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São Paulo

Tradição e história: produção de chás em sítios do Vale do Ribeira vira atração turística
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Programa de Turismo Rural do Senar-SP transformou dois sítios de famílias de origem japonesa em importantes destinos turísticos

21 de agosto 2023

Por: SENAR-SP

Fonte: Comunicação do Sistema FAESP/SENAR-SP

Se por um lado a industrialização, a tecnologia e as mídias modernas distanciam muitas pessoas do campo, por outro crescem as oportunidades de se ter um contato com a natureza e com produtores rurais para se entender como é o cultivo de um produto em várias fases de sua produção. É o caso do turismo rural, que vem crescendo bastante no interior paulista, para onde os turistas vão em busca de trocar o asfalto pelo chão de terra para vivenciar experiências emocionantes. No Vale do Ribeira, na cidade de Registro, dois locais se destacam por unir o turismo à produção de chás: Sítio Shimada e Sítio Yamamaru, que, além da produção de chá, têm em comum a presença do SENAR-SP no progresso de seus empreendimentos.

Sítio Yamamaru

A família Yamamaru se dedicou a diversas culturas desde que o senhor Mitsutoshi chegou ao Brasi com a família vindo do Japão nos anos 1950. Plantaram abacaxi, maracujá e outros, mas o principal destaque sempre foi o cultivo de plantas para o preparo de chás – na época de auge de plantio, chegavam a colher três toneladas de folhas in natura que depois eram processadas por empresas parceiras para a produção comercial e exportação.

Após o auge do chá na região, entre final dos anos 1980 e início dos 1990, os Yamamaru tiveram sérias dificuldades econômicas e o chazal foi abandonado. A família tentou outras produções para conseguir se manter até que, em 2008, voltou a se reerguer com a produção de palmito pupunha. O Sr. Mitsutoshi faleceu no ano seguinte já com a expectativa de a família recuperar a força da produção em sua propriedade, o que aconteceu em 2011, quando Kazutoshi, filho mais velho de Mitsutoshi, retornou do Japão para onde tinha ido trabalhar por alguns anos e assumiu a propriedade. A partir de 2014 o chazal foi sendo recuperado com o esforço e dedicação de toda a família: o terreno para a plantação foi limpo e os pés novamente podados, resgatando a produção através de Sistema Agroflorestal (forma de uso do solo que alia plantio de alimentos com plantas que integram a floresta), com preservação de árvores nativas que fazem sombra para a plantação destinada ao processamento de chá.

Miriam, a caçula da família de seis irmãos, colaborou bastante para reerguer os negócios da família, e é ela quem conta um pouco dessa história a partir da recuperação do chazal: “Meu irmão, Kazutoshi, depois de alguns anos trabalhando no Japão, retornou e assumiu a propriedade, e voltarmos a produzir chá. Entre 2016 e 2017, quando estávamos novamente bem estabelecidos com a produção, participamos do Programa Turismo Rural pelo Sindicato Rural de Vale do Ribeira. Conheci pessoas incríveis que estão conosco até hoje como parceiros e colaboradores.”

O Turismo Rural aumentou os rendimentos da família, que passou a fazer o processamento das folhas na própria propriedade, deixando de apenas fornecer para outras fábricas. “O chá depende do turismo e o turismo depende do chá”, diz Miriam, que também é bióloga e se empolga ao contar como o curso do SENAR-SP mudou o modo de ela se relacionar com o meio ambiente. “O Programa foi o que despertou em mim o desejo de trabalhar com a natureza. Depois de fazer o curso, ainda mantemos ligação com o SENAR-SP”, explica. “Nas visitas guiadas a gente identifica mais de 30 espécies de árvores nativas, o nome científico, o nome da família da planta, e essa parte atende muitas escolas, tanto públicas como privadas, grupos de terceira idade, e grupos [com dificuldade] de acessibilidade”.

Os visitantes participam de uma ‘vivência de chá’, em que eles colhem as folhas, fazem o processamento e depois a degustação do chá que colheram. “Temos também ‘contação de histórias” pela qual falamos da nossa família e da comunidade. A natureza que temos é tão perfeita que encanta o turista, com uma trilha que tem uma represa no final. Na propriedade temos também uma cabana no meio da floresta, que meu pai construiu”, explica Miriam. “Tem gente que vem só para apreciar a natureza, mas a maioria dos turistas vem ver o modo como a gente trabalha, plantando na sombra com sustentabilidade. Isso impacta bastante”, ressalta.

Miriam recomenda que outras pessoas da região participem dos cursos para que possam se capacitar e trabalhar nas propriedades locais. “Eu sinto muito a falta de mão de obra capacitada para trabalhar com a gente, por isso recomendo que quem quer trabalhar nos sítios da região participe dos cursos do SENAR-SP; é muito gratificante poder dar oportunidade de trabalho às pessoas da comunidade”.

Sítio Shimada

A produção de chá também é algo marcante em outra família de origem nipônica em Registro, neste caso do Sítio Shimada. Ume Shimada inaugurou a Fábrica Artesanal de Chá Preto aos 87 anos, em 2014, em um terreno que ela herdou dos pais – onde a família já havia trabalhado também com plantação de lichia e café, e criação de bicho da seda. A neta de Ume, Samira, foi quem participou do Programa Turismo Rural. “A produção de Chá despertou interesse de profissionais que trabalhavam com essa bebida e já estávamos recebendo alguns visitantes, mas não com essa visão de turismo rural”, diz Samira. “Minha avó, Ume, sempre teve plantação de Chá. O pai dela ensinou a colher quando ela tinha cinco anos de idade. O amor e o conhecimento pelo chá minha avó herdou do pai dela”, diz. Depois que as empresas da região que faziam processamento das folhas fecharam, os Shimada se reestruturaram para assumir essa parte da produção.

“Hoje quem cuida da produção é minha mãe Teresinha junto com meu pai Léo e eu ajudo na parte de atendimento e vendas. Meu irmão desenvolveu nosso site com e-commerce e minha cunhada cuida das redes sociais. Meus tios ajudam nos eventos e feiras quando podem. Minha avó, hoje com 95 anos, caminha com dificuldade, se cansa facilmente, mas está sempre atenta aos movimentos do Sítio e gosta muito de conversar com os visitantes”. A participação no curso ampliou a visão de como aproveitar o trabalho com chás associado ao turismo. “Gostamos da visão profissional sobre nosso potencial turístico e aplicamos na prática o aprendizado já durante o curso. Com a orientação da instrutora do Programa, organizamos o evento anual da 1ª Colheita, além de nos estruturarmos melhor para receber os turistas. Somos muito gratos por isso”, diz ela.

Samira explica como é o turismo rural no Sítio Shimada: “A Visita Guiada inclui conhecer a plantação de chá e fábrica artesanal de chá preto da nossa marca, tudo explicadinho pela Teresinha Shimada, nossa Tea Master. Oferecemos degustação de chás com acompanhamentos. A duração da visita é de aproximadamente três horas. Recebemos desde uma única pessoa por visita até grupos grandes de 60 pessoas.”

O Programa de Turismo Rural

O conteúdo do Programa oferece conhecimentos fundamentais para possibilitar que uma propriedade rural explore suas potencialidades e tendências de acordo com a realidade regional e com as culturas produzidas, nos segmentos de turismo cultural, ecoturismo, turismo de aventura e outros. Cintia Suguino é instrutora do SENAR-SP desde 2001 e foi ela que implementou o Programa nos sítios Yamamaru e Shimada. “A metodologia para construção de um produto turístico com gestão e comercialização, com olhar para o mercado, faz parte da capacitação oferecida no Programa de Turismo Rural e em cursos pontuais”, diz Cintia. Ela explica que primeiro é feito um estudo para definir o tipo de público “consumidor” de determinados serviços e produtos turísticos, para tornar o local interessante para o turista ou excursionista.

Durante a realização do Programa nas propriedades, o participante constrói, com monitoramento do instrutor, o produto turístico de acordo com o potencial, formatando o projeto de acordo com as especificidades de cada propriedade. Além da produção artesanal de chás, os dois sítios têm como característica a cultura japonesa das famílias, o que permitia vivências diferenciadas aos clientes. “Em cada sítio foi trabalhado um formato de negócio. No sítio Yamamaru, por exemplo, foi trabalhado o chá produzido no Sistema Agroflorestal”, diz Cintia, explicando que os dois sítios oferecem formas de colher o chá em ambientes diferentes com tipos de processamento distintos. No Sítio Yamamaru o chá verde e o chá preto são produzidos de forma artesanal em meio ao sistema agroflorestal, com polpa de palmito juçara e verduras naturais sem agrotóxico, tornando-os uma bebida com aroma e sabor diferenciado. O Sítio Shimada produz de maneira orgânica e artesanal três famílias da Camellia sinensis para obtenção de Chá Preto, Chá Verde e o raro Chá Branco Silver Needle, além do exclusivo Chá Preto Defumado – e tem ainda a plantação de lichia que também pode ser visitada.

Durante o Programa, a instrutora aprendeu com as produtoras que o período de cada safra vai de setembro ao final de maio e que o chá colhido logo no início da safra tem um sabor muito especial, de melhor qualidade. Assim veio a ideia de se criar a Celebração da Primeira Colheita do Chá, baseada nos preceitos japoneses, e que passou a ser realizada todo ano no início de setembro. Cada sítio faz a sua própria celebração, com programações diferentes. O evento – em que se agradece o resultado da safra passada e se celebra a chegada da nova safra – se tornou mais um produto oferecido com venda de ingressos para oferecer aos turistas uma experiência única desde a colheita, visita à fábrica, degustação e outras atrações, num acontecimento tradicional cheio de emoções. E tudo isso foi possível com os cursos e programas do SENAR-SP.

Outras informações acesse o Portal FAESP/SENAR-SP

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