Logo CNA

Agricultores do ES reutilizam água e trabalham para salvar colheita
Cevada 7 0 048310002015150100761

19 de setembro 2016
Por CNA

Por: G1 - Espírito Santo

A seca no Espírito Santo transformou o Rio Santa Maria da Vitória, na região Serrana do Espírito Santo, em um filete de água. Há escassez de água potável e produtores rurais estão fazendo reúso do recursos para tentar salvar as colheitas.

“A gente não sabe o que fazer. Nunca vi nada semelhante. Estamos pedindo a Deus para chover e reaproveitando o máximo possível a água. Reutilizamos a água do banho, da lavagem de roupa e diminuímos o tempo no chuveiro”, desabafou ontem o produtor rural José Carlos Knack, de 24 anos, enquanto caminhava no leito do rio, onde deveria haver pelo menos quatro metros de profundidade, segundo ele.

José mora no distrito de Recreio, no município de Santa Maria de Jetibá, onde sustenta a família com o cultivo de chuchu. Mas devido à escassez de água para a irrigação, disse que sua renda mal chega a um salário mínimo por mês. Antes da seca , conseguia renda quatro vezes maior.

Outra mudança foi a jornada de trabalho. Agora, José trabalha dia e noite para manter a lavoura com dificuldades.

“Como a gente só pode irrigar durante a noite, eu e meu cunhado revezamos para passar a noite irrigando, quando temos água suficiente, e durante o dia cuidamos da lavoura”, explicou o produtor.

Desespero
Quem também tem observado mudanças com a seca do rio é o produtor rural Everaldo Schumacker, de 38 anos. Morador do distrito de Caioaba, em Santa Leopoldina, ele se emocionou ao falar das dificuldades.

“Não tem coisa mais dolorosa do que ver o filho puxando sua camisa e pedindo algo que você não pode oferecer devido à falta de dinheiro e quase não há nada que se possa fazer”, lamentou.

Sem água para irrigar as lavouras de café, Everaldo conta que sua produção caiu de mil sacas em 2015, para 300 sacas em 2016. E se não chover nos próximos dias, vai perder toda a próxima colheita. Ele e os produtores vizinhos estão até desistindo de plantar inhame.

“Precisei dispensar três colaboradores e muita gente tem se mudado para a cidade em busca de melhores condições de vida. Estamos implorando por chuva”, concluiu.
A Cesan informou, por nota, que Santa Leopoldina não está em racionamento, mas que “a situação é de atenção”.

Em Santa Maria de Jetibá, o abastecimento é das 8h às 19h, no Centro e no Bairro dos Italianos. E das 19h às 6h, nos bairros Vila Nova, Vila Jetibá, São Luiz e São Sebastião do Meio.

Poço perfurado
Para continuar matando a sede, diante da escassez de água potável em Santa Maria de Jetibá, a família da dona de casa Lindinêz Brum, de 21 anos, já perfurou o terceiro poço artesiano, oito vezes mais profundo do que o primeiro.

A água é doce, mas o mesmo não se pode dizer sobre o valor que ela precisou gastar, de R$ 6 mil, segundo Lindinêz.

“O poço anterior tinha quatorze metros de profundidade e produzia água há três anos. Na semana passada, ele simplesmente secou. Então perfuramos um poço ainda mais profundo para conseguir água”, explica.

O poço tem 25 metros de profundidade e de acordo com a família, que vive no distrito de Recreio, foi preciso contratar um profissional com maquinário especial e fazer a implantação de uma rede de distribuição para os cinco imóveis da família, o que justifica o custo da perfuração.

Apesar de ter vista para um trecho da represa de Rio Bonito, a dona de casa explica que é cada vez mais difícil encontrar água potável na região.

Para se ter uma ideia dessa dificuldade, o primeiro poço artesiano perfurado pela família, há mais de quatro anos, tinha apenas três metros de profundidade.
“É desesperador. Sinto uma profunda tristeza ao ver o rio chegando nessa situação. Eu nasci e cresci vendo esse rio. Não dá para acreditar”, disse emocionada.

Reaproveitamento
Diante da situação, Lindinêz ressalta que a família tem feito o máximo reaproveitamento da água em casa.
“Diminuímos o tempo no banho e reutilizamos a água da lavagem de roupas para lavar as nossas casas”, explicou.

Barragem à míngua
A barragem de Rio Bonito, entre Santa Leopoldina e Santa Maria de Jetibá, está com menos volume de água. Ela é alimentada pelo Rio Santa Maria da Vitória, cuja vazão nesta quinta-feira (15) era de 2.071 litros por segundo. Já é considerado quadro crítico quando registra 3.800 litros por segundo.

Matérias Relacionadas