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3 de julho de 2017
Crianças que não consomem lácteos podem ter deficiência de Vitamina D
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POR CNA

O termo Vitamina D é utilizado para descrever uma classe de hormônios esteróides que ajudam na absorção do cálcio e fósforo nos intestinos. Na ausência de quantidades adequadas de vitamina D, apenas 10-15% do cálcio é absorvido. No caso do fósforo, esta porcentagem é de 60%. Uma vez que o cálcio e o fósforo são os principais minerais presentes nos ossos, a deficiência de vitamina D afeta a massa óssea, podendo resultar na desmineralização óssea (raquitismo) em crianças. 

Várias outras funções fisiológicas, como a imunidade e a prevenção de uma série de doenças crônicas, incluindo câncer, diabetes e problemas cardiovasculares, estão relacionadas ao aporte adequado de vitamina D. 

As principais fontes de vitamina D são a dieta e a luz ultra-violeta (UV), o que a torna única dentre todas as vitaminas. Mas, existem muito poucos alimentos ricos em vitamina D. Peixes gordurosos, como o salmão e o atum, são as principais fontes. Outros exemplos são os ovos e os cogumelos. Porém, para suprir a exigência dietética de uma crianças, que é de, pelo menos, 400 UI de vitamina D, seriam necessárias 3 porções diárias de peixes gordurosos ou 10 ovos, por exemplo. 

Embora os lácteos fortificados tenham concentrações menores de vitamina D que os alimentos citados acima, 2 porções diárias (2 copos de leite, por exemplo) suprem a exigência dietética das crianças, de maneira mais prática e econômica. No caso dos adultos, nos quais a exigência é de 400-1000 UI, o consumo de 3 porções de lácteos é suficiente. Além da vitamina D, o leite de vaca contem outros numerosos nutrientes e componentes bioativos que desempenham importantes papéis no crescimento ósseo, incluindo cálcio, fósforo, proteínas do soro (whey protein) e lactose. 

Mas, e as crianças que não consomem leite de vaca, seja por alergia, intolerância à lactose, preferência ou práticas alimentares (veganismo, por exemplo)? Com tão poucas opções de alimentos ricos em vitamina D, não é surpresa ver que estas crianças apresentam níveis sanguíneos de vitamina D mais baixos que aquelas que consomem leite de vaca regularmente. 

Nos últimos 100 anos, desde que foi identificada pela primeira vez, a deficiência de vitamina D tem se apresentado como potencialmente epidêmica em vários países do mundo, incluindo EUA e Canadá. Suas principais causas também não mudaram muito ao longo dos anos, destacando-se a exposição limitada aos raios solares e o consumo deficiente desse nutriente essencial, já que um crescente número de crianças não tem consumido leite de vaca. 

Várias pesquisas desenvolvidas nos EUA e no Canadá têm mostrado que crianças que não consomem leite de vaca em função de alergia, intolerância ou preferência por outros tipos de bebidas apresentam um maior risco de deficiência de vitamina D. A falta de consumo, associada com a recomendação médica de evitar a exposição ao sol, podem ajudar a explicar o crescimento da prevalência de deficiência de vitamina D em crianças saudáveis, tornando o raquistismo, por incrível que pareça, uma doença atual. 

Os resultados de uma pesquisa, publicados no Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine, mostrou as análises sanguíneas de 380 bebês e crianças (8 meses a 2 anos de idade) da cidade de Boston, nos EUA. Quarenta por cento dessas crianças apresentaram níveis de vitamina D abaixo do recomendado, e 12% apresentaram deficiência severa. Segundo os pesquisadores, os preditores mais importantes de deficiência de vitamina D entre as crianças foram o aleitamento materno sem suplementação de vitamina D e, dentre os desaleitados, o baixo consumo de leite de vaca. 

Outro estudo, publicado no Pediatrics, mostrou resultado praticamente idêntico, avaliando 1300 crianças saudáveis, com idades entre 2 e 5 anos de idade, na cidade de Toronto, no Canadá. Os pesquisadores observaram que crianças com pele mais clara conseguiam suprir suas exigências de vitamina D ingerindo aproximadamente 2 copos de leite fortificado por dia. Por outro lado, em função da interação entre a pigmentação da pele e a absorção de vitamina D (peles mais escuras refletem mais a luz e, assim, bloqueiam mais os rais UV), as crianças de pele mais escura precisaram consumir aproximadamente o dobro de leite para manter os níveis adequados, especialmente nos meses de inverno. 

  

Outra observação muito interessante, foi obtida em um trabalho publicado no Canadian Medical Association Journal, que avaliou o status de vitamina D de crianças que não consumiam leite de vaca, substituindo-o por bebidas alternativas como leite de cabra, "leite" de soja, "leite" de arroz e "leite" de amêndoas (referidos em conjunto como "leites" não provenientes de vacas). 

Embora muitos desses "leites" não provenientes de vacas sejam fortificados com vitamina D, dados dietéticos e sanguíneos, de mais de 3000 crianças saudáveis, com idades entre 1 e 6 anos, coletados entre 2008 e 2013, mostraram que aquelas que consumiam apenas "leites" não provenientes de vacas apresentavam um risco maior de deficiência de vitamina D que aquelas que tomavam leite de vaca regularmente. 

Os pesquisadores também identificaram um efeito dose-dependente do consumo de "leites" não provenientes de vacas; com queda nos níveis sanguíneos de vitamina D associada ao aumento do consumo dos "leites" não provenientes de vacas. 

Embora todos estes dados tenham sido obtidos no hemisfério norte, seus resultados não se limitam a estes locais, já que a deficiência de vitamina D é um problema global, indicando que a latitude não é o fator predisponente mais importante. 

Fontes:
1. Maguire JL, Lebovic G, Kandasamy S, Khovratovich M, Mamdani M, Birken CS, Parkin PC. 2013. The relationship between cow’s milk and stores of vitamin D and iron in early childhood. Pediatrics, 131: e144-e151.

*Flávia Fontes é DSC. Nutrição Animal, Editora da Revista Leite Integral e do Movimento #bebamaisleite

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