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Campo Futuro
29 de outubro de 2024
Custo de arrendamento e sua relação com a remuneração e produtividade da cana-de-açúcar
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Através da análise dos principais indicadores técnicos e resultados financeiros, o Projeto Campo Futuro possui como objetivo fornecer um panorama de diversas atividades produtivas do agronegócio brasileiro. Dentre elas, a produção canavieira passa por desafios recorrentes tanto no aspecto operacional quanto de gestão. O Brasil é o principal produtor de cana-de-açúcar do mundo, assim como grande destaque nos produtos derivados dessa matéria-prima, portanto, para que o setor se mantenha competitivo no mercado, é essencial a gestão eficiente dos custos de produção da atividade.

A composição de custos na produção da cana-de-açúcar envolve uma variedade de fatores, sendo o custo da terra um dos fatores com maior impacto, tanto sob a ótica de valor pago pelo arrendatário quanto em relação ao custo de oportunidade da terra.

Nesse sentido, o objetivo da presente análise é avaliar o comportamento do arrendamento de terras na safra 2024/25 e discutir o papel da produtividade agrícola na redução do comprometimento da receita com esse componente. Para fins da presente análise, denomina-se como arrendamento os valores desembolsados pelos produtores de cana-de-açúcar, tanto em contratos de arrendamento propriamente ditos quanto parcerias rurais, além do custo de oportunidade da terra própria.

A amostra considerou os resultados dos painéis realizados na edição de 2024 do Projeto Campo Futuro, em parceria com o Pecege Consultoria e Projetos. Logo, as regiões atendidas foram Bebedouro (SP), Novo Horizonte (SP), Penápolis (SP), Morro Agudo (SP), Cianorte (PR), Jacarezinho (PR), Quirinópolis (GO), Goiatuba (GO), Nova Alvorada do Sul (MS), Nova Olímpia (MT), Uberaba (MG), João Pessoa (PB), Maceió (AL) e Recife (PE).

Panorama do custo com arrendamento

O valor do arrendamento da terra é um custo que os agricultores possuem pelo uso por tempo estabelecido de uma área de terra para suas atividades agrícolas. Dentre os principais fatores de influência nos valores a serem pagos, a localização da terra, a qualidade do solo, a infraestrutura disponível e a demanda por terras agrícolas na região são alguns dos principais. Mesmo para aqueles que produzem em áreas próprias, o arrendamento representa o custo de oportunidade da terra.

A elevação dos preços de remuneração da matéria-prima do setor é favorável para os produtores de cana e contribui diretamente para a receita da atividade. Entretanto, possui efeitos negativos em aspectos particulares da produção canavieira diretamente ligados aos preços do setor, como no valor pago por mudas e no arrendamento. Na cultura canavieira, o valor do arrendamento da terra (R$/ha) é comumente definido a partir da multiplicação entre quantidade pré-estabelecida de cana por hectare arrendado (t/ha), qualidade praticada (kg de ATR/t) e preço do ATR (R$/kg). A Figura 1 apresenta o valor médio pago pelo arrendamento conjuntamente ao comportamento do preço da matéria-prima no Centro-Sul e Nordeste nas últimas edições do Projeto Campo Futuro.

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Tanto para os resultados médios da região Centro-Sul quanto da região Nordeste é possível observar tendências semelhantes entre preço da matéria prima e valores médios de arrendamento. A Figura 2 apresenta os valores de arrendamento registrados para cada localidade da edição 2024 do Projeto Campo Futuro e evidencia o impacto de outro determinante desse custo: quantidade de cana praticada.

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Os painéis de Barretos – SP, Morro Agudo – SP e Novo Horizonte – SP possuem as maiores quantidades de cana fixada em contrato de arrendamento, sendo (30 t/ha, 30 t/ha e 24,5 t/ha, respectivamente) e apresentaram os maiores valores desembolsados com esse custo. Diferentemente de outras regiões analisadas, como Nova Olímpia – MT, nessas três localidades a competição entre usinas influencia diretamente nos preços de terras. Além disso, a competição entre culturas agrícolas, principalmente grãos, também tem sido apontado como muito influente nos contratos atuais de arrendamento. Como exemplo, os aumentos nas cotações de diversas commodities agrícolas como soja e milho na safra 2022/23, ao incentivarem a expansão de áreas de cultivo, pressionaram o mercado de terras, exigindo elevações nos valores de arrendamento, inclusive na cultura canavieira.

Produtividade e arrendamento

A produtividade desempenha papel fundamental na diluição dos custos da produção canavieira, que possui estrutura majoritariamente fixa. A garantia de um determinado nível de produção auxilia o produtor em cobrir os custos de produção, dentre eles, o arrendamento da terra. Diferentemente do ano anterior, os resultados de produtividade para a edição 2024 do projeto registraram queda de 4,2% e 1,7% para as regiões Centro-Sul e Nordeste, respectivamente. Porém, apesar das reduções observadas, os resultados obtidos indicam que alguns indicadores, como a produtividade e expectativa de moagem acumulada, se assemelhem aos patamares históricos registrados.

Visando avaliar o impacto do nível de produtividade na diluição do custo com arrendamento, a Figura 3 apresenta a comparação entre comprometimento da produção-CP (eixo das ordenadas), preço do arrendamento (eixo das abscissas) e valor de TAH (tamanho do círculo) da amostra do projeto Campo Futuro 2024

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Das regiões avaliadas, Recife – PE apresentou menor CP, efeito do menor valor de arrendamento. Já o maior valor de CP foi registrado em Bebedouro – SP, que apesar de possuir quantidade de cana praticada em contrato igual a Morro Agudo – SP (30 t/ha), possui menor TAH do que esta, portanto, apresentando maior CP. Dessa forma, elevados valores de arrendamento podem ser compensados por altos níveis de produtividade, como em Goiatuba – GO. A comparação entre Penápolis – SP e Jacarezinho – PR, que possuem valores semelhantes de arrendamento e quantidade praticada (20 t/ha e 20,7 t/ha, respectivamente), reforça o impacto do melhor valor de TAH apresentado por Jacarezinho.

Conclusão

A partir das análises foi possível observar a relação do custo do arrendamento com a remuneração da matéria-prima e produtividade. Áreas com maior capacidade produtiva, localização e maior demanda por cana-de-açúcar, isto é, número de usinas, possuem maior quantidade praticada de cana nos contratos de arrendamento firmados, variando de acordo com diferentes contextos e regiões.

O comprometimento da receita do produtor de cana com a rubrica do arrendamento pode ser aliviado por uma maior produtividade. Porém, vale reforçar que a busca por melhores resultados no campo deve prezar também pelos custos de produção em geral, de modo a garantir a sustentabilidade econômica da atividade canavieira.

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