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O que está ao alcance do produtor integrado para melhoria das margens na avicultura de corte?
O Brasil se destaca na avicultura de corte, ocupando a posição de terceiro maior produtor mundial e principal exportador do setor. A integração vertical, iniciada nos anos 1970, impulsionou a competitividade da indústria. No entanto, os ganhos alcançados pelos produtores nem sempre acompanharam o ritmo de crescimento técnico e econômico da cadeia produtiva em que estão inseridos.
Dessa forma, o planejamento estratégico torna-se fundamental para antecipar desafios e otimizar recursos, promovendo maior produtividade e competitividade. Para os produtores integrados, essa abordagem permite decisões mais assertivas, garantindo sustentabilidade econômica em longo prazo por meio de práticas de manejo eficientes e adoção de tecnologias avançadas.
O Projeto Campo Futuro, do Sistema CNA/Senar, busca melhorar a gestão estratégica por meio de análises de custos de produção das atividades. Em 2024, foram realizados painéis modais em diversas regiões, para diferentes sistemas de produção. O Gráfico 1 mostra a estratificação do Custo Operacional Total (COT) por ave produzida, destacando áreas para otimização e maior rentabilidade.
O Custo Operacional Efetivo (COE) representa a parcela de maior relevância dentro do Custo Operacional Total (COT). Ao analisar os componentes do COE em todos os painéis avaliados, observa-se que os itens de maior representatividade são, nesta ordem, a mão de obra contratada e o aquecimento, como a lenha, cavaco e pellets.
Esses elementos refletem o alto impacto dos fatores de produção recorrentes, principalmente aqueles relacionados à manutenção diária das operações e ao controle da ambiência, essenciais para o desempenho zootécnico das aves.
Qual é o estado atual da correlação técnica e econômica?
A análise da conversão alimentar, da taxa de mortalidade e da produção de animais por m² é fundamental para a avaliação do Custo Operacional Total (COT). Um equilíbrio adequado de custos impacta positivamente a conversão alimentar, o manejo de recursos e a melhoria das condições ambientais de criação, reduzindo o estresse das aves. Isso resulta em maior eficiência na transformação de ração em carne, o que contribui para a diminuição da mortalidade e o aumento da produtividade. Vale destacar que os produtores se beneficiam financeiramente do bom desempenho zootécnico da produção. A análise contínua desses indicadores possibilita ajustes no gerenciamento, maximizando o retorno financeiro do sistema.
Ao analisar as margens dos painéis modais de 2024, observa-se que Londrina apresenta uma menor produção de aves por m², principalmente em função da elevada taxa de mortalidade. No entanto, é importante destacar que o modal possui potencial para aumentar sua produção por m², caso consiga reduzir significativamente sua taxa de mortalidade.
Embora a produção em Londrina seja inferior, a margem líquida da região é menos negativa em comparação com outras, o que pode ser explicado pelos Custos Operacionais Totais (COT) mais baixos. Esses menores custos operacionais exercem influência direta sobre a margem líquida, conforme evidenciado no Gráfico 2.
Observa-se que todos os painéis apresentaram Margem Líquida Negativa no período analisado. A comparação entre o pior e o melhor desempenho evidencia uma diferença significativa: Ipumirim registra custos operacionais mais elevados e um investimento por m² superior (R$987,46) em relação a Londrina (R$804,82). Esse fato é relevante, especialmente ao considerar que Ipumirim opera com um sistema Semi Dark, enquanto Londrina adota o Dark House, que geralmente requer maior investimento inicial.
Além disso, a área produtiva menor de Ipumirim, com uma diferença de 3.600,00 m², implica em uma menor capacidade de produção. Isso limita a obtenção de economias de escala, pois os custos fixos não são diluídos adequadamente, resultando em um aumento do custo unitário por ave. Consequentemente, esse fator exerce maior pressão sobre as margens de lucro.
Enquanto Londrina demonstra maior eficiência econômica, o painel de Ipumirim enfrenta os maiores desafios, evidenciando a necessidade de ajustes no controle de custos e melhorias na eficiência operacional para mitigar os impactos financeiros e aumentar a competitividade.
A margem líquida é, portanto, um indicador-chave da viabilidade econômica e eficiência produtiva. O Gráfico 3 mostra a evolução dos resultados da avicultura de corte desde 2018, comparando as variações no Custo Operacional Total, Renda Bruta e Margem Líquida por ave ao longo dos anos.
Desde 2018, a avicultura de corte integrada tem operado com margem líquida negativa, o que impede a cobertura de custos com depreciação, pró-labore e remuneração do capital investido.
Essa realidade compromete a sustentabilidade da atividade nos médio e longo prazos, resultando na deterioração de ativos e na descapitalização dos produtores. Caso não haja mudanças, a viabilidade econômica será ameaçada nesse horizonte de tempo. Assim, é crucial implementar intervenções estratégicas, como a reavaliação dos custos de investimento e a otimização dos processos produtivos, para restabelecer a lucratividade do setor.
Gestão de risco e seu impacto nos resultados e econômicos
A mortalidade impacta negativamente a lucratividade de uma granja ao reduzir os índices de produtividade e a produção total, visto que a receita do produtor é embasada ao número de aves entregues. Com a perda de aves, a eficiência operacional é prejudicada, elevando o custo unitário de produção e diminuindo as margens de lucro e a rentabilidade.
A lucratividade, por sua vez, é um indicador essencial que reflete a margem sobre a renda e permite avaliar o risco associado à atividade. Assim, uma queda na lucratividade eleva o risco operacional. O Gráfico 4 ilustra essa relação, enfatizando a importância do controle da mortalidade para a sustentabilidade econômica da operação.
Veja que até 2022, a mortalidade impactou diretamente a lucratividade, sendo que 2022 apresentou uma elevada Taxa de Mortalidade e baixa Renda Bruta por ave, resultando no pior cenário de lucratividade.
Em 2023 e 2024, a renda bruta tornou-se o principal fator influente, devido aos
reajustes de preços e à inclusão de novos painéis modais. No entanto, o controle da mortalidade continua sendo crucial, pois ainda afeta significativamente a lucratividade em longo prazo.
Para maximizar os ganhos e aprimorar os resultados econômicos na avicultura de corte integrada, é essencial adotar uma abordagem estratégica e técnica voltada para o aumento da eficiência produtiva e a redução dos custos operacionais.
Com isso, algumas ações sob controle do produtor são fundamentais, como a redução da mortalidade, a melhoria na conversão alimentar, e o controle rigoroso dos custos operacionais, sempre com foco no aumento da receita e uma gestão financeira eficiente.
Considerações Finais
É essencial que o produtor rural mantenha um controle rigoroso dos custos de produção, pois isso oferece uma visão clara da lucratividade e da viabilidade do negócio. Com esses dados em mãos, ele pode identificar ineficiências, ajustar estratégias e melhorar sua posição em negociações, conquistando condições comerciais mais favoráveis.
Além disso, para novos investimentos, é crucial que o produtor integrado desenvolva um projeto de viabilidade técnica e econômica. Esse projeto deve contemplar o levantamento e a projeção dos custos operacionais, receitas e margens, além de definir o capital necessário e a capacidade produtiva da granja, garantindo resultados sustentáveis a longo prazo.
Além disso, é importante avaliar se o retorno financeiro do investimento será suficiente para cobrir os custos de melhorias tecnológicas, reduzindo o risco da operação, assim como em qualquer empreendimento.