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Artigo: Um estado, uma nação
*Sueme Mori e Antônio da Luz
Desde Adam Smith, conhecemos a importância da produção e do comércio para a prosperidade das nações. A conta é muito simples: quanto mais produzir e comercializar daquilo que somos competitivos, melhores serão os padrões de vida da sociedade em questão. Se endereçarmos o olhar por meio de outras janelas, que não a econômica, também vemos que o comércio é uma troca de culturas e experiências que enriquecem uma nação de outras formas, elevando a complexidade e a diversidade dos povos. Se não quer mudar, não faça comércio, pois é um caminho sem volta.
Não sabemos de que jeito, mas, de alguma forma, esses conceitos estão escritos no código genético do povo gaúcho. Produzir e comercializar, espalhar e adotar culturas, preservar as raízes sem perder a sua essência. Esse povo que se lança ao mar e no mato, sem ter a certeza do que irá encontrar no caminho, porém certo do que está buscando, contribuiu muito para que o Brasil se tornasse a potência agroexportadora que é hoje.
Primeiro, foi com os vizinhos argentinos e uruguaios, pelo comércio de arroz e gado e, à medida que a produção e as trocas cresciam, as fronteiras começaram a ficar apertadas e o olhar se voltou para duas direções, bem mais desafiadoras, sendo que uma estava no Oeste brasileiro para produzir, enquanto a outra, além do Atlântico, eram oportunidades para comercializar.
Assim começou a saga desses brasileiros inquietos, que deixaram o conforto de seus lares no Sul, colocaram a família em uma boleia apertada e as ferramentas simples de trabalho na caçamba do caminhão velho, foram ocupando outras regiões, assim como outros brasileiros, onde não havia nada além de sonhos distantes de serem realizados e muito trabalho para ser feito.
Hoje a realidade é outra. Em 2023, o Rio Grande do Sul exportou US$ 22,3 bilhões para mais de 200 países. Confirmando a vocação do Estado, as exportações de produtos agropecuários representaram cerca de 71% desse total. De 2000 até 2023, as vendas externas do agro do Estado cresceram 334%. Não é à toa que a palavra "gaúcho" significa "habitante da zona rural dos pampas que se dedica à criação de gado".
O Rio Grande do Sul é um grande produtor e exportador agrícola: é o principal produtor de diversas culturas, como arroz (71%), trigo (51%) e uva (51%). Se houvesse uma estatística que mostrasse o total da produção das famílias gaúchas ou descendentes, espalhados pelo Brasil, conseguiríamos mensurar pelo menos uma parte da contribuição do povo gaúcho para a história de sucesso do setor agropecuário brasileiro. É impossível dissociar a trajetória de crescimento do agro nacional com a jornada dos gaúchos Brasil adentro.
Entretanto, o Rio Grande do Sul enfrenta neste momento uma das maiores catástrofes climáticas da história do Brasil, onde justamente as regiões mais populosas foram as mais afetadas, colocando um enorme ponto de interrogação sobre a recuperação, que poderá ser formato de "V" ou em "U" a depender das ações coordenadas dos setores privado e público.
Cidade e o meio rural foram duramente afetados. Todos os setores da economia gaúcha tiveram prejuízos, ainda incalculáveis. É fato que a recuperação do Rio Grande do Sul não interessa apenas a eles mesmos, mas ao desempenho da economia brasileira como um todo.
Os gaúchos que entregaram gerações de filhos e filhas para ajudar a ocupar e construir o Brasil, hoje recebem o abraço e o acolhimento do País inteiro, o que nos ensina que o Brasil é de fato uma nação, um país de verdade.
Que essa união sirva de exemplo. Temos um mundo para alimentar e um país para fazer crescer por meio da produção e do comércio e, como dizia Tolstoi, "se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia". Este Estado precisa de ajuda e o interesse é do Brasil inteiro.
*Sueme Mori é diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Com a colaboração de Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul).
Artigo publicado originalmente na Broadcast