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Cachaça: cursos do SENAR-SP ensinam como valorizar a “bebida nacional”
Cachaca

Diversidade, qualidade e sofisticação do mercado atraem o interesse de novos produtores

27 de julho 2022

Por: SENAR-SP

Fonte: Comunicação do Sistema FAESP/SENAR-SP

Consagrada por meio de decreto federal que lhe confere a autenticidade de “bebida nacional”, a cachaça é uma bebida nobre, com potencial gigantesco a ser explorado comercialmente. No entanto, dos 1,4 bilhão de litros produzidos por ano, o Brasil exporta apenas 1%, devido a barreiras de diversos tipos e, sobretudo, à concorrência com outros destilados populares mundialmente. Mas a cachaça tem uma vantagem: a versatilidade. Quem aponta esse diferencial é o engenheiro agrônomo com mestrado e doutorado na área, Ricardo Coeli Simões Coelho, instrutor do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-SP) há oito anos, totalizando perto de 2.200 alunos nos dois módulos que ensinam os interessados a produzir a bebida: “Requisitos legais para a produção de cachaça” e “Produção de cachaça”.

De acordo com o levantamento “A Cachaça no Brasil - Dados de Registro de Cachaças e Aguardentes - Ano 2021”, publicado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), atualmente nosso país concentra 955 fabricantes registrados de cachaça, espalhados por todas as unidades da federação, totalizando 586 municípios que produzem a bebida. O Estado de São Paulo conta com 128 fabricantes e só perde para Minas Gerais, com 397. O número real de registros do produto no MAPA no ano de 2020 foi de 3.533, um aumento de 15,8% em relação ao ano anterior. Além disso, 75% dos estabelecimentos possuem até quatro registros de cachaça, sendo que o maior número de registros em um único estabelecimento foi de 67, quase o dobro do maior número em 2019.

Por que tanta variedade? O instrutor do SENAR-SP explica. “Muita gente desconhece a capacidade de sofisticação que tem essa bebida. Porque você pode fazer inúmeros coquetéis, muito além da caipirinha. Há toda uma variedade de tipos, até mesmo cachaças especiais para o público feminino. Há um desenvolvimento muito grande vindo aí. O auge da cachaça é o blend de madeira. Enquanto os demais destilados só podem ser envelhecidos em barris de carvalho, a cachaça brasileira pode ser envelhecida em mais de 150 espécies nativas de madeiras, incluindo o eucalipto. Cada um dá um sabor, pode ser achocolatado, de nozes, frutados, florais, especiarias, enfim, cada madeira tem seu sabor e sua doçura”, relata Coelho.

Outro aspecto que chama a atenção nos cursos é o baixo nível de complexidade da produção. “Todo mundo pensa que é mais difícil fazer cachaça do que realmente é. É surpreendente como se imagina que seja uma coisa totalmente complicada. No curso do SENAR-SP existe também uma função de despertar a pessoa para sua capacidade de investir na atividade que está aprendendo na aula”, diz o instrutor.

 O fotógrafo e o alambique

Os participantes dos cursos do SENAR-SP são, na maioria, proprietários, familiares e funcionários de empreendimentos rurais. O ex-aluno Mauricio Antonio Pedro Nadim, 61, é uma das exceções. Fotógrafo de uma empresa na área do agronegócio na cidade de Rio Claro, durante uma viagem de trabalho ao Mato Grosso ele conheceu um engenho de cachaça na fazenda que fotografava. “Foi amor e interesse à primeira vista e, no retorno para casa, fui pesquisar sobre o assunto. Meu primeiro passo foi comprar os equipamentos completos para montar uma destilaria, depois procurei o local para instalar. Olha que loucura, só por último fui atrás de fazer o curso de como produzir cachaça”, relata. Foi quando ele encontrou o SENAR-SP e se inscreveu no curso “Produção de Cachaça” em 2019.

Nadim revela que o SENAR-SP foi muito importante para o seu empreendimento na produção de cachaça, pois tinha outra mentalidade sobre o assunto. “Vi que estava totalmente equivocado com o conceito sobre a bebida. O curso me abriu muito os olhos e meus horizontes sobre cachaça, desde a parte legal até a produção como um todo. Desde o plantio da cana até o engarrafamento do produto”, informa. “O curso foi muito importante em todos os aspectos, tanto no teórico quanto no prático, pois nos mostrou o profissionalismo que é ser um produtor de cachaça, seguindo normas técnicas e mantendo a qualidade. E não posso deixar de ressaltar o mestre Ricardo, que nos orientou durante uma semana de curso com seus conhecimentos sobre o assunto”, acrescenta.

Nadim define seu alambique como “artesanal” e, pensando no futuro, já deu entrada no registro da marca e patente, cumprindo todas as normas regimentais para produzir dentro da lei. Além disso, seu alambique foi tão bem estruturado, que se tornou um espaço para visitação de alunos e interessados. Para quem quiser seguir seus passos, o ex-aluno recomenda: “Acredite no seu sonho e no seu potencial. Você e capaz, sim, de produzir cachaça, basta ter interesse, pesquisar muito e, com o apoio do SENAR-SP, isso pode ser realizado”, conclui.

Segundo Coelho, o investimento para montar um alambique não é muito diferente de outros tipos de negócios ou comércios muito populares entre os empreendedores, como lojas de roupas e salões de beleza. O retorno do capital está previsto para um período de cinco anos. Mas é claro que vai variar muito do tipo de bebida que se pretende produzir. Afinal, a cachaça é extremamente versátil. “Nós temos produtos muito nobres, a cachaça mais cara do Brasil hoje custa cerca de R$ 250 mil a garrafa. Claro que é um extremo, mas o mercado para este produto está se sofisticando cada vez mais”, conclui o instrutor do SENAR-SP.

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