Rio Grande do Sul
Com mercado aquecido, Senar-RS forma inseminadores de bovinos
Falta mão-de-obra qualificada para executar a técnica reprodutiva, mais vantajosa que a monta natural
Por: Tatiana Py Dutra
Fonte: Padrinho/ASCOM Senar-RS
A inseminação artificial é uma importante aliada para o melhoramento genético de bovinos de leite e de corte. Mas o Brasil ainda carece de inseminadores capacitados para executar essa técnica reprodutiva, porque as empresas que os formam são insuficientes. Mas para garantir que o Rio Grande do Sul tenha profissionais gabaritados deste ramo em ascensão, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS) oferece o curso profissionalizante de Inseminador.
A médica veterinária e instrutora do Senar-RS Rosecler Reisdorfer Lang conta com orgulho que até o início da pandemia, em 2020, esse era o mais longo curso em atividade ininterrupta da instituição: 14 anos. Iniciado em 2007, já formou milhares de profissionais.
“O curso tem 40 horas de duração, dura cinco dias. Antes da pandemia, eram 12 alunos por turma em média. Agora são 8”, esclarece Rosecler, a respeito das medidas sanitárias preventivas da Covid-19.
O Senar-RS tem dois centros de treinamento: em Guarani das Missões e em Santo Augusto, no Norte do Estado. Por ser uma formação mais robusta, é realizada por meio de parcerias. Nas Missões, o convênio é com a Escola Estadual Técnica Guaramano, onde são realizadas as aulas, com duas turmas mensais. Em Santo Augusto, as aulas teóricas são realizadas no Sindicato Rural, enquanto a parte prática é realizada na Granja Irmãos Silva.
Rosecler explica que os únicos pré-requisitos para fazer o curso são ter 18 anos ou mais e ser alfabetizado. Mas produtores de bovinos de corte e de leite, técnicos da área rural e veterinários têm sido o público majoritário do treinamento nos últimos 14 anos. De qualquer forma, é um curso que gera trabalho e renda para quem o conclui.
“Nenhuma universidade habilita a ser inseminador. Na faculdade de Medicina Veterinária, a gente aprende anatomia e fisiologia da vaca. Se você quiser ser inseminador, terá de fazer um curso e receber o certificado”, explica Rosecler.
Como é o curso
A veterinária explica que a formação começa com uma parte teórica mais densa, para que os alunos travem conhecimento com a anatomia da vaca e com os equipamentos que terão de lidar no processo de inseminação.
“No primeiro dia que o aluno chega, nós damos a parte teórica, anatomia do aparelho reprodutivo da fêmea bovina, e fisiologia, além de todo o material que vai usar. Do botijão [de nitrogênio, onde são guardadas as doses de sêmen bovino], ao aplicador de sêmen”, conta.
Os alunos também serão apresentados a peças in vivo de aparelhos reprodutivos de vacas. O material, usado em treinamentos, é retirado em abatedouro e conservadas em álcool 70°C e água, resfriadas, para manter a maleabilidade. Só a partir do terceiro dia, os alunos começam a trabalhar diretamente com os animais, treinando o processo de aplicação no cérvix da vaca e aprendendo os manejos sanitários do processo, como a limpeza do reto, a esterilização do aplicador.
Ao fim do curso, o aluno deverá ser capaz de introduzir o aplicador até o último anel do cérvix do animal, e depositar o sêmen com sucesso, finalizando o processo.
Falta mão de obra
A inseminação artificial foi a primeira grande biotecnologia reprodutiva aplicada ao melhoramento genético de animais. Em bovinos de corte e de leite, é uma técnica consagrada mundialmente. Porém, se em alguns países do hemisfério norte o uso dessa técnica de reprodução pode chegar a 90%, no Brasil, não chega a 20%.
Segundo balanço divulgado pela Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) em fevereiro, 19,4% do rebanho brasileiro foi inseminado, um crescimento de 32,8% em relação a 2019, quando o total foi 14,6%. Por atividade, a inseminação de matrizes de leite em 2020 chegou a 11% e, entre as de corte, o índice foi de 22%.
Na avaliação de Rosecler, a falta de mão de obra qualificada e a dificuldade em identificar o cio da vaca estão entre os fatores que mantêm esses índices baixos. No caso do gado de leite, por exemplo, as inseminações sucessivas podem atrasar a prenhez e reduzir o número de partos e, consequentemente, lactações. O prejuízo financeiro faz com que muitos optem pela monta natural. A veterinária defende que essa é uma vitória aparente.
“Não tem nem comparação. O sêmen para inseminação já vem provado. Usando um touro, a genética vai ter de ser provada pelas filhas dele. O produtor vai descobrir daqui a três quatro anos. Sem falar que o sêmen de boa procedência não vai transmitir doenças na cobertura, zoonoses”, comenta.
Foram justamente as perdas causadas por falhas na identificação no cio que fizeram Iara Margarida Schinvelski, 38 anos, procurar o curso de Inseminador. Até 2017, era o marido quem conduzia as inseminações na propriedade familiar em Campina das Missões. Porém, naquele ano, o produtor sofreu um acidente de trabalho e perdeu um braço.
Para manter a genética do plantel, a família terceirizou o serviço de inseminação. Mas as vacas não emprenhavam e a produtividade do tambo de leite caiu. Para tocar a propriedade, Iara foi à luta.
“Eu não tinha preconceito com o curso, mas só via homens fazendo. Na verdade, até tinha feito cursos em casa, porque há empresas que fazem isso. Mas eles não explicam a parte interna da vaca, e anatomia. E isso é muito importante para a inseminação”, diz a produtora.
Desde 2018, Iara mantém uma média de 70 vacas produzindo, inseminadas todos os anos. E, segundo Rosecler, a ex-aluna ganhou fama de ser boa inseminadora, dona de animais de qualidade.
“A nossa propriedade é familiar, mas modelo nas redondezas por ter uma genética de boa qualidade”, diz, com orgulho.
Mercado aquecido
Ainda que o Brasil tenha números modestos de rebanho inseminado em relação ao resto do mundo, a alta do preço da arroba bovina fez o mercado de reprodução animal ganhar força em 2020. No total, foram 14,9 milhões de doses produzidas em território nacional em 2020 e outras 10,7 milhões importadas, crescimento de 36% e 21%, respectivamente. E a expectativa da Asbia para 2021 é de que o setor cresça 25%. O médico veterinário Paulo Renato Prauchner, instrutor do curso em Santo Augusto, explica a projeção.
“Os preços estão em alta e o produtor quer participar. Com a inseminação artificial, o melhoramento genético ocorre muito rápido, de geração para geração, tanto no gado de leite como no de corte. Por que é uma grande vantagem? Por que temos pressa em conseguir ganho de peso em bovinos de corte, ganhos de produção em leite e longevidade da vaca dentro da propriedade. E isso se faz usando touros que têm provas [de boa genética]”, esclarece.
Outra vantagem, segundo Prauchner, é que esta é uma tecnologia barata. Cada embalagem vem com 5, 10 ou 20 doses de material genético de touros do Brasil ou de animais do mundo todo. Os valores podem variar muito. É possível encontrar doses de R$ 15 e há as qua passam de R$ 300, a depender do touro e da qualidade provada em seus descendentes.
O processo de inseminação artificial, com um profissional qualificado, aumenta o índice de prenhez das vacas, e desembaraça a propriedade de custos de manutenção de um touro.
“Para fazer uma monta natural, vou precisar de um touro para cada 30, 35 vacas. Se eu fizer monta controlada, o touro fica separado, eu poderia chegar a 100 vacas de cobertura por ano. Em 10 anos, ele teria mil filhas. Numa inseminação artificial, esse mesmo touro teria 100 mil filhas nesse mesmo período, pela diluição dos espermatozóides nas doses de sêmen, com todas as características que o produtor necessita que os animais tenham”, conclui Prauchner.
Renda extra
O otimismo da Asbia e a confiança do setor indicam que pode ser um bom momento para fazer um curso de Inseminador. O técnico agrícola Evandro Tencaten Bervanger, 30 anos, não tem espaço vazio na agenda. Além de atuar na Escola Guaramano, onde se formou técnico e onde fez o curso de Inseminador do Senar-RS, ele fechou uma parceria com um veterinário para inseminar 400 vacas e novilhas de cria por toda a região.
“Eu sempre digo que esse curso me deu muito crescimento na vida, porque durante o ano sempre me dá uma renda a mais no orçamento, trabalhando pelo melhoramento genético nas propriedades”, comemora.
Interessados em participar dos cursos de Inseminador podem buscar mais informações junto ao Sindicato Rural de Santo Augusto e com o Sindicato Rural de Santo Ângelo, pelos telefones (55) 3781-1711 e (55) 3781-1711, respectivamente.
ALGUMAS VANTAGENS DA INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL
Melhoramento genético
O uso de sêmen de reprodutores comprovadamente superiores na produção de carne e leite é a forma mais rápida e barata de melhoramento genético do plantel
Prevenção de doenças transmitidas pelo touro
Desde que o sêmen seja adquirido em empresa idônea, o método elimina o risco de transmissão de doenças infecciosas, comuns na monta natural
Custo-benefício
Possibilita o uso de sêmen de reprodutores provados geneticamente com preços acessíveis, além de maior aproveitamento de animais superiores pela possibilidade de gerar mais filhos. Em sete anos de vida produtiva, um touro pode originar de 150 a 170 filhos pela monta natural. Pela inseminação artificial, ele pode produzir 200 mil doses de sêmen e originar 120 mil filhos
Possibilidade de cruzamento de diferentes raças
A técnica permite o cruzamento de diferentes raças, mesmo as que tenham dificuldade de adaptação às condições ambientais de uma região, o que dificulta a monta natural
Menor dificuldade nos partos
Por meio do uso de animais com facilidade de parto (índice que quantifica a facilidade das filhas de um reprodutor no decorrer do seu próprio processo de parto), os problemas em novilhas são reduzidos
Evita acidentes
Evita acidentes com a vaca, comuns quando a cobertura é feita com o touro é muito pesado, e mesmo com os funcionários, quando o animal é agressivo
Controle
É possível usar sêmen sexado (escolha do sexo da cria) e de reprodutores que já morreram para manter uma certa qualidade genética ou padrão de rebanho
CNA e Vaccinar
*Esse texto pode ser livremente reproduzido mediante crédito a Senar-RS/Padrinho Conteúdo