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Impactos das flutuações do mercado internacional e custos em 2024
Realizou-se, pelo Projeto Campo Futuro 2024, o levantamento de custos de produção de manga na região do Vale do São Francisco, responsável por mais de 60% da produção nacional da fruta, segundo o IBGE (PAM, 2023), e por aproximadamente 90% das exportações (Embrapa, Observatório da Manga). O painel proporcionou uma oportunidade para verificar os custos de produção, identificar os fatores que mais oneram o produtor, atender às principais demandas do setor e analisar os gargalos produtivos observados no ano agrícola.
Dada a grande participação das exportações na formação de preços da fruta, é essencial entender o comportamento do mercado internacional. Os principais países no cenário de exportação da fruta são o México - tendo os EUA como mercado destino predominante - e o Peru - exporta principalmente para a Europa e os EUA -. Em 2023/24, a produção de manga no Peru foi negativamente impactada por condições climáticas adversas. A menor oferta no país permitiu ao Brasil incrementar suas exportações e ocupar parte desse espaço no mercado europeu e americano, como observado no comportamento das exportações em 2023 (Gráfico 1).
Para 2024/2025, espera-se uma recuperação da produção peruana, o que deverá aumentar a oferta em relação a 2023/2024. Esse aumento gera preocupação quanto à possível redução das exportações brasileiras (perda de mercado), com isso, maior destinação da produção ao mercado interno. Destaca-se que, a saturação do mercado pode resultar em uma tendência de preços mais baixos ao produtor, movimento já sendo observado em setembro e outubro.
Esse cenário é especialmente relevante para os produtores do Vale do São Francisco, que devem estar atentos à capacidade de o produto nacional manter a participação no mercado externo, conquistada na safra de 2023/24. É essencial que os produtores estejam atentos às movimentações na demanda nacional frente aos períodos de maior concentração da oferta evitando momentos de saturação do mercado.
Analisando a produção brasileira, o levantamento realizado pelo Campo Futuro mostrou que o produtor modal da região também enfrentou adversidades climáticas, o que reduziu a produtividade média de 30 toneladas por hectare para a metade, aumentando, assim, o custo unitário da produção. A propriedade modal estudada produzia manga Palmer, com 50% da produção destinada ao mercado externo.
Os dados obtidos no levantamento (julho/2024) indicaram um Custo Operacional Efetivo (COE) de R$1,72 por quilograma, um Custo Operacional Total (COT) de R$2,26 e um Custo Total (CT) de R$3,25. Na ocasião, o preço de comercialização da manga era de R$3,90 por quilograma, o que gerou um cenário de Lucro Econômico, com uma rentabilidade de 35% ao ano e lucratividade de 42%.
No entanto, os preços voláteis geraram grande impacto nos resultados econômico financeiros da atividade. O Gráfico 2 apresenta a flutuação de preços da manga palmer, sendo possível observar uma tendência de queda nos preços com o aumento da oferta no segundo semestre. A representação gráfica traz ainda os preços em três cenários, média do histórico de acompanhamento (2012 a 2024), cenário otimista e pessimista.
Dada essa volatilidade, o Gráfico 3 ilustra a situação econômica da atividade com base nos preços coletados durante o painel e nos cenários anteriores. O gráfico demonstra a importância de se adotar estratégias que permitam a comercialização de um maior volume da produção quando os preços são mais favoráveis. Em paralelo, tratando-se de um produto perecível, talvez a principal ferramenta disponível hoje seja o controle da oferta, buscando maior estabilidade.
A flutuação no mercado acende um alerta ao produtor nos cenários de preço médio, e descapitalização no cenário pessimista, quando a atividade é subsidiada por outra, ou por caixa de momentos anteriores da comercialização.
Observa-se que, com os preços da manga Palmer em torno de R$2,34 por quilograma no final de setembro (Campo Futuro), a atividade se mostra uma opção menos atrativa em comparação com opções alternativas. Além disso, já tomando como referência os preços da primeira semana de outubro do Observatório da Manga (Embrapa), em R$1,54 por quilograma, o cenário configura-se como uma atividade subsidiada, já que os preços não cobrem o Custo Operacional Efetivo (COE). Entretanto, para uma avaliação específica e
realista, é necessário analisar cuidadosamente o volume comercializado e os preços praticados para inferir a situação econômica real.
A produção nacional de manga, bem como de outras frutas, evoluiu e expandiu ao longo dos anos. A busca por tecnologias, incrementos de produtividade e qualidade, focando em maior participação no mercado externo, trouxeram ganhos ao consumidor nacional e externo. A oferta de produtos de qualidade é imprescindível, considerando o aumento da oferta dos países concorrentes e o rigor do mercado consumidor. Pelo viés do produtor, preços no mercado externo, por vezes mais atrativos, de maior valor-agregado, possibilitam reinvestimentos na atividade.
Dito isso, é crucial para o setor acompanhar o cenário externo, como a recuperação da produção de manga no Peru, e observar as práticas adotadas pelos agentes da cadeia produtiva no Brasil, com o objetivo de manter a competitividade do produto nacional, no mercado doméstico e global.