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PIB do Agronegócio alcança participação de 26,6% no PIB brasileiro em 2020
O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), cresceu novamente no último mês de 2020 (2,06%). Deste modo, o PIB do setor avançou 24,31% em 2020[1], frente a 2019, e alcançou participação de 26,6% no PIB brasileiro (participação que era de 20,5% em 2019). Em valores monetários, o PIB do País totalizou R$ 7,45 trilhões em 2020, e o PIB do agronegócio chegou a quase R$ 2 trilhões.
Como apresentado em análises anteriores, o PIB do agronegócio cresceu lentamente em abril e em maio, devido aos impactos negativos da pandemia sobre diferentes atividades do setor. Mas, houve forte aceleração de junho em diante, culminando no crescimento recorde anual em 2020 observado.
Em 2020, o PIB teve alta para todos os segmentos do agronegócio, até mesmo para a agroindústria, que foi o segmento mais prejudicado pela pandemia. Como mostra a Tabela 1, as variações no ano foram de 6,91% para os insumos, 56,59% para o segmento primário, 8,72% para a agroindústria e 20,93% para os agrosserviços (Tabela 1).
É importante lembrar que a variação do PIB do agronegócio reflete a evolução da renda real do setor, logo, sendo consideradas variações tanto de volume quanto de preços reais. Esse conceito difere do adotado pelo IBGE no cálculo do PIB brasileiro, cujas variações refletem uma evolução apenas de volume. Exatamente por considerarem, conjuntamente, os crescimentos de volume e de preços reais, as variações do PIB do agronegócio e de seus ramos e segmentos podem apresentar magnitudes relativamente elevadas.
O excelente desempenho em 2020 foi registrado para os dois ramos do agronegócio. O PIB do ramo agrícola teve alta de 24,2%, e o do ramo pecuário, de 24,56% (Tabela 2 e Tabela 3). A Tabela 2 mostra os resultados do ramo agrícola. Os crescimentos do PIB dos segmentos do ramo entre 2019 e 2020 foram os seguintes: 5,17% para os insumos, 75,09% para o primário, 5,55% para a agroindústria e 18,91% para os agrosserviços (Tabela 2).
O cenário geral para o segmento primário agrícola, destaque em crescimento em 2020, é aquele já tratado nos relatórios anteriores: o importante crescimento do PIB refletiu os preços maiores na comparação com 2019 e a maior produção anual, com uma safra recorde de grãos e crescimentos também para o café, a cana-de-açúcar e o cacau.
Alguns pontos relevantes devem ser reforçados novamente. Primeiramente, que se tratou, em partes, de uma recuperação. A renda real do segmento primário agrícola recuou 20% de 2017 a 2019, mesmo com a produção tendo crescido quase 20%, devido ao movimento desfavorável de preços. Em segundo lugar, no caso de alguns grãos, o uso de modalidades de comercialização que envolvem venda antecipada tem sido intenso. Por isso, a maior parte dos produtores não se beneficiou ainda com a forte alta dos preços ao longo de 2020, pelo fato de que o aumento mais intenso ocorreu quando a maior parte da safra já havia sido negociada. Em terceiro lugar, os custos de produção também subiram, embora não nas mesmas proporções dos preços dos produtos.
A Tabela 3 mostra os resultados do ramo pecuário. Assim como no ramo agrícola, todos os segmentos cresceram em 2020: 10,56% para os insumos, 28,7% para o primário, 20,36% para a agroindústria e 25,36% para os agrosserviços.
Como já discutido em relatórios anteriores, o excelente resultado do PIB do ramo pecuário refletiu os maiores preços das proteínas frente a 2019 e a expansão da produção e abate de suínos e aves e da produção de ovos e leite. Mas, apesar dos preços maiores, o forte aumento nos custos de produção afetou negativamente as margens dentro da porteira e na agroindústria. Além dos insumos de alimentação, que estiveram expressivamente encarecidos já que os grãos operaram em patamares recordes, no caso da pecuária de corte, deve-se destacar também as fortes elevações do bezerro e do boi magro.
SEGMENTO DE INSUMOS: PIB dos insumos termina 2020 com alta de 6,91%
Em 2020, o PIB do segmento de insumos do agronegócio cresceu 6,91%; especificamente em dezembro, a alta foi de 1,76% (Tabela 1). No ramo agrícola, os crescimentos mensal e anual do segmento foram de 1,50% e 5,17%, respectivamente (Tabela 2). No ramo pecuário, por sua vez, as altas foram de 2,29% no mês e 10,56% no ano, desempenho impulsionado pela indústria de rações (Tabela 3). Entre as atividades que compõem o segmento, apenas a indústria de defensivos apresentou queda no faturamento anual – Ver Figura 1.
O faturamento da indústria de fertilizantes e corretivos de solo cresceu 10,65% em 2020, o que se atribui ao avanço de 11,51% da produção anual, uma vez que os preços reais, na comparação entre 2019 e 2020, recuaram 0,77%. Conforme apontado em relatórios anteriores, o desempenho favorável das principais commodities agrícolas impulsionou a rentabilidade do agricultor, que buscou investir em pacotes tecnológicos avançados, beneficiando-se da boa relação de troca.
Na indústria de máquinas agrícolas, o faturamento anual cresceu 5,61%, impulsionado pelo aumento de 6,20% da produção em 2020, pois os preços reais recuaram 0,56% em relação aos patamares de 2019. Embora a produção tenha sido diretamente impactada pela pandemia de Covid-19, já que as recomendações de distanciamento social implicaram a paralisação parcial ou total de muitas fábricas, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o excelente desempenho da agricultura permitiu que o produtor investisse na renovação da frota de máquinas agrícolas, tendo sido a maior renovação em anos.
Para a indústria de rações, houve avanço de 12,28% dos preços reais, na comparação entre 2019 e 2020, e crescimento de 1,50% da produção anual. O avanço dos preços reflete, por um lado, a valorização dos grãos, como soja e milho, que são importantes insumos para a produção de rações animais. Ademais, o excelente desempenho das exportações brasileiras de carnes ao longo do ano estimulou a demanda e então a produção nacional de ração animal. Cabe ressaltar que o avanço dos preços da ração colaborou para pressionar a margem de pecuaristas em diferentes atividades, dada a sua representatividade sobre os custos de produção.
SEGMENTO PRIMÁRIO: crescimento do PIB agropecuário atinge recorde em 2020
O PIB do segmento primário do agronegócio teve alta 4,29% em dezembro, acumulando crescimento recorde de 56,59% em 2020 (Tabela 1). O crescimento mais expressivo foi observado para o primário de base agrícola (75%), mas o primário de base pecuária também cresceu (28,7%) – Tabelas 2 e 3. Como discutido em relatórios anteriores, o crescimento do PIB do segmento primário da pecuária não foi maior devido ao aumento dos custos com insumos, em especial os gastos com alimentação.
Para o segmento primário agrícola, o faturamento cresceu 33% em 2020, refletindo as altas de 28,4% dos preços reais e de 3,7% da produção, considerando as variações médias ponderadas das culturas acompanhadas. Entre os produtos agrícolas, os destaques em termos de altas de preços no período foram: arroz, milho, soja, trigo e café. Quanto à produção, as safras foram maiores em 2020 para algodão, arroz, cacau, café, cana, feijão, milho, soja, trigo e madeira para celulose.
Para o segmento primário da pecuária, considerando a média das atividades acompanhadas, houve alta de 22,3% nos preços e leve queda de 0,48% na produção, na comparação entre 2019 e 2020. Como destacado em relatórios anteriores, a redução da produção média do segmento reflete exclusivamente o comportamento para o boi gordo, haja vista os aumentos para suínos, ovos, leite e frango. Como resultado, o faturamento anual da atividade cresceu 21,72%.
As Figuras 2 e 3 e a Tabela 4 detalham os resultados específicos do segmento por atividades agrícolas e pecuárias. Entre as culturas do segmento primário agrícola acompanhadas, houve um crescimento de faturamento em 2020 para: algodão, arroz, banana, cacau, café, cana-de-açúcar, feijão, milho, soja, tomate, trigo, uva e madeira para celulose. Já as culturas para as quais houve queda no faturamento são: batata, fumo, laranja, mandioca, madeira em tora e lenha e carvão.
Dentre as culturas em que se observou crescimento do faturamento anual, destaca-se o caso do arroz, em que o avanço de 71,87% no faturamento foi explicado pela elevação nos preços, de 61,11%, e na produção, de 6,68%, na comparação entre 2019 e 2020. De acordo com a Conab, a expansão da produção foi resultado das condições climáticas que favoreceram os ganhos produtivos, haja vista a redução da área – como vem acontecendo nas últimas safras. Apesar da menor área destinada à cultura nos últimos anos, a maior proporção do plantio de arroz irrigado (maior produtividade se comparado ao arroz sequeiro) tem permitido a manutenção da produção ajustada ao consumo nacional. A Companhia aponta que as lavouras das principais regiões produtoras, sobretudo no Rio Grande do Sul, tiveram um bom desempenho no ano. Com relação aos preços do arroz, a equipe Arroz/Cepea aponta que a demanda esteve mais ativa em boa parte de 2020, e a busca pelo abastecimento acirrou a disputa pelo produto, resultando em forte elevação nos preços, especialmente no segundo e terceiro trimestres. Os elevados valores internos do arroz chegaram a estimular ações importantes, como a liberação da importação de 400 mil toneladas de fora do Mercosul com isenção da Tarifa Externa Comum (TEC), divulgada em setembro pelo Governo Federal. Esta medida não foi suficiente para causar mudanças expressivas de preços no curto prazo, devido à paridade de importação elevada por conta do dólar alto e à disponibilidade restrita do produto no Brasil. Ainda assim, uma acomodação dos preços foi verificada nos últimos três meses do ano.
Com relação à cultura do trigo, a alta de 56,62% do faturamento anual foi reflexo do aumento de 29,49% nos preços reais e do crescimento de 20,95% da produção, entre 2019 e 2020. De acordo com a Conab, o aumento da produção da principal cultura de inverno no país esteve relacionado ao expressivo incremento de área e à melhor produtividade. A Companhia aponta que a expansão da área foi reflexo dos preços atrativos e do comportamento do clima, que incentivaram o cultivo no sul do país. Destaca-se que os ganhos de produtividade foram considerados satisfatórios mesmo com a ocorrência de intempéries climáticas – geadas e escassez de precipitações na região sul e sudeste e escassez de precipitações em algumas localidades no Centro-Oeste. Com relação aos preços, a equipe Trigo/Cepea evidencia que a alta foi reflexo especialmente do seu comportamento no primeiro semestre, influenciado pela desvalorização do Real frente ao dólar, pelo período de entressafra no Brasil e na Argentina e pela alta dependência das importações (escassez de trigo no mercado doméstico e firme demanda interna). Em geral, de setembro a dezembro as cotações foram pressionadas para baixo; inicialmente, pelo início da colheita da safra brasileira e, depois, pela retração da demanda, uma vez que compradores estavam atentos à finalização da colheita e a espera de novas desvalorizações do cereal.
Para o café, o aumento dos preços (21,90%) e da produção (27,92%) na comparação entre 2019 e 2020 explicam o crescimento do faturamento (55,94%) anual. Segundo a Conab, apesar do crescimento da área, o aumento da produção foi reflexo principalmente dos efeitos, sobre a produtividade, dos investimentos em tecnologias, das melhorias no manejo da cultura, da erradicação de áreas pouco produtivas, do uso de materiais genéticos com maior potencial produtivo, da bienalidade positiva e das boas condições climáticas. No que tange aos preços, a equipe Café/Cepea apresenta que as cotações domésticas subiram no primeiro trimestre do ano (entressafra e oferta restrita de cafés finos da safra 2019-2020, desvalorização cambial, impactos da pandemia na cadeia do café nos países produtores e aceleração do consumo dos estoques de passagem nos países consumidores) e nos meses de julho e agosto (demanda firme, valorização externa do grão e desvalorização cambial). Já em setembro e em outubro, as cotações foram pressionadas para baixo pela queda dos preços internacionais – reflexo da fase de finalização da colheita da safra 2020/21 no país (com consequente aumento da oferta no mercado externo), da volta das chuvas nos cafezais brasileiros e das preocupações quanto à demanda de café, influenciada pelos novos casos de Covid-19. Nos meses de novembro e de dezembro, os preços domésticos voltaram a avançar, impulsionados especialmente pela valorização externa dos futuros, diante de preocupações quanto ao clima nas principais regiões produtoras do mundo.
No caso do milho, o maior faturamento anual (50,72%) refletiu as altas nas cotações do produto (47,08%) e na produção (2,47%), na comparação entre 2019 e 2020. De acordo com a Conab, apesar de condições climáticas adversas terem limitado o potencial produtivo da cultura, a expansão da área e dos investimentos levou a uma produção recorde. Com relação à produtividade, a Companhia aponta que: problemas climáticos na região sul prejudicaram o potencial do milho primeira safra; o atraso da semeadura e o quadro climático da região centro-sul fizeram com que as lavouras de algumas regiões não conseguissem expressar todo o seu potencial produtivo na segunda safra; e, para a terceira safra, o quadro climático proporcionou boa produtividade. No que se refere aos preços, a equipe Milho/Cepea aponta que no primeiro trimestre do ano e em maio, a elevação esteve relacionada à maior demanda, à disponibilidade restrita e às incertezas quanto ao desenvolvimento da segunda safra. Entre julho e outubro, a alta foi influenciada pela desvalorização do Real frente ao dólar, pelas firmes demandas externa e interna, pela elevação do frete, pelo baixo interesse de vendedores em negociar grandes lotes e pelo avanço nos preços internacionais, com as cotações domésticas renovando as máximas reais da série do Cepea em outubro. Em novembro, as negociações foram lentas e os valores do milho tiveram movimentos distintos entre as regiões e, em dezembro, os preços na região dos portos, e consequentemente no interior do País, foram pressionados para baixo pela valorização do Real frente ao dólar.
Para a soja, os aumentos na produção, de 4,28%, e nos preços, de 43,96%, explicam o avanço de 50,12% no faturamento – comparações entre 2019 e 2020. Segundo a Conab, a produção de soja atingiu recorde histórico na safra passada, reflexo da expansão da área e dos ganhos produtivos, com importantes estados produtores apresentando produtividade recorde (com condições climáticas favoráveis). Esse resultado foi mantido apesar das adversidades climáticas que resultaram em quebras de safra no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Para os preços, a equipe Soja/Cepea aponta que os mesmos avançaram rapidamente principalmente de julho em diante. Esse período foi marcado pela firme demanda, tanto das indústrias brasileiras quanto de importadores, e pelo baixo excedente interno. Entre setembro e outubro, os preços foram impulsionados também pela valorização externa, devido à redução na produção dos Estados Unidos, e pelo cultivo tardio no Brasil. Em novembro, somaram-se a esse cenário as irregularidades climáticas na América do Sul e a maior procura por parte da China e da União Europeia, com as cotações renovando a máxima real da série do Cepea. Já em dezembro, as cotações foram pressionadas para baixo pela valorização do Real frente ao dólar, pelos recuos dos prêmios de exportação no Brasil, pelas baixas dos futuros da soja e dos derivados na CME Group, pela melhora nas condições climáticas na América do Sul e pela menor demanda.
Com relação à cultura do algodão, a expansão de 13,28% no faturamento foi reflexo da alta nos preços reais (8%) e do crescimento na produção (4,88%), entre 2019 e 2020. De acordo com a Conab, o incremento de área, os grandes investimentos feitos no setor e as boas condições climáticas proporcionaram uma produção recorde da cultura. No que tange aos preços, o aumento reflete sobretudo o seu comportamento a partir do mês de junho, tendo em vista o impacto negativo da pandemia em abril e maio. Segundo a equipe Algodão/Cepea, em julho, as cotações foram impulsionadas devido à menor oferta no mercado spot (priorização do cumprimento de contratos) e à demanda ligeiramente aquecida (algumas empresas estiveram mais ativas na busca por novos lotes). Entre agosto e novembro, as cotações também subiram, reflexo da posição firme de vendedores, que priorizaram o cumprimento de contratos a termo, especialmente para exportação, e a realização de novos negócios internacionais, visto a paridade de exportação favorável. Em outubro, os preços atingiram patamares recordes nominais da série histórica do Cepea, recorde, esse, que foi renovado novamente em novembro. No mês de dezembro, as cotações foram pressionadas para baixo e o ritmo negociações envolvendo algodão em pluma no mercado spot foi lento.
No caso da cana-de-açúcar, a expansão no faturamento foi de 10,61%, reflexo da produção 3,48% maior e do aumento de 6,89% nos preços reais, na comparação entre 2019 e 2020. A elevação nas cotações foi reflexo sobretudo do comportamento altista para o açúcar, como será retratado posteriormente nesse relatório. Para a produção, a Conab aponta que a expansão foi resultado dos incrementos na área e na produtividade – influenciada por investimentos em tecnificação, melhorias de manejo e clima favorável (especialmente no início do período de desenvolvimento).
Para a banana, o ligeiro crescimento de 3,62% no faturamento foi reflexo do aumento de 9,72% nos preços e da redução de 5,56% na quantidade produzida, entre 2019 e 2020. Segundo a equipe Hortifrúti/Cepea, as áreas destinadas à cultura permaneceram praticamente estáveis em 2020 nas regiões de média/alta tecnologia, e a menor produção decorreu da queda na produtividade, com problemas climáticos (seca, ciclone e granizo) nas principais regiões produtoras. Com relação aos preços, segundo a equipe, houve queda de abril a junho, devido ao ritmo dos negócios afetados pela quarentena, ao menor poder de compra dos comerciantes e à intensificação da colheita. Em agosto e setembro, as cotações subiram devido à menor oferta – entressafra nas principais regiões produtoras e ciclone bomba e frentes frias e chuvas de granizo em Santa Catarina. E em dezembro, as cotações novamente subiram devido à menor oferta, cenário que não é comum para esta época do ano e resultou da estiagem nas principais regiões produtoras – Vale do Ribeira (SP) e Norte de Santa Catarina – e do ciclone extratropical em Santa Catarina.
Entre as culturas com queda no faturamento em 2020, frente a 2019, destacam-se as que compõem a hortifruticultura. Para a batata, a redução no faturamento (-12,92%) decorreu da menor produção (-4,52%) e dos menores preços reais (-8,80%). De acordo com a equipe Hortifrúti/Cepea, a desvalorização das cotações no período analisado só não foi maior por causa da acentuada quebra de safra na temporada das secas no Sul do País. Com relação à laranja, o menor faturamento (-3,37%) foi reflexo da menor produção (-10,61%), visto o aumento dos preços reais (8,09%). De acordo com a equipe Hortifrúti/Cepea, os preços caíram de abril a junho devido ao menor ritmo de comercialização (desaceleração da demanda no período de quarentena, clima mais ameno em maio e processamento industrial reduzido), à intensificação da oferta de laranjas precoces e à menor qualidade das frutas (ausência de chuva) nos pomares paulistas. O movimento de queda foi interrompido em julho, com os valores apresentando altas a partir de então. Em geral, essa tendência altista refletiu a demanda industrial mais aquecida e a menor produção na temporada, com a firme demanda para mesa em momentos mais quentes contribuindo para a elevação em períodos específicos. Adicionalmente, segundo a equipe, no segundo semestre de 2020, o movimento de alta nos valores foi reforçado pela seca e pelas altas temperaturas, que restringiram a oferta de frutas de qualidade no mercado in natura.
Para o segmento primário de base pecuária, conforme mostra a Figura 3, todas as atividades acompanhadas apresentaram crescimento de faturamento anual em 2020, com elevação importante para a produção de suínos e de boi gordo em virtude das expressivas altas de preços reais.
Para a suinocultura, o faturamento aumentou 41,51% em 2020. A produção cresceu 7,65%, e destaca-se o importante avanço observado nos preços reais, de 31,46%. Conforme destaca a equipe Suíno/Cepea, as incertezas que assolaram as economias mundiais, causadas pela pandemia de covid-19, também se fizeram presentes no setor suinícola brasileiro. Entre março e abril, observou-se forte queda de preços do suíno vivo em virtude da imposição de medidas restritivas sobre a atividade econômica. Essa queda se atribuiu à redução de liquidez no mercado, com aumento dos estoques das indústrias e, consequentemente, redução da demanda por animais vivos para abate. A partir de maio, contudo, o comportamento dos preços sofreu uma inflexão, passando a crescer em função do crescimento das exportações – tendo a China como principal destino – e do consumo doméstico, impulsionado pela retomada gradativa de atividades econômicas, pelo aporte financeiro do auxílio emergencial e pelo alto patamar de preços da carne bovina. Em setembro, os preços reais registraram recorde na série histórica do Cepea, que foi renovado nos meses que se seguiram. Apesar disso, ressalta-se que o poder de compra do suinocultor frente aos insumos de alimentação recuou relativamente a 2019, o que afetou as margens do produtor.
Para a bovinocultura de corte, o faturamento anual cresceu expressivos 25,22% em 2020, impulsionado pela alta de 32,35% dos preços reais, na comparação entre 2019 e 2020, haja vista a redução de 5,38% da produção. Conforme a equipe Boi/Cepea, os preços da bovinocultura como um todo renovaram seus recordes em 2020 – em novembro, os preços do bezerro, do boi magro, da arroba do boi gordo e da carne atingiram recordes reais das suas respectivas séries históricas do Cepea. Esse resultado decorreu da combinação dos sucessivos recordes de exportações de carne brasileira com a oferta restrita de boi gordo em peso ideal para abate no pasto. Apesar dos patamares recordes da arroba do boi gordo, a margem do produtor foi pressionada ao longo de boa parte do ano, em virtude dos preços recordes dos animais de reposição (bezerro e boi magro); da alta do dólar, que encarece importantes insumos pecuários importados; e da alta dos insumos de alimentação, como milho e farelo de soja.
Ainda que com menor intensidade, o faturamento anual da avicultura de corte também cresceu em 2020, 9,98%, como resultado da combinação de alta de 7,86% dos preços reais e aumento de 1,96% da produção anual. Conforme a equipe Frango/Cepea, a crise desencadeada pela pandemia de Covid-19 afetou diretamente o poder de compra da população, que deu preferência ao consumo de carne de frango em detrimento das substitutas mais caras – bovina e suína. Ademais, o incremento de renda do auxílio emergencial contribuiu para impulsionar as vendas da carne avícola. Apesar do desempenho positivo, é importante ressaltar que, durante o ano, o poder de compra do avicultor também foi fortemente prejudicado, sobretudo, em virtude da disparidade entre a valorização dos preços do frango e dos preços dos insumos de alimentação (especialmente do milho e do farelo de soja).
Já para a avicultura de postura, o faturamento cresceu 18,71% em 2020, conduzido, principalmente, pela alta de 15,31% dos preços reais. A produção, por sua vez, aumentou 2,94%. Segundo a equipe Frango/Cepea, após recuarem sazonalmente no início do ano – redução de demanda causada por férias escolares e recesso –, os preços avançaram em função do período de Quaresma e do aumento dos pedidos de atacadistas e varejistas frente ao receio de escassez de alimentos pela população. Como resultado, em abril, os preços dos ovos registraram recorde real da série histórica do Cepea. A partir de abril, a procura diminuiu e os preços recuaram até o fim do penúltimo trimestre do ano, quando a restrição da oferta de ovos causada pela alta mortalidade de poedeiras (constantes ondas de calor) alavancou os preços. Apesar desse recuo, em 2020, o preço médio dos ovos registrou recorde real. Assim como visto para os demais pecuaristas, a alta dos custos de produção (em especial, com insumos de alimentação) também reduziu fortemente o poder de compra dos avicultores de postura – atingindo, em novembro, o pior patamar já registrado em toda a série histórica do Cepea.
O faturamento da atividade leiteira cresceu 11,19% em 2020, resultado da alta de 9,17% dos preços reais e do aumento de 1,85% da produção. Conforme a equipe Leite/Cepea, o ano foi marcado por adversidades: de um lado, houve mudanças no comportamento dos consumidores diante da deflagração da pandemia; de outro, as intempéries climáticas prejudicaram a produção. Combinados, esses fatores culminaram na alta expressiva dos preços do leite no campo, renovando a máxima da série histórica em outubro de 2020. A disputa acirrada entre indústrias para obtenção da matéria-prima, frente ao aumento do consumo de lácteos da população – impulsionado sobretudo pelo incremento de renda a partir do auxílio emergencial – foi um fator importante para explicar a alta de preços de leite no campo.
SEGMENTO INDUSTRIAL: apesar das adversidades, agroindústria fecha 2020 com crescimento do PIB
Entre os segmentos do agronegócio, a agroindústria foi a mais afetada pelas medidas relacionadas à Covid-19, com forte queda da produção nos meses que seguiram à chegada da pandemia. Mas, como destacado em relatórios anteriores, de junho em diante foram observadas recuperações. Com isso, mesmo diante das adversidades, no acumulado de 2020 o PIB da agroindústria cresceu 8,72% (Tabela 1). Para a agroindústria de base agrícola, a alta foi de 5,55% e para a de base pecuária foi de 20,36% (Tabelas 2 e 3).
Na indústria de base agrícola, o faturamento expandiu 10,19% em 2020, com alta de 10,22% nos preços e produção praticamente estável frente a 2019 (-0,03%). Vale mencionar que a queda da produção desse segmento chegou a ser de -5,39% na comparação interanual avaliada em maio (janeiro a maio de 2020 frente a janeiro a maio de 2019). Para a indústria de base pecuária, o aumento no faturamento anual foi de 14,65%, com preços 19,39% maiores e queda de 3,97% na produção.
No acompanhamento feito pelo Cepea para a evolução do PIB, as indústrias de base agrícola para as quais houve crescimento do faturamento em 2020 foram, apenas: moagem e fabricação de produtos amiláceos, açúcar, óleos vegetais, produtos de fumo e produtos e móveis de madeira – as duas últimas, com apenas leve alta. Para todas as demais indústrias de base agrícola se observou queda do faturamento em 2020 (Figura 4).
Destaque é dado para a indústria do açúcar, em que o crescimento de 79,2% do faturamento em 2020 refletiu a alta de 27,6% nos preços reais e o aumento da produção, de expressivos 40,4%. Segundo a Conab, a expansão na produção esteve relacionada à maior quantidade de ATR destinada para o açúcar em detrimento do etanol – estratégia adotada pelo setor com o intuito de reduzir os impactos da crise que atingia o mercado nacional de biocombustíveis. Adicionalmente, a Companhia destacou a janela de oportunidades para o setor açucareiro brasileiro, devido: aos problemas de produção causados pela seca na Tailândia; às dificuldades com embarques de alguns países exportadores, como a Índia, como reflexo da pandemia; e à restrição das exportações por alguns países para priorizar o mercado interno (como ocorreu, por exemplo, na América Central). No que se refere aos preços, de modo geral, foram impulsionados pela projeção de déficit global (menor produção em importantes países produtores) e pela desvalorização cambial (que estimulou o aumento das exportações, e, consequentemente, reduziu a oferta no mercado spot). De acordo com a equipe Açúcar/Cepea, esse cenário se manteve mesmo com a maior produção brasileira. Na segunda quinzena de dezembro, as cotações foram pressionadas para baixo, interrompendo o cenário de alta que vinha sendo observado desde julho; a baixa demanda fez com que algumas usinas paulistas fossem mais flexíveis, negociando a valores mais baixos.
Com relação à indústria de óleos vegetais, os aumentos na produção, de 4,0%, e nos preços, de 43,1%, resultaram no avanço de 48,9% no faturamento entre 2019 e 2020. Segundo a equipe Soja/Cepea, apesar de a pandemia ter frustrado as expectativas para o início do ano, a partir de junho, as cotações do óleo foram impulsionadas pelo aumento da demanda. De agosto a outubro, indústrias relataram dificuldades na aquisição do produto, com algumas aproveitando a isenção de impostos de importação de soja de países fora do Mercosul para continuar abastecendo o mercado nacional. Já no mês de novembro, os preços de óleo de soja foram pressionados para baixo pelo aumento na importação desse subproduto e, em dezembro, a pressão veio da menor demanda doméstica, visto que grande parte dos consumidores se abasteceu para o médio prazo e não mostrou interesse em efetivar novas aquisições no final do ano.
No caso dos biocombustíveis, houve redução de 8,8% no faturamento em 2020, tendo em vista a produção anual 7,9% menor e a ligeira queda de 0,9% nos preços. A equipe Etanol/Cepea apontou que a redução nos preços foi reflexo principalmente da menor demanda na temporada, em decorrência da pandemia, e da queda nas cotações do petróleo, que pressionaram fortemente os preços sobretudo em março e abril. De maio em diante, em geral, as cotações se recuperaram com a volta gradativa do consumo, por conta da flexibilização das normas de restrição à mobilidade, e com a vantagem competitiva do biocombustível frente à gasolina C. No que se refere à produção, como já apontado, a Conab evidenciou que a redução se deveu à mudança de estratégia das unidades produtoras, em favor do açúcar.
Entre as agroindústrias de base agrícola, aquelas com as maiores quedas no faturamento em 2020 foram a de vestuários e acessórios (-23,2%) e a de conservas de frutas/legumes/outros vegetais (-26,2%).
Sobre a agroindústria de base pecuária, conforme se observa na Tabela 5, houve crescimento do faturamento anual para as atividades de abate e preparação de carnes e pescado e de laticínios. Por outro lado, a indústria de preparação de couros e calçados registrou importante queda do faturamento anual, o que se pode atribuir fortemente aos impactos causados pela pandemia.
Em 2020, o faturamento anual da indústria do abate e preparação de carnes e pescados cresceu 19,24%, o que foi devido ao aumento de 22,58% dos preços reais, uma vez que a produção recuou 2,48%. Esse resultado é similar ao observado no segmento primário de base pecuária.
Sobre a carne bovina, as indústrias foram beneficiadas pelo ritmo aquecido de exportações e pela desvalorização do Real frente ao dólar, o que propiciou importantes ganhos de receitas. Porém, para aquelas que atendem exclusivamente o mercado doméstico, os resultados foram menos favoráveis, devido ao patamar de preços que a matéria-prima atingiu, renovando a máxima da série histórica do Cepea, e à redução do poder de compra da população brasileira frente à crise desencadeada pela pandemia.
Os preços da carne suína registraram quedas acentuadas após a deflagração da pandemia, em resposta à redução do consumo que se deu a partir das recomendações de distanciamento social e decretos (municipais e estaduais) que restringiram a atividade econômica, em especial, aqueles relacionados à serviços de alimentação. Contudo, a partir de maio, fatores diversos culminaram no aumento da demanda – a retomada gradativa das atividades; o aumento do poder de compra da população beneficiada pelo auxílio emergencial; e o ritmo recorde de exportações. Ademais, houve momentos de baixa oferta de animais em peso ideal para abate. Como resultado, os preços da carne suína, assim como do animal vivo, renovaram recordes reais.
Para as carnes de aves, conforme pontua a equipe Frango/Cepea, a redução da demanda observada tradicionalmente no início do ano foi intensificada pelas restrições e recomendações de distanciamento social e interrupção de alguns serviços, como os de alimentação. Além disso, houve aumento da oferta de frango. Esses fatores implicaram pressão negativa sobre os preços, mesmo com parte da sobreoferta enxugada pelas exportações – que, embora não tenham sido protagonistas, tal como na bovinocultura e suinocultura, contribuíram com o escoamento. Nos meses seguintes, com a retomada gradativa das atividades econômicas, o incremento de renda do auxílio emergencial e os altos patamares das carnes substitutas, o consumo de carne de frango foi alavancado, fazendo com que os preços reagissem.
Para a indústria de laticínios, o faturamento anual cresceu 7,56% em 2020, devido ao aumento de 14,18% dos preços reais, haja vista a redução de 5,80% da produção frente a 2019. Conforme a equipe Leite/Cepea, a chegada da pandemia e suas consequências gerou grandes incertezas para o setor e, inicialmente, impactou negativamente os preços. A partir de maio, a concessão do auxílio emergencial causou um choque de demanda por derivados, fazendo com que os estoques fossem reduzidos abruptamente (leite UHT, muçarela e leite em pó) e que os preços assumissem comportamento altista, culminando em recorde em setembro. Esse cenário impulsionou os preços da matéria-prima e gerou disputas entre as indústrias. A partir de setembro, no entanto, com a crise econômica e os preços já muito elevados dos derivados lácteos, a demanda foi negativamente afetada.
SEGMENTO DE SERVIÇOS: Agrosserviços acumula alta em 2020
O PIB dos agrosserviços do agronegócio brasileiro cresceu 20,93% em 2020 (Tabela 1). O excelente resultado foi registrado tanto no ramo agrícola quanto no ramo pecuário, com crescimentos de 18,91% e 25,36%, respectivamente (Tabelas 2 e 3). Como destacado nos relatórios anteriores, o resultado positivo do PIB do segmento refletiu a continuidade do abastecimento do mercado doméstico, apesar dos problemas logísticos e dos desafios impostos pela pandemia, e o excelente desempenho em termos de exportações, implicando em grande uso de serviços de comércio, transporte e armazenagem. Ademais, com o forte desempenho dos segmentos a montante, em especial da agropecuária e da agroindústria da pecuária, também houve expansão da prestação de outros serviços às cadeias do agronegócio, como serviços financeiros, de comunicação, jurídicos, contábeis e de consultoria, entre outros.
Segundo o relatório Anual Fretebras 2020, focado no transporte rodoviário de cargas no Brasil, a pandemia causou importante queda nos fretes no segundo trimestre, mas houve forte retomada no terceiro e quarto trimestres. O relatório aponta o agronegócio como fundamental para essa retomada, com o volume dos fretes oriundos do setor tendo crescido 71,3% frente a 2019. De acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o valor das vendas do setor supermercadista teve aumento real de 9,36% em 2020 – provavelmente, muito relacionado às vendas de alimentos e bebidas.
CONCLUSÕES
O PIB do agronegócio brasileiro avançou 24,31% em 2020, frente a 2019, e alcançou participação de 26,6% no PIB brasileiro (participação que era de 20,5% em 2019). Em valores monetários, o PIB do País totalizou R$ 7,45 trilhões em 2020, e o PIB do agronegócio chegou a quase R$ 2 trilhões. O PIB do setor cresceu lentamente em abril e em maio, devido aos impactos negativos da pandemia sobre diferentes atividades do setor, mas houve forte aceleração de junho em diante, culminando nesse crescimento recorde observado.
Em 2020, o PIB teve alta para todos os segmentos do agronegócio, até mesmo para a agroindústria, que foi o segmento mais afetado pela pandemia. Especificamente, as variações no ano foram de 6,91% para os insumos, 56,59% para o segmento primário, 8,72% para a agroindústria e 20,93% para os agrosserviços. Ademais, o excelente desempenho foi registrado para os dois ramos: o agrícola teve alta de 24,2% e o pecuário, de 24,56%.
Como destacado em relatórios anteriores, para os agrosserviços, o resultado positivo do PIB refletiu, primeiramente, a continuidade do abastecimento do mercado doméstico pelo agronegócio e o excelente desempenho do setor em termos de exportações – implicando grande uso de serviços de comércio, transporte e armazenagem. Como apresentado nesse relatório, o volume dos fretes oriundos do agronegócio aumentou 71,3% em 2020, frente a 2019, segundo a Fretebras. O resultado positivo do PIB do segmento resultou também da expansão da prestação de outros serviços às cadeias do agronegócio, como serviços financeiros, de comunicação, jurídicos, contábeis e de consultoria, entre outros – refletindo o forte desempenho dos segmentos a montante.
Por sua vez, o cenário geral para o segmento primário do setor, destaque em crescimento em 2020, é aquele já tratado nos relatórios anteriores: o importante crescimento do PIB refletiu os preços maiores na comparação com 2019 e a maior produção anual, com uma safra recorde de grãos, safras maiores também para o café, a cana-de-açúcar e o cacau e expansão da produção de aves, suínos, ovos e leite.
Alguns pontos relevantes devem ser reforçados novamente. Primeiramente, no caso da agricultura, parte do expressivo crescimento se tratou de uma recuperação. A renda real do segmento primário agrícola recuou 20% de 2017 a 2019, mesmo com a produção tendo crescido quase 20%, devido ao movimento desfavorável de preços. Em segundo lugar, no caso de alguns grãos, o uso de modalidades de comercialização que envolvem venda antecipada tem sido intenso. Por isso, muitos produtores não se beneficiaram ainda com a forte alta dos preços ao longo de 2020, pelo fato de que o aumento mais intenso ocorreu quando a maior parte da safra já havia sido negociada. Em terceiro lugar, os custos de produção também subiram, embora não nas mesmas proporções dos preços dos produtos. A questão dos custos foi mais marcante na pecuária: além dos insumos de alimentação, que estiveram expressivamente encarecidos já que os grãos operaram em patamares recordes, no caso da pecuária de corte, deve-se destacar também as fortes elevações do bezerro e do boi magro.
Nota técnica: O PIB Volume do Agronegócio trata-se do PIB do agronegócio calculado pelo critério de preços constantes. Resulta, portanto, a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.
A4) PIB DO AGRONEGÓCIO - METODOLOGIA
O Relatório PIB do Agronegócio Brasileiro é uma publicação mensal resultante da parceria entre o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (FEALQ). O agronegócio é entendido como a soma de quatro segmentos: insumos para a agropecuária, produção agropecuária básica (ou primária), agroindústria (processamento) e agrosserviços – como na Figura que segue. A análise desse conjunto de segmentos é feita para o ramo agrícola (vegetal) e para o pecuário (animal). Ao serem somados, com as devidas ponderações, obtém-se a análise do agronegócio.
Pelo critério metodológico do Cepea/Esalq-USP, o PIB do agronegócio é medido pela ótica do produto, ou seja, pelo Valor Adicionado (VA) total deste setor na economia. Ademais, avalia-se o VA a preços de mercado (consideram-se os impostos indiretos menos subsídios relacionados aos produtos). O PIB do agronegócio brasileiro refere-se, portanto, ao produto gerado de forma sistêmica na produção de insumos para a agropecuária, na produção primária e se estendendo por todas as demais atividades que processam e distribuem o produto ao destino final. A renda, por sua vez, se destina à remuneração dos fatores de produção (terra, capital e trabalho).
Após estimado o valor do PIB do agronegócio no ano-base, que desde janeiro/17 refere-se ao ano de 2010, parte-se para evolução deste valor de modo a se gerar uma série histórica, por meio de um amplo conjunto de indicadores de preços e produção de instituições de pesquisa e governamentais. Seja para a estimação anual do valor do PIB, ou para as reestimativas mensais das previsões anuais, consideram-se informações a respeito da evolução do Valor Bruto da Produção (VBP) e do Consumo Intermediário (CI) dos segmentos do agronegócio. Pela evolução conjunta do VBP e do CI, estima-se o crescimento do valor adicionado pelo setor.
Com base nos procedimentos mencionados e processos adicionais realizados pelo Cepea, os cálculos do PIB do agronegócio resultam em dois indicadores principais, que retratam o comportamento do setor por diferentes óticas:
• PIB-renda Agronegócio (equivale ao PIB divulgado anteriormente pelo Cepea): reflete a renda real do setor, sendo consideradas no cálculo variações de volume e de preços reais, sendo estes deflacionados pelo deflator implícito do PIB nacional.
• PIB-volume Agronegócio: PIB do agronegócio pelo critério de preços constantes. Resulta daí a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.
Mensalmente, o foco de análise principal é o PIB-renda Agronegócio, que reflete a renda real do setor. Por conveniência textual, o PIB-renda do agronegócio é denominado apenas como PIB do Agronegócio ao longo deste relatório. Destaca-se que as taxas calculadas para cada período consideram igual período do ano anterior como base, exceto para as quantidades referentes às safras agrícolas, para as quais computa-se a previsão de safra para o ano (frente ao ano anterior).
Importante também destacar que cada relatório considera os dados disponíveis – preços observados e estimativas anuais de produção – até o seu fechamento. Em edições futuras, ao serem agregadas informações mais atualizadas, há a possibilidade, portanto, de ocorrer alteração dos resultados, tanto no que se refere ao mês corrente, como também ao que se refere a meses e anos passados. Recomenda-se, portanto, sempre o uso do relatório mais atualizado. Para uma análise mais detalhada dos aspectos metodológicos, bem como dos resultados dos demais indicadores (PIB volume, Consumo Intermediário, etc.) ver http://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx
[1] As variações do PIB do agronegócio discutidas nesse relatório são avaliadas pela ótica da renda real do setor (PIB-renda), considerando conjuntamente as evoluções de volume e de preços reais. As variações resultam, então, do deflacionamento do PIB nominal do agronegócio pelo deflator implícito do PIB total do Brasil, que é o índice de inflação utilizado pelo Cepea para deflacionamento do PIB. Em 2020, o PIB nominal do agronegócio cresceu 30,28%, e o deflator do PIB brasileiro variou 4,81%, resultando no crescimento real de 24,31% apresentado na Tabela 1. Na mesma comparação, 2020 frente a 2019, dados do IBGE mostram que o PIB brasileiro nominal cresceu 0,6%.