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Mercado com vantagens de ser premium
Pecuaristas apostam na produção de carnes premium para conquistar novos mercados e garantir melhores preços. Assistência Técnica e Gerencial do Senar Goiás oferece orientações para alcançar o padrão
O Brasil está entre os maiores produtores mundiais de carne bovina, sendo considerado o maior exportador, destinando cerca de 20% da sua produção ao mercado externo e grande parte, cerca de 80%, ao mercado interno, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC/2018). O mercado nacional da carne brasileira, nos últimos anos, vem passando por mudanças com o surgimento de novas tendências e nichos de mercado mais exigentes por carnes de alta qualidade, forçando o sistema produtivo a buscar novas estratégias de produção como investimento em genética, cruzamento de raças, nutrição e manejo dos animais, além de investimentos em tecnologias pré e pós abate para melhoria da qualidade dos produtos entregues à mesa dos consumidores.
Com particularidades, os cortes são caracterizados pela maciez, suculência, sabor intenso e marmoreio (presença de gordura entremeada na carne). Dados divulgados pela Associação Brasileira de Angus apontam que, para 2024, existe uma perspectiva de crescimento de cerca de 10% no mercado interno. Isso se dá pela expansão na preferência das mais diferentes regiões do país, e não apenas nos grandes centros consumidores.
É um nicho de mercado que Ricardo Dantas e a esposa Naiana identificaram em 2018, após produzirem linguiça para um churrasco entre amigos. O produto teve tanta aceitação que decidiram fazer a venda de porta em porta. “Com tantos pedidos das pessoas que estavam na festa, me veio o primeiro insight de começar a trabalhar com carne. Então, criamos a ‘Vale da Pedra Foods Produtos Artesanais’. Começamos vendendo linguiça em Jataí, onde moramos. Criamos página no Instagram, pegava pedidos e trabalhava com linguiças artesanais entregando por toda a cidade. Depois de um ano, abrimos a nossa primeira lojinha, especializada em carne suína. O nosso maior diferencial é que toda a nossa carne era proveniente de animais criados na nossa fazenda”, conta o empresário e pecuarista Ricardo.
Passado um tempo, o empresário identificou que os clientes acabavam tendo que ir em um açougue ou supermercado para comprar a carne bovina para complementar o churrasco. “Durante a pandemia, a gente vivenciou um boom muito grande. Inovamos com kits com carne bovina para a semana, tudo na caixinha, para cinco, 10 ou 20 pessoas, embalados a vácuo, fresquinhos. Isso fez com que a gente ganhasse um destaque muito grande, porque como as pessoas ficaram em casa, assavam mais carne, faziam mais almoço, jantar e não tinham como comer fora. E nós crescemos cinco vezes o faturamento. Passado esse período, decidimos investir na agroindústria, onde nós conseguimos a única empresa em todo estado a conquistar o Reconhecimento de Equivalência do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sisbi-POA), que permitiu com que a gente vendesse o nosso produto para todo o território nacional”, afirmou Ricardo, citando a validação do Serviço de Inspeção Municipal (SIM), sem necessidade de inspeção estadual ou federal.
O sogro do empresário já trabalhava com pecuária de corte com investimento em genética em animais para exportação voltada para a carne de marmoreio, trabalhando 100% com Angus F1, que é o cruzamento de Angus com Nelore ganhando destaque no mercado. Tudo que é produzido é vendido nas duas unidades em Jataí e Rio Verde. O excedente é comercializado no atacado para Mato Grosso do Sul. Ao perceber a exigência dos consumidores para carnes premium, viu a oportunidade de realizar o processamento de carnes, ao invés de estar vendendo ali o gado vivo. Foi então criada a Boutique de Carnes Vale da Pedra Foods, que hoje produz em média de 40 a 45 toneladas de carne por mês, algo em torno de 150 novilhas. “Com certeza teve um aumento de procura durante os últimos anos. As pessoas têm entendido um pouco mais sobre carne de qualidade. Então, cada vez mais o cliente tem se tornado mais rigoroso. Ele quer saber de onde veio aquele animal, qual foi a alimentação que recebeu, qual foi o manejo, a nutrição animal e se é uma carne de genética boa, se é uma carne marmorizada. É o cliente que procura por uma experiência de carne, então ele é mais rigoroso”, comemora Ricardo.
ATeG do Senar
O aumento da demanda por carnes especiais está promovendo uma mudança na produção também para os produtores rurais com investimentos, como por exemplo, no padrão boi China. Segundo especialistas, esse processo muitas vezes se torna difícil, pois são exigidas especificações bem definidas, como bois nascidos e criados em território brasileiro, ter no máximo quatro dentes incisivos permanentes, menos de 30 meses de idade no momento do abate, além de outras especificações relacionadas à saúde animal e rastreabilidade.
Atendendo a demanda do campo, o Senar Goiás vem assistindo produtores rurais que buscam diversificação sem sair da atividade. Com um olho no outro lado do mundo e o outro dentro da propriedade, o produtor João Carlos da Silva vem aprimorando a produção na pecuária de corte, na fazenda Cana Brava, em Buriti de Goiás, com a Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Senar Goiás. Há cerca de 30 anos produzindo gado de corte, algumas mudanças trazidas pelo técnico de campo vêm melhorando os resultados. Entre elas deixar de ser um produtor extensionista, que terminava o animal a pasto sendo levado mais velho ao abate, e agora produzindo animais um pouco mais precoces, investindo em algumas tecnologias. “Uma boa parte desses animais são terminados à pasto mesmo, no sistema de semiconfinamento. Eles ficam a pasto e tem o fornecimento de um suplemento com ração. Quando são mais novos e ainda são bezerros, a gente realiza o desmame e inicia a suplementação proteica de baixo consumo. A partir disso, eles vão ganhando peso com aumento gradativo da suplementação. Alguns conseguimos terminar a pasto mesmo, mas, por exemplo, agora com período de estiagem é necessária uma maior atenção para garantir a qualidade do animal. Costumo trabalhar com 20% convencional e 80% boi China. No ano passado, conseguimos chegar a 90% a entrega do animal com melhor padrão boi China”, conta.
O médico veterinário e técnico de campo do Senar Goiás, Matuzalém José de Souza Paula, conta que oito meses de assistência técnica proporcionaram algumas adaptações necessárias para adequação e padronização na produção. “Começamos pela estrutura, pois o produtor possuía um galpão antigo onde foi realizada adaptação para que ele produzisse a própria ração para os animais, dando condições de fazer as manobras necessárias para uma nutrição mais eficaz; as compras dos insumos nos períodos em que o preço está mais baixo, época de colheita, por exemplo; e a mistura é feita na própria fazenda, dando condição de estocagem. Ele tem também toda a estrutura para poder tratar desses animais, tem os currais de confinamento, tem o trator que tem o vagão para distribuição da ração e da silagem”, pontua o técnico de campo.
Agora, um dos desafios que o produtor tem pela frente é conseguir produzir em escala necessária para conseguir fechar contrato com frigorífico credenciado para exportação da carne. Os contratos variam entre 100 e 200 animais, que precisam ter no máximo 30 meses de idade e um bom acabamento de gordura, atingindo uma certa cobertura de gordura, que é acima de três milímetros na carcaça. Toda essa classificação, além de permitir uma carne macia, ainda assegura um produto sem risco de sintomatologia nervosa, garantindo mais sanidade animal, que pode acontecer com animais mais velhos.
A China tem se destacado como um dos maiores compradores de carne bovina brasileira, adquirindo cerca de 56,5% do total até maio de 2020, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Não apenas em volume, mas também em valores, o país asiático paga a mais do que é oferecido pelo mercado interno brasileiro.
Diante desse cenário promissor, afirma o coordenador da ATeG Senar+ Carne, Frederico Balestra, os produtores rurais estão buscando atender às exigências do mercado chinês, o que tem impulsionado a procura pelo padrão boi China. Frigoríficos estão oferecendo bônus financeiros de R$ 5 a R$ 15 por arroba para animais que se enquadrem nesse padrão. “Para auxiliar os produtores nessa empreitada, o Senar Goiás oferece seu programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG). Técnicos especializados, como médicos veterinários, agrônomos e zootecnistas, visitam regularmente as propriedades, orientando os produtores assistidos em práticas de manejo adequadas, nutrição balanceada e seleção genética, visando produzir animais que atendam aos padrões exigidos pelo mercado chinês. Além disso, para atender à crescente demanda chinesa, duas plantas frigoríficas em Goiás foram recentemente certificadas para exportação: Inhumas e Santa Fé de Goiás. Essa certificação reforça a capacidade do estado em fornecer carne bovina de qualidade para esse mercado exigente”, confirma Balestra.
O acompanhamento é feito gratuitamente e para ter acesso aos grupos atendidos o produtor deve procurar o Sindicato Rural do seu município e solicitar a assistência de um técnico de campo.
Cooperativas: solução para escalonamento de abate
Um trabalho que teve início há 30 anos em Mineiros é um exemplo de como o sistema de cooperativa pode ser uma saída para produtores que não conseguem atender a escala de produção independente. Na Cooperativa Mista Agropecuária do Vale do Araguaia (Comiva), dos mais de 2.400 cooperados, cerca de 108 fornecem animais para serem finalizados e comercializados para abate. “Nos últimos anos, focamos mais numa carne de qualidade de animais terminados na fazenda da Comiva e direcionada para o açougue da cooperativa, onde já conseguimos a tradição em oferecer uma carne mais nobre. Adquirimos as novilhas dos nossos cooperados, na maioria das vezes animais acima de 10 arrobas, 300 quilos, e a gente termina na nossa fazenda. Conseguimos pagar um pouco mais que o valor de mercado, geralmente um percentual em torno de 5% a mais, principalmente para aquele produtor que já entrega um animal no estado um pouco mais avançado de engorda”, explica o zootecnista da cooperativa, Sávio Ribeiro Mota.
Ainda segundo ele, praticamente tudo é vendido na loja da cooperativa, que hoje absorve cerca de 90 animais/mês, e tem uma boutique de carnes em funcionamento há quase três décadas. “A maioria das compras são de animais com peso acima de 10 arrobas, acima de 300 quilos e aí a gente faz o acabamento desse animal a 390, 420, no máximo aí uns 450 quilos”, complementa o zootecnista.
O que se observa na fala dos especialistas é que quanto mais o consumidor conhece a carne nobre, mais busca informações e é conquistado pelo paladar que o produto oferece. Existe um mercado que se dispõe a pagar mais pelo produto, tornando a carne premium com maior valor agregado, com mais possibilidades de cortes, de formas de preparo sendo uma experiência gastronômica. Por outro lado, os produtores precisam entender que tecnificação, melhoria genética e precocidade caminham cada vez mais juntos, se tornando uma regra e não exceção.
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