ALIMEN T AN D O O B R A SILEIRO

Publicações

Boletim
11 de fevereiro de 2020
PIB do Agronegócio cresce 1,3% em novembro de 2019
banner.png

O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e com a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), registrou alta de 1,27% em novembro de 2019. No acumulado do ano (de janeiro a novembro), o resultado se manteve positivo, com elevação de 2,36%.

Em novembro, o crescimento no PIB do agronegócio refletiu expansão em todos os segmentos do setor: insumos (0,12%), primário (0,86%), agroindustrial (1,17%) e agrosserviços (1,71%). No acumulado dos 11 primeiros meses de 2019, apenas o segmento primário recuou  (-4,12%), enquanto os de insumos (6,42%), agroindústria (3,93%) e agrosserviços (4,57%) cresceram (Tabela 1).

Tabela 1. PIB do Agronegócio: Taxa de variação mensal e acumulada no período (%) 

Embora o ramo agrícola tenha crescido 0,29% em novembro, houve recuo no acumulado de janeiro a novembro de 2019. No mês, somente o segmento ´dentro da porteira’ apresentou ligeiro recuo (-0,06%). Os demais segmentos apresentaram crescimento mensal significativo: insumos (0,15%), agroindústria (0,49%) e agrosserviços (0,38%).

De janeiro a novembro, os segmentos primário e de agrosserviços recuaram: o primário teve forte queda de 13,82% e o de agrosserviços recuou 1,59%. Em contrapartida, os insumos (7,92%) e a agroindústria (1,10%) cresceram no período – Tabela 2.

O elevado custo de produção em 2019 pressionou significativamente o PIB do segmento primário agrícola. Somada à elevação do custo de produção, 2019 foi marcada por queda de preço de produtos como algodão, mandioca, café e soja, comparativamente ao ano anterior.

Tabela 2. Ramo Agrícola: Taxas de variação mensal e acumulada no período (%)

O ramo pecuário mantém-se como grande destaque do desempenho do PIB do agronegócio em novembro (3,62%) e no acumulado dos 11 primeiros meses de 2019 (17,19%). Todos os segmentos do ramo pecuário cresceram em novembro de 2019: primário (2,61%), agroindustrial (3,80%), agrosserviços (4,64%) e insumos (0,07%). No acumulado (de janeiro a novembro), também houve alta: insumos (3,24%), primário (16,91%), agroindústria (15,77%) e agrosserviços (19,96%) – Tabela 3.

Tabela 3. Ramo Pecuário: Taxas de variação mensal e acumulada no período (%)

Ao longo de 2019, os preços dos produtos do ramo pecuário tiveram alta significativa, refletindo a aquecida demanda, por carne, no mercado externo em decorrência da Peste Suína Africana (PSA). Além disso, registrou-se bom desempenho das produções de bovinos, suínos, ovos e leite no País.

SEGMENTO DE INSUMOS: crescimento se mantém para ambos os ramos em novembro

O segmento de insumos do agronegócio cresceu 0,12% em novembro, acumulando alta de 6,42% nos 11 primeiros meses de 2019. Em novembro, o crescimento dos insumos agrícolas foi modesto, 0,15%, assim como o dos insumos pecuários (0,07%). Já no acumulado de janeiro a novembro, os insumos agrícolas e pecuários tiveram altas consistentes, de 7,92% e de 3,24%, respectivamente (Tabelas 1,2 e 3).

Conforme se observa na Figura 1, que mostra as variações anuais de volume, de preços e de faturamento para as indústrias de insumos acompanhadas, os destaques no ramo agrícola são as altas dos fertilizantes e principalmente os defensivos. Já para a atividade de máquinas agrícolas, espera-se queda no faturamento anual. Para o ramo pecuário, as perspectivas são de alta para rações e medicamentos para animais – Figura 1.

Figura 1. Insumos: variação (%) anual de volume, dos preços e do faturamento – 2019/2018 com informações até novembro/2019

Para a indústria de fertilizantes, espera-se crescimento do faturamento anual de 5,40%, resultante da combinação de aumentos esperados de 1,91% da produção e de 3,43% dos preços. Dois fatores contribuem para a elevação dos preços: (i) a desvalorização do Real frente ao dólar e (ii) o encarecimento de algumas matérias-primas importantes para a produção de fertilizantes, como petróleo e gás natural[1].

Já para o faturamento da indústria de defensivos espera-se crescimento de 26,86% em 2019. A estimativa de crescimento de 20,8% na produção anual de defensivos nacionais está relacionada à redução da oferta internacional, a partir a implementação de medidas de controle da fiscalização na China, principal produtor no cenário mundial. Os preços também registraram alta (5,02%) na comparação entre períodos, o que se pode atribuir, em partes, à desvalorização do Real frente ao Dólar, uma vez que a maior parte da matéria-prima utilizada na produção é importada.

Por fim, a expectativa de crescimento, em 2019, de 3,58% no faturamento da indústria de rações para animais está associada à Peste Suína Africana na China que tem ampliado a demanda externa por carnes brasileiras, em especial a bovina, a suína e a de frango. Em resposta, os preços cresceram 2,96% na comparação entre períodos. A produção anual esperada, por sua vez, registra sutil alta de 0,60%.

SEGMENTO PRIMÁRIO: custos de produção seguem pressionando a renda

O PIB do segmento primário do agronegócio cresceu 0,86% em novembro, com certa estabilidade no ramo agrícola (-0,06%), mas com alta no pecuário, de 2,61%. No acumulado de janeiro a novembro, o segmento primário do agronegócio recuou 4,12%, resultado da combinação da baixa de 13,82% do ramo agrícola com a alta de 16,91% do ramo pecuário. O elevado custo de produção pressionou a renda do produtor ‘dentro da porteira’ ao longo de todo o ano de 2019. No ramo agrícola, mesmo com a expansão da produção, esse aumento de custo aliado aos menores preços de produtos importantes prejudicaram a renda do produtor rural. Em contrapartida, no ramo pecuário, os altos preços e o aumento da produção animal sustentaram a renda, mesmo com o maior custo (Tabela 1, 2 e 3).   

Especificamente para 2019, espera-se redução (-0,12%) no faturamento médio das atividades do segmento primário agrícola, considerando-se projeções de produção para o ano e preços de janeiro a novembro de 2019 comparados com os do mesmo período de 2018. Com relação à produção, em 2019, espera-se alta de 1,82% na média ponderada das atividades acompanhadas – impulsionada principalmente pelas maiores safras de algodão e milho. Já para preços, na comparação de janeiro a novembro de 2019 e de 2018, houve recuo médio de 1,91%, em função das desvalorizações do algodão, da mandioca, do café e da soja.

Já para o segmento primário da pecuária, para 2019, espera-se crescimento de 12,31% no faturamento, resultado principalmente da alta do preço médio ponderado das atividades de 8,81%, mas também do aumento na produção esperada para o ano, de 3,21%. Como mencionado em relatórios anteriores, a Peste Suína Africana (PSA) seguiu influenciando a demanda pela proteína animal brasileira no período analisado, elevando as exportações e impulsionando os preços domésticos.

As Figuras 2 e 3 e a Tabela 4 detalham os resultados específicos do segmento por atividades agrícolas e pecuárias. Entre as culturas do segmento primário agrícola acompanhadas para o cálculo do PIB do Agronegócio, projeta-se crescimento nos faturamentos em 2019 de  algodão, banana, batata, cacau, cana-de-açúcar, feijão, laranja, milho, tomate, uva e lenha/carvão. Já as culturas para as quais espera-se quedas no faturamento são arroz, café, fumo, mandioca, soja, trigo, madeira em tora e madeira para celulose – Figura 2 e Tabela 4.

O crescimento anual projetado de 6,41% para a cultura da cana-de-açúcar é reflexo da expansão tanto da produção esperada, de 3,59%, quanto dos preços reais, em 2,72% na comparação de janeiro a novembro de 2019 em relação ao mesmo período de 2018. De acordo com a Conab, deve haver maior produção nas principais regiões produtoras - Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste - em razão da maior produtividade, uma vez que a área colhida diminuiu. A Companhia destaca o resultado do Nordeste, onde as melhores condições climáticas têm proporcionado a recuperação da produtividade.

Com relação aos grãos, as altas esperadas no faturamento do algodão (12,53%) e do milho (21,80%) refletem a expectativa de crescimento da produção, uma vez que há uma redução no preço real na comparação de janeiro a novembro de 2019 frente ao mesmo período de 2018. Já para a cultura do feijão, a expectativa de aumento de 74,50% no faturamento anual é atribuída exclusivamente ao incremento de preços na comparação entre períodos.

Quanto ao milho, a expectativa é de que a produção aumente 23,95%. Já os preços apresentaram queda de 1,74% na comparação de janeiro a novembro de 2019 frente ao mesmo período de 2018. De acordo com a Conab, a produção elevada se deve à maior área (5,3%) e a maiores produtividades (17,7%), em especial na segunda safra. Como indicado pela Companhia, a alta produtividade está atrelada à antecipação do plantio de soja na primeira safra, o que possibilitou o aproveitamento integral da janela climática. Com relação aos preços, a equipe Grãos/Cepea destaca que a queda foi atenuada em razão dos patamares mais elevados registrados nos últimos meses. Em novembro, foi registrado o maior valor nominal do ano, resultado do aumento no interesse de compradores, somado à retração de vendedores em negociar grandes lotes (diante do ritmo forte de embarques programados antecipadamente).

A quantidade produzida de algodão deve crescer 35,91% em 2019, mas os os preços caíram 17,20% nos 11 primeiros meses de 2019 comparativamente ao mesmo período de 2018. Segundo a Conab, a maior produção, recorde na série histórica nacional, é atribuída ao aumento da área destinada à cultura (37,8%), uma vez que houve diminuição na produtividade (-1,3%), causada por oscilações climáticas. A equipe Algodão/Cepea indica ainda que, em novembro, os preços subiram em relação a outubro, apresentando a elevação mensal mais expressiva desde maio de 2018. Este resultado é reflexo da baixa oferta no mercado spot nacional, da menor disponibilidade de pluma de qualidade e da priorização, por parte dos agentes, dos embarques com destino aos mercados externo e interno frente à realização de novos negócios. Adicionalmente, a equipe destaca que o mercado externo continuou favorável em novembro devido à forte desvalorização do Real frente ao dólar, elevando a vantagem das exportações em detrimento da comercialização no mercado doméstico.

Em relação ao feijão, o aumento nos preços reais é de 79,90% na comparação entre períodos, e a redução na produção esperada para o ano de 2019 é de 3,00%. De acordo com a Conab, a menor produção é reflexo da diminuição da área destinada à cultura. A Companhia destaca que este resultado é mantido mesmo com maiores produções nos principais estados produtores – Paraná e Minas Gerais, responsáveis por aproximadamente 40% da produção nacional. No Paraná, a expansão da produção (4,4%) é reflexo de ganhos de produtividade (5,4%). Em Minas Gerais, o crescimento (5,6%) está atrelado ao aumento na área (7,2%), visto que houve menor produtividade (-1,5%). Os maiores preços estão relacionados à menor área plantada e a condições climáticas adversas que afetaram a cultura.

Para a horticultura, as perspectivas são de incremento do faturamento da banana (19,72%), da batata (112,00%) e da laranja (5,86%) refletindo aumentos tanto na produção quanto nos preços. No caso do tomate (11,82%), a expansão no faturamento é resultado apenas da elevação nos preços reais, uma vez que os dados disponíveis até novembro apontam menor produção para 2019.

Na cultura da banana, a expectativa é de expansão de 6,01% da quantidade produzida e de 12,94% nos preços, na comparação dos períodos de janeiro a novembro de 2018 e de 2019. No caso da batata, a alta nos preços reais é de 111,62% para uma produção praticamente estável (0,18%). De acordo com a equipe Hortifrúti/Cepea, os aumentos nos preços da banana e da batata são atribuídos às adversidades climáticas, à baixa oferta nacional e à menor área destinada às culturas.

No caso da laranja, a expansão da quantidade produzida em 2019 é de 5,62%, e a alta de preços de 0,23%. Segundo a equipe Hortifrúti/Cepea, o crescimento da produção é decorrente de condições climáticas favoráveis e da menor produção na safra anterior, resultando em estimativa de produtividade recorde para a safra.

Na cultura do tomate, o aumento nos preços é de 12,07% na comparação entre janeiro a novembro de 2019 e o mesmo período do ano anterior, e a previsão de queda na produção é de 0,22%. De acordo com a equipe Hortifrúti/Cepea, o cultivo do tomate apresenta queda desde 2013, resultado da menor área destinada à cultura, o que tem elevado as cotações. Apesar da redução na área, a equipe destaca que os preços apresentaram trajetória de queda a partir de agosto, resultado da maior oferta – devido às altas temperaturas que aceleram a maturação do tomate no período.

Figura 2. Agricultura: Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2019/2018 com informações de novembro/2019

Dentre as culturas para as quais as projeções são de redução do faturamento em 2019, destacam-se o café, a soja, trigo e arroz.

As reduções de 20,03% na produção e de 8,03% nos preços de café, corroboram expectativas de faturamento 26,92% menor em 2019 frente a 2018. Destaca-se que a baixa nos preços só não é maior devido à alta ocorrida nos últimos meses de 2019. Segundo a equipe Café/Cepea, em novembro houve forte recuperação das cotações, influenciada pela alta dos contratos futuros da variedade e pela demanda aquecida. Como destacado em relatórios anteriores, o cenário de queda nos preços no contexto geral de 2019 é reflexo da maior oferta mundial do grão. De acordo com a Conab, a menor produção de café no País é resultado da menor área de produção (-2,8%) e da queda na produtividade (-17,8%) – influenciadas pelo ciclo de bienalidade negativa e por intempéries climáticas.

Quanto à soja, a projeção de menor faturamento anual (-10,03%) também se deve às diminuições do preço (-6,71%) na comparação de janeiro a novembro de 2019 em relação ao mesmo período de 2018, e à expectativa de menor produção anual (-3,56%). De acordo com a Conab, considerando que houve aumento da área destinada à cultura (2,1%), pode-se atribuir a queda na produção à redução na produtividade (-5,5%).

Segundo a Companhia, as adversidades climáticas afetaram o rendimento da cultura. Com relação aos preços, houve queda na comparação entre períodos, apesar das altas observadas desde junho de 2019. Segundo a equipe Grãos/Cepea, em novembro, houve mais negociações no mercado spot – a transação do produto ocorre no momento da negociação – em relação a negociações de contratos. Isso, ocorreu nos portos brasileiros. Com o aumento do número de negociações no spot, houve efeito imediato nos preços.

Tabela 4. Agricultura: Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2019/2018 com informações de novembro/2019

No caso do trigo, espera-se redução no faturamento (-6,13%), reflexo de expectativa de menor produção (-5,03%), como também de baixa nos preços (-1,16%) na comparação entre períodos. Segundo a Conab, a menor produção se deve à menor área (-0,1%) e à menor produtividade (-4,9%). A Companhia destaca que o Paraná perdeu o posto de maior produtor para o Rio Grande de Sul, devido às adversidades climáticas (geada e estiagem), resultando em menor produção (-24,9%) frente à última safra. Com relação aos preços, a equipe de Trigo/Cepea evidencia que, em novembro, foram impulsionados pela baixa disponibilidade do grão de qualidade, pela desvalorização do Real frente ao dólar, por preocupações dos possíveis impactos, na safra, provenientes de alterações climáticas, e pela imposição de taxações no trigo exportado pela argentina.

Para a cultura do arroz, a redução esperada no faturamento anual (-9,44%) é resultado apenas da expectativa de queda na produção (-13,34%) para o ano, uma vez que houve aumento nos preços reais (4,50%) na comparação entre períodos. De acordo com a Conab, a expectativa de menor produção é reflexo da menor área (-13,9%), frente à quase estabilidade na produtividade (0,6%). Os principais estados produtores (responsáveis por mais de 80% da produção nacional), Rio Grande do Sul e Santa Catarina, registram menores rendimentos devido às intempéries climáticas. De acordo com a equipe Arroz/Cepea, tanto em outubro quanto em novembro houve alta nos preços, impulsionada pela menor oferta por parte dos vendedores. Adicionalmente, a Conab aponta que a baixa produção nacional, os problemas climáticos nas principais regiões produtoras, a projeção de aumento de demanda mundial e as reduções dos estoques de passagem são fatores que impulsionaram as cotações do grão.

Todas as atividades do segmento primário pecuário registraram crescimento do faturamento anual esperado. Com exceção da produção de frango/galinha para corte, cuja projeção para a produção anual é de ligeira queda, os demais casos apresentam crescimento tanto de preços reais na comparação entre períodos quanto da produção anual esperada. No tocante à produção de carne, tal como apontado nos últimos relatórios, os resultados têm sido fortemente influenciados pela alta demanda internacional, principalmente da China, em decorrência da Peste Suína Africana (PSA).

A criação de boi gordo para corte, por exemplo, projeta crescimento do faturamento de 8,88% para o ano. Segundo a equipe Boi/Cepea, novembro registrou recorde da série real de preços, o que se pode atribuir ao acelerado ritmo de exportações que se manteve ao longo de 2019 e, ainda, ao aumento da demanda doméstica típica do fim de ano (combinados à uma oferta restrita de animais para abate). Entre janeiro e novembro, o preço do boi gordo teve crescimento real de 5,77% em comparação ao mesmo período de 2018. Como resposta ao aumento da demanda, principalmente a externa, espera-se que a produção anual cresça 2,94%.

Para a avicultura de corte, é esperado crescimento de 13,85% do faturamento para o ano. Esse resultado é atribuído, principalmente, à alta de preços reais de 14,12%, na comparação entre períodos.

Já a suinocultura para corte apresentou o melhor resultado dentro do segmento, com projeção de crescimento do faturamento anual de 32,15%, conduzido principalmente pelo aumento real de 28,25% dos preços, na comparação com o período de janeiro a novembro de 2018. De acordo com a equipe Suíno/Cepea, em novembro, a cotação bateu recordes em termos nominais desde o início da série, em 2002. Como tem sido destacado nos últimos relatórios, o aumento de preços está diretamente relacionado à forte expansão da demanda internacional, devido à PSA. Outrossim, a demanda doméstica, como de costume, esteve aquecida nos últimos meses do ano – em especial por atacadistas que buscam formar estoques para atender ao aumento do consumo. Quanto à produção anual, é esperado crescimento de 3,04% em 2019.

Ao longo do ano, a produção de ovos registrou oscilações atípicas, conforme pontua a equipe Ovos/Cepea, atribuídas a altas temperaturas registradas em alguns períodos do ano, que afetaram a vida útil do produto e aumentaram a mortalidade de poedeiras. Ainda assim, espera-se que a produção anual cresça 6,86%. Os preços, por sua vez, tiveram aumento real de 5,72% na comparação entre períodos. Os resultados positivos estão associados à maior procura pelo produto, como resposta ao aumento dos preços das carnes.

Por fim, para a bovinocultura do leite, é esperado aumento de 8,63% do faturamento anual. De acordo com a equipe Leite/Cepea, durante o primeiro semestre do ano a oferta de leite permaneceu restrita, o que acirrou a disputa pela matéria-prima entre as indústrias de laticínios – efeito que se estendeu pelos demais meses. A combinação desses dois fatores elevou em 5,03% os preços reais, na comparação entre janeiro e novembro de 2018 e de 2019. Já a projeção de produção anual é de crescimento de 3,43%.

Figura 3. Pecuária: Variação anual dos preços e do faturamento 2019/2018 com informações de novembro/2019

SEGMENTO INDUSTRIAL: Agroindústria apresenta bom desempenho

O segmento agroindustrial registrou alta de 1,17% em novembro, com elevação de 0,49% para a indústria de base agrícola, e de 3,80% para a de base pecuária. No acumulado de janeiro a novembro, o segmento agroindustrial cresceu 3,93%, com alta de 1,10% na indústria de base agrícola e aumento de 15,77% na de base pecuária (Tabela 1 a 3).

Na indústria de base agrícola, espera-se alta de 0,16% no faturamento anual, resultado do avanço de 0,71% na produção média ponderada do segmento, porém com queda de 0,54% nos preços médios. Para a indústria de base pecuária, espera-se elevação de 9,05% no faturamento, resultado de preços 7,39% maiores, como também de aumento na produção em 1,55%, em média.

As indústrias de base agrícola para as quais se espera crescimento do faturamento em 2019 são: açúcar, bebidas, biocombustíveis (etanol), conservas de frutas/legumes/outros vegetais, moagem e fabricação de produtos amiláceos, produtos de madeira e vestuários (natural). Para as demais indústrias, as perspectivas são de redução de faturamento em 2019: celulose e papel, indústria de café, móveis de madeira, óleos vegetais, outros produtos alimentares, produtos do fumo, têxtil (natural) (Figura 4).

Para a indústria do açúcar, a expansão no faturamento esperado (11,2%) é reflexo dos aumentos tanto nos preços (7,14%) - na comparação de janeiro a novembro de 2019 frente ao mesmo período do ano anterior - quanto na produção esperada para o ano (3,82%). De acordo com a Conab, a elevação na produção deriva do incremento, em 4,4%, da produção total de ATR, na comparação entre safras. Com relação aos preços, a equipe Açúcar/Cepea evidencia que a maior demanda e a menor oferta impulsionaram as cotações.

Figura 4. Agroindústrias de base agrícola: variação anual do volume, preços reais e faturamento das indústrias agrícolas acompanhadas

Para a indústria de biocombustível, o crescimento no faturamento esperado, de 5,3%, é devido apenas à projeção de maior produção (7,21%) para o ano, uma vez que há uma redução nos preços reais de 1,81% na comparação entre períodos. De acordo com Conab, a alta na produção é reflexo da maior alocação da cana-de-açúcar para a produção de etanol e das elevações na produção do etanol de milho (114,0%). De acordo com a equipe Etanol/Cepea, os menores preços no cenário geral de 2019 estão relacionados à maior oferta do etanol. Porém, ao longo do ano, a queda dos preços na comparação entre períodos foi sendo amenizada, com o patamar médio de preços de 2019 se aproximando do registrado em 2018. Esse movimento pode ser atribuído à demanda mais aquecida, influenciada pela vantagem do biocombustível frente à gasolina C nas bombas.

Na indústria de óleos vegetais, a projeção de menor faturamento anual (-8,86%) é reflexo das reduções tanto na produção  anual  esperada  (-2,5%)  como  nos  preços  reais  (-6,52%) na comparação entre períodos. Apesar dos maiores valores registrados nos últimos meses, eles ainda estão em patamares inferiores aos observados em 2018. De acordo com a equipe Grãos/Cepea, o aumento da mistura de biodiesel ao óleo diesel (B11) elevou a liquidez do óleo de soja no Brasil. Adicionalmente, a equipe destaca que o preço do óleo de soja em novembro alcançou a maior média mensal desde dezembro de 2016, em termos reais.

Para a indústria de celulose e papel, a redução no faturamento esperado é de 2,00%, reflexo apenas da redução na produção esperada de 4,12%, uma vez que houve aumento nos preços reais de 2,03% na comparação entre períodos. Agentes do setor apontam que a redução da demanda internacional tem influenciado as quedas de preços nos últimos meses, apesar dos maiores patamares dos preços de 2019 frente a 2018. Adicionalmente, especialistas apontam que a baixa só não é maior devido à sustentação dos preços do papel pela desvalorização do Real frente ao Dólar, uma vez que tem se observado redução nas cotações da celulose.

No caso da indústria de café, a queda esperada no faturamento, de 10,96%, reflete a baixa dos preços em 12,19% na comparação entre períodos, ao passo que se espera maior produção, com alta de 1,4%. Segundo analistas do Cepea e a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), a baixa qualidade e as menores cotações do café ao produtor, devido à maior oferta mundial do grão, fizeram com que a indústria também reduzisse seus preços.

No segmento industrial da pecuária, destaca-se as atividades de abate e preparação de carnes e pescado, cuja projeção de crescimento para o faturamento anual é de 13,18%. O  bom desempenho da pecuária brasileira se expande pelos demais elos da cadeia. Assim, a indústria de abate tem sido igualmente beneficiada pelo aumento das exportações para países afetados pela PSA, com destaque para a China, principal destino da carne brasileira. Para atender à demanda incremental, foram habilitados novos frigoríficos. Contudo, o aumento da produção anual esperada (2,19%) não foi suficiente para frear o avanço dos preços (10,80%) na comparação entre janeiro e novembro de 2018 com o mesmo período de 2019. Em novembro, os preços das principais carnes (bovinos, frangos e suínos) atingiram os maiores valores nominais do ano. É comum que os preços aumentem nos últimos meses do ano, devido à maior demanda, mesmo para formação de estoques. Nesse ano, com o impulso da demanda externa, a alta de preços no final de ano esteve bem acima da sazonal esperada.

Já a indústria de laticínios deve apresentar um crescimento mais modesto de seu faturamento em 2019: 1,02%. Na comparação com 2018, entre janeiro e novembro, houve crescimento de 0,22% dos preços reais. Em termos nominais, os preços chegaram ao menor patamar do ano em novembro. Já a projeção de crescimento da produção anual é de 0,80%. De acordo com a equipe Leite/Cepea, ao longo do ano, houve um esforço contínuo da indústria para não repassar a alta dos preços da matéria-prima para o consumidor como forma de preservar seu mercado, haja visto o consumo limitado, devido à queda no poder de compra da população.                                                                                                                                 

Tabela 5. Agroindústrias de base pecuária: variação anual do volume, preços reais e faturamento das indústrias pecuárias acompanhadas

SEGMENTO DE SERVIÇOS: serviços agrícolas e pecuários continuam crescendo em novembro

Como observado na Tabela 1, o PIB do segmento de agrosserviços do agronegócio brasileiro aumentou novamente em novembro: 1,71%. No mês, o segmento de serviços agrícolas cresceu 0,38%, e o de serviços pecuários expandiu expressivos 4,64%. Com isso, no acumulado de janeiro a novembro, os agrosserviços cresceram 4,57%.

Mesmo tendo apresentado altas em outubro e novembro, no acumulado do ano, o PIB dos serviços agrícolas continuou com redução, de 1,59%. Como destacado em relatórios anteriores, os menores preços agrícolas, dentro e depois da porteira, e o ainda fraco desempenho da produção agroindustrial, pressionaram o PIB do segmento de serviços do ramo ao longo de 2019.

Por outro lado, os serviços pecuários acumularam forte expansão de 19,96% nos 11 primeiros meses de 2019. Os maiores preços e a expansão da produção nas cadeias pecuárias, puxados sobretudo pelo desempenho das exportações, impulsionaram a demanda por serviços como armazenamento, transporte, comercialização, entre outros – o que explica a forte expansão do PIB do segmento de serviços pecuários.

CONCLUSÕES

O PIB do agronegócio brasileiro cresceu 2,36% no acumulado dos 11 primeiros meses de 2019 – após aumentar em novembro pelo segundo mês consecutivo. O resultado decorre de comportamentos opostos entre os ramos. O ramo agrícola, mesmo com elevação de 0,29% em novembro, manteve queda de 3,06% no acumulado do ano. Já o ramo pecuário seguiu em forte crescimento, acumulando alta de 17,19% no ano e de 3,62% em novembro.

No ramo agrícola, mesmo com a melhora do PIB da agroindústria desde outubro, os resultados continuam pressionados pela forte queda da renda gerada dentro da porteira. Vale destacar que essa queda dentro da porteira, ou no segmento primário agrícola, não decorre de um desempenho pouco satisfatório dos agentes do agronegócio – em média, em 2019, espera-se uma expansão de 1,82% do volume produzido frente a 2018. No ano passado, o volume produzido já havia crescido 1%, depois de ter aumentado expressivos 14,1% em 2017.  A baixa no PIB do segmento na parcial de 2019 reflete, então, uma combinação de queda de preços com maiores custos de produção, que pressionam a renda.

Seguindo o movimento dos meses anteriores, o ramo pecuário continuou crescendo significativamente, em todos os seus segmentos. O principal motivo continua sendo a ocorrência de PSA nos países asiáticos e o consequente aumento das importações chinesas de carnes suína, bovina e de aves, que têm favorecido as exportações brasileiras. Ademais, especificamente em novembro, esse movimento foi reforçado pela melhora sazonal da demanda interna, que tipicamente se eleva nos finais de ano.

ANEXO I – Evolução mensal do PIB DO AGRONEGÓCIO

A1) PIB do Agronegócio: Taxas de variação mensal e acumulado do período (em %)

A2) PIB do Agronegócio: Participações dos segmentos (em %)

A3) PIB Volume do Agronegócio: Taxa anual (em %)*

  • Nota técnica: O PIB Volume do Agronegócio trata-se do PIB do agronegócio calculado pelo critério de preços constantes. Resulta, portanto, a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.

A4) PIB DO AGRONEGÓCIO - METODOLOGIA

O Relatório PIB do Agronegócio Brasileiro é uma publicação mensal resultante da parceria entre o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (FEALQ). O agronegócio é entendido como a soma de quatro segmentos: insumos para a agropecuária, produção agropecuária básica (ou primária), agroindústria (processamento) e agrosserviços – como na Figura que segue. A análise desse conjunto de segmentos é feita para o ramo agrícola (vegetal) e para o pecuário (animal). Ao serem somados, com as devidas ponderações, obtém-se a análise do agronegócio.

Pelo critério metodológico do Cepea/Esalq-USP, o PIB do agronegócio é medido pela ótica do produto, ou seja, pelo Valor Adicionado (VA) total deste setor na economia. Ademais, avalia-se o VA a preços de mercado (consideram-se os impostos indiretos menos subsídios relacionados aos produtos). O PIB do agronegócio brasileiro refere-se, portanto, ao produto gerado de forma sistêmica na produção de insumos para a agropecuária, na produção primária e se estendendo por todas as demais atividades que processam e distribuem o produto ao destino final. A renda, por sua vez, se destina à remuneração dos fatores de produção (terra, capital e trabalho).

Após estimado o valor do PIB do agronegócio no ano-base, que desde janeiro/17 refere-se ao ano de 2010, parte-se para evolução deste valor de modo a se gerar uma série histórica, por meio de um amplo conjunto de indicadores de preços e produção de instituições de pesquisa e governamentais. Seja para a estimação anual do valor do PIB, ou para as reestimativas mensais das previsões anuais, consideram-se informações a respeito da evolução do Valor Bruto da Produção (VBP) e do Consumo Intermediário (CI) dos segmentos do agronegócio. Pela evolução conjunta do VBP e do CI, estima-se o crescimento do valor adicionado pelo setor. 

Com base nos procedimentos mencionados e processos adicionais realizados pelo Cepea, os cálculos do PIB do agronegócio resultam em dois indicadores principais, que retratam o comportamento do setor por diferentes óticas:

•          PIB-renda Agronegócio (equivale ao PIB divulgado anteriormente pelo Cepea): reflete a renda real do setor, sendo consideradas no cálculo variações de volume e de preços reais, sendo estes deflacionados pelo deflator implícito do PIB nacional.

•             PIB-volume Agronegócio: PIB do agronegócio pelo critério de preços constantes. Resulta daí a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.

Mensalmente, o foco de análise principal é o PIB-renda Agronegócio, que reflete a renda real do setor. Por conveniência textual, o PIB-renda do agronegócio é denominado apenas como PIB do Agronegócio ao longo deste relatório. Destaca-se que as taxas calculadas para cada período consideram igual período do ano anterior como base, exceto para as quantidades referentes às safras agrícolas, para as quais computa-se a previsão de safra para o ano (frente ao ano anterior).

Importante também destacar que cada relatório considera os dados disponíveis – preços observados e estimativas anuais de produção – até o seu fechamento. Em edições futuras, ao serem agregadas informações mais atualizadas, há a possibilidade, portanto, de ocorrer alteração dos resultados, tanto no que se refere ao mês corrente, como também ao que se refere a meses e anos passados. Recomenda-se, portanto, sempre o uso do relatório mais atualizado. Para uma análise mais detalhada dos aspectos metodológicos, bem como dos resultados dos demais indicadores (PIB volume, Consumo Intermediário, etc.) ver http://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx

[1] Contudo, destaca-se que, especificamente em novembro, foi registrado o menor preço nominal no ano. A queda, que se observa desde outubro, está parcialmente relacionada à formação de estoques em decorrência da redução de consumo pelos agricultores norte-americanos, devido às adversidades na última safra.

Áreas de atuação