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*Artigo: E-commerce além das fronteiras, oportunidades para empreendedores rurais
Sueme Mori e Rodrigo da Matta
O isolamento social imposto pela pandemia da covid-19 impactou drasticamente a rotina das pessoas em todos os cantos do mundo, impulsionando a adoção de práticas que até então eram realidade para uma minoria, como o trabalho remoto e as compras online. Passado o auge da crise sanitária, observamos a volta gradual aos escritórios, mas o comércio eletrônico continua crescendo.
De 2019 a 2022, as vendas online no Brasil somaram R$ 450 bilhões. Esse valor é mais do que o dobro dos R$ 178 bilhões que foram movimentados entre 2016 e 2019. O e-commerce veio não só para ficar, mas para tomar uma fatia considerável das vendas nos canais tradicionais.
Atualmente, as plataformas nacionais concorrem diretamente com os sites de venda globais e, por isso, adquirir um produto com origem em outro país já se tornou prática comum. Essa modalidade de comércio eletrônico transfronteiriço é conhecida como "e-commerce cross border". Em 2021, as vendas online entre países atingiram a marca de US$ 785 bilhões, com a expectativa de alcançar US$ 7,9 trilhões em 2030. Esse notável boom do varejo online ultrapassa a aquisição de produtos convencionais, como eletrônicos, celulares e roupas, e se estende a itens não duráveis, como alimentos e bebidas. Existe até um termo para a prática de compras dessa natureza, o "e-grocery".
Seja qual for o produto em questão, o e-commerce oferece benefícios que vão além da receita individual gerada. O Banco Mundial, por exemplo, destaca a importância das plataformas de comércio eletrônico na redução da pobreza, na expansão do comércio global, no estímulo à diversificação das exportações e na criação de empregos. Ao contribuir para a superação das barreiras geográficas, as trocas online se apresentam como uma forma inclusiva de trazer para o comércio internacional empresas e produtores de todos os portes e setores.
No caso de pequenos e médios produtores de alimentos, as plataformas conectam áreas rurais com o mercado internacional, proporcionando um canal de comercialização eficiente e ágil em meio à complexa cadeia de abastecimento global.
Um exemplo dessa tendência é observado na China, onde o Alibaba Group criou pequenas comunidades rurais chamadas de "Taobao Villages', que se integraram ao comércio eletrônico para vender produtos alimentícios e artesanatos locais. Isso não apenas promove a inclusão social, mas também aumenta a renda dos membros dessas comunidades.
A China, aliás, lidera o e-commerce global, com participação de 34% no mercado mundial. Só em 2022 foram transacionados US$ 2 trilhões pelo gigante asiático. Como comparação, o PIB do Brasil no ano passado foi de US$ 1,92 trilhão. Estados Unidos e Reino Unido aparecem como segundo e terceiro no ranking, com vendas na ordem de US$ 1,8 trilhão e US$ 287 bilhões.
Para o Brasil, terceiro maior exportador de alimentos do mundo e líder na produção de diversos produtos agropecuários, o e-commerce oferece a perspectiva de aproximar quem produz de quem compra. Esse encurtamento da cadeia representa uma revolução silenciosa no sistema de distribuição de alimentos, levando produtores, cooperativas e agroindústrias a adotarem estratégias de venda online em âmbito nacional e até internacional.
O sucesso na expansão do comércio online além das fronteiras passa pela superação de desafios que incluem questões relacionadas ao marketing, embalagem, logística, canais de distribuição, estabelecimento de parcerias, diferentes fusos horários e idiomas. Por outro lado, vender diretamente para outro país pode proporcionar margens mais atrativas, redução de custos transacionais e garantia de rastreabilidade no processo. Isso permite estabelecer um diálogo direto com novos consumidores, receber feedback valioso e ter controle sobre a imagem da marca.
Diferenciação é a palavra chave para se destacar no comércio eletrônico, onde se encontra de tudo. Tendências de consumo internacional estão se consolidando também para clientes na Ásia e Oriente Médio, com uma preferência por produtos com baixo nível de processamento, funcionais, de alto valor nutritivo, isentos ou com redução de componentes (como gorduras), produtos fortificados, diet/light, frutas e castanhas, energéticos e destinados a atletas.
A oferta de produtos brasileiros pode e deve ir além do óbvio. Além da qualidade e diversidade, a produção brasileira tem "história pra contar". Vender para onde esses atributos são valorizados e bem remunerados é uma estratégia inteligente. Melhor ainda se estiverem ao alcance de um clique.
Para o consumidor mundial, adquirir alimentos online é uma tendência. Para o empreendedor rural no Brasil é uma oportunidade única.
Sueme Mori é diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Com a colaboração de Rodrigo da Matta, coordenador de promoção comercial internacional da CNA
*Artigo publicado originalmente na Broadcast