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Mudanças e transformações que chegam ao campo
Nas últimas décadas, a produção e a transmissão do conhecimento deixaram de ser exclusividade das universidades e centros de ensino. Na área da iniciativa privada surgiram muitos polos de pesquisa, geração e transmissão de conhecimento científico. No Brasil, o Sistema S tem sido especialmente competente na transferência de conhecimento através de seus programas de profissionalização.
O papel do Sistema S – no qual se enquadra o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC) – pode ter efeito particularmente benéfico nesse período em que vivem as economias modernas que, a cada semana, deparam-se com uma previsão distópica sobre a possibilidade ou a iminência de desemprego em massa motivado pelas revoluções tecnológicas previstas ou já em curso.
Pela radical mudança de padrões que promovem, essas previsões são estressantes, desestabilizadoras e “enlouquecedoras” para todos os setores da atividade humana. Porém, são inexoráveis. Nos países desenvolvidos, o percentual de empregos automatizáveis varia de 14% a 50% de todos os empregos existentes. O prestigiado McKinsey Global Institute prevê que 9% a 32% de força de trabalho das economias desenvolvidas serão afetados nos próximos dez anos.
Nesse contexto de tantas e tão profundas mudanças e transformações, o papel do Senar contribui para amenizar o nível de insegurança e imprevisibilidade. Em 2017, o Senar atendeu cerca de 128 mil produtores rurais em treinamentos e programas voltados a melhorar a vida das famílias rurais catarinenses. As ações foram realizadas em 281 municípios, atingindo 95% do território catarinense. Ao todo, foram promovidos 5.074 cursos e ações com carga horária de 209.446 horas.
Nesse grande esforço de qualificação e requalificação das pessoas, a principal linha de ação do Senar é a formação profissional rural, configurada como um processo educativo, sistematizado, que se integra aos diferentes níveis e modalidades da educação para desenvolver conhecimentos, habilidades e atitudes para a vida produtiva e social dos trabalhadores e produtores rurais. As principais áreas atendidas são agricultura, pecuária, silvicultura, aquicultura, extrativismo, agroindústria, atividade de apoio agrosilvipastoril e atividades relativas à prestação de serviços. Um grande avanço nessa direção foi o Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) em oito cadeias produtivas: aumentou a produção, evoluiu a produtividade e incrementou a renda líquida das propriedades rurais. No ano passado, 98 turmas com 2.576 produtores rurais receberam mais de 100 mil horas de assistência.
De outro lado, atividades de promoção social possibilitam aos trabalhadores, produtores rurais e suas famílias o acesso a conhecimentos, desenvolvimento de habilidades pessoais e sociais e mudanças de atitudes que favorecem melhor qualidade de vida e participação em comunidade.
Na economia em geral e no mercado de trabalho em particular, o cenário ainda é de muitas incertezas e especulações. Economistas preveem que as mudanças tecnológicas criarão tantos empregos quantos serão por ela destruídos. Sabe-se que profissões de baixa qualificação que exigem menos educação formal são as mais suscetíveis a automação. Profissões que exigem mais treinamento ou ensino superior estão menos ameaçadas, por enquanto. O Senar focaliza a capacitação concreta e tem como expressiva parcela de sua clientela adultos com baixa qualificação.
O crescente uso das novas tecnologias e a irresistível tendência pela automação e robotização podem e vão destruir empregos, mas, nenhum trabalhador no campo ou na cidade pode ficar ao desamparo. Aqui reside o novo desafio do Sistema S, que os formuladores de políticas públicas precisam conhecer e seguir na busca do fortalecimento dos programas de educação para adultos.
*José Zeferino Pedrozo é Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (FAESC) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR/SC)