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Margens da avicultura de corte integrada: situação atual, histórico e pontos de atenção
O Brasil é uma referência na avicultura de corte mundial, sendo o segundo maior produtor, atrás dos Estados Unidos, e o maior exportador de carne de frango.
Sendo uma das atividades mais tradicionais da história de produção de proteína animal, destacamos alguns marcos históricos que impactaram diretamente a evolução da atividade, dentre eles, o surgimento do sistema de integração vertical na década de 70, uma parceria entre a agroindústria (frigorífico) e os produtores.
Este sistema teve como objetivo tornar a atividade mais organizada e competitiva, estabelecendo padrões de manejo e assistência técnica nas granjas, incorporando linhagens genéticas com alta performance, garantindo também o fornecimento da matéria-prima (frango) para a agroindústria, bem como a compra da produção do produtor integrado pela agroindústria integradora.
Por vários anos, este cenário de expansão e desenvolvimento manteve foco em temas como a quantidade de aves abatidas e de carne produzida, aumento das exportações, diversidade de produtos no mercado, entre outros. Entretanto, esse crescimento afeta diretamente o planejamento estratégico dos produtores que precisam avaliar desde os parâmetros zootécnicos e produtivos a serem adotados em suas propriedades (aumento de escala de produção, expansão de área etc.), bem como, os impactos econômicos sobre o custo de produção, margem bruta e renda da atividade.
Assim, podemos nos perguntar: Qual é o atual cenário econômico da avicultura de corte brasileira? Como evoluímos em gestão financeira da atividade? Qual impacto da evolução dos sistemas produtivos sobre os custos de produção da atividade?
Para responder estas perguntas, foram analisados os dados de custos de produção e resultados econômicos do projeto Campo Futuro (CNA/Senar), em parceria com a Labor Rural, para a cadeia de produção de frangos de corte em sistema integrado.
Foram avaliados dados dos últimos sete anos (2018 a 2024), de 8 estados brasileiros e 21 regiões produtoras de frango de corte com modais médios de 4.572 m² de área produtiva e 415.604 aves produzidas anualmente, correspondendo a uma produção de 967.350 quilos de carne de frango ao ano ou de 209,18 quilos por m² ao ano.
Para apresentar as margens, lucratividade e risco das atividades precisamos entender os indicadores nos quais demonstram tais resultados, sendo:
Renda Bruta (RB): receita contabilizada considerando a entrega de frangos para abate (pesado e “griller”) e a cama de frango;
Custo Operacional Total (COT): é constituído pelo custo operacional efetivo (COE), que são as despesas diretas da atividade (mão de obra, energia elétrica, insumos para aquecimento, combustíveis, etc.), somado ao custo de depreciação (máquinas, equipamentos e benfeitorias) e ao pró-labore do proprietário;
Margem Líquida (ML): é a diferença entre a RB e COT, que demostra a capacidade do sistema produtivo de arcar com os custos efetivos, com a depreciação e o pró-labore visando a sustentabilidade do empreendimento no médio e longo prazo.
O Gráfico 1 demonstra a evolução da renda bruta, custo operacional total e margem líquida, em R$/ave de área produtiva, obtido para cada ano do período analisado.
Avaliando a evolução da margem líquida da avicultura de corte ao longo dos últimos sete anos, observamos uma queda de custos de produção e renda da atividade até 2021 e na sequência observamos o crescente aumento nos dois indicadores, porém em proporções não equivalentes, o que impactou diretamente os resultados econômicos da atividade, gerando margens negativas para o produtor no período analisado.
Isso é reflexo das dificuldades de os produtores negociarem com as agroindústrias integradoras, que em muitos casos não consideram as planilhas de custos de produção dos integrados nas tratativas sobre remuneração.
Vale ressaltar que, no modelo de integração, o produtor integrado não possui gastos com a ração, pintainhos e medicamentos, por exemplo, no entanto, o mesmo é responsável por vários outros componentes que também apresentaram aumentos significativos, afetando assim o custo de produção e as margens da atividade.
Para fins comparativos, no Gráfico 2, apresentamos a evolução do capital necessário para a construção de um galpão de frango de corte considerando as instalações, máquinas e equipamentos.
Em 2018, eram necessários R$ 661,39/m² para se implementar as benfeitorias de uma granja (todos itens envolvendo instalação e infraestrutura), enquanto em 2024, o produtor precisou investir R$ 908,94/m², ou seja, 37,43% a mais.
Estas informações foram baseadas em médias de todas as regiões e modais existentes no banco de dados do projeto Campo Futuro. Avaliando somente regiões onde foram aplicadas mais de uma vez a metodologia do projeto, e que, mantiveram constante a área produtiva e mesmo sistema de criação (galpões de pressão negativa), o cenário se confirma (Gráfico 3).
Nessas regiões, os resultados da atividade foram mais críticos ao longo do tempo, conforme demonstrado no Gráfico 4 para Chapecó (SC) e Dourados (MS).
Assim como a elevação de custo com inventário, observamos um crescimento do gasto ao longo dos anos, sobre os principais componentes do custo operacional efetivo da cadeia de frango de corte, como energia elétrica e combustíveis, mão de obra contratada, e insumos para aquecimento, conforme apresentado no Gráfico 5.
Outra forma de analisar a evolução da cadeia produtiva, é por meio da lucratividade. Através dela é possível avaliar o percentual de sobra que a atividade permite. Esta informação é importante para a tomada de decisão, visto que, a partir das expectativas de oscilações de preços, temos um parâmetro de risco da atividade. Isso porque quanto menor for a lucratividade, mais próximo da receita estará o custo, ou seja, buscamos estabelecer resultados positivos e altos de lucratividade para manutenção da atividade de modo sustentável.
Assim, a lucratividade é um importante termômetro para o empreendimento, pois ela mede o risco da atividade. Diante disso, uma granja com risco alto ou baixo nos levará a uma reflexão sobre o sistema de produção utilizado e sobre sua eficiência. O Gráfico 6 apresenta a evolução da lucratividade na cadeia de produção de frango de corte em sistema de integração de 2018 a 2024. Observe que em todos os anos a lucratividade foi negativa, gerando alerta para esta cadeia.
Considerações finais
Apesar da produção de frangos de corte brasileira se destacar no mercado mundial, fica evidente a necessidade de uma reestruturação no conceito financeiro e econômico da atividade e melhorias na relação entre agroindústrias e integradores.
Nos últimos sete anos, a produção integrada de frango vem apresentando resultados econômicos negativos para os produtores integrados, comprometendo a permanência e os investimentos na atividade.
Neste sentido, os dados nos fazem refletir se os impactos do aumento de produção e consumo têm sido avaliados na mesma proporção pelos produtores integrados e pelas agroindústrias, no que tange a saúde financeira e econômica da atividade.
É imprescindível que os dois elos dessa parceria, reformulem as estratégias de desenvolvimento da atividade, seja, buscando melhora em indicadores zootécnicos que podem aumentar a produção e diluir custos, como redução de mortalidade e intervalo de lotes, ou seja, reavaliando fatores econômicos como taxas de manutenção, rateio de equipamentos que são utilizados em mais de uma atividade, inclusão de pró-labore, e remuneração de capital investido, para equilibrar custo e renda.
Diante do desafio de transformar as propriedades em empresas rurais de sucesso, é imprescindível a análise prática dos custos de produção, tanto dos indicadores técnicos quanto dos indicadores econômicos, para um diagnóstico assertivo da situação da empresa rural, independente do momento vivido no mercado.
Comunicado Técnico
Aves e Suínos