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Impulsionado por ramo agrícola, PIB do agronegócio cresce 5,35% no 1º trimestre de 2021
Depois de alcançar crescimento recorde no ano de 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), teve alta de 5,35% no primeiro trimestre de 2021 (Tabela 1).
Como se observa, entre os segmentos do agronegócio, o primário continuou se destacando, como já ocorreu no ano anterior. Mas, o PIB dos demais segmentos – insumos, agroindústria e agrosserviços – também avançou no primeiro trimestre do ano. Pela perspectiva dos ramos, nota-se que o excelente resultado para o agronegócio refletiu a alta do PIB do ramo agrícola (7,99%), tendo em vista que o PIB do ramo pecuário teve queda no período (1,96%).
No ramo agrícola, o expressivo crescimento do PIB do segmento primário (14,77%), ou da agricultura dentro da porteira, decorreu principalmente dos maiores preços reais. Esses aumentos de preços, além de marcarem quase todos os produtos agrícolas acompanhados, foram intensos. Ademais, a alta do PIB do segmento também foi reforçada pelo maior volume de produção esperado para 2021, impulsionado sobretudo pela soja. Por outro lado, o incremento importante dos custos com insumos atuou em direção contrária, limitando o crescimento do PIB do segmento primário agrícola. Esse aumento do custo com insumos, que, por um lado, pressiona o PIB da agricultura, se refletiu no avanço de 6,65% do PIB do segmento de insumos agrícolas.
Ainda no ramo da agricultura, também chama a atenção o forte crescimento do PIB dos agrosserviços (6,62%) – reflexo, especialmente, do excelente desempenho do campo e seu impacto sobre o uso de serviços de transporte, comércio, armazenagem, entre outros. Como exemplo, segundo o relatório trimestral da Fretebras, o volume de fretes rodoviários no Brasil no primeiro trimestre de 2021 aumentou expressivamente e foi puxado pelo agronegócio, sendo que os principais produtos transportados foram fertilizantes, soja e milho.
No ramo pecuário, os resultados mais modestos ou mesmo de queda do PIB entre os segmentos refletem dois fatores principais. Primeiramente, está a escassez de bovinos prontos para o abate, que tem limitado o impulso ao PIB via produção, mesmo com a expansão do volume produzido pelas demais atividades pecuárias (suínos, frangos para corte, ovos e leite). Em segundo lugar, o avanço muito intenso dos custos com insumos de produção está corroendo o PIB das cadeias pecuárias. Seja no campo ou nas agroindústrias de processamento, o custo com insumos subiu a taxas bastante superiores às observadas para o valor bruto da produção.
Especificamente, a escalada dos grãos e os preços elevados de medicamentos e de combustíveis pressionam expressivamente as margens no segmento primário da pecuária. Diante disso, o crescimento do PIB desse segmento se limitou a 2,54% no trimestre, mesmo com os preços altos das carnes, ovos e leite.
Nas agroindústrias, as valorizações dos animais vivos e de outros custos industriais, como combustíveis, embalagens, entre outros, somadas à dificuldade de repassar esses aumentos, sobretudo no mercado doméstico, também têm pressionado as margens. Nesse cenário, o PIB da agroindústria pecuária acumulou queda de 5,37% no primeiro trimestre do ano. Em sentido contrário, o PIB do segmento de insumos pecuários foi impulsionado pelos maiores preços das rações e cresceu 15,64%.
Considerando-se o desempenho até o momento do agronegócio e da economia brasileira como um todo, a participação do agronegócio no PIB total brasileiro pode ultrapassar os 30% em 2021.
SEGMENTO DE INSUMOS: Alta demanda da agropecuária impulsiona segmento de insumos no primeiro trimestre
O PIB do segmento de insumos do agronegócio cresceu 9,91% no primeiro trimestre de 2021 (Tabela 1). A alta mais expressiva foi registrada no ramo pecuário (15,64%), que foi impulsionado pela indústria de rações. O segmento de insumos agrícolas também avançou no trimestre (6,65%), neste caso, influenciado pelas maiores produções de defensivos, máquinas e fertilizantes e também pelos maiores preços para as duas últimas indústrias mencionadas (Tabela 1).
Em termos setoriais, conforme se observa na Figura 1, o faturamento esperado está menor apenas para a indústria de medicamentos para animais, entre as indústrias de insumos acompanhadas.
Para a indústria de fertilizantes e corretivos de solo, com informações até março, há projeção de alta do faturamento anual (24,46%), em virtude principalmente do aumento dos preços reais (23,99%) na comparação entre os primeiros trimestres de 2021 e de 2020. A oferta global restrita de fosfatados e o Real desvalorizado frente ao dólar foram os principais determinantes dessa valorização recente dos fertilizantes. Mas, de acordo com o Cepea, mesmo com esse aumento dos preços, a relação de troca seguiu favorável ao produtor de grãos. Para a produção anual de fertilizantes e corretivos de solo, se espera apenas sutil alta (0,38%). Apesar desse resultado, especialistas apontam para aumento do uso dos de fertilizantes, fundamentados no desempenho do setor agrícola brasileiro – o que deve ser captado nos próximos relatórios do PIB do agronegócio.
Para a indústria de defensivos, projeta-se crescimento de 17,62% do faturamento anual, impulsionado pelo aumento esperado da produção anual, em 27,80%. Em sentido contrário, os preços tiveram recuo real na comparação entre trimestres, de 7,97%. Segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), houve elevação considerável no volume aplicado de defensivos no primeiro trimestre deste ano, puxado pela maior área tratada. Esse avanço, de acordo com o Sindicato, está relacionado ao desempenho das safras de grãos no Brasil.
Para a indústria de máquinas agrícolas, espera-se crescimento importante de 59,22% no faturamento anual, resultante da combinação de alta de 14,38% dos preços reais, na comparação entre trimestres, e incremento esperado de 39,20% para a produção anual. De acordo com representantes do setor, a forte demanda por máquinas agrícolas, como tratores e colheitadeiras, reflete a capitalização dos produtores, diante da alta das commodities. Aqui ressalta-se que, dado o esgotamento dos recursos da linha Moderfrota no fim do ano passado, produtores têm recorrido a outras linhas de crédito.
Para a indústria de rações, o principal impulso ao faturamento anual esperado veio dos preços, que tiveram alta real de 93,94% na comparação entre os primeiros trimestres de 2020 e de 2021. Essa elevação expressiva, por sua vez, esteve atrelada à evolução dos valores dos grãos, como milho e soja, principais componentes das rações. Para a produção de rações, espera-se incremento de 2,10% no ano – refletindo a maior produção da pecuária brasileira esperada para 2021.
SEGMENTO PRIMÁRIO: PIB da agricultura avança, mas PIB da pecuária é prejudicado
pelos custos
Mantendo o protagonismo já verificado em 2020, o segmento primário do agronegócio continuou se destacando no primeiro trimestre de 2021. Especificamente, o PIB do segmento primário do setor cresceu 11,16% no período (Tabela 1). A alta foi puxada principalmente pelo segmento primário agrícola, que avançou expressivos 14,77%, diante dos maiores preços e produção no campo. Já o PIB do segmento primário pecuário teve elevação mais modesta, de 2,54%, com a agregação de valor sendo prejudicada pela forte alta dos custos com insumos.
No caso do primário agrícola, considerando-se a média ponderada das diversas culturas acompanhadas, espera-se aumento de 1,8% na produção em 2021, puxada sobretudo pela soja, mas com safras maiores esperadas também para arroz, banana, batata, fumo, milho, trigo e uva. No caso dos preços, também considerando uma média ponderada, o aumento real foi de 48,28% na comparação entre os primeiros trimestres de 2020 e de 2021 – com elevações intensas para quase todos os produtos acompanhados (as únicas exceções foram o fumo, a mandioca, o tomate, a uva e as madeiras). Então, o crescimento esperado no faturamento anual é de expressivos 50,94% para o segmento primário agrícola, quando consideradas informações dos primeiros trimestres de 2020 e de 2021. O reflexo desse aumento no PIB do segmento é amenizado pela elevação dos custos com insumos, sobretudo fertilizantes e sementes.
Para o segmento primário pecuário, também considerando a média ponderada das atividades acompanhadas, houve alta de 28,33% nos preços na comparação trimestral, com valorizações para todos os produtos acompanhados. Já para a produção esperada para o ano, a média ponderada indica queda de 1,52%, pressionada exclusivamente pela bovinocultura de corte, com incrementos para as demais atividades. Então, como reflexo dos bons preços, espera-se crescimento de 26,37% do faturamento anual do segmento. Ressalta-se que esse resultado não se transforma em aumento do PIB tendo em vista o avanço ainda mais expressivo do custo com insumos nessas atividades, diante da escalada dos grãos e dos preços elevados de medicamentos e de combustíveis.
As Figuras 2 e 3 e a Tabela 2 detalham os resultados específicos do segmento por atividades agrícolas e pecuárias. Entre as culturas do segmento primário agrícola acompanhadas pelo Cepea, esperam-se crescimentos de faturamento em 2021 para: algodão, arroz, banana, batata, cacau, cana-de-açúcar, feijão, laranja, milho, soja, trigo, uva e lenha e carvão. Já as culturas para as quais se esperam quedas no faturamento são: café, fumo, madeira em tora, madeira para celulose, mandioca e tomate.
Na cultura da soja, o aumento esperado no faturamento é de 91,48%, impulsionado pela alta de 76,54% nos preços reais, na comparação entre janeiro a março de 2020 e de 2021, e pela produção anual esperada 8,46% maior. De acordo com a Conab, a produção recorde esperada se deve à expansão da área destinada à cultura (4,2%) e aos ganhos produtivos (4,1%) – apesar dos problemas climáticos vivenciados pelas lavouras. Segundo a equipe Soja/Cepea, o aumento dos preços no primeiro trimestre do ano refletiu o ritmo lento da colheita no Brasil, as necessidades de cumprimento de contratos, especialmente ao mercado internacional, dificuldades logísticas, a valorização externa do grão e a depreciação do Real frente ao dólar.
Para o arroz, o maior faturamento esperado (66,61%) está atrelado às altas de 60,41% nas cotações do produto na comparação entre períodos e de 3,86% na produção esperada para o ano. Segundo a Conab, a maior produção está relacionada aos incrementos da produtividade (2,6%) e da área destinada à cultura (1,3%). A Companhia destaca que, devido à falta de água em algumas regiões do Rio Grande do Sul e aos elevados preços dos grãos que competem por área com a cultura do arroz (milho e soja), a expansão da área esteve abaixo do previsto. A equipe Arroz/Cepea também aponta que o aumento de área não foi expressivo visto que muitos produtores não dispunham de capital para elevar com força os investimentos operacionais e que havia incertezas sobre a dinâmica da demanda em 2021. Com relação aos preços, a equipe do Cepea evidencia que, no primeiro trimestre de 2021, as variações não foram muito expressivas. De um lado, produtores estiveram atentos ao início da colheita, sem muito interesse em novas vendas e cumprindo os contratos. De outro, houve certa pressão sobre os preços por parte de compradores, diante do baixo fluxo de vendas no varejo. Então, a forte elevação dos preços na comparação entre os primeiros trimestres de 2020 e de 2021 reflete sobretudo a escalada observada no segundo semestre do ano passado.
Para a batata, os maiores preços (56,43%) na comparação entre trimestres iguais e a expansão esperada da produção anual (4,99%) explicam o crescimento projetado para o faturamento real (64,24%). Segundo a equipe Hortifrúti/Cepea, apesar de estarem maiores frente ao primeiro trimestre de 2020, os preços médios de comercialização da batata caíram ao longo do primeiro trimestre de 2021. Esse movimento se deve à limitação da demanda, em decorrência das novas restrições relacionadas à covid-19, e à colheita da safra das águas no período.
No caso do milho, o maior faturamento esperado (53,30%) reflete a alta de 47,78% nos preços reais, na comparação entre períodos, e o crescimento de 3,73% esperado para a produção anual. Quanto à produção, segundo a Conab, o aumento decorre do maior volume esperado na segunda safra, visto que se projeta queda na primeira. O incremento está atrelado à maior área destinada à cultura, uma vez que se espera redução na produtividade, tanto para primeira quanto para a segunda safra. De acordo com a equipe Milho/Cepea, mesmo com o avanço da colheita da primeira safra, o preço do produto acumulou forte alta no primeiro trimestre do ano, atingindo recorde real em março. A alta esteve atrelada aos baixos estoques no primeiro semestre e ao atraso no semeio das lavouras de segunda safra.
Para o trigo, as elevações dos preços, na comparação entre janeiro a março de 2020 e de 2021 (37,26%), e da produção esperada do ano (6,49%) explicam a projeção de crescimento do faturamento (46,18%). De acordo com a Conab, a expansão da produção reflete as expectativas de maiores área destinada à cultura (4,9%) e produtividade (1,5%). Apesar do aumento nos preços no primeiro trimestre do ano, a equipe Trigo/Cepea aponta que as negociações no Brasil estiveram lentas, com produtores focados na colheita e na armazenagem da safra de verão. Ao mesmo tempo, restrições ao comércio em várias cidades também influenciaram a baixa liquidez.
Com relação à cultura do algodão, a elevação no faturamento anual esperado (22,98%) é reflexo, exclusivamente, dos maiores preços reais (51,14%) na comparação entre trimestres, visto que se espera importante queda da produção em 2021 (-18,63%). Segundo a Conab, a menor produção está relacionada principalmente à redução da área, fruto da retração do mercado ocorrida durante a pandemia de covid-19 em 2020, que provocou paralisação de vendas, renegociações e cancelamentos de contratos firmados, elevação de estoques mundiais de passagem e diversas incertezas. Com relação aos preços, a equipe Algodão/Cepea destaca que as cotações do algodão em pluma têm sido crescentes desde meados de 2020, com o valor de março deste ano sendo o maior da série história nominal do Cepea, iniciada em 1996. O impulso veio das elevações dos preços internacionais, que refletiram a demanda aquecida, da desvalorização do Real frente ao dólar e do aumento da paridade de exportação. Apesar do amplo excedente doméstico, o bom volume das vendas antecipadas, o ritmo aquecido de exportações e as expectativas de menor produção em 2021 fundamentaram a posição firme de vendedores. Do lado comprador, a recuperação do consumo em toda a cadeia têxtil foi acima das expectativas, também contribuindo para sustentar os preços.
No caso da banana, os maiores preços (16,06%), na comparação entre trimestres iguais, e a expansão esperada da produção anual (2,93%) explicam a alta projetada para o faturamento real (19,47%). De acordo com a equipe Hortifrúti/Cepea, o aumento dos preços ao longo do primeiro trimestre refletiu os entraves climáticos que prejudicaram a produção em importantes regiões, como o Norte de Santa Catarina e o Vale do Ribeira (SP). Ademais, produtores de Norte de Santa Catarina indicaram estar com a oferta muito baixa, por conta de ventanias, ciclone e granizos que atingiram os bananais em 2020. No Vale do Ribeira (SP), a colheita da safra foi iniciada em março, mas sem recuperação total do volume, devido à estiagem no ano anterior.
Para a cana-de-açúcar, a pequena expansão real esperada no faturamento (2,07%) é reflexo apenas da alta nos preços, de 6,36% na comparação entre janeiro a março de 2021 frente ao mesmo período de 2020, uma vez que se espera redução de 4,03% na produção. De acordo com a Conab, a queda na produção advém da projeção de menor produtividade da cana para esta safra e da diminuição da área. A perspectiva de redução na área reflete a concorrência com cultivos anuais, como soja e milho, com ótima rentabilidade recentemente. Já a produtividade pode ser afetada pelas oscilações das condições climáticas durante o ciclo da cultura em algumas regiões.
No caso da laranja, o faturamento esperado deve se manter praticamente estável (0,34%), reflexo das altas nas cotações do produto na comparação entre períodos (8,27%) e da redução esperada na produção anual (-7,33%). Segundo a equipe Hortifrúti/Cepea, o aumento dos preços na comparação anual esteve atrelado à menor produção de laranja no cinturão citrícola (estado de São Paulo e Triângulo Mineiro) na safra 2020/2021. Ainda assim, houve algum recuo das cotações frente ao final de 2020, devido, principalmente, às restrições de demanda por conta da pandemia durante um período de menor absorção industrial.
Para a cultura do café, a queda esperada no faturamento é de 5,74%, devido à menor produção anual esperada (-22,62%), visto os preços reais 21,83% maiores. Segundo a Conab, a menor produção é reflexo tanto da menor área destinada à produção, quanto da projeção de recuo na produtividade, devido às condições climáticas desfavoráveis no início do ciclo da cultura e à bienalidade negativa da safra, especialmente de arábica. Com relação aos preços, a equipe Café/Cepea evidencia que esses atingiram recordes nominais em março, mesmo diante das preocupações quanto ao consumo em meio à pandemia. A alta foi reflexo da desvalorização do Real frente ao dólar, da oferta restrita e das expectativas de quebra de produção em 2021/2022 – além da bienalidade negativa nas lavouras brasileiras de arábica, havia indicativos de que a safra da América Central também seria prejudicada pelo clima.
No caso do tomate, a redução de 11,46% esperada no faturamento é resultado dos preços reais 11,47% menores, na comparação entre trimestres, uma vez que não se projeta alterações significativas da produção anual. Segundo a equipe Hortifrúti/Cepea, os menores preços são resultado da maior oferta no período, de problemas na qualidade do tomate e da redução da demanda – também influenciada pelas novas restrições de funcionamento de diversos setores, com o intuito de desacelerar o avanço da covid-19.
A Figura 3 exibe o comportamento do segmento primário da pecuária. No primeiro trimestre de 2021, todas as atividades apresentaram variações positivas nas projeções de faturamento anual. O alto patamar de preços de carnes refletiu, ainda, a manutenção dos altos volumes de carnes embarcadas para Ásia, em decorrência, em partes, da Peste Suína Africana (da qual se tem novos registros); e, também, da competitividade das proteínas brasileiras, em virtude de o Real estar desvalorizado frente ao dólar.
Para a bovinocultura de corte, é esperado um crescimento de 25,62% do faturamento neste ano. Isso se deve à alta expressiva dos preços reais, de 38,55% na comparação entre o primeiro trimestre de 2021 e o mesmo período de 2020; haja vista a redução esperada de 9,34% da produção anual, com base em informações até março. Em geral, houve uma continuidade da dinâmica observada ao longo do último ano, conforme a equipe Boi/Cepea. Houve manutenção da demanda externa aquecida, com a maior parte dos embarques direcionados à China – país que, em março, voltou a registrar novos casos da PSA, depois de oito meses sem novos registros. Além disso, o Real permaneceu desvalorizado frente ao dólar. A oferta de animais para abate também seguiu baixa, o que deve se manter até o fim do primeiro semestre; no segundo, o aumento da oferta dependerá dos preços de reposição e dos insumos, que permanecem altos, ao ponto de comprometer a margem do produtor.
Para a avicultura para corte, projeta-se crescimento de 34,62% do faturamento anual, impulsionado pela alta de 28,25% dos preços reais, na comparação entre trimestres iguais; e avanço de 4,97% da produção anual da atividade. De acordo com a equipe Frango/Cepea, há expectativa de que, neste ano, a competitividade da carne avícola se mantenha alta em relação às concorrentes (bovina e suína). Esse fator é o principal condutor da demanda doméstica por carne de frango – sobretudo, frente à crise econômica intensificada pela pandemia da covid-19 – e, consequentemente, influencia a demanda por frangos vivos para abate. No mercado externo, depois da redução drástica dos embarques em janeiro deste ano, o desempenho das vendas externas de fevereiro em diante foi positivo.
A bovinocultura de leite apresenta projeção de crescimento de 30,72% do faturamento anual, em virtude, principalmente, da alta de 28,30 % dos preços reais, na comparação entre períodos, que atingiram recorde para um primeiro trimestre; e do aumento de 1,88% esperado para a produção. Apesar do resultado, os preços do leite no campo recuaram ao longo do primeiro trimestre – resultado da redução da procura por lácteos, diante da queda do poder de compra das famílias.
Para a avicultura de postura, projeta-se avanço do faturamento, de 13,67%, resultante da combinação de alta de 11,88% dos preços reais, na comparação entre períodos iguais, e crescimento de 1,60% da produção anual. Segundo a equipe Frango/Cepea, esse cenário reflete a oferta enxuta – muitas vezes, controlada pelos produtores, com a intenção de garantir a manutenção dos preços em patamares atrativos. Especificamente em março, o preço médio atingiu recorde real na série de preços, influenciado pelo aumento da demanda pelo período de Quaresma.
Para a suinocultura, é esperado crescimento de 28,66% do faturamento da atividade, resultante da alta de 15,04% dos preços reais, na comparação entre trimestres iguais, e do aumento de 11,84% da produção anual esperada. Apesar dos resultados, o início do ano foi marcado por demanda enfraquecida e por consequente redução de preços. Em janeiro, os embarques de carne suína para China reduziram consideravelmente, devido ao adiantamento das cargas em dezembro passado, em virtude da aproximação do Ano Novo Chinês. O ritmo lento de embarques se repetiu em fevereiro; porém, apresentou reversão em março, quando se registrou recorde de exportações, de acordo com a Secex. No mercado doméstico, o início do ano também registrou redução da procura – movimento costumeiro, devido aos gastos extras incorridos nessa época do ano –, que se prolongou pelo trimestre, tendo em vista as medidas restritivas para tentar conter as contaminações por coronavírus, que refrearam as aquisições de carnes pelos estabelecimentos comerciais e pelas famílias que tiveram seu poder de compra fragilizado. Esses fatores, que afetaram a venda de suínos vivos, resultaram em reduções dos preços nos três primeiros meses do ano.
Para todas atividades da pecuária, um fator comum que deve ser ressaltado é o efeito negativo sobre as margens da escalada dos custos de produção, puxada sobretudo pelas altas na nutrição animal. Deve-se destacar que aumento de faturamento não significa crescimento do PIB.
SEGMENTO INDUSTRIAL: Agroindústria tem crescimento modesto no primeiro trimestre de 2021
Entre os segmentos do agronegócio, a agroindústria teve o desempenho mais modesto no primeiro trimestre de 2021. Especificamente, o PIB agroindustrial cresceu 1,29% (Tabela 1). Os desempenhos foram opostos entre os ramos. No agrícola, o PIB avançou 2,99%. Por um lado, o resultado foi favorecido por preços maiores em diversas atividades e, por outro, foi pressionado pelo volume de produção ainda estagnado e pelo aumento dos custos com insumos. Já no ramo pecuário, foi registrada queda de 5,37% no PIB da agroindústria. Nesse caso, o aumento dos preços não foi suficiente para compensar a queda no volume produzido e o forte aumento dos custos.
Especificamente, na indústria de base agrícola, espera-se alta de 19,03% no faturamento anual, resultado de preços médios 19,16% maiores e de uma produção, em média, estagnada (-0,1%). Para a indústria de base pecuária, o aumento esperado no faturamento é de 15,43%, com preços 18,05% maiores, mas queda de 2,22% na produção média industrial. Mesmo com o faturamento em alta, o crescimento mais intenso dos custos industriais explica a queda do PIB, como já apontado.
No acompanhamento feito pelo Cepea para a evolução do PIB, as indústrias de base agrícola para as quais se espera avanço do faturamento em 2021 são: produtos e móveis de madeira, óleos vegetais, têxtil e vestuário, conservas de frutas, verduras e outros vegetais, celulose e papel, produtos do fumo, açúcar e moagem e fabricação de produtos amiláceos. Já as indústrias de base agrícola para as quais se espera queda do faturamento em 2021 são: indústria do café, de bebidas e de biocombustíveis (Figura 4).
Para a indústria de óleos vegetais, a expansão esperada no faturamento (43,73%) é reflexo dos aumentos nos preços reais (54,38%), na comparação de janeiro a março de 2021 frente a janeiro a março de 2020, uma vez que se espera uma redução na produção anual (-6,90%). Os preços altos no primeiro trimestre do ano estiveram atrelados às demandas interna e externa aquecidas.
No caso da produção de açúcar, espera-se aumento de 10,17% no faturamento anual, por conta dos preços 16,84% maiores na comparação entre os primeiros trimestres de 2020 e de 2021, tendo em vista a produção esperada 5,71% menor. De acordo com a Conab, a redução da produção açucareira está relacionada à projeção de menor produção de cana-de-açúcar, expectativa pautada nas preocupações com relação às condições climáticas e seu potencial impacto na produtividade dos canaviais. Ademais, segundo a equipe Açúcar/Cepea, a redução da produção do adoçante também decorre do fato de que o Centro-Sul brasileiro atingiu recorde no volume em 2020 – logo, o patamar de comparação é bastante alto. No que se refere aos preços, a equipe aponta que esses estiveram em movimento de alta desde agosto de 2020, influenciados especialmente pelo forte ritmo das exportações, favorecidas pela desvalorização do Real frente ao dólar. Diante disso, a oferta doméstica esteve restrita ao longo da safra 2020/2021.
Para as indústrias têxtil e de vestuário, os aumentos esperados de faturamento refletem uma recuperação da produção. Como discutido anteriormente, a retomada do consumo em toda a cadeia têxtil foi acima das expectativas.
Com relação à produção de biocombustíveis, espera-se queda de 3,11% no faturamento anual, devido à redução esperada de 6,84% na produção, contrapondo-se aos preços reais 4% maiores na comparação entre os trimestres iguais. De acordo com a equipe Etanol/Cepea, os preços no segmento produtor do estado de São Paulo tiveram alta expressiva no primeiro trimestre de 2021 frente ao anterior – movimento esperado em decorrência do período de entressafra. Ademais, em 2021, houve postergação do início da moagem por algumas unidades produtoras, devido à estiagem de 2020, contribuindo para a elevação expressiva do preço em março. Para a produção, assim como no caso do adoçante, a Conab projeta menor quantidade de cana-de-açúcar destinada à produção de biocombustível. A baixa disponibilidade da matéria-prima e o fato de que o açúcar deve continuar remunerando mais que o etanol, explicam essa expectativa.
Quanto às agroindústrias de base pecuária, espera-se crescimento do faturamento anual de todas as atividades acompanhadas: as indústrias de couro e calçados, de laticínios e a de abate e preparação de carnes e pescados, conforme Tabela 3.
Para a indústria de derivados do leite, o crescimento esperado do faturamento anual (3,47%) foi resultante da alta de 5,91% dos preços reais, na comparação entre trimestres, uma vez que é esperada queda de 2,30% da produção anual da indústria. A elevação de preços pode ser atribuída, em grande medida, ao alto custo de obtenção da matéria-prima pelas indústrias. Por outro lado, conforme aponta a equipe Leite/Cepea, ao longo do primeiro trimestre deste ano, houve redução da procura de lácteos devido à queda do poder de compra da população, que envolve o fim da concessão do auxílio emergencial, a elevação do desemprego e o novo aumento nos casos de covid-19. Observa-se, desde dezembro passado, intensificação da pressão exercida pelos canais de distribuição junto às indústrias para obter preços mais baixos nas negociações de derivados, com o intuito de estimular a demanda.
Para a indústria de abate e preparação de carnes e pescado, projeta-se crescimento de 18,51% do faturamento anual, impulsionado pela alta de 22,42% dos preços reais na comparação entre trimestres, tendo em vista a redução de 2,82% esperada para a produção anual. Quanto à carne bovina, conforme equipe Boi/Cepea, especificamente em março, os preços registraram novo recorde, acompanhando a arroba do animal. Contudo, há frigoríficos que alegam dificuldades de repassar as valorizações da arroba à proteína negociada no mercado atacadista, o que se torna um limitador para aquelas indústrias que atendem exclusivamente o mercado doméstico. No caso da carne suína, segundo a equipe Suíno/Cepea, a redução das demandas doméstica e externa nos primeiros meses do ano acarretou em diminuição nos preços da carne ao longo do trimestre – logo, os preços médios foram superiores aos do primeiro trimestre de 2020, devido à elevação verificada especialmente no segundo semestre do ano passado. A carne de frango, por sua vez, manteve-se competitiva frente às primeiras, o que influenciou positivamente a demanda no mercado doméstico. Esse fator, combinado ao ritmo satisfatório de exportações, garantiu a liquidez no mercado e contribuiu para alta dos preços no período.
SEGMENTO DE SERVIÇOS: PIB dos agrosserviços cresce no trimestre, impulsionado pela agricultura
O PIB dos agrosserviços do agronegócio brasileiro cresceu 3,15% no primeiro trimestre de 2021 (Tabela 1). O resultado foi impulsionado pelo desempenho dos serviços agrícolas, em que o PIB se elevou em expressivos 6,62%. Esse forte avanço do PIB esteve atrelado, especialmente, ao excelente desempenho do campo, que gerou a ampliação do uso de serviços de transporte, comércio, armazenagem, entre outros, como serviços financeiros, de comunicação, jurídicos, contábeis, etc. Como apontado na introdução deste relatório, conforme a Fretebras, a ampliação do volume de fretes rodoviários no Brasil no primeiro trimestre de 2021 foi puxada pelo agronegócio, sobretudo pelos fertilizantes, soja e milho.
Em sentido oposto, os serviços pecuários recuaram no período (-6,63%). Esse comportamento também refletiu o resultado a montante, em especial, os menores volumes de bovinos e de carne bovina produzidos e o estreitamento das margens da maioria das cadeias pecuárias diante de fortes elevações de custos.
CONCLUSÕES
Depois de alcançar alta recorde em 2020, o PIB do agronegócio brasileiro cresceu 5,35% no primeiro trimestre de 2021. Considerando-se os desempenhos até o momento do agronegócio e da economia brasileira como um todo, a participação do agronegócio no PIB total pode ultrapassar os 30% em 2021.
A agropecuária, ou o segmento primário do setor, manteve o protagonismo já verificado no ano passado e avançou 11,16% no trimestre. O crescimento foi mais intenso para a agricultura (14,77%), em que o PIB foi impulsionado por preços e produção esperada maiores. A taxa só não foi maior devido ao aumento dos custos com insumos, sobretudo fertilizantes e sementes. Já o PIB do segmento primário pecuário teve elevação bem mais modesta (2,54%); mesmo com os preços elevados das carnes, leite e ovos, a forte alta dos custos com insumos – diante da escalada dos grãos e dos preços altos de medicamentos e de combustíveis – afetou negativamente e de forma expressiva o PIB desse segmento.
Entre os segmentos do agronegócio, a agroindústria teve o desempenho tímido no primeiro trimestre de 2021, com alta de 1,29% no PIB. Como discutido em relatórios anteriores, esse segmento foi o mais influenciado do agronegócio pelos choques de oferta e de demanda gerados pela chegada da pandemia de covid-19 no Brasil. No ramo agrícola, o crescimento de 2,99% foi favorecido por preços maiores em diversas atividades industriais; por outro lado, o PIB foi pressionado pelo volume de produção ainda estagnado e pelo aumento dos custos industriais. No ramo pecuário, a agroindústria recuou 5,37%, com a alta dos preços tendo sido insuficiente para compensar a queda no volume produzido e o forte aumento dos custos industriais.
Quanto aos demais segmentos, o de insumos também teve um excelente resultado, seja no ramo agrícola (6,65%) ou pecuário (15,64%), puxado pelo bom desempenho da produção dentro da porteira. No caso dos agrosserviços, o PIB foi impulsionado pelos serviços agrícolas – reflexo, especialmente, do excelente desempenho do campo e seu impacto sobre o uso de serviços de transporte, comércio, armazenagem, entre outros, como serviços financeiros, de comunicação, jurídicos, contábeis, etc. Já os serviços pecuários recuaram no período (-6,63%), refletindo os menores volumes de bovinos e de carne bovina produzidos e o estreitamento das margens da maioria das cadeias pecuárias diante de fortes elevações de custos.
A4) PIB DO AGRONEGÓCIO - METODOLOGIA
O Relatório PIB do Agronegócio Brasileiro é uma publicação mensal resultante da parceria entre o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (FEALQ). O agronegócio é entendido como a soma de quatro segmentos: insumos para a agropecuária, produção agropecuária básica (ou primária), agroindústria (processamento) e agrosserviços – como na Figura que segue. A análise desse conjunto de segmentos é feita para o ramo agrícola (vegetal) e para o pecuário (animal). Ao serem somados, com as devidas ponderações, obtém-se a análise do agronegócio.
Pelo critério metodológico do Cepea/Esalq-USP, o PIB do agronegócio é medido pela ótica do produto, ou seja, pelo Valor Adicionado (VA) total deste setor na economia. Ademais, avalia-se o VA a preços de mercado (consideram-se os impostos indiretos menos subsídios relacionados aos produtos). O PIB do agronegócio brasileiro refere-se, portanto, ao produto gerado de forma sistêmica na produção de insumos para a agropecuária, na produção primária e se estendendo por todas as demais atividades que processam e distribuem o produto ao destino final. A renda, por sua vez, se destina à remuneração dos fatores de produção (terra, capital e trabalho).
Após estimado o valor do PIB do agronegócio no ano-base, que desde janeiro/17 refere-se ao ano de 2010, parte-se para evolução deste valor de modo a se gerar uma série histórica, por meio de um amplo conjunto de indicadores de preços e produção de instituições de pesquisa e governamentais. Seja para a estimação anual do valor do PIB, ou para as reestimativas mensais das previsões anuais, consideram-se informações a respeito da evolução do Valor Bruto da Produção (VBP) e do Consumo Intermediário (CI) dos segmentos do agronegócio. Pela evolução conjunta do VBP e do CI, estima-se o crescimento do valor adicionado pelo setor.
Com base nos procedimentos mencionados e processos adicionais realizados pelo Cepea, os cálculos do PIB do agronegócio resultam em dois indicadores principais, que retratam o comportamento do setor por diferentes óticas:
• PIB-renda Agronegócio (equivale ao PIB divulgado anteriormente pelo Cepea): reflete a renda real do setor, sendo consideradas no cálculo variações de volume e de preços reais, sendo estes deflacionados pelo deflator implícito do PIB nacional.
• PIB-volume Agronegócio: PIB do agronegócio pelo critério de preços constantes. Resulta daí a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.
Mensalmente, o foco de análise principal é o PIB-renda Agronegócio, que reflete a renda real do setor. Por conveniência textual, o PIB-renda do agronegócio é denominado apenas como PIB do Agronegócio ao longo deste relatório. Destaca-se que as taxas calculadas para cada período consideram igual período do ano anterior como base, exceto para as quantidades referentes às safras agrícolas, para as quais computa-se a previsão de safra para o ano (frente ao ano anterior).
Importante também destacar que cada relatório considera os dados disponíveis – preços observados e estimativas anuais de produção – até o seu fechamento. Em edições futuras, ao serem agregadas informações mais atualizadas, há a possibilidade, portanto, de ocorrer alteração dos resultados, tanto no que se refere ao mês corrente, como também ao que se refere a meses e anos passados. Recomenda-se, portanto, sempre o uso do relatório mais atualizado. Para uma análise mais detalhada dos aspectos metodológicos, bem como dos resultados dos demais indicadores (PIB volume, Consumo Intermediário, etc.) ver http://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx