CNA debate potencial brasileiro para ampliar produção de trigo
Tema foi discutido na Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da entidade na terça (5)
Brasília (06/04/2022)
– A Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA discutiu, na terça (5), as potencialidades do Brasil para ampliar a produção de trigo no País.
Foram tratados temas como o cenário mundial, ações de fomento para o cereal na região Sul e o plano de desenvolvimento para expansão da produção do trigo tropical no Cerrado.
Os pesquisadores do Cepea/Esalq/USP, Lucilio Alves e Mauro Osaki, falaram sobre a oferta e a demanda de trigo, considerando os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia, que são grandes produtores do cereal e também fornecedores de fertilizantes. Segundo eles, os dois países representaram 14% da produção mundial e mais de 30% das exportações mundiais do cereal.
Alves afirmou que há dois anos seguidos os estoques de trigo vêm caindo e a demanda está superando a oferta. “É um reflexo da pandemia, mas agora com a guerra houve uma disparada de preços, com aumento chegando a 75% em poucos dias”, disse.
Ele ressaltou ainda que apesar de importar quase metade do trigo que consome, o Brasil não sofrerá um contexto de escassez do produto.
“O País apresentou recorde de produção em 2021, mas precisamos que Rússia e Ucrânia produzam porque os estoques estão em baixa e o preço continuará subindo para o consumidor final”.
Mauro Osaki comparou o desempenho econômico do trigo do Brasil com os principais produtores mundiais, tomando como base cinco safras (15/16-19/20) para os valores internacionais e nacionais. Na Rússia, por exemplo, a produção de uma tonelada custa 62 dólares; na Ucrânia, 96 dólares, já no Brasil, o valor chega a US$ 177.
Segundo ele, a rentabilidade do trigo nos últimos anos tem sido desfavorável em função dos custos de produção da cultura, o que favoreceu o plantio do milho.
“De acordo com levantamento do projeto Campo Futuro, o milho segunda safra cresceu em detrimento do trigo em regiões como Cascavel (PR), por exemplo, principalmente devido à rentabilidade da cultura, custos de produção e produtividade”.
Apesar do aumento no preço de insumos, o crescimento da produção de trigo no Brasil é viável, considerando os benefícios para o solo e para as culturas subsequentes, afirmaram os participantes da comissão.
Nos estados do Paraná e Rio Grande do Sul, por exemplo, existem áreas em pousio na segunda safra (descanso da terra) que podem ser utilizadas para o plantio do cereal e, consequentemente, diminuir os custos fixos da produção.
“A cultura do trigo não volta a decrescer no Rio Grande do Sul. Temos um cenário promissor para o produtor gaúcho e queremos avançar para o desenvolvimento de um plano para a triticultura no estado”, afirmou Hamilton Jardim, da Federação da Agricultura do Estado do RS (Farsul).
No Paraná, Rodolfo Botelho, da Federação de Agricultura do Estado (Faep), disse que os produtores estão preocupados com o aumento no preço dos fertilizantes, que elevaram o custo de produção, além das questões climáticas que têm trazido quebra de safra na região.
“O trigo é de fundamental importância para o Brasil e para a região Sul, por isso precisamos que o assunto seja discutido de forma mais abrangente, assim como as demais culturas de inverno, para levar informação para o produtor, garantias de produção e rentabilidade".
Em relação à produção de trigo no bioma Cerrado, o pesquisador da Embrapa Cerrados, Júlio Cesar Albrecht, apresentou o Termo de Execução Descentralizada ou TED do Trigo Tropical, elaborado pela Embrapa e aprovado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o período 2022-2025.
A iniciativa vai abranger o cultivo de sequeiro e irrigado nos estados de Goiás, Minas Gerais, Oeste da Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e no Distrito Federal e vai focar, especificamente, na transferência de tecnologia, caracterização dos municípios produtores e combate à brusone (praga que ataca o trigo).
Com o plano, espera-se o crescimento de 40% da área cultivada com trigo, passando de 252 mil hectares em 2021 para 353 mil até 2025, aumento da produção em torno de 300 mil toneladas e desoneração em R$ 450 milhões da balança comercial das importações de trigo no Brasil.
“É viável alcançar esses resultados devido às características da região que tem produtividade e qualidade excelentes”, afirmou Albrecht.
Para o presidente da Comissão, Ricardo Arioli, é necessário discutir a elaboração de um plano nacional de triticultura e, para isso, a CNA irá intensificar o debate com o governo e entidades do setor produtivo. “A próxima revolução agrícola no cerrado brasileiro será a do trigo”, disse.
Durante a reunião também foram discutidas ações da Confederação referente ao suprimento de insumos. O diretor técnico adjunto, Reginaldo Minaré, disse que a CNA está trabalhando para que, no curto prazo, não falte o fertilizante necessário para o abastecimento do produtor e, a médio e longo prazo, o Brasil possa produzir mais no território, tanto o NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) quanto os demais fertilizantes.
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