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Itália estimula crescimento do setor de bioenergia
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Produtores e técnicos de instituições parceiras e do Sistema FAEP/SENAR-PR percorrem Europa para conhecer alternativas energéticas

25 de setembro 2017
Por Senar

A Itália é o segundo maior produtor mundial de energia renovável e apresenta uma realidade muito distinta do que ocorre na Alemanha e na Áustria em relação ao setor. Enquanto outros países europeus estão reduzindo significativamente os incentivos financeiros aos produtores de bioenergia, a Itália tem mantido o subsídio às usinas instaladas, buscando estimular o crescimento do setor. Nos últimos seis anos, o governo italiano investiu 4,5 bilhões de euros em 1.555 plantas.

Os três países são referências no uso e produção de energias renováveis e foram visitados pela delegação paranaense, que fez parte da viagem técnica organizada pelo Sistema FAEP/SENAR-PR. A Europa buscou alternativas pela necessidade de segurança e eficiência energética e questões ambientais, oferecendo subsídios para atrair os produtores rurais e estimular a produção de bioenergia.

Na Itália, a característica observada pelo terceiro grupo de produtores e técnicos foi de diversificação da propriedade, direcionando parte dos recursos para a produção de alimentos e parte para a geração de energia.

Os italianos estão agregando valor e receita ao produtor rural e utilizam modelos de associativismo. Eles usam o sistema de confinamento na produção pecuária, o que gera acúmulo de dejetos. É o caso da Cooperativa Agroenergetica Territoriale di Correggio (C.A.T.), que concilia a agroenergia com a vocação alimentar da região da Emília-Romanha. A cooperativa criada em 2007 tem a primeira fazenda certificada da Itália na produção de biogás.

A organização é formada por 26 propriedades rurais, cinco vinícolas e dois bancos e opera uma planta com potência de 1 megawatt, numa área de 300 hectares. Os principais substratos usados na região para o biogás são esterco, silagem de milho e triticale e engaços de uva. A região é grande produtora de vinho. Os sócios fornecem o substrato para a biodigestão e a cooperativa entrega o biofertilizante, reduzindo bastante o uso dos fertilizantes químicos. “É um assunto que desconhecia e tivemos muita informação. Acho que esse é o futuro. Até para garantir a produção de energia. A principal diferença é que o Brasil está adiantado na produção, mas nos falta pesquisa. Precisamos investir nessa área”, afirma o presidente do Sindicato Rural de Paranacity, Aldo Hashimoto.

Com o objetivo de entender a realidade europeia e obter conhecimento para desenvolver um modelo que se adeque à realidade brasileira, principalmente a do Paraná, agregando valor e receita à propriedade rural, a comitiva de produtores e técnicos paranaenses percorreu instituições e propriedades rurais na Itália. “Não dá para pegar o modelo deles sem se preocupar em adaptá-lo à nossa realidade.

Precisamos de pesquisas e estudos sobre a viabilidade econômica. Nosso maior problema não está relacionado à produção de energia, mas a uma destinação dos dejetos”, avalia o presidente do Sindicato Rural de Centenário do Sul, Walter Ferreira Lima.

A comitiva paranaense também conheceu a Fazenda La Bellotta, propriedade da família Remmert, localizada no Norte da Itália, próxima da cidade de Turim. São 400 hectares nos quais se utiliza apenas fontes de energia renováveis, como eólica, solar, biomassa e biogás. É uma propriedade diversificada, com produção de cereais de inverno (trigo, cevada, aveia e triticale), soja, pecuária de leite e avicultura (granja com 3 mil aves). Além de experimentos com outras culturas, como beterraba.

Os resíduos são utilizados em dois biodigestores, com potência de 2 megawatts. Eles produzem energia elétrica e térmica e biofertilizantes, que são utilizados na lavoura, gerando uma economia aproximada de 70% na aquisição de fertilizantes químicos. “São vários formatos diferentes de produção, individual e empresarial, com diversas formas de produção de energias e seus processos”, observa o presidente do Sindicato Rural de Apucarana, Claudiomiro Rodrigues da Silva.

A Itália, um dos maiores importadores de gás natural do mundo e com grande dependência do petróleo, hoje tem por preocupação o saneamento ambiental. A diversidade de alterativas do setor energético e a preocupação com a qualidade de energia foram tendências apresentadas à comitiva durante as visitas. Apesar do Brasil ter uma matriz energética renovável, a visão é de que há a necessidade de o país se adequar à nova realidade, em que haverá descentralização da produção com a construção de pequenas usinas regionais, eficiência energética e redução de gases de efeito estufa.

Durante a viagem, o grupo de produtores e técnicos paranaenses também conheceu uma das sedes do Consorzio Italiano Biogas (CIB). Desde 2006, a organização representa os produtores que operam na cadeia de biogás e biometano na agropecuária.

São 591 propriedades rurais, que produzem 425 megawatts por hora, o equivalente à metade das plantas da Itália. São 42 usinas de biogás e biometano e 10 instituições de pesquisa, totalizando 714 associados. Entre suas principais atividades estão assistência aos associados, defesa política do setor, parcerias com universidades e institutos de pesquisa, participação em eventos, como conferências e feiras, e divulgação de informações por meio de boletins informativos.

O responsável pela comunicação do CIB, Ricardo Gefter Wondrich, apresentou ao grupo paranaense alguns projetos de pesquisa que estão sendo desenvolvidos pela instituição. Uma das pesquisas é sobre aumento de produção e utilização de biometano na Europa, eliminando barreiras não tecnológicas. Outra é sobre um modelo de comunicação para divulgar informações corretas sobre a produção do biogás e a criação de processos participativos, buscando minimizar a oposição da sociedade em relação à produção.

Outra cooperativa visitada pelo grupo foi a Cooperativa Intercomunale Lavoratori Agricoli (C.I.L.A.), em Novellara (província de Reggio Emilia), que tem uma característica peculiar: foi fundada por trabalhadores. A fazenda construída há mais de 100 anos tem por objetivo unir os pequenos agricultores da região, que antes produziam arroz e hoje têm a terceira maior criação de animais da Itália, com 5 mil suínos e 3 mil bovinos em 1,1 mil hectares. A usina está em atividade desde 2012 e tem potência de 1 megawatts. Eles também produzem o famoso queijo Parmigiano Reggiano.

A última etapa da viagem foi na Azienda Agricola Iraci Borgia, administrada por cinco irmãos, em Collazzone (região da Umbria). Em torno de 70% da área da propriedade é utilizada para a usina de biogás e o restante para a produção de milho, que é comercializada. São dois biodigestores, com potência instalada de 1 megawatt cada. Há nove anos trabalham sem adubação química.

Assessoria de Comunicação do Sistema FAEP/SENAR-PR
http://www.sistemafaep.org.br