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PIB do Agronegócio cresce 3,78% no 1° quadrimestre de 2020
O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), cresceu 0,36% em abril. Diante dos impactos da pandemia de Covid-19, esse foi o menor crescimento mensal registrado ao longo de 2020. Ainda assim, com a alta de abril, o crescimento no acumulado do quadrimestre foi de 3,78% (Tabela 1).
Em abril, houve crescimento do PIB para todos os segmentos do agronegócio, exceto para a agroindústria, que teve queda de 1,08%, pressionada pela de base agrícola. Os segmentos de insumos, primário e de agrosserviços, por sua vez, cresceram 0,47%, 2,21% e 0,27%, respectivamente. No acumulado até abril, o resultado se manteve positivo para todos os segmentos, com altas de 0,97% para insumos, expressivos 8,22% para a atividade “dentro da porteira” ou segmento primário, 0,44% para a agroindústria e 3,98% para os agrosserviços (Tabela 1).
Entre os ramos do agronegócio, o agrícola teve queda de 0,19% em abril, ao passo que o pecuário manteve a tendência de crescimento, com alta de 1,45% no mês. No quadrimestre, ambos os ramos cresceram: 1,72% no caso do ramo agrícola e 8,01% no caso do ramo pecuário (Tabela 2 e Tabela 3).
Tabela 1. PIB do Agronegócio: Taxa de variação mensal e acumulada no período (%
A Tabela 2 mostra os resultados do ramo agrícola. Nota-se que, em abril, o PIB do ramo foi pressionado para baixo pela agroindústria e pelos agrosserviços, que tiveram quedas de 1,95% e 0,78%, respectivamente. Nesse mês, que foi o primeiro marcado em sua totalidade pelos efeitos das medidas relacionadas à Covid-19, houve forte queda de produção da agroindústria de base agrícola, com baixas acentuadas para móveis e produtos de madeira, biocombustíveis, têxteis e vestuário e bebidas. Ao contrário, os segmentos de insumos e primário cresceram no mês, 0,46% e 3,26%, respectivamente.
No acumulado do quadrimestre, apenas a agroindústria agrícola recuou (-1,92%), devido à queda observada em abril. Para os segmentos de insumos, primário e de agrosserviços do ramo agrícola, as altas no período foram de 0,99%, 9,9% e 0,55%, respectivamente (Tabela 2).
Tabela 2. Taxa de variação mensal e acumulada no período (%
Como destacado nos relatórios anteriores, esse excelente resultado do segmento primário agrícola reflete os preços maiores na comparação entre os períodos de janeiro a abril de 2019 e de 2020, assim como a maior produção na safra atual, cuja produção de grãos deve ser recorde, além das altas importantes nas produções de café e laranja.
A Tabela 3 mostra os resultados do ramo pecuário. Nesse caso, tanto em abril quanto no acumulado do quadrimestre, houve alta para todos os segmentos. No mês, os crescimentos foram de 0,50% para insumos, 0,56% para primário, 1,56% para agroindústria e 2,04% para agrosserviços. No período, os crescimentos foram de 0,92% para insumos, 5,64% para primário, 8,11% para agroindústria e 10,16% para agrosserviços. Como destacado nos relatórios anteriores, o crescimento do ramo pecuário reflete os maiores preços dos diversos produtos no primeiro quadrimestre de 2020, frente ao mesmo período de 2019.
Tabela 3. Ramo Pecuário: Taxa de variação mensal e acumulada no período (%)
SEGMENTO DE INSUMOS: insumos crescem novamente em abril
O PIB do segmento de insumos do agronegócio cresceu 0,47% em abril, acumulando alta de 0,97% no quadrimestre (Tabela 1). Para os insumos agrícolas, as altas foram de 0,46% no mês e 0,99% no período, e para os insumos pecuários, foram de 0,50% em abril e 0,92% no quadrimestre (Tabela 2 e Tabela 3). Conforme se observa na Figura 1, os faturamentos esperados estão menores para as indústrias de máquinas agrícolas e medicamentos para animais e maiores para as indústrias de fertilizantes, defensivos e rações.
Figura 1. Insumos: variação (%) anual de volume, dos preços e do faturamento – 2020/2019 com informações de abril
A indústria de fertilizantes e corretivos de solo apresenta projeção de crescimento do faturamento anual (4,01%). Contudo, na comparação entre o primeiro quadrimestre de 2020 frente ao mesmo período de 2019, houve recuo dos preços reais (-8,36%). Essa redução não é mais impactante devido ao crescimento que se espera para produção anual (13,50%). De acordo com a equipe Custos/Cepea, observou-se recuo dos preços internacionais dos principais fertilizantes intermediários em abril, em virtude de diferentes fatores – entre os quais, tem-se a expectativa de redução de demanda (de insumos e alimentos) devido à Covid-19. Ao mesmo, tempo, os preços praticados no mercado doméstico avançaram por conta da desvalorização do Real frente ao Dólar.
Na contramão, a indústria de máquinas agrícolas apresenta projeção de redução de seu faturamento anual (-10,64%), resultante da queda dos preços reais (-1,81%), em comparação aos patamares observados no mesmo período de 2019 (janeiro a abril), e da esperada redução da produção anual (-9,0%). Segundo a Anfavea, a indústria foi especialmente afetada no mês de abril devido à crise do coronavírus, quando se registrou interrupção da produção por 20 dias, em média.
SEGMENTO PRIMÁRIO: agropecuária mantém crescimento em abril em meio à pandemia
O PIB do segmento primário do agronegócio continuou crescendo em abril, tanto no ramo agrícola quanto no pecuário (Tabela 1). Para o primário agrícola, as altas foram de 3,26% no mês e 9,9% no quadrimestre, e para o primário pecuário, foram de 0,56% em abril e 5,64% no período (Tabelas 2 e 3).
No caso do segmento primário agrícola, a média ponderada dos preços das diversas culturas acompanhadas cresceu 12,45% na comparação entre janeiro a abril de 2019 e janeiro a abril de 2020, em termos reais. Entre os produtos, os destaques em termos de altas de preços foram: milho, café, cacau e arroz, com altas superiores a 20%, além de soja, trigo, mandioca e cana. No caso da produção do segmento, espera-se aumento de 2,47% (aumento médio ponderado), com crescimentos para café, cacau, trigo, arroz, madeira, soja, laranja e algodão, e mesmo alguma elevação moderada para milho e feijão. Então, o crescimento esperado real no faturamento anual é de 15,23% para o segmento primário agrícola. Para o segmento primário pecuário, como reflexo dos bons preços, espera-se crescimento do faturamento anual, de 12,24%.
As Figuras 2 e 3 e a Tabela 4 detalham os resultados específicos do segmento por atividades agrícolas e pecuárias. Entre as culturas do segmento primário agrícola acompanhadas pelo Cepea, espera-se crescimento de faturamento em 2020 para: arroz, cacau, café, cana-de-açúcar, mandioca, milho, soja e trigo. Já as culturas para as quais se esperam quedas no faturamento são: algodão, banana, batata, feijão, fumo, laranja, tomate, uva, madeira em tora, madeira para celulose e lenha e carvão.
Na cultura do café, o aumento esperado no faturamento é de 53,17%, impulsionado pela produção anual esperada 20,84% maior e pela alta de 26,76% nos preços reais, na comparação entre janeiro a abril de 2019 e de 2020. A alta dos preços no primeiro quadrimestre do ano refletiu o período de entressafra, a escassez de produto de melhor qualidade, a desvalorização cambial e os impactos da pandemia do coronavírus na cadeia do café. Como destacado no relatório anterior, com a pandemia, houve aumento da demanda internacional no curto prazo, problemas de logística decorrentes das restrições de mobilidade interna nos países produtores e aceleração do consumo dos estoques de passagem nos países consumidores. Com relação à maior produção, a Conab destaca o efeito da bienalidade positiva, especialmente nas regiões produtoras do café arábica, e os ganhos produtivos esperados para o café conilon – devido às condições climáticas favoráveis para o desenvolvimento da variedade.
Para o milho, o maior faturamento anual esperado (36,53%) é reflexo sobretudo da alta de 35,25% nos preços reais na comparação entre períodos, visto o ligeiro crescimento de 0,95% esperado para a produção anual. Com relação à produção, embora tenha se observado aumento da área destinada à cultura para todas as safras, a queda esperada decorre das menores produtividades obtida na primeira safra e esperada da segunda safra, devido às condições climáticas adversas que afetaram importantes estados produtores. Destaca-se que os órgãos oficiais ainda apontam uma segunda safra recorde. De acordo com a equipe Milho/Cepea, a elevação nos preços no período esteve relacionada à maior demanda pelo grão, e à disponibilidade restrita no primeiro trimestre do ano. Especificamente em abril, contudo, os preços foram pressionados para baixo pela redução na demanda interna, influenciada pelas incertezas relacionadas à pandemia do coronavírus, destacando-se as preocupações econômicas no mercado de carnes, importante consumidor de milho.
Para a cultura do arroz, o maior faturamento anual esperado (29,38%) reflete as altas nas cotações do produto na comparação entre períodos (21,46%) e na produção esperada para o ano (6,52%). Segundo a Conab, o aumento da produção está relacionado aos ganhos produtivos esperados (eventos climáticos que favoreceram o desenvolvimento da cultura), em um contexto de redução da área destinada à cultura, especialmente do arroz irrigado, devido à sua baixa rentabilidade nos últimos anos. Com relação aos preços, a equipe Arroz/Cepea evidencia que as condições de oferta e demanda do produto no País sinalizavam para a menor disponibilidade interna do grão. Em março e abril, as cotações foram impulsionadas ainda pela desvalorização do Real frente ao Dólar, pela restrição por parte dos vendedores, pela postura mais ativa dos agentes que anteciparam suas compras devido à pandemia do coronavírus e pela necessidade de compra das indústrias para repor estoques e atender às maiores demanda interna e externa.
No caso do trigo, o maior faturamento anual esperado (21,85%) é reflexo da expansão tanto na produção anual esperada (10,39%) quanto nos preços reais (10,38%) na comparação entre períodos. De acordo com a Conab, o crescimento da produção está relacionado com as expectativas de maiores área destinada à cultura e produtividade, devido às condições climáticas na região Sul, aos preços atrativos do cereal e à busca por minimizar o impacto negativo ocorrido nas safras da soja e do milho. Segundo a equipe Trigo/Cepea, o movimento de alta das cotações desde outubro de 2019 é influenciado pela desvalorização do Real frente ao Dólar, por dificuldades na importação, pela baixa oferta no mercado doméstico e pela firme demanda interna.
No caso da soja, a elevação dos preços, na comparação entre janeiro a abril de 2019 e de 2020 (14,77%), e da produção do ano (4,69%), explicam a projeção de crescimento do faturamento (20,16%). De acordo com a Conab, a produção de soja atingiu recorde histórico na atual safra, reflexo da expansão da área destinada à cultura e dos ganhos produtivos. A Companhia destaca que o forte impacto negativo causado pelo desempenho do Rio Grande do Sul foi compensado pela produtividade recorde em outros importantes estados produtores. Com relação ao crescimento dos preços, a equipe Soja/Cepea evidencia o movimento geral de elevação das cotações da oleaginosa, resultado das condições climáticas adversas que afetaram o cinturão agrícola dos Estados Unidos, da desvalorização do Real frente ao Dólar, do clima desfavorável ao semeio no Brasil em alguns períodos e do baixo excedente da soja brasileira. Em abril, as cotações do grão atingiram novos patamares recordes, resultado sobretudo da desvalorização cambial. Assim, como visto no mês de março, novos compradores internacionais direcionaram suas aquisições ao Brasil, visto o preço competitivo e o grande volume da produção.
Para a cana-de-açúcar, a expansão esperada no faturamento (4,46%) é reflexo apenas da alta nos preços reais, de 6,45% na comparação entre janeiro a abril de 2020 frente ao mesmo período de 2019, uma vez que se espera ligeira redução de 1,87% na produção. De acordo com a Conab, a queda na produção advém da projeção de menor produtividade da cana para esta safra e da diminuição da área destinada à cultura, especialmente na região Sudeste, principal região produtora. Segundo a Companhia, havia uma expectativa otimista para a produção no começo de 2020, visto as condições climáticas favoráveis para o desenvolvimento da cultura e a perspectiva de bons preços para o açúcar e para o etanol. Entretanto, com as recentes oscilações de mercado e os impactos da pandemia do coronavírus, reduziu-se essa expectativa.
Figura 2. Agricultura: Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2020/2019 com informações de abril
Entre as culturas para as quais se projetam quedas no faturamento, tem-se a batata. A projeção de queda é de 42,91%, reflexo dos preços reais e produção esperada 40,37% e 4,25% menores, respectivamente. Segundo a equipe Hortifruti/Cepea, no fim de fevereiro e em março, os preços foram impulsionados por condições climáticas adversas que afetaram a produtividade e a qualidade dos tubérculos, pelo fim da safra das águas e pela demanda aquecida na terceira semana de março – influenciada pela pandemia do coronavírus. Especificamente em abril, mesmo com uma menor demanda, os preços foram impulsionados pela menor oferta de tubérculos. Como evidenciado no relatório anterior, ainda assim, os valores se mantiveram bem inferiores aos praticados nos mesmos meses de 2019.
Destaca-se também os resultados das culturas do tomate e da banana, em que até o relatório anterior se esperava um crescimento no faturamento. Para o tomate, a atual redução esperada no faturamento (-8,51%) é reflexo da projeção de menor produção anual (-5,21%) e dos menores preços reais (-3,48%) na comparação entre períodos. Segundo a equipe Hortifruti/Cepea, os preços têm se mantido nos patamares do observado em janeiro, resultado do menor volume ofertado e da desaceleração da colheita da safra verão em março e abril. A piora, em abril, na relação de preços entre os períodos, então, refletiu sobretudo o forte aumento verificado em abril do ano passado, quando problemas na produção limitaram a oferta e impulsionaram as cotações. No caso da banana, a redução de faturamento é de 3,49%, via queda de 3,77% esperada na produção. Para os preços, houve ligeira valorização de 0,28% na comparação entre períodos. Apesar da recuperação observada nas cotações da variedade nanica a partir do mês de fevereiro, a equipe Hortifruti/Cepea evidencia que, no mês de abril, os preços recuaram significativamente, devido ao ritmo dos negócios afetados pela prorrogação da quarentena.
Tabela 4. Agricultura: Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2020/2019 com informações de abril
Para a laranja, a redução do faturamento anual esperado (-4,08%) é resultado dos menores preços reais (-7,90%) na comparação entre os primeiros quadrimestres de 2019 e de 2020. Já para a produção, espera-se incremento de 4,15%. Segundo a equipe Hortifruti/Cepea, apesar dos preços estarem menores comparativamente a 2019, permaneceram firmes nos primeiros meses de 2020, devido à menor oferta da fruta nesse período de entressafra. Em abril, as variedades de laranja tiveram suas cotações pressionadas pela desaceleração da demanda no período de quarentena e pela intensificação da oferta de laranjas precoces da safra 2020/21 nos pomares paulistas.
Para a cultura do algodão, a queda de faturamento esperada é de 4,82%, reflexo dos preços reais 8,34% menores, visto que se projeta crescimento de 3,84% na produção anual. A equipe Algodão/Cepea destaca que os preços se valorizaram no primeiro bimestre de 2020, refletindo a posição firme da maior parte dos vendedores, a desvalorização do Real frente ao Dólar (favorecendo a exportação e diminuindo a disponibilidade interna) e à demanda aquecida. Entretanto, em março e abril, as cotações foram pressionadas pelo descompasso entre oferta e demanda, esta última afetada negativamente pelas ações que buscavam a redução da disseminação da Covid-19. Segundo a Conab, o aumento da produção, que deverá ser recorde, está relacionado ao incremento de área em relação à safra passada, às boas condições climáticas que favoreceram o desenvolvimento da lavoura e aos grandes investimentos feitos no setor.
A Figura 3 exibe o comportamento das atividades que compõem o segmento primário da pecuária. No primeiro quadrimestre de 2020, tem-se de um lado as atividades que apresentaram crescimento contundente nos patamares de seus preços, quando comparados com o mesmo período de 2019 – bois, suínos e ovos; e, de outro, atividades cujos preços recuaram, na mesma comparação – leite e aves.
Figura 3. Pecuária: Variação anual dos preços e do faturamento 2020/2019 com informações de abril
A suinocultura é a atividade que apresenta o maior crescimento esperado de faturamento em 2020 (38,12%), dada a combinação de crescimento real dos preços (28,30%), na comparação entre janeiro a abril de 2020 frente ao mesmo período de 2019, e crescimento esperado para a produção anual (7,65%). O mercado de produtos de origem suinícola apresentou baixa liquidez no mês de abril, em virtude das medidas de isolamento social estabelecidas pelos governos. Em função disso, os preços do animal vivo foram pressionados, o que se observou em diferentes regiões dos estados do Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais. Ainda assim, a queda não foi suficiente para que o patamar de preços médios de 2020 se igualasse ou ficasse abaixo do observado no mesmo período de 2019.
A projeção para o faturamento anual da criação de boi gordo para o ano corrente é de crescimento de 12,88%, embalada pelo avanço dos preços reais do produto, na comparação entre quadrimestres iguais. Segundo a equipe Boi/Cepea, os preços do boi gordo mantiveram-se estáveis em abril, mesmo frente às incertezas trazidas pela pandemia – embora pontue-se que, até este momento, os impactos da Covid-19 sobre o mercado pecuário nacional se deram de maneira menos intensa que em outras atividades.
Já para a avicultura de corte, a projeção mostra crescimento modesto (1,2%) do faturamento anual, comparativamente às demais atividades, resultante da combinação de queda do preço real (2,72%), na comparação entre períodos iguais, e crescimento da produção anual esperada (4,03%). Em abril, houve dificuldade no escoamento da produção, levando à queda nos preços do frango vivo e da carne. Essas dificuldades foram desencadeadas pelas medidas de contenção da pandemia da Covid-19, que afetaram a demanda por carne de frango e, dessa forma, fizeram com que a indústria ajustasse os seus pedidos por novos lotes de frango vivo.
A produção de leite apresenta projeção de redução do seu faturamento anual (9,0%), decorrente da queda dos preços reais (10,56%), na comparação entre janeiro a abril de 2020 frente ao mesmo período de 2019. Por outro lado, espera-se crescimento para a produção anual (1,75%). A redução do consumo de lácteos, reflexo da pandemia do coronavírus, ocasionou o aumento da disponibilidade de leite cru no mercado spot, fazendo com que os preços recuassem – por exemplo, em Minas Gerais, importante produtor nacional, o preço médio caiu 7,3% na primeira quinzena e 11,7% na segunda quinzena de abril.
SEGMENTO INDUSTRIAL: Agroindústria recua em abril em decorrência da pandemia
O PIB da agroindústria recuou em abril, 1,08%. Mesmo assim, o resultado manteve-se positivo no acumulado do quadrimestre, com alta de 0,44% (Tabela 1). Os cenários são opostos entre os ramos. A indústria de base agrícola foi a mais prejudicada pelas medidas relacionadas à pandemia de Covid-19, e teve queda de 1,95% em abril. Com isso, no acumulado do período, o segmento registrou baixa de 1,92% (Tabela 2). Já a indústria de base pecuária, embora também tenha sentido os reflexos do Coronavírus, continuou crescendo em abril, 1,56%, acumulando elevação de 8,11% no período (Tabela 3).
Na indústria de base agrícola, espera-se queda de 0,94% no faturamento anual, resultado de preços médios 1,96% maiores e de queda de 2,85% na produção. Entre o último relatório e esse, com a inclusão das informações de abril, houve importante piora no indicador da produção agroindustrial de origem vegetal. Para a indústria de base pecuária, o aumento esperado no faturamento é de 7,70%.
No acompanhamento feito pelo Cepea para a evolução do PIB, as indústrias de base agrícola para as quais se espera crescimento do faturamento em 2020, com base em informações até abril, são: moagem e fabricação de produtos amiláceos, açúcar e óleos vegetais. Já as indústrias de base agrícola para as quais se espera queda do faturamento em 2020 são: biocombustíveis, produtos do fumo, produtos e móveis de madeira, celulose e papel, têxtil e vestuário, indústria do café, conservas de frutas, verduras e outros vegetais, bebidas e outros produtos alimentares (Figura 4).
Para a indústria do açúcar, a expansão esperada no faturamento (43,9%) é reflexo dos aumentos tanto nos preços (21,5%), na comparação de janeiro a abril de 2020 frente a janeiro a abril de 2019, quanto na produção esperada para o ano (18,5%). Com relação à produção, a Conab aponta que, com o intuito de reduzir o impacto da dupla crise que atinge o mercado de biocombustível, o setor está apostando no aumento da produção de açúcar, tentando intensificar a sua venda ao mercado externo. Assim, deverá ser destinado uma maior quantidade de ATR para a produção de açúcar em detrimento do etanol. Como destacado pela Companhia, os problemas de produção na Tailândia e nos embarques de alguns países exportadores (por exemplo, a Índia), devido à pandemia, bem como a restrição das exportações por alguns países para priorizar o mercado interno (como ocorre, por exemplo, na América Central), abrem uma janela de oportunidades para o setor brasileiro. Segundo a equipe Açúcar/Cepea, os preços no primeiro quadrimestre de 2020 foram impulsionados pela projeção de déficit global e pela desvalorização cambial. Especificamente em março e abril, as cotações domésticas foram pressionadas diante da incerteza mundial com relação ao coronavírus e da menor demanda pelo produto no mercado spot.
Para a indústria de óleos vegetais, o crescimento esperado de 18,0% para o faturamento anual reflete a alta de 15,2% nos preços reais, na comparação entre janeiro a abril de 2019 e de 2020, e o aumento esperado da produção, de 2,4%. Assim como destacado no relatório anterior, os maiores preços nos primeiros meses de 2020 refletiram as perspectivas positivas naquele período em termos de demanda interna e externa para o óleo e o farelo de soja, para a produção de biodiesel e de ração animal. Entretanto, a equipe Soja/Cepea destaca o impacto da pandemia sobre a comercialização, com forte queda da demanda por óleo de soja para produção de biodiesel.
Com relação à indústria de papel e celulose, a queda esperada de 8,8% no faturamento anual decorre da redução de 10,1% dos preços, na comparação entre períodos. Como evidenciado no relatório anterior, embora os preços apresentem redução na comparação entre períodos, observou-se sua elevação ao longo de 2020. Especialistas apontam que no Brasil houve estabilidade da cotação em dólar da celulose. Entretanto, os impactos da pandemia do coronavírus pressionaram essa estabilidade e os avanços que ocorreram nas cotações nos primeiros meses de 2020. Adicionalmente, os menores preços na comparação entre períodos refletem, principalmente, os recuos sucessivos da cotação da celulose ao longo de 2019 devido aos estoques elevados no mercado internacional.
Figura 4. Agroindústrias de base agrícola: variação anual do volume, preços reais e faturamento das indústrias agrícolas acompanhadas
No caso da produção de biocombustíveis, espera-se redução de 7,3% no faturamento anual, tendo em vista a produção anual esperada 10,3% menor. Para os preços, houve aumento de 3,4% na comparação entre os primeiros quadrimestres de 2020 e 2019. Segundo a Conab, o menor consumo interno de etanol e a desvalorização dos preços internacionais do petróleo impactaram as unidades de produção de cana de açúcar, fazendo com que houvesse uma mudança de estratégia das unidades, como já mencionado na análise do açúcar. A alta nos preços em janeiro e fevereiro foi reflexo do viés de alta observado desde outubro do ano passado. Entretanto, os preços foram pressionados fortemente nos meses de março e abril, devido à queda nas cotações do petróleo e à diminuição da demanda por etanol – devido aos impactos e medidas para conter a disseminação do coronavírus.
Como já mencionado, a inclusão das informações de abril impactou em piora expressiva no indicador de produção da agroindústria agrícola. Nesse sentido, os destaques negativos, em termos de produção, foram as indústrias de produtos de madeira (11,3%), móveis de madeira (17,8%), têxteis de base natural (14,6%), vestuário de base natural (26,1%) e bebidas (15,3%). (Figura 4).
Na agroindústria de base pecuária, por sua vez, somente a indústria de abate e preparação de carnes e pescados registra projeção de crescimento do faturamento anual. As demais indústrias, couro e calçados e laticínios, registraram variação negativa do faturamento anual esperado.
A agroindústria do abate e preparação de carnes e pescados apresenta projeção de crescimento de seu faturamento anual em 16,05%, impulsionada pelo avanço dos preços reais dos produtos (19,08%) na comparação do primeiro quadrimestre de 2020 frente ao mesmo período de 2019, haja vista a queda esperada para a projeção anual (2,24%). No que se refere à carne bovina, especificamente em abril, conforme destaca a equipe Boi/Cepea, a demanda manteve-se estável para os consumidores brasileiros, enquanto as exportações mantiveram-se aquecidas, especialmente para a China, a qual segue assolada pela Peste Suína Africana. No tocante à carne suína, em abril, o mercado registrou baixa liquidez em virtude das medidas de distanciamento social estabelecidas pelos governos. De um lado, restaurantes e outros estabelecimentos de alimentação reduziram suas atividades; de outro, a indústria acumulou estoques, reduzindo a demanda por novos lotes de animais para abate. Por sua vez, as exportações mantiveram-se aquecidas, principalmente com destino à China. Essa dinâmica se fez presente também na agroindústria avícola. A demanda foi ainda mais enfraquecida na segunda quinzena do mês, quando tradicionalmente as vendas costumam ser menores.
Para a agroindústria de laticínios, tem-se projeção de queda do faturamento anual da atividade (11,74%), em virtude da queda da produção anual esperada (13,30%). Para os preços, houve aumento de 1,56% na comparação entre quadrimestres iguais. Em abril, a demanda por derivados (principalmente os refrigerados, como os queijos) foi negativamente impactada em virtude de: (i) redução do consumo, diante do fechamento de importantes canais de distribuição (como as redes de serviços de alimentação); (ii) diminuição da frequência das compras por parte dos consumidores, após alta procura em março, na busca por estoques; e (iii) redução da renda de muitas famílias.
Tabela 5. Agroindústrias de base pecuária: variação anual do volume, preços reais e faturamento das indústrias pecuárias acompanhadas
SEGMENTO DE SERVIÇOS: PIB dos agrosserviços cresceu em meio à pandemia
O PIB dos agrosserviços do agronegócio brasileiro cresceu 0,27% em abril, mesmo em meio à pandemia. Com isso, no quadrimestre, o segmento acumulou alta de 3,98% (Tabela 1). No ramo agrícola, em abril, o segmento de agrosserviços foi pressionado pela forte queda observada na agroindústria, e recuou 0,78%; ainda assim, no período, acumulou alta de 0,55% (Tabela 2). Já no ramo pecuário, os efeitos da pandemia sobre as cadeias foram menos expressivos. O PIB dos agrosserviços prestados à pecuária cresceu 2,04% em abril e 10,16% no quadrimestre (Tabela 3).
Por um lado, o resultado positivo do PIB dos agrosserviços pode ser explicado pela continuidade do abastecimento do mercado doméstico, apesar dos problemas logísticos e dos desafios impostos pela pandemia. Não houve paralisação do agronegócio ou problema de distribuição e abastecimento de alimentos para os supermercados e a população, com registros apenas de casos pontuais. Por outro lado, o bom desempenho do segmento foi reforçado pelos resultados excelentes em termos de exportações.
CONCLUSÕES
O PIB do agronegócio cresceu 0,36% em abril, a menor taxa de crescimento do quadrimestre já refletindo os impactos econômicos das medidas de distanciamento social. Ainda assim, no acumulado de janeiro e abril de 2020, o crescimento do PIB do agronegócio foi de 3,78%, frente ao mesmo período de 2019.
O destaque negativo em abril foi o desempenho da indústria de base agrícola, que encolheu 1,95% no mês, fechando o quadrimestre em -1,92%. Atividades têxteis, vestuário, móveis e produtos de madeira, biocombustíveis, celulose e papel, bebidas, indústrias de café e de fumo, e conservas de frutas, legumes e vegetais apresentam perdas esperadas significativas de faturamento em 2020. As expectativas também são negativas para o faturamento, em 2020, das indústrias de couro e calçado e laticínios, ambas do ramo pecuário que, ainda assim, em seu conjunto apresentou crescimento do PIB de 1,56% em abril e de 8,11% no acumulado do quadrimestre. Se por um lado, a demanda doméstica de carnes tem sido adversamente afetada pela crise econômica desencadeada pelo coronavírus; por outro, a demanda externa segue em alta puxada ainda pelos efeitos da peste suína africana na China, e mais recentemente pela desvalorização do Real frente ao Dólar que amplia a competividade das proteínas brasileiras.
Em abril, o segmento primário manteve o destaque em termos de crescimento, com alta de 2,21%. De janeiro a abril, a alta foi de 8,22%. Esse excelente resultado do segmento primário agrícola reflete os preços maiores na comparação entre os períodos e a expectativa de maior produção na safra atual.
Entre os produtos, os destaques em termos de altas de preços foram: milho, café, cacau e arroz, com altas superiores a 20%, além de soja, trigo, mandioca e cana. No caso da produção, esperam-se crescimentos importantes para café, cacau, trigo, arroz, madeira, soja, laranja e algodão, e alguma elevação moderada para milho e feijão.
Já para o segmento primário pecuário, o resultado positivo reflete sobretudo os preços elevados em 2020, com destaque para boi gordo, suínos e ovos. Como apontado nos relatórios anteriores, em partes, o elevado patamar dos preços pecuários nos primeiros meses de 2020 ainda refletiu um efeito inercial da forte elevação ao longo de 2019, relacionada à Peste Suína Africana. Destaca-se que, em abril, os preços pecuários, especificamente da suinocultura, da avicultura e do leite, foram pressionados em virtude das medidas de isolamento social estabelecidas pelos governos.
O segmento de agrosserviços também cresceu em abril, apesar da pandemia, acumulando elevação no quadrimestre. Esse resultado é explicado pelo fato de que não houve paralisação do agronegócio ou problema de distribuição e abastecimento de alimentos para os supermercados, com registros de casos apenas pontuais. Esse resultado reflete também os resultados excelentes em termos de exportações, com expansão importante dos volumes embarcados.
ANEXO I – Evolução mensal do PIB DO AGRONEGÓCIO
A1) PIB do Agronegócio: Taxas de variação mensal e acumulado do período (em %)
Nota técnica: O PIB Volume do Agronegócio trata-se do PIB do agronegócio calculado pelo critério de preços constantes. Resulta, portanto, a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.
A4) PIB DO AGRONEGÓCIO - METODOLOGIA
O Relatório PIB do Agronegócio Brasileiro é uma publicação mensal resultante da parceria entre o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (FEALQ). O agronegócio é entendido como a soma de quatro segmentos: insumos para a agropecuária, produção agropecuária básica (ou primária), agroindústria (processamento) e agrosserviços – como na Figura que segue. A análise desse conjunto de segmentos é feita para o ramo agrícola (vegetal) e para o pecuário (animal). Ao serem somados, com as devidas ponderações, obtém-se a análise do agronegócio.
Pelo critério metodológico do Cepea/Esalq-USP, o PIB do agronegócio é medido pela ótica do produto, ou seja, pelo Valor Adicionado (VA) total deste setor na economia. Ademais, avalia-se o VA a preços de mercado (consideram-se os impostos indiretos menos subsídios relacionados aos produtos). O PIB do agronegócio brasileiro refere-se, portanto, ao produto gerado de forma sistêmica na produção de insumos para a agropecuária, na produção primária e se estendendo por todas as demais atividades que processam e distribuem o produto ao destino final. A renda, por sua vez, se destina à remuneração dos fatores de produção (terra, capital e trabalho).
Após estimado o valor do PIB do agronegócio no ano-base, que desde janeiro/17 refere-se ao ano de 2010, parte-se para evolução deste valor de modo a se gerar uma série histórica, por meio de um amplo conjunto de indicadores de preços e produção de instituições de pesquisa e governamentais. Seja para a estimação anual do valor do PIB, ou para as reestimativas mensais das previsões anuais, consideram-se informações a respeito da evolução do Valor Bruto da Produção (VBP) e do Consumo Intermediário (CI) dos segmentos do agronegócio. Pela evolução conjunta do VBP e do CI, estima-se o crescimento do valor adicionado pelo setor.
Com base nos procedimentos mencionados e processos adicionais realizados pelo Cepea, os cálculos do PIB do agronegócio resultam em dois indicadores principais, que retratam o comportamento do setor por diferentes óticas:
• PIB-renda Agronegócio (equivale ao PIB divulgado anteriormente pelo Cepea): reflete a renda real do setor, sendo consideradas no cálculo variações de volume e de preços reais, sendo estes deflacionados pelo deflator implícito do PIB nacional.
• PIB-volume Agronegócio: PIB do agronegócio pelo critério de preços constantes. Resulta daí a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.
Mensalmente, o foco de análise principal é o PIB-renda Agronegócio, que reflete a renda real do setor. Por conveniência textual, o PIB-renda do agronegócio é denominado apenas como PIB do Agronegócio ao longo deste relatório. Destaca-se que as taxas calculadas para cada período consideram igual período do ano anterior como base, exceto para as quantidades referentes às safras agrícolas, para as quais computa-se a previsão de safra para o ano (frente ao ano anterior).
Importante também destacar que cada relatório considera os dados disponíveis – preços observados e estimativas anuais de produção – até o seu fechamento. Em edições futuras, ao serem agregadas informações mais atualizadas, há a possibilidade, portanto, de ocorrer alteração dos resultados, tanto no que se refere ao mês corrente, como também ao que se refere a meses e anos passados. Recomenda-se, portanto, sempre o uso do relatório mais atualizado. Para uma análise mais detalhada dos aspectos metodológicos, bem como dos resultados dos demais indicadores (PIB volume, Consumo Intermediário, etc.) ver http://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx