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Alta da oferta mundial requer cautela redobrada nas negociações com a soja
Consultores apontam estratégias para travar custos e vender com mais margem diante da dinâmica global do mercado
Os produtores brasileiros de soja estão de olho na colheita norte-americana. Os motivos? O clima favoreceu a produção do grão nos Estados Unidos e projeções indicam que a “super safra 2024/2025” deve ultrapassar 125 milhões de toneladas. De acordo com especialistas, o volume representa aumento de 9% nos estoques mundiais. Diante desse quadro, os produtores nacionais estão inseguros para definir qual a melhor estratégia a ser adotada para negociar a próxima safra. Em Goiás, a semeadura está autorizada a partir de 25 de setembro.
Com mais de 35 anos em análise de conjunturas agrícolas, o economista Paulo Molinari diz que o recorde cogitado pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) aponta que pode ocorrer excesso de oferta do grão em nível internacional. “As condições climáticas americanas foram praticamente perfeitas. É possível que o volume supere os 125 milhões de toneladas. Embora os números ainda possam ser ajustados, essa colheita aumenta o estoque americano de 9 para 15 milhões de toneladas”, ressalta.
“A nova safra vai ser de grande desafio”, concorda o assessor técnico de agricultura da Faeg, Leonardo Machado. “Teremos custos maiores que ano passado e possivelmente um mercado muito ofertado, com uma produção grande americana”, explica. “No Brasil, a expectativa é de safra cheia. E se tudo der certo, a Argentina deve superar as 429 milhões de toneladas também”, aponta. “Isso faz com que os preços estejam mitigados, porque o consumo não cresce nesta proporção. Ou seja, se não tivermos quebra de safra ou alta de câmbio proeminente, o produtor vai precisar traçar uma estratégia firme para garantir seus custos”, relata.
Segundo Paulo Molinari, 170 milhões é um número real para a próxima safra brasileira, porque ao invés de o país estar cortando a área plantada, está aumentando. “As margens vão ser mais apertadas e discretas. O produtor vai ter que ser bem profissional daqui para frente para qualquer movimento de alta que nós tivermos, por qualquer motivo. Seja pelo câmbio, pelo fator climático da safra sul-americana, por uma alta de prêmios. Ele precisa fazer a comercialização bem cadenciada, aproveitando picos de preços e tentando melhorar a média ao longo do ano”, acrescenta. “Antes do plantio é importante que o sojicultor trave custos, para pagar as contas ou até antes, aproveitar picos de mercado que podem surgir”, reforça.
Paulo Molinari comenta ainda que o cenário atual nacional requer cautela. “Vivemos um aumento de oferta frente à demanda mundial. Então, o que nós estamos tendo neste ano é uma recuperação da oferta, uma demanda que é recorde. Só que o crescimento da oferta é muito maior do que o crescimento da velocidade da demanda. Com a sobra do produto, o preço cai”, lembra ele.
“O sojicultor terá o mês de janeiro como boa oportunidade e talvez depois de junho, porque com esses preços mais baixos também, a área americana de soja deve cair no ano que vem. Uma área americana de soja caindo não é totalmente uma tormenta”, afirma Paulo. “Tem algumas oportunidades, só que o produtor não vai poder ficar sonhando com R$ 130, R$ 140, R$ 150/saca, sem que aconteça um caos no clima na América do Sul”, adianta Molinari.
Para o presidente do Sindicato Rural de Rio Verde, Olávio Teles, a comercialização da safra futura está muito parada. “Estimo que o volume oscile entre 18% a 20%. Nessa mesma época do ano, em anos normais, a média comercializada seria 30% e 32%”, compara. Segundo ele, os produtores estão muito inseguros, uma vez que as lavouras dos Estados Unidos vão ser boas. “Em ano de preços mais apertados, convém pensar cautelosamente e criar uma estratégia de travamento de preço, usando o mercado futuro”, ressalta.
Travar custos
“O pequeno e o médio produtor têm sempre que sair com seus custos travados? Tem ano que não é para vender antecipado, outros anos que é para vender. Esse é um ano que você não pode brincar com o preço, porque a chance de a gente ter R$ 80, R$ 90/saca soja o ano que vem é muito clara. Escapamos esse ano por causa da quebra do Mato Grosso”, resgata Paulo. “Imaginem se não tivesse tido a quebra do Mato Grosso, que preço nós teríamos hoje. A ordem é que o produtor entre em 2025 pelo menos com os custos básicos travados, além de não ter surpresa e gastar mais de uma saca soja para pagar o mesmo custo. Temos uma curva cambial boa, temos um prêmio bom e ainda temos o Chicago, que U$ 10 dólares parece ruim, mas ainda é acima da média. A chance de a gente ver um preço de Chicago de U$ 8,40 no ano que vem e de repente um câmbio voltando abaixo de R$5,30 - a conta não vai ficar boa”.
Com mais de 35 anos de experiência em análise de mercado agrícola, Molinari indica ao produtor não esperar a safra sul-americana para vender em 2025. “A forma de nós escaparmos de um preço baixo é tentar antecipar esse movimento. Se está com medo de vender antecipado e depois do mercado subir por um problema de clima, pode fazer seus contratos em soja física e em seguida usar os derivativos que nós temos aí, as NDF, as opções, para participar do movimento de alta de Chicago. Se, por aventura, lá na frente acontecer alguma variável, como clima, que possa fazer o Chicago subir lá na frente, então você sai protegido na venda”.
O consultor de safras diz também que o produtor que ainda tem soja estocada tem uma oportunidade. “Ainda estamos exportando muito e o abastecimento está estrangulando. Isso ajuda que o preço interno fique melhor. Então, vale vender a soja para indústria interna até janeiro, lembrando que esse prazo está esgotando. E, que janeiro é mês de transição de ano comercial, vai precisar de muita cautela”, finaliza.
Milho
Qual o melhor caminho para o produtor: manter o mesmo volume em área plantada ou investir em outras culturas como o milho? “O milho é uma boa oportunidade para o verão. Não vai mudar 100% da área de soja para o milho, mas investir em 20% ou 30% de milho no verão não é ruim para 2025”, indica Molinari. Na opinião do economista, a chance de o milho ter um preço melhor no primeiro semestre é maior do que o da soja.
O presidente do Sindicato Rural de Rio Verde afirma que os produtores também não estão muito animados com a safrinha de milho. “Será plantado apenas em fevereiro e nesse momento os produtores americanos estão iniciando as tratativas do milho, como as negociações de sementes, mas o ânimo do produtor está muito ruim, pois os preços estão em baixa”, afirma Olávio.
“Agora não vai ter redução diária, na verdade os produtores quando eles fazem investimento fazem a longo prazo, então, mesmo sem margem, vão continuar produzindo e tentar seguir. Os impactos poderão chegar daqui há alguns anos e o produtor pode parar na hora que não conseguir mais crédito. Outro fator que nos preocupa é o clima. Estamos com produtores endividados, pois os preços caíram demais e a dificuldade de acessar o crédito é grande, mas de uma forma ou outra eles vão plantar”, pondera Olávio Teles.
Barter Soja
Bastante usada no Brasil, a aquisição e pagamento de insumos com a produção de soja futura é uma estratégia financeira que garante o preço mínimo de venda e pode ser benéfica para negociar a produção. Com o barter soja, o produtor trava o preço de uma entrega na formalização do contrato. Mas, para o acordo que a priori parece ser uma boa via de mão-dupla, o produtor precisa entender a dinâmica do mercado quando passa por safra recorde, afinal os preços tendem a ficar pressionados frente à grande oferta dos produtos no mercado. A operação impede a variação de preço das commodities e dos preços dos produtos.
Imagem: divulgação
Comunicação Sistema Faeg/Senar