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Nota Técnica
30 de julho de 2024
Assunto: Doença de Newcastle (DNC) no Rio Grande do Sul - Situação atual e orientações aos produtores.
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01) Introdução

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou, no dia 17/7, um foco da doença de Newcastle (DNC) em estabelecimento de frango de corte localizado no município de Anta Gorda/RS, na Mesorregião do Nordeste Rio-Grandense, a 185 quilômetros da capital Porto Alegre.

Figura 1. Localização do município de Anta Gorda, no Rio Grande do Sul.

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Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

A DNC é causada pelo vírus Paramixovírus aviário sorotipo 1 (APMV-1). É uma doença contagiosa que afeta diversas espécies de aves, assim como répteis e mamíferos. É uma zoonose que pode causar conjuntivite transitória em humanos.

A principal forma de propagação do vírus é por meio de aerossóis de aves infectadas ou de produtos contaminados, além de roedores e insetos, que também podem ser vetores do vírus.

Os sintomas clínicos variam conforme as espécies susceptíveis, as cepas e patogenicidade do vírus, existindo 3 estirpes virais: velogênica, mesogênica e lentogênica. Em aves, observam-se principalmente sinais respiratórios (espirros, corrimento nasal, ruído nos pulmões), inchaço da cabeça e face, fraqueza, sinais nervosos (torcicolo, paralisia das pernas e tremores musculares) e elevada mortalidade.

A DNC é uma enfermidade de notificação obrigatória à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). No Brasil, os últimos casos confirmados ocorreram em 2006 e em aves de subsistência, no Amazonas, Mato Grosso e Rio Grande do Sul.

Acesse a Ficha Técnica da Doença de Newcastle aqui.

02) Plano de contingência

Segundo informações do Mapa, a granja onde foi identificado o foco da doença foi imediatamente interditada. As movimentações das aves foram suspensas e foram aplicados os procedimentos de erradicação do foco estabelecidos pelo Plano de Contingência de Influenza Aviária e doença de Newcastle, com a eliminação e destruição de todas as aves e a limpeza e desinfecção do local.

Também estão sendo realizadas investigações complementares em um raio de 10 quilômetros ao redor da área de ocorrência do foco. Três casos suspeitos foram descartados após os resultados negativos das análises coletadas no dia 19/7 em propriedades suspeitas localizadas na zona de proteção estabelecida no estado. No dia 24/07, duas outras análises de casos suspeitos na zona de proteção tiveram o resultado negativo para o vírus.

Ainda no dia 19/7, o Mapa publicou a Portaria 702/2024, que declara, por 90 dias, estado de emergência zoossanitária no Estado do Rio Grande do Sul e prevê uma vigilância epidemiológica de forma mais ágil com a aplicação dos procedimentos de erradicação do foco estabelecidos no Plano de Contingência.

03) Impactos para a avicultura brasileira

O Brasil suspendeu preventivamente as exportações de carne de aves e seus produtos. A medida atende aos requisitos acordados nos certificados sanitários internacionais com mais de 40 países e é conduzida pelo Brasil no modelo de autoembargo, de forma a garantir a transparência do serviço oficial brasileiro, frente aos países importadores.

As suspensões dos embarques ocorrem de formas distintas para os diferentes mercados. Podem ocorrer para todo o território nacional ou de forma regionalizada, limitada ao estado ou raio determinado do foco identificado, conforme o acordo entre os países. Para a Argentina, China e México, por exemplo, estão suspensas as exportações de carne de frango de todo o Brasil durante o período do autoembargo. Já para a Arábia Saudita, Chile e União Europeia não podem ser exportados produtos do estado afetado, neste caso, o Rio Grande do Sul. Já o Japão, Coreia do Sul e África do Sul solicitaram a suspensão de embarques de carne de aves em um raio 50 quilômetros do foco, conforme Ofício Circular Conjunto nº 7/DIPOA/SDA/2024.

Ressaltamos que o Rio Grande do Sul é o terceiro maior exportador de carne de frango do país. Em 2023, o estado foi responsável por 15,1% do faturamento total com as exportações brasileiras de carne de frango, o equivalente a US$1,45 bilhão. Em volume, o Rio Grande do Sul exportou 739,57 mil toneladas de carne de frango no ano passado (Comex).

Para uma estimativa do prejuízo com a suspensão das exportações, considerando os dados consolidados do ano de 2023, o Rio Grande do Sul, deixa de exportar em torno de 61,6 mil toneladas de carne de frango por mês ou 2 mil toneladas por dia. Em termos de faturamento, isso significa uma perda de US$121 milhões por mês ou quase US$4 milhões por dia para o estado.

Analisando o cenário de suspensão das exportações em nível nacional, para os mercados já oficializados, as perdas podem superar US$5,5 milhões por dia.

Na Tabela 1, apresentamos as receitas e volumes referentes as exportações brasileiras de carne de frango em 2023 (dados consolidados).

Tabela 1.

Estimativas de prejuízos mensal e diário das exportações de carne de frango, com base nos índices médios de 2023 e nos mercados já fechados.

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A suspensão das exportações impacta também as cotações da carne de frango no mercado interno, visto que a suspensão dos embarques, ainda que temporária, aumenta a disponibilidade do produto no mercado doméstico, pressionando para baixo os preços da carne e, consequentemente, do frango nas granjas.

No mais, a paralisação das exportações altera a dinâmica de produção e abate no país, podendo aumentar o tempo de alojamento das aves e/ou prolongar o período de vazio sanitário entre os lotes, fato que impacta diretamente a renda do produtor.

Um cenário de queda mais forte nos preços da carne de frango impacta também a dinâmica de consumo de outras carnes no país, podendo impactar negativamente as cadeias da carne bovina e carne suína. Por outro lado, a redução no alojamento de aves tem efeitos diretos sobre a demanda por ração, neste caso, milho e farelo de soja, principalmente.

04) Orientações aos produtores

É fundamental que os produtores reforcem as medidas de biosseguridade nas granjas visando limitar a exposição de aves domésticas a outras aves e também o contato com pessoas de fora da produção. Isso, inclui o controle de visitas às granjas, a utilização de vestimentas e calçados exclusivos para acesso ao local com aves, a limpeza e desinfecção de instalações, equipamentos e veículos, a manutenção das telas dos aviários, o controle de pragas, entre outras ações.

É imprescindível que qualquer suspeita que inclua sinais respiratórios, neurológicos ou mortalidade alta e súbita seja notificada imediatamente ao Serviço Veterinário Oficial (SVO). As notificações podem ser feitas presencialmente ou por telefone em qualquer instância local, regional, estadual ou federal do Serviço Veterinário Oficial, representado pelos Órgãos Estaduais de Sanidade Agropecuária e pelas Superintendências Federais de Agricultura do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Veja os endereços aqui.

A notificação também pode ser realizada diretamente neste site.

05) Considerações finais

Os riscos de infestação e comprometimento das aves comerciais é um risco para a produção pecuária do país. No entanto, a gestão sanitária e suas medidas de prevenção podem também gerar impactos expressivos como demonstrado. Com isso, visando reduzir os prejuízos à cadeia avícola, é necessário que as medidas sanitárias e de readequação de protocolos sanitários sejam feitas em tempo hábil para que as exportações brasileiras de carne de frango e outros produtos avícolas sejam restabelecidas rapidamente.

A interlocução adequada e ágil com os países compradores de carne de frango do Brasil, prestando todos os esclarecimentos necessários, além de reforçar as ações de vigilância nas áreas próximas do foco são essenciais para que condições de produção e exportação próximas da normalidade sejam estabelecidas.

Por fim, reforçamos que o consumo de produtos avícolas (carne, ovos, etc.) inspecionados pelo Serviço Veterinário Oficial (SVO) segue seguro e sem contraindicações.

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