ALIMEN T AN D O O B R A SILEIRO

Goiás

Prosa Rural: Goiás no topo da produtividade
Leonardo Machado 04 09 2023 fredoxcarvalho 4 1 1

O engenheiro agrônomo e gerente técnico do Instituto para Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Leonardo Machado, traz análise sobre vários aspectos da safra, desde mercado até cultivo do milho, além de perspectivas na ampliação de área cultivada

10 de janeiro 2025

1 – Em relação à safra 2024/2025, o que podemos esperar em termos produtivos?

Devemos separar sempre a safra de grãos em Goiás em dois períodos distintos, a 1ª e a 2ª safra, chamada também de safrinha, que representa, aproximadamente, 40% de toda nossa produção de grãos. Neste sentido, neste momento, podemos analisar a safra, visto que ainda estamos distantes do plantio das culturas de safrinha. A safra, representada principalmente pela soja, tem excelentes expectativas. O plantio, apesar do atraso inicial, ocorreu dentro do período esperado e as chuvas têm sido favoráveis para a cultura. Assim, se espera uma produção recorde na safra atual, ou seja, próximo dos 19 milhões de toneladas. Caso seja confirmado o bom desempenho do novo ciclo e um desempenho favorável para a safrinha, podemos ter números recordes na safra de grãos no ano de 2024/2025, com mais de 11% de crescimento frente ao ano passado.

2 – Qual destaque temos para a safra 2024/25?

A soja continua sendo a principal cultura de grãos de nosso Estado, com mais de 55% do total da produção goiana. Na atual safra, a soja ocupou uma área de 4,9 milhões de hectares, crescimento de 2,5% em relação à safra passada. Com uma recuperação da produtividade, frente ao ano passado, saindo de 58 para 63 sacas por hectares, estima-se uma produção de 18,8 milhões de toneladas. Outro destaque é o arroz, visto o elevado percentual de crescimento na safra 2024/2025. Estima-se que o crescimento produtivo seja próximo dos 20%, com uma área de 32 mil hectares e uma produtividade média de 4.788 kg/ha, resultando em uma produção de 155,6 mil toneladas. Grande parte da produção de arroz em Goiás é irrigada, porém tem sido visto um crescimento da produção em sequeiro.

3 – Sobre o milho, o que podemos falar?

O milho é o segundo principal grão produzido em Goiás. Porém grande parte da produção do cereal é feita na safrinha, 90% do total de nossa produção. Uma estimativa de produção mais assertiva só poderá ser feita no meio de 2025. No entanto, já podemos estimar um crescimento de área plantada. Em relação à primeira safra, observa-se uma manutenção de área plantada, porém com a melhoria da produtividade, que poderá ser superior a 160 sacas por hectares, podemos ter uma safra de milho, 1ª safra, de 1,4 milhões de toneladas.

4 – Em relação a custo, o que está sendo visto em campo?

Considerando a safra atual com o período 2023/2024, no caso da soja, há um aumento de 6% no custo de produção. Estima-se um custo operacional efetivo de, aproximadamente, R$ 4.900 por hectare. Estimando uma produtividade média de 65 sacas por hectare e um preço de venda de R$ 115/Sc, podemos calcular uma produtividade de nivelamento (quantidade de sacas para pagar os custos) de 42,5 Sc/ha. Apesar desta produtividade de nivelamento ser, até certo ponto, tranquila, se considerarmos áreas arrendadas, com um arrendamento médio de 18 sacas por hectares, será necessária uma produção de 60 sacas para pagar 1 hectare de soja no arrendamento, ou seja, uma situação bastante apertada.

5 – O que mais tem pressionado os custos de produção do produtor de soja?

Fertilizante é o principal custo na cultura da soja, representando 28% do total. Neste item, considerando a safra atual com a passada, houve um aumento de 14%. O segundo principal custo são os defensivos agrícolas, compondo 20% do custo de produção da soja. O custo do pacote de agroquímico da soja em Goiás recuou 7% em relação à safra passada, o que aliviou o encarecimento do gasto do plantio da soja na safra 2024/2025. Já o terceiro principal custo da soja em Goiás é em sementes mais royalties, este item representa 13% dos custos da oleaginosa. Neste caso, houve uma majoração de 23% nos custos, algo que surpreende. Por fim, houve acréscimo em outros principais custos da soja, como mão-de-obra e custos de financiamento da safra, com um aumento de 7% e 8%, respectivamente.

6 – Houve um aumento nos custos dos financiamentos, com foi colocado. O que podemos dizer sobre o crédito para a safra 2024/2025?

O ano de 2024 foi bastante complicado no que tange ao crédito. O elevado endividamento na safra 2023/2024 deixou os agentes financeiros na defensiva, reduzindo a disponibilidade de recursos, elevando as exigências para análises e, consequentemente, elevação nas taxas de juros. Tudo pressionou muito o setor, fazendo com que o produtor reduzisse a captação de recursos nos bancos nos custeios da safra. Neste ambiente, o risco financeiro se elevou, trazendo mais um ingrediente de preocupação para a atual safra.

7 – Para o milho 2ª safra, já podemos falar algo em relação aos custos de produção?

Ainda é muito cedo, grande parte dos produtores está focado na safra de soja. Porém a alta no preço dos fertilizantes já preocupa os produtores de milho, visto que este insumo representa 20% dos custos de produção do cereal. Neste sentido, é importante que o produtor tenha gestão na compra dos seus insumos, com o objetivo de não colocar sua renda em risco. Porém, considerando o que foi visto na safra passada, e um preço médio do cereal de R$ 45/sc, o produtor terá que produzir 83 sacas para pagar seus custos operacionais efetivos, o que é algo elevado, considerando todo risco produtivo que a safrinha tem.

8 – O que podemos esperar do mercado de commodities agrícolas na safra 2024/2025?

O mercado de commodities agrícolas registra um momento de bastante apreensão, principalmente devido ao ambiente político mundial, seja pela eleição americana, seja pela quantidade de conflitos armados de grande relevância mundial. Na parte dos fundamentos de mercado, a soja é o que demanda maior preocupação, devido a elevação da oferta mundial na safra 2024/2025, o que não foi acompanhado, na mesma proporção, pelo consumo. O resultado deste cenário é um estoque mais elevado. A relação estoque consumo da oleaginosa saiu de 29% para 33%. Tudo pressiona demais este mercado.

9 – Apesar desta situação de baixa do mercado da soja, os preços da oleaginosa registraram um bom desempenho no fim de 2024. Por que esta situação aconteceu?

Inicialmente, é importante colocar que na safra passada o Brasil colheu pouco mais de 147 mil toneladas. Com uma exportação próxima de 100 mil toneladas e um consumo de 52 mil toneladas, os estoques nacionais praticamente zeraram, resultando até mesmo em importações de soja no Brasil. Porém, mudando o foco para a safra 2024/2025, espera-se uma safra mundial cheia, já que os três principais produtores de soja, como Brasil, EUA e Argentina, não mostraram, até o momento, problemas na sua safra. Com isso, os preços tendem a ser mais pressionados pela oferta. O Brasil, com uma estimativa de produção de 166 mil toneladas, uma exportação recorde de 105 mil toneladas e um consumo de 57 mil toneladas, espera-se sobras produtivas, mesmo que pequenas. Sendo assim, demanda atenção dos produtores para gerenciar seus riscos de mercado.

10 – Qual palavra final podemos deixar para o nosso produtor?

O produtor rural brasileiro é o melhor de todo o mundo. Produzimos com elevadas produtividades mesmo em solos naturalmente marcados por baixa produtividade e elevada acidez. No entanto, precisamos redobrar nossas preocupações na gestão. É preciso acrescentar no negócio rural que 50% do trabalho do produtor é gestão e os outros 50% é a produção. Na safra 2024/2025 esta situação deve ser, mais que nunca, trabalhada pelo produtor. Neste sentido, a recomendação é ter os custos de produção em mão, tenha foco no custo para se produzir cada saca e realize seus negócios no prisma da segurança. Produtividade e receita total são importantes, porém o principal é a rentabilidade, margem, ou seja, o que me sobre após o pagamento dos custos. Foco em produtividade, custos, comercialização e margem, com isso, o sucesso estará mais próximo.

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