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Mercado de mudas movimenta economia no interior
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Comissão Técnica de Fruticultura do Sistema Faemg/Senar atuou firmemente com treinamentos para que os produtores de mudas estivessem em conformidade com as normas técnicas atualizadas

29 de maio 2024

Por: Sistema Faemg Senar

Fonte: Sistema Faemg Senar

Quilômetros antes de chegar à Dona Eusébia, na Zona da Mata mineira, uma cena é muito comum para quem passa pelas estradas. Carros de passeio, caminhões e caminhonetes indo e vindo carregadas de plantas de vários tipos e tamanhos. Desde pequenas mudas até palmeiras adultas, o fluxo intenso que se observa é o sintoma de uma das cadeias produtivas de maior destaque desta região: a produção de mudas.

De acordo com dados da Associação dos Produtores Rurais de Dona Eusébia e Região (ASPRUDER), o pequeno município é o maior produtor de mudas de plantas do estado e o segundo maior do país. O mercado desse produto é dividido principalmente em três categorias: plantas ornamentais, frutíferas e florestais. Estima-se que, anualmente, a cidade produza entre 15 e 20 milhões de mudas, vendidas principalmente para o Triângulo Mineiro e o estado de São Paulo.

“Hoje, em Dona Eusébia e região, cerca de 85% das famílias vivem, de maneira direta ou indireta, da produção de mudas. É o principal negócio da cidade, levando nosso nome para diversos locais do país”, comentou Sebastião Carlos Lacerda, produtor, membro da ASPRUDER, da Cooperativa de Mudas e da Comissão Técnica de Fruticultura do Sistema Faemg Senar.

“Com mais de 80 viveiros de alta qualidade, a região se destaca nacionalmente nesse setor. A produção de mudas desempenha um papel crucial na economia local, sendo a segunda maior fonte de renda do município”, contou Mariana Marotta, analista técnica da comissão de fruticultura do Sistema Faemg Senar.

A produção começou de maneira informal, ainda na década de 1970, na Serra da Onça. O negócio se expandiu e hoje os viveiros estão espalhados por toda a cidade, gerando renda para milhares de famílias. “Cabe ainda ressaltar que as cidades do entorno são também produtores de mudas e exercem um papel importante na região”, completou Mariana.

Produtividade em recuperação

Mesmo com a expressiva produção, quem vive do plantio de mudas sentiu o impacto de recentes mudanças na legislação. A produção, que antes girava em torno de 5 milhões de mudas de frutas cítricas, caiu para cerca de 400 mil mudas por ano por conta de questões sanitárias.

De acordo com a Instrução Normativa nº 48/2013 do Ministério da Agricultura, mudas de frutas cítricas precisam ser produzidas em ambiente controlado, dentro de estufas fechadas, com plantio suspenso e uso de substrato. Não podem ser cultivadas em ambientes a céu aberto, nem diretamente no solo, ou com o uso de terra. “Deu um impacto grande na economia do município. Estimamos que, desde 2021, tenha diminuído a renda da cidade em cerca de 20 milhões de reais por ano”, comentou Sebastião Lacerda.

O principal motivo das mudanças é o greening , doença causada por uma bactéria transmitida por uma mosca e que pode se espalhar por todo pomar, gerando alteração nos frutos e exigindo o sacrifício das plantas doentes para erradicar o problema. A Comissão Técnica de Fruticultura do Sistema Faemg Senar atuou firmemente com treinamentos para que os produtores estivessem em conformidade com as normas técnicas atualizadas. “Encontramos uma outra dificuldade, que foi o protecionismo de alguns estados que tiram o incentivo de compra de mudas do nosso estado”, afirmou Wender Guedes, que foi o analista da CT de Fruticultura do Sistema Faemg Senar responsável pela ação. “Fizemos um termo de cooperação técnica envolvendo prefeitura e ASPRUDER, foi solicitado o suporte jurídico para ver os direitos e deveres dos produtores para tomada de decisões acerca do retorno da comercialização de mudas. A intenção foi aumentar o mercado, levando a outros estados”, detalhou.

Mesmo com a queda na produção existe lugar para o otimismo. João Paulo Ferreira trabalhou a vida toda no cultivo de mudas ornamentais e frutíferas. Ele acredita que as mudanças limitaram a capacidade produtiva do município, mas agregaram valor às mudas. “Com as novas regras, nem todo produtor consegue produzir mudas cítricas dentro desse padrão de qualidade, então deixa o mercado menos concorrido e melhora os preços”, contou João Paulo.

Para aumentar a profissionalização, o Sistema Faemg Senar promoveu não apenas cursos e atualizações, mas também melhorou o gerenciamento dos negócios rurais. “Foram dois programas de Gestão com Qualidade em Campo (GQC) realizados aqui também, o que melhorou o gerenciamento dos negócios rurais da cidade”, comentou Alberto Vieira, agente de desenvolvimento rural em Cataguases.

Mercado de trabalho precisou se adaptar

Como é comum na região da Zona da Mata, Dona Eusébia já teve outras vocações agrícolas que foram mudando com o tempo. Houve um período em que o café dominava as serras locais. Depois veio o leite, o fumo. Mais recentemente, a cana-de-açúcar foi a principal cultura, motivada pela presença de usinas que atuavam na região.

“Com o fechamento das usinas de açúcar, o ramo de produção de mudas passou a ser mais interessante. Então, até mesmo pela necessidade, começamos a migrar para esse novo mercado”, contou Sérgio Braz do Carmo, trabalhador rural. Ele trabalha em viveiros há cinco anos e diz que está sempre aprendendo algo novo. “Aprendemos com o tempo e com a experiência. Diariamente descobrimos novas formas de lidar com as diferentes espécies”, explicou.

Jorge Mendonça é produtor há mais de 30 anos. Ele veio da cidade de Rodeiro e começou no ramo produzindo frutas cítricas. Depois, resolveu se especializar no cultivo de bougainville, espécie ornamental que tem como uma das características a capacidade de florescer durante o ano todo. “Tenho orgulho de ser produtor de mudas. Criei todos os meus filhos com esse cultivo. Hoje todos os três são empresários nesse mercado”, contou Jorge, que ressaltou a importância da agricultura familiar para a manutenção dos negócios rurais e capacitação de mão de obra. “É bom ver funcionários que aprenderam comigo sendo empresários nesse setor, esse é um dos maiores legados que podemos deixar”, completou Jorge.

Após anos de produção, Sebastião Lacerda sabe o alcance do mercado local e sua importância para a produção nacional de frutas. “Dá orgulho de passar em rodovias e cidades em diversos locais do país, ver pomares e saber que ali está um pedacinho de Dona Eusébia espalhado pelo Brasil”, finalizou.