todas as etapas da produção. Segundo a equipe Algodão/Cepea, ao longo de 2024, os preços do algodão oscilaram em resposta a fatores internos e externos. No primeiro trimestre, as cotações avançaram, embora em patamares inferiores aos de 2023, impulsionadas pela valorização externa e pela demanda interna aquecida. No segundo trimestre, as cotações do algodão recuaram, devido à queda nos preços internacionais e à maior flexibilidade de alguns vendedores. No mercado externo, os preços foram pressionados pela expectativa de uma boa safra nos Estados Unidos, que, por sua vez, foi beneficiada por chuvas, pela demanda global enfraquecida, pela redução nos preços do petróleo, pela inflação elevada e pelas altas taxas de juros. No Brasil, os vendedores ajustaram suas estratégias em função das desvalorizações externas, dos estoques de passagem elevados, da previsão de outra safra doméstica robusta e da necessidade de liquidar o saldo remanescente da temporada 2022/23. No terceiro trimestre, o mercado se recuperou com a oferta limitada no mercado spot nacional, com a alta nos preços externos e com a valorização da paridade de exportação, além da postura firme de vendedores focados no cumprimento de contratos a termo tanto para o mercado interno quanto para exportação. Já no quarto trimestre, as cotações oscilaram: caíram em outubro, refletindo maior disponibilidade doméstica e demanda enfraquecida, mas subiram em novembro com maior demanda e com a desvalorização do Real frente ao dólar. Em dezembro, as cotações se mantiveram relativamente estáveis. O principal fator de sustentação dos preços no trimestre foi a elevação da paridade de exportação, impulsionada pela disparada do dólar e pelo fortalecimento das exportações brasileiras, que consolidaram o País como o maior exportador mundial da pluma.

Na cultura do arroz, o crescimento do valor bruto da produção (20,37%) está relacionado ao aumento das cotações do produto (14,04%) entre 2023 e 2024 e à maior produção (5,52%). Segundo a Conab, o aumento na produção de arroz esteve atrelado à expansão da área cultivada, tanto no sistema de sequeiro, com destaque para Mato Grosso, quanto no irrigado, em estados como Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. No caso do Rio Grande do Sul, apesar das calamidades como inundações, alagamentos e enxurradas em 2024, a colheita já estava praticamente concluída, e as lavouras semeadas dentro do período recomendado apresentaram produtividade acima da média. No entanto, a Emater/RS relatou que as intensas chuvas frequentemente interromperam a colheita, causando acamamento e inundações extensas. O impacto foi mais severo em áreas onde o cereal já estava maduro há semanas, comprometendo a qualidade dos grãos devido aos repetidos ciclos de umedecimento e secagem. Conforme a equipe Arroz/Cepea, os preços do arroz tiveram forte elevação em 2023, impulsionados pela redução dos estoques de passagem, mas iniciaram 2024 em queda devido à sazonalidade da oferta, ao andamento da colheita nas principais regiões produtoras do Mercosul e à demanda retraída. A partir de abril, os preços subiram, refletindo incertezas no mercado e a baixa liquidez causadas pela divergência entre compradores e vendedores. Em junho, a demanda internacional sustentou as cotações, mas a menor saída de arroz beneficiado e as fortes chuvas no Rio Grande do Sul dificultaram a logística, impactando os negócios. No terceiro trimestre, a tendência de alta persistiu, com preços impulsionados pela maior demanda para exportação e pela desvalorização do Real frente ao dólar. Entretanto, chuvas intensas dificultaram o transporte e a semeadura, reduzindo a liquidez e gerando disputa entre compradores e vendedores. Em setembro, a valorização do Real frente ao dólar desmotivou produtores, que priorizaram o plantio da nova safra, enquanto indústrias enfrentaram dificuldades no escoamento do arroz beneficiado. No quarto trimestre, os preços oscilaram. Em outubro, o mercado encontrou resistência nos preços, com produtores focados na nova safra e compradores cautelosos diante de possíveis intervenções governamentais. Em novembro, os preços caíram acentuadamente, acompanhados por menor liquidez no mercado gaúcho, devido ao avanço do plantio, leilões governamentais e menor escoamento do cereal.

No caso da banana, o avanço para o valor bruto da produção real (8,47%) é explicado pelos maiores preços reais (6,42%) na comparação entre períodos iguais e pela maior produção para 2024 (1,93%). De acordo com a equipe Hortifrúti/Cepea, a diminuição da oferta de banana nas principais regiões produtoras monitoradas pelo Centro resultou em aumento nas cotações no primeiro trimestre de 2024. As altas temperaturas no final de 2023 e os ventos fortes que danificaram parte dos bananais no Vale do Ribeira (SP) – um dos maiores produtores – levaram à queda de alguns pés. Entretanto, no segundo trimestre, as cotações foram pressionadas pela maior oferta. A equipe Hortifrúti/Cepea também destacou que a safra de 2024 esteve controlada, devido ao clima adverso. No terceiro trimestre, os preços voltaram a subir em decorrência da menor oferta da fruta, já que as regiões produtoras, sendo de sequeiro, foram prejudicadas pela seca. No quarto trimestre, a entressafra no Norte de Santa Catarina e no Vale do Ribeira (SP) manteve a oferta limitada, elevando os preços em outubro. No entanto, a partir de novembro, apesar do leve aumento na oferta devido ao calor, que acelerou a maturação da fruta, as cotações foram pressionadas pela queda na demanda, especialmente com o início das férias escolares.

Quanto à batata, a expansão no valor bruto da produção real (71,98%) é atribuída aos preços reais mais elevados (62,08%) ao comparar os períodos de 2023 e 2024 e à maior produção para 2024 (6,10%). De acordo com a equipe Hortifrúti/Cepea, houve uma tendência de queda nos preços em 2024; entretanto, os valores permaneceram acima dos observados em 2023. No primeiro trimestre, a redução ocorreu devido ao aumento da área de colheita e à consequente maior oferta no período. Paralelamente, a produtividade das plantações melhorou progressivamente no trimestre, beneficiada pelas condições climáticas durante o período de crescimento. Apesar do aumento da produção, as altas temperaturas em março afetaram a qualidade dos tubérculos, reforçando a pressão sobre os preços. No segundo trimestre, os preços apresentam movimentos de alta e permaneceram em patamares elevados, resultado direto da queda na oferta nacional. A menor disponibilidade é atribuída à finalização das colheitas nas regiões produtoras da safra das águas e ao volume baixo das secas. A equipe Hortifrúti/Cepea ainda ressalta que: i) o Paraná teve quebra de safra em decorrência do calor intenso e de chuvas irregulares; ii) no Rio Grande do Sul, desastres climáticos atrasaram a colheita em maio, agravando a escassez e aumentando o valor do tubérculo; iii) outras regiões produtoras colheram menos do que o esperado. No terceiro trimestre, as cotações foram pressionadas pelo avanço da safra de inverno em Vargem Grande do Sul (SP) e pela intensificação da colheita no Cerrado Mineiro, em Cristalina (GO) e no Sudoeste Paulista. No quarto trimestre, os preços seguiram em queda, refletindo o aumento da oferta do tubérculo.

Na cultura do café, o valor bruto da produção aumentou 37,36%, impulsionado pela alta de 39,53% nos preços reais entre 2023 e 2024, apesar da queda de 1,56% na produção em 2024. Segundo a Conab, a estabilidade na produção reflete dinâmicas opostas entre as variedades arábica e robusta. Enquanto a produção de arábica cresceu com a ampliação da área cultivada, a de robusta diminuiu, por conta das menores área e produtividade, mesmo em um ano de bienalidade positiva. No caso do robusta, a colheita de 2023/24 no Espírito Santo, maior produtor da variedade, ficou abaixo do esperado, e a safra 2024/25 enfrenta desafios climáticos significativos. No que diz respeito aos preços, a equipe Café/Cepea destaca que apresentaram trajetória de alta em 2024. Nos primeiros três meses, o movimento foi impulsionado pela iminência da colheita da safra 2024/25 e por especulações sobre a produção e os estoques mundiais. A elevada demanda internacional pelo robusta, estimulada por problemas na safra vietnamita e pelos ataques a navios no Mar Vermelho, reforçou o aumento dos preços no Brasil – o movimento de valorização dessa variedade vinha sendo verificado desde os últimos meses de 2023. No segundo trimestre de 2024, as cotações seguiram em alta. Para o arábica, o câmbio, as preocupações com os estoques globais, a possibilidade de menor oferta mundial e as valorizações do robusta foram os principais fatores de alta. Apesar do avanço da colheita no Brasil, que poderia pressionar os preços, a expectativa de menor oferta na Ásia sustentou os valores em patamares recordes reais. No terceiro trimestre de 2024, os preços dos cafés arábica e robusta continuaram a trajetória de alta. Em julho, o arábica teve aumento na média de preços, com alta volatilidade, influenciado pela desvalorização do Real frente ao dólar e por preocupações com a safra do robusta no Vietnã. Em agosto, o valor do robusta ultrapassou o do arábica devido à oferta global restrita, resultado das adversidades climáticas no Vietnã e da baixa umidade no Espírito Santo. Em setembro, a sustentação foi proporcionada pela oferta global limitada e pela prolongada seca no Brasil, que intensificaram o déficit hídrico, impactando o desenvolvimento da safra 2025/26 de ambas as variedades. No quarto trimestre, a melhora nas condições das lavouras brasileiras e o início da safra de robusta no Vietnã pressionaram as cotações em outubro. No entanto, a partir de novembro, os preços voltaram a subir, impulsionados pela oferta restrita de robusta e arábica no mercado nacional e pela expectativa de colheita menor de robusta no Vietnã. Além disso, a condição das lavouras brasileiras e a projeção de mais uma safra com poucos avanços produtivos para 2025/26 reforçaram a tendência de alta. O ano se encerrou com preços recordes para os cafés robusta e arábica no Brasil.

No caso da laranja, o aumento no valor bruto da produção (36,14%) refletiu a forte valorização da fruta (72,53%), apesar da queda na produção anual (21,09%). Segundo a equipe Hortifrúti/Cepea, os preços elevados no primeiro trimestre estiveram atrelados à oferta restrita e à alta demanda pela fruta por parte da indústria. A partir de fevereiro, a baixa disponibilidade e os preços elevados levaram alguns produtores a anteciparem a colheita. Em abril, as cotações recuaram com a chegada das variedades precoces, com a intensificação da colheita da tangerina poncã e com a redução do consumo, devido ao clima mais ameno. Nos meses seguintes, os preços voltaram a subir diante da expectativa de safra menor e da crescente demanda industrial (aumentando a competição entre as processadoras). No terceiro trimestre, as cotações atingiram novos recordes, sustentadas pela oferta limitada da safra 2023/24, mesmo com períodos de menor demanda por conta do frio. A seca nas principais regiões produtoras também prejudicou a qualidade da fruta. No quarto trimestre, mesmo diante de oscilações, os preços alcançaram recordes reais em outubro, impulsionados pela restrição na oferta no mercado de mesa, o que, por sua vez, se deve à falta de chuvas.

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Para o tomate, o valor bruto da produção cresceu 7,09%, impulsionado pelo aumento de 19,20% na produção. Esse avanço ocorreu apesar da queda nos preços reais, que caíram 10,16% frente ao mesmo período do ano anterior. Segundo a equipe Hortifrúti/Cepea, no primeiro trimestre de 2024, os preços subiram por conta da menor oferta – temperaturas médias mais baixas reduziram o ritmo de maturação –, e da produtividade abaixo do potencial em algumas regiões – devido ao excesso de chuvas entre setembro e novembro/23. No segundo trimestre, os preços permaneceram elevados, sustentados pelo fim da safra de verão e pela baixa produtividade da safra de inverno. A equipe do Cepea destaca que os produtores enfrentam desafios com a produção, devido à infestação da mosca-branca, que foi influenciada pelo clima seco e por altas temperaturas. A praga tem migrado entre culturas, e a expansão significativa da área de soja nos últimos anos impediu a interrupção de seu ciclo, resultando no aumento da população. A mosca-branca, que, no passado, causou grandes prejuízos à tomaticultura e havia deixado de ser um problema relevante, voltou a preocupar. Além disso, as fortes chuvas no Rio Grande do Sul na transição de abril para maio afetaram as lavouras de tomate, com inundações e contaminação por bactérias. No terceiro trimestre, as cotações recuaram, devido ao aumento da oferta - a maior disponibilidade, por sua vez, se deve às temperaturas acima da média, que aceleraram a maturação dos frutos, ao expressivo aumento da produtividade em algumas regiões e ao pico de safra em áreas estratégicas. No quarto trimestre, os preços seguiram firmes.

No caso da cana-de-açúcar, a queda esperada no valor bruto da produção para 2024 (-9,93%) resulta das reduções na produção (-4,84%) e nos preços (-5,34%) na comparação entre 2023 e 2024. Segundo a Conab, a menor produtividade em diversas regiões, causada por condições climáticas adversas, como estiagem e calor intenso, é o principal fator para a redução na produção da safra 2024/25. No entanto, a área colhida aumentou em relação ao ciclo anterior, com a incorporação de áreas antes em renovação. A queda nos preços da cana deve refletir as desvalorizações observadas para o açúcar e biocombustíveis, conforme detalhado na seção sobre a agroindústria deste relatório.

Em relação ao milho, a redução de 16,75% no valor bruto da produção resulta da queda de 5,09% nos preços reais, na comparação entre 2023 e 2024, e da diminuição de 12,28% na produção anual. De acordo com a Conab, a menor produção está atrelada à redução da área cultivada, especialmente na segunda safra, e à menor produtividade. Na primeira e segunda safras, a maioria dos estados produtores registrou produtividade inferior à do ciclo anterior, impactada por condições climáticas adversas. Na primeira safra, destacou-se o Rio Grande do Sul, com significativa recuperação de produtividade, além dos estados da região Norte, que apresentaram aumento nos rendimentos. Já na segunda safra, a produtividade variou conforme o pacote tecnológico adotado e a época de plantio. Áreas semeadas dentro da janela ideal, entre janeiro e meados de fevereiro, tiveram produtividades satisfatórias, superando as da safra anterior devido à regularidade das chuvas. No entanto, estados como Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul enfrentaram perdas devido a veranicos, a altas temperaturas e a ataques de pragas entre março e abril, comprometendo o potencial produtivo. Além disso, houve redução da área plantada, reflexo dos altos custos de produção e da queda nos preços do grão, levando produtores a migrarem para culturas mais rentáveis, como a soja na primeira safra. Para a terceira safra, a produção aumentou, impulsionada pela ampliação da área cultivada e pelo crescimento da produtividade, favorecida pela distribuição regular de chuvas, que beneficiou o desenvolvimento da cultura na maioria das regiões produtoras. No que diz respeito aos preços, a equipe Milho/Cepea indica que apresentaram dinâmicas distintas ao longo de 2024. No primeiro trimestre, registraram queda, refletindo margens reduzidas, incertezas sobre o impacto do El Niño e baixa movimentação no mercado, com compradores retraídos e vendedores focados nas atividades de campo. No segundo trimestre, os preços foram pressionados pela demanda enfraquecida, pelo avanço da colheita da safra de verão, pelo bom desenvolvimento da segunda safra e por estimativas indicando alta produção mundial, enquanto preocupações climáticas no Brasil e nos Estados Unidos limitaram quedas mais acentuadas. No terceiro trimestre, as cotações voltaram a subir, impulsionadas pela retração de vendedores e pela desvalorização do Real frente ao dólar, mas o avanço da colheita nos Estados Unidos limitou os ganhos. No mercado externo, as cotações recuaram ao longo do período, mas recuperaram-se em setembro devido a alertas climáticos no Brasil, Argentina e Estados Unidos, que ameaçaram a qualidade das lavouras. No quarto trimestre, os preços domésticos subiram em outubro, impulsionados pela forte demanda e pela retração de vendedores. Em novembro, a alta continuou no início do mês, mas perdeu força na segunda quinzena, devido ao menor interesse dos compradores e ao avanço das semeaduras, favorecido pelo clima. A melhora nas condições das lavouras reduziu preocupações com atrasos no plantio da segunda safra de 2025, estabilizando os preços.

Para a soja, a redução no valor bruto da produção foi de 16,78%, resultado das quedas de 4,46% na produção e de 12,89% nos preços reais, na comparação entre 2023 e 2024. Segundo a Conab, a redução na produção é atribuída à queda na produtividade, causada por condições climáticas desfavoráveis durante o plantio e o crescimento da cultura, com chuvas irregulares, apesar do aumento na área cultivada. No que se refere aos preços, a equipe Soja/Cepea destaca que, no início do ano, mesmo com problemas climáticos e produção abaixo do esperado, a oferta superou a demanda, pressionando os valores. A partir de março, o aumento da demanda impulsionou as cotações, tendência que se manteve no segundo trimestre, sustentada pelos aquecimentos dos mercados interno e externo, pela valorização cambial e pelos prêmios de exportação. No terceiro trimestre, os preços oscilaram: inicialmente, a elevada oferta na América do Sul e a expectativa de safra recorde nos EUA pressionaram as cotações, mas a resistência dos produtores brasileiros e a demanda chinesa limitaram as quedas – e a média do período ficou acima da registrada no trimestre anterior. No começo do quarto trimestre, os preços subiram devido à demanda firme e à retração vendedora, mas oscilaram ao longo do período, com indústrias reduzindo aquisições e produtores mantendo cautela diante das condições climáticas e das expectativas para o próximo ano.

Para o trigo, a queda no valor bruto da produção (-5,74%) em 2024 foi consequência da redução nos preços (-3,26%), na comparação entre períodos iguais, e da menor produção anual (-2,56%). Segundo a Conab, a maior produtividade compensou parcialmente a menor área cultivada, resultando em um ciclo mais favorável em termos de rendimento médio. As condições climáticas foram menos adversas que em 2023, especialmente no Centro-Sul, permitindo melhores produtividades. Conforme a Companhia e pesquisadores do Cepea, após crescimento superior a 70% entre 2019 e 2023, a área plantada recuou em 2024, devido à desvalorização do cereal em relação ao ano anterior, às incertezas climáticas, aos altos custos de produção e às limitações do seguro agrícola, que segue caro e com cobertura insuficiente. Com relação aos preços, a equipe Trigo/Cepea destaca que, no primeiro trimestre, apesar da produção mundial abaixo da demanda, as cotações internas e externas recuaram, com negociações pontuais no Brasil, pois produtores estavam focados na safra de verão e compradores buscavam trigo de maior qualidade, resultando em forte aumento das importações, principalmente do Mercosul. No segundo trimestre, os preços se mantiveram firmes, sustentados pelos menores estoques, pela retração dos produtores e pela elevação da paridade de importação, enquanto os estoques globais seguiam em queda pelo terceiro ano consecutivo. No terceiro trimestre, os preços subiram em julho, influenciados pela demanda por trigo de qualidade e pelos estoques limitados na entressafra, mas se enfraqueceram a partir de agosto, diante do avanço da colheita e da oferta crescente, além da menor demanda dos moinhos. No quarto trimestre, os preços do trigo foram pressionados pela maior oferta decorrente do avanço da colheita, mesmo com o valor interno abaixo da paridade de importação, influenciada pela desvalorização do Real frente dólar. À medida que a colheita se aproximava do fim, a demanda por matéria-prima para a produção de farinhas se manteve firme, mas as menores oferta e qualidade do cereal nacional aumentaram a necessidade de importação. Entretanto, a alta do dólar elevou os custos de importação, sustentando os preços internos.

Na Figura 2 constam as dinâmicas observadas para o segmento primário do ramo da pecuária. No ano, ocorreram variações positivas para a bovinocultura para corte e para leite, avicultura para corte e suinocultura. A seguir, apresentam-se as análises detalhadas de cada atividade do segmento.

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A bovinocultura de corte registrou crescimento de 10,53% no valor bruto da produção, impulsionado pelo aumento de 14,07% na produção anual. Os preços reais, por sua vez, recuaram 3,11% em relação ao patamar médio de 2023. O primeiro trimestre de 2024 foi marcado pela queda nos preços do boi gordo, influenciada pela deterioração das pastagens e pelo desânimo dos pecuaristas face à perspectiva de intensificação das desvalorizações, o que resultou em um aumento significativo nos abates, com destaque para a ampliação das vendas de fêmeas, a fim de reduzir os custos e limitar as perdas. No segundo trimestre, essa tendência se acentuou, levando os preços a registrarem o menor patamar em junho (R$ 215,30), com a renovação do recorde de abates – de janeiro a junho, o número de animais abatidos foi 21,2% superior ao mesmo período de 2023. No terceiro trimestre, a situação climática se agravou, com queimadas frequentes e um baixo volume de animais em confinamento até agosto. No entanto, a partir desse mês, os preços começaram uma forte recuperação, impulsionados pelo aumento da demanda dos frigoríficos e pelo aquecimento do consumo doméstico, este influenciado pela melhora nos indicadores macroeconômicos. O quarto trimestre foi marcado por recordes históricos, com o preço do boi gordo atingindo máximas nominais superiores a R$ 350 por arroba em novembro. O período também registrou exportações em volumes inéditos, favorecidas pelo câmbio e pelo crescimento excepcional da demanda externa. Entretanto, dezembro trouxe uma rápida queda nos preços.

Na bovinocultura leiteira, o valor bruto da produção cresceu 4,99%, resultado da combinação entre a elevação de 2,64% nos preços reais e o aumento de 2,29% na produção anual. Até o terceiro trimestre, as projeções indicavam retração do valor de produção, devido à queda dos preços reais do leite captado na comparação entre períodos iguais. No entanto, ao longo do ano, observou-se um contínuo enfraquecimento da oferta, impactado principalmente por eventos climáticos adversos, como as enchentes no Rio Grande do Sul, a estiagem e as altas temperaturas no Sudeste e Centro-Oeste, além das queimadas ocorridas em agosto de 2024. Esse cenário sustentou a alta dos preços que, no último trimestre, promoveu a reversão das expectativas iniciais e, assim, concretizou o crescimento do valor de produção anual. Especificamente no quarto trimestre, iniciou-se um movimento de desvalorização do leite cru, influenciado pelo período de safra, em que as chuvas da primavera favorecem a qualidade e a disponibilidade das pastagens, aumentando a produção e os estoques de lácteos. Em dezembro, no entanto, a oferta começou a dar sinais de enfraquecimento. Embora ainda houvesse crescimento da captação em parte das regiões, algumas bacias leiteiras já registravam queda na produção devido às condições climáticas adversas. Mesmo assim, os preços médios de dezembro permaneceram, em termos reais, acima dos registrados no mesmo período do ano anterior.

A avicultura de corte apresentou crescimento de 5,16% no valor bruto de produção, resultante da combinação de aumento de 2,75% dos preços reais na comparação entre anos e da expansão de 2,34% da produção anual. O desempenho da atividade foi marcado pela recuperação os preços ao longo do ano e pela revisão da estimativa de produção – no início de 2024, eram previstas quedas de preços e de produção. No primeiro trimestre, o setor, em termos mundiais, foi impactado por um aumento global nos casos de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (H5N1) – o que impulsionou os embarques de carne avícola no front externo –, além da retração da competitividade da carne de frango frente à bovina. No segundo trimestre, o setor foi influenciado pelas enchentes no Rio Grande do Sul, entre abril e maio, e, posteriormente, pela confirmação de um foco da doença de Newcastle em uma granja comercial no mesmo estado. Apesar disso, o controle da oferta e a demanda aquecida, tanto no mercado interno quanto no externo, sustentaram os preços. No terceiro trimestre, a recuperação da competitividade da carne de frango ganhou força, impulsionada pela valorização da carne bovina, o que favoreceu a ampliação do consumo doméstico. Além disso, o reconhecimento do fim do surto de Newcastle, em outubro, trouxe maior estabilidade ao setor. No último trimestre, a avicultura registrou recordes nas exportações, totalizando 5,2 milhões de toneladas embarcadas ao longo do ano, alta de 2,8% em relação a 2023. Destacaram-se as elevações nas compras por países como Chile (+44%), México (+22,7%) e Emirados Árabes Unidos (+3,2%), o que compensou a retração das exportações para a China (-17,6%). Adicionalmente, a queda nos preços dos principais insumos, como milho e farelo de soja, contribuiu para a melhora do poder de compra dos avicultores, consolidando o saldo positivo do setor em 2024.

Na avicultura de postura, por sua vez, o valor bruto de produção apresentou queda de 7,83%, o que se deveu à baixa de 16,03% dos preços reais na comparação entre anos. A produção anual, no entanto, se expandiu 9,77% e atingiu volume recorde, o que, por sua vez, elevou a oferta no mercado doméstico e pressionou os valores ao longo do ano. No primeiro trimestre, como é tradicional, os preços iniciaram abaixo dos registrados em dezembro de 2023 devido à demanda enfraquecida no começo do ano. Contudo, em fevereiro e março, as cotações reagiram, impulsionadas pelo aumento da demanda durante a Quaresma e pelo retorno das aulas escolares. No segundo trimestre, com a ampliação da oferta de ovos no mercado interno, as cotações voltaram a recuar. Esse movimento de baixa persistiu até setembro, refletindo o excesso de disponibilidade da proteína – no acumulado de janeiro a setembro, o Brasil havia produzido 2,8 bilhões de dúzias de ovos, aumento de 10,5% em relação ao mesmo período de 2023, segundo o IBGE. Já no último trimestre, os preços reagiram, devido ao maior equilíbrio entre oferta e demanda, favorecendo a recuperação do setor. Apesar da redução nos custos de insumos essenciais, como milho e farelo de soja, a redução dos preços dos ovos provocou a diminuição do poder de compra do avicultor de postura em relação ao milho – mas houve ganho frente ao farelo de soja, que apresentou queda mais acentuada de preço.

Por fim, a suinocultura registrou avanço de 12,03% no valor bruto da produção anual, impulsionado principalmente pela elevação dos preços reais, que subiram 11,26% em relação à média de 2023, enquanto a produção anual aumentou 0,69%. O primeiro trimestre foi marcado pela retração nos preços do suíno vivo, reflexo das baixas demandas interna e externa, agravada pelo menor poder de compra da população no mercado doméstico e pela redução dos embarques para a China durante o Ano Novo Chinês. Ao longo desse período, os produtores buscaram ajustar a oferta de suínos para conter a desvalorização. No segundo trimestre, o cenário de demanda enfraquecida e oferta elevada persistiu, pressionando ainda mais os preços e exigindo novos ajustes para manter a liquidez no mercado. Nesse contexto, as exportações desempenharam um papel fundamental ao ajudar a conter a queda das cotações, com abril registrando o segundo maior volume de escoamento, até aquele momento, de carne suína da série histórica da Secex. A partir de junho, iniciou-se um movimento de recuperação, sustentado pelo bom desempenho das exportações, pelo fortalecimento da demanda doméstica e pela redução da oferta de suínos com peso ideal para abate. Em julho, as cotações atingiram os patamares mais altos desde fevereiro de 2021, o que propiciou a melhora no poder de compra do suinocultor frente aos insumos. Por outro lado, a forte valorização reduziu a competitividade da carne suína em relação às proteínas concorrentes, como bovina e avícola. As exportações continuaram desempenhando um papel central, atingindo recordes históricos em julho, impulsionadas pelo aumento das compras por países asiáticos, especialmente Filipinas e Japão. Com a recuperação da produção suína na China, o Brasil tem buscado diversificar seus mercados, consolidando as Filipinas como seu principal destino para carne suína, formalizando um acordo de equivalência sanitária entre os dois países para a inspeção de proteínas. No último trimestre do ano, a trajetória de alta dos preços se manteve até novembro, quando os valores médios atingiram os maiores patamares nominais da série histórica do Cepea, iniciada em 2002, em todas as regiões monitoradas. Essa valorização expressiva resultou das demandas interna e externa aquecidas, da oferta limitada de animais para abate e do ganho de competitividade da carne suína em relação à bovina no mercado doméstico. No entanto, em dezembro, esse movimento de alta foi interrompido, devido ao aumento da oferta de animais em peso ideal para abate e à redução das compras de novos lotes por parte da indústria.

SEGMENTO INDUSTRIAL: Agroindústria cresceu em 2024, impulsionada pelo aumento da produção

O PIB da agroindústria avançou 5,16% no quarto trimestre, encerrando 2024 com crescimento acumulado de 3,25% (Tabelas 1 e 2). Na indústria de base agrícola, o aumento de 2,33% no último trimestre não foi suficiente para evitar a retração de 1,86% no ano. Em contrapartida, a indústria de base pecuária registrou alta de 12,15% no quarto trimestre, acumulando avanço de 16,79% em 2024.

A queda no PIB da indústria agrícola foi atribuída à redução nos preços dos produtos agroindustriais, enquanto o crescimento da indústria pecuária foi impulsionado pelo aumento da produção e pela alta dos preços reais. No ramo agrícola, o valor bruto da produção anual recuou 1,14%, reflexo de preços médios 2,77% menores, apesar do incremento de 1,68% na produção. Já no ramo pecuário, o valor bruto da produção avançou 9,11%, impulsionado pelos aumentos de 7,98% na produção e de 1,05% nos preços.

No acompanhamento feito pelo Cepea para a evolução do PIB, apenas algumas indústrias de base agrícola registraram crescimento no valor bruto da produção em 2024: bebidas, indústria do café, celulose e papel, vestuário, produtos do fumo, outros produtos alimentares e produtos e móveis de madeira. Em contrapartida, as indústrias de açúcar, biocombustíveis, óleos vegetais, têxteis, moagem e fabricação de amiláceos, além de conservas de frutas, legumes e outros vegetais, apresentaram queda no valor bruto da produção (Figura 3).

No caso do açúcar, a queda de 5,53% no valor bruto da produção anual é resultado das diminuições da produção, de 3,66%, e dos preços, de 1,94%, na comparação entre períodos iguais. Segundo a Conab, a queda na produção de adoçante neste ciclo é consequência da menor oferta de cana-de-açúcar em comparação à safra anterior. A Companhia ressalta que o mix de produção nas unidades industriais priorizou o açúcar em detrimento do etanol, influenciado pela maior competitividade do produto brasileiro no mercado internacional, devido à redução na oferta de grandes produtores e exportadores globais. Quanto aos preços, a equipe Açúcar/Cepea aponta que, no primeiro trimestre, as cotações foram sustentadas pelo avanço da entressafra e pela consequente redução na oferta do cristal, especialmente dos tipos de melhor qualidade. Adicionalmente, a valorização do demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures) também reforçou a alta nas cotações internas e fez, inclusive, com que as exportações brasileiras de açúcar recuperassem a vantagem sobre as vendas internas. No segundo trimestre, embora tenham permanecido firmes em maio, devido à restrição de oferta, os preços recuaram, resultado da maior disponibilidade de açúcar no mercado spot diante da colheita e da moagem da cana-de-açúcar da safra 2024/25 avançando sem interrupções. Em julho e agosto, as cotações do açúcar foram pressionadas pela baixa demanda interna, com fraca movimentação no mercado spot, apesar da atratividade das exportações para as usinas e da oferta doméstica mais restrita. A equipe destaca que, nas últimas duas safras, muitas indústrias têm garantido o abastecimento por meio de contratos de maior volume, reduzindo sua participação no spot. Em setembro, no entanto, as cotações retornaram aos patamares registrados em meados de abril de 2024, início oficial da safra 2024/25. Esse movimento foi impulsionado pela baixa oferta do adoçante, reflexo da queda na produtividade dos canaviais paulistas, devido à estiagem e às altas temperaturas, do alto volume exportado ao longo do ano e da significativa parcela do produto já contratada pela indústria doméstica, limitando ainda mais a disponibilidade interna. No quarto trimestre, os preços do açúcar permaneceram em alta, inicialmente, impulsionados pela oferta limitada para pronta-entrega, devido ao grande volume direcionado para exportação e à queda na produtividade das lavouras causada por queimadas em áreas produtoras. Além disso, a demanda aquecida sustentou as cotações, que atingiram máximas nominais históricas. No entanto, na segunda metade do período, os preços começaram a perder força, sugerindo que haviam alcançado um patamar máximo de negociação com o encerramento da safra 2024/25. Apesar desse enfraquecimento, a disponibilidade de estoques de açúcar, principalmente dos tipos de melhor qualidade, permaneceu restrita, o que manteve o mercado relativamente firme até o início do novo ciclo produtivo em 2025.

Figura 3. Agroindústrias de base agrícola: variação (%) anual do volume, dos preços reais e do valor bruto da produção - 2024/2023 com informações até setembro

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Em relação à produção de biocombustíveis, a redução de 3,86% no valor bruto da produção é resultado exclusivamente da diminuição de 5,12% nos preços reais, quando comparados 2023 e 2024, tendo em vista o crescimento de 1,33% na produção anual. De acordo com a Conab, as menores disponibilidades de matéria-prima e competitividade do etanol em relação ao açúcar resultaram em redução no volume total de etanol produzido a partir da cana-de-açúcar. No entanto, houve aumento na produção de etanol de milho. De acordo com a equipe Etanol/Cepea, os preços dos etanóis subiram no primeiro trimestre de 2024, influenciados pela demanda aquecida devido à boa vantagem competitiva do biocombustível nas bombas. No segundo trimestre, a menor oferta, o aquecimento da demanda por parte de distribuidoras e a postura firme de vendedores mantiveram as cotações em alta. Além disso, agentes de usinas estiveram atentos à atratividade das vendas de açúcar ao mercado externo, influenciadas, por sua vez, pela forte desvalorização do Real frente ao dólar. A equipe Etanol/Cepea ainda ressalta que a procura na ponta varejista, sobretudo do estado de São Paulo, se manteve firme, sustentada pelo cenário vantajoso do biocombustível frente à gasolina. Nas bombas, a paridade média entre os preços do hidratado e da gasolina C esteve na casa dos 64%, percentual bem atrativo para que o consumidor opte pelo biocombustível. No terceiro trimestre, os preços do etanol apresentaram oscilações. Em julho, o ritmo de compras foi lento até meados do mês devido à redução no fluxo de veículos durante as férias escolares, mas o etanol hidratado se valorizou no final do mês com a retomada das aquisições por parte das distribuidoras. Em agosto, os preços dos etanóis hidratado e anidro se enfraqueceram no estado de São Paulo, apesar da demanda firme, devido ao aumento na oferta no mercado spot. Já em setembro, os preços foram sustentados pela vantagem competitiva do etanol em relação à gasolina C nos principais estados consumidores. No quarto trimestre, os preços do etanol permaneceram em alta na maior parte do período, sustentados pela expectativa de uma entressafra prolongada, pelo consumo doméstico aquecido e pela boa paridade de preços no varejo. Além disso, incertezas para a safra 2025/26, relacionadas às condições climáticas e a queimadas anteriores, mantiveram os vendedores firmes nas negociações. Na reta final do trimestre, apesar do aumento da oferta em algumas regiões ter pressionado as cotações do etanol hidratado, observou-se valorizações impulsionadas pela alta demanda no fim do ano e pelo encerramento da safra 2024/25 no Centro-Sul.

Para a indústria de óleos vegetais, a redução no valor bruto da produção (-8,06%) reflete a queda nos preços reais (-12,86%) na comparação entre 2023 e 2024, apesar da projeção de crescimento de 5,50% na produção anual. Segundo a equipe Soja/Cepea, os preços do derivado da oleaginosa caíram nos dois primeiros meses do ano, mas o aumento das negociações e a alta do prêmio de exportação evitaram uma retração mais acentuada. Em março, as cotações foram impulsionadas pela maior demanda doméstica, sobretudo por parte de indústrias do setor alimentício. Segundo a equipe do Cepea, os representantes dessas fábricas demonstraram interesse em adquirir volumes para o médio prazo, atentos às previsões de crescimento na produção de biodiesel no Brasil. No segundo trimestre, os preços avançaram, devido às maiores demandas interna e externa. Alguns setores da Argentina (maior exportadora mundial de farelo e de óleo de soja) entraram em greve em maio, deslocando importadores para o Brasil (segundo maior abastecedor global desses produtos), o que acirrou ainda mais a disputa entre consumidores domésticos e estrangeiros. Adicionalmente, demandantes globais de óleo de soja estiveram em alerta, visto que o cenário climático no Rio Grande do Sul era bastante preocupante. No terceiro trimestre, os preços e prêmios de exportação do óleo de soja no Brasil registraram movimento de alta. Em julho, a valorização foi impulsionada pela maior demanda, principalmente de indústrias domésticas de biodiesel, que reduziu o excedente exportável. Em agosto, as cotações seguiram em alta, sustentadas pela firme demanda interna, tanto de indústrias alimentícias quanto de biodiesel, e pela maior disputa entre compradores domésticos e estrangeiros, intensificada pela greve de esmagadoras na Argentina. Em setembro, os preços continuaram subindo devido à baixa disponibilidade do derivado para embarques imediatos, com a maior parte da oferta nacional absorvida pelo mercado interno. No quarto trimestre, os preços do óleo de soja registraram alta, impulsionados pelo aumento nos prêmios de exportação e pela valorização no mercado doméstico. A demanda crescente das indústrias alimentícias, aliada às expectativas de maior uso do derivado para a produção de biodiesel em 2025, sustentou as cotações. Além disso, a alta nos preços do petróleo incentivou refinarias a aumentar a mistura de biodiesel ao diesel, elevando a procura pelo óleo de soja, principal matéria-prima desse biocombustível. Esse cenário resultou em crescimento expressivo no consumo do derivado, reforçando a tendência de valorização ao longo do período.

A Tabela 5 apresenta as dinâmicas observadas para as atividades que compõem o segmento agroindustrial de base pecuária. No ano, todas as atividades do segmento apresentaram variação positiva do valor bruto da produção.

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Na indústria de abate e preparação de carnes e pescados, o valor bruto da produção cresceu 11,14%, impulsionado pelo aumento de 10,33% na produção anual e pela alta real de 0,92% nos preços em relação à média de 2023. No segmento da carne bovina, a expansão dos abates esteve diretamente ligada ao aumento das vendas por parte dos pecuaristas, que enfrentaram um cenário marcado pelas baixas cotações do boi gordo e pela intensificação de eventos climáticos extremos, o que levou ao aumento do abate, inclusive de fêmeas, como estratégia para reduzir custos e evitar perdas de peso do rebanho. A partir de agosto, com o fortalecimento da demanda, os preços da carne bovina avançaram significativamente, impulsionados pelo aumento da renda da população e pelo crescimento exponencial das exportações, que atingiram recorde ao registrar volume 23,4% superior ao de 2023, favorecidas ainda pelas dificuldades de produção nos Estados Unidos. No mercado de carne avícola, o ano se encerrou de forma positiva, favorecido pelo controle da oferta, pela demanda aquecida e pela alta dos preços. No mercado interno, após perder competitividade para a carne bovina em 2023, a carne de frango voltou a ganhar espaço, especialmente na segunda metade de 2024, beneficiada pela alta nos preços da proteína bovina. No cenário externo, as exportações brasileiras de carne de frango atingiram volume recorde, de 5,2 milhões de toneladas, crescimento de 2,8% em relação ao ano anterior, com a China mantendo-se como o principal destino, apesar da queda de 17,6% nos embarques. Já no setor de carne suína, a demanda permaneceu firme ao longo de 2024, com as exportações também atingindo novos recordes. No mercado interno, o desempenho foi positivo, com os preços do suíno vivo e da carne alcançando as máximas nominais das respectivas séries históricas do Cepea. Pesquisadores da equipe Suínos/Cepea apontam que essa valorização foi sustentada pelos aquecimentos das demandas interna e externa, pela oferta restrita de animais para abate e pelo ganho de competitividade da carne suína em relação à bovina no mercado doméstico. Além disso, a elevação dos preços, aliada à desvalorização dos principais insumos da suinocultura, como milho e farelo de soja, permitiu que os suinocultores ampliassem suas margens de lucro.

Na indústria de laticínios, o valor bruto da produção cresceu 2,15%, impulsionado exclusivamente pela elevação de 2,77% nos preços reais em relação ao ano anterior, uma vez que a produção anual registrou leve queda de 0,60%. Inicialmente, projetava-se retração no valor bruto da produção, mas essa estimativa foi revertida devido à alta dos preços da matéria-prima. A valorização do leite, por sua vez, foi influenciada pela oferta restrita no campo, resultado do clima quente e seco, e pela redução dos estoques, reflexo da intensa disputa entre indústrias e cooperativas. Nos últimos meses do ano, os preços dos lácteos recuaram em razão do fim da estiagem e das condições climáticas mais favoráveis à safra, o que permitiu a recomposição dos estoques. Ainda assim, o preço médio anual, em termos reais, permaneceu acima do registrado no ano anterior.

SEGMENTO DE SERVIÇOS: Agrosserviços cresceu em 2024, impulsionados pelo avanço do ramo pecuário

No último trimestre de 2024, o PIB dos serviços do agronegócio brasileiro cresceu 5,16%, impulsionado pelos avanços de 2,33% nos agrosserviços agrícolas e de expressivos 12,15% nos serviços pecuários. No acumulado do ano, o setor registrou alta de 3,25%, apesar da queda de 1,86% nos agrosserviços agrícolas, compensada pelo aumento de 16,79% nos serviços pecuários.

O mercado de fretes, essencial para o escoamento da produção agropecuária, foi diretamente impactado pelo desempenho do setor. O maior volume de exportações, estimulado pela desvalorização do Real frente ao dólar no último trimestre, contribuiu para intensificar a movimentação logística. Por outro lado, também causou o encarecimento dos combustíveis, o que resultou em elevação das tarifas de fretes, juntamente com os demais desafios logísticos. Além disso, a concentração da colheita da soja em um curto período provocou oscilações pontuais, inflacionando o transporte em algumas regiões.

No setor pecuário, o aumento na oferta de animais, especialmente na bovinocultura, e os sucessivos recordes de exportação sustentaram a demanda por agrosserviços. A agroindústria também apresentou uma dinâmica semelhante.

Além do transporte, o desempenho do agronegócio influenciou diversos agrosserviços, como armazenamento, serviços bancários, contábeis e administrativos, que desempenham um papel fundamental na cadeia produtiva, garantindo que os produtos agropecuários cheguem ao consumidor final de forma eficiente.

CONCLUSÕES

Após dois trimestres consecutivos de retração, o PIB do agronegócio registrou uma recuperação nos terceiro e quarto trimestres de 2024. No último trimestre, o crescimento foi de 4,48%, resultando em uma alta acumulada de 1,81% ao longo do ano. Essa recuperação foi impulsionada, por um lado, pelo aumento da produção, especialmente no setor pecuário, e, por outro, pelo avanço dos preços reais, principalmente no último trimestre, o que possibilitou a reversão das expectativas de queda nos valores da produção de diversas atividades.

Sob a perspectiva dos ramos do agronegócio, o PIB agrícola cresceu 2,02%, enquanto o pecuário registrou expressivo avanço de 10,71% no quarto trimestre. No acumulado do ano, o avanço de 12,48% no ramo pecuário foi determinante para o desempenho geral do setor, compensando o recuo de 2,19% no ramo agrícola. Considerando o resultado acumulado, o PIB do agronegócio representou 23,2% da economia brasileira em 2024, ligeiramente abaixo dos 23,5% registrados em 2023.

Sob a ótica dos diferentes segmentos do setor, o PIB dos insumos subiu 3,17% no quarto trimestre, embora tenha acumulado queda de 4,65% em 2024. O avanço no trimestre foi impulsionado pelo desempenho positivo da produção anual das indústrias de insumos de base pecuária, que garantiu a expansão do valor bruto da produção nesse segmento. Em contrapartida, as indústrias de base agrícola caíram, reflexo principalmente da queda nos preços reais.

O PIB do segmento primário do agronegócio cresceu 4,33% no quarto trimestre, influenciado pelo avanço de 11,07% no ramo pecuário, enquanto o agrícola registrou avanço mais modesto, de 0,93%. No acumulado do ano, porém, o segmento teve leve retração de 0,16%, com queda de 3,54% no ramo agrícola e crescimento de 6,55% no pecuário. Apesar da redução nos custos de insumos, o desempenho da agricultura foi prejudicado pela desvalorização de importantes commodities, como algodão, milho, soja, trigo e cana-de-açúcar, além da retração na produção anual, especialmente de milho e soja. No ramo pecuário, o avanço foi sustentado pelo bom desempenho das bovinoculturas de corte e leite, avicultura de corte e suinocultura.

O PIB do segmento agroindustrial subiu 3,72% no quarto trimestre, impulsionado pelo crescimento de 2,03% nas agroindústrias de base agrícola e de 10,18% nas de base pecuária. No acumulado do ano, o segmento registrou alta de 2,94%, refletindo a expansão de 16,79% na agroindústria de base pecuária, que compensou a modesta retração de 0,44% nas agroindústrias de base agrícola. No ramo agrícola, a redução do PIB foi atribuída principalmente à queda nos preços, apesar do aumento da produção industrial e da redução nos custos de insumos. Já no ramo pecuário, o PIB foi sustentado pelo crescimento na produção de carnes e pescados, pelo avanço da indústria de couro e calçados e pelos maiores preços dos laticínios.

Por fim, o segmento de agrosserviços registrou crescimento de 5,16% no PIB no quarto trimestre, acumulando alta de 3,25% no ano. No ramo agrícola, os agrosserviços avançaram 2,33% no trimestre, mas fecharam o ano com retração de 1,86%. Já no ramo pecuário, as altas foram expressivas, de 12,15% no trimestre e de 16,79% em 2024. Esses resultados refletem, de forma geral, as tendências observadas nos demais segmentos do agronegócio.

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● Nota técnica: O PIB Volume do Agronegócio trata-se do PIB do agronegócio calculado pelo critério de preços constantes. Resulta, portanto, a variação apenas do volume do PIB. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.

A4) PIB DO AGRONEGÓCIO - METODOLOGIA

O Relatório PIB do Agronegócio Brasileiro é uma publicação atualmente trimestral resultante da parceria entre o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP, e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O agronegócio é entendido como a soma de quatro segmentos: insumos para a agropecuária, produção agropecuária primária, agroindústria (processamento) e agrosserviços – como na Figura que segue. A análise desse conjunto de segmentos é feita para o ramo agrícola (vegetal) e para o pecuário (animal). Ao serem somados, com as devidas ponderações, obtém-se a análise do agronegócio.

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Pelo critério metodológico do Cepea/Esalq-USP, o PIB do agronegócio é medido pela ótica do produto, ou seja, pelo Valor Adicionado (VA) total deste setor na economia. Ademais, avalia-se o VA a preços de mercado (consideram-se os impostos indiretos menos subsídios relacionados aos produtos). O PIB do agronegócio brasileiro refere-se, portanto, ao produto gerado de forma sistêmica na produção de insumos para a agropecuária, na produção primária e se estendendo por todas as demais atividades que processam e distribuem o produto ao destino final. A renda, por sua vez, se destina à remuneração dos fatores de produção (terra, capital e trabalho).

Após estimado o valor do PIB do agronegócio no ano-base, que desde janeiro/17 refere-se ao ano de 2010, parte-se para evolução deste valor de modo a se gerar uma série histórica, por meio de um amplo conjunto de indicadores de preços e produção de instituições de pesquisa e governamentais. Seja para a estimação anual do valor do PIB, ou para as reestimativas trimestrais, consideram-se informações a respeito da evolução do Valor Bruto da Produção (VBP) e do Consumo Intermediário (CI) dos segmentos do agronegócio. Pela evolução conjunta do VBP e do CI, estima-se o crescimento do valor adicionado pelo setor.

Com base nos procedimentos mencionados e processos adicionais realizados pelo Cepea, os cálculos do PIB do agronegócio resultam em dois indicadores principais, que retratam o comportamento do setor por diferentes óticas:

• PIB-renda Agronegócio (PIB analisado pelo Cepea e pela CNA em seus relatórios): reflete a renda real do setor, sendo consideradas no cálculo variações de volume e de preços reais, sendo estes deflacionados pelo deflator implícito do PIB nacional.

• PIB-volume Agronegócio: PIB do agronegócio pelo critério de preços constantes. Resulta daí a variação apenas do volume do PIB. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.

Trimestralmente, o foco de análise é o PIB-renda Agronegócio, que reflete a renda real do setor. Por conveniência textual, o PIB-renda do agronegócio é denominado apenas como PIB do Agronegócio ao longo destes relatórios. Destaca-se que as taxas calculadas para cada período consideram igual período do ano anterior como base, exceto para as quantidades referentes às safras agrícolas, para as quais computa-se a previsão de safra para o ano (frente ao ano anterior).

Importante também destacar que cada relatório considera os dados disponíveis até o seu fechamento. Em edições futuras, ao serem agregadas informações mais atualizadas, há a possibilidade, portanto, de ocorrer alteração dos resultados, tanto no que se refere ao período corrente, como também ao que se refere a períodos e anos passados. Recomenda-se, portanto, sempre o uso do relatório mais atualizado.

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