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29 de maio de 2018
Pesquisa encontra ômega 3 em vísceras de surubim e tambaqui
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Estudo identificou ômega 3 nas vísceras de tambaqui (Colossoma macropomum) e do Surubim (Pseudoplatystoma sp.). Normalmente utilizadas pela indústria de pescado na produção de suplemento para ração animal, produção de biocombustível e até como adubo, a descoberta abre a possibilidade para um uso mais nobre do resíduo, como a produção de cápsulas de ômega 3, espécie de gordura benéfica à saúde humana. O trabalho foi liderado pela Embrapa Pesca e Aquicultura (TO), com participação da Embrapa Agropecuária Oeste (MS) e Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ). Além de acrescentar valor à cadeia produtiva dos peixes, o aproveitamento das vísceras aprimora a sustentabilidade ambiental da produção.

Geralmente presente em peixes de águas gélidas, como salmão e bacalhau, mas também na nossa popular sardinha, o ômega 3 das vísceras do tambaqui é uma boa notícia para a cadeia produtiva do peixe nativo do Brasil. “É uma matéria-prima nobre que precisa ser melhor aproveitada”, atesta Leandro Kanamaru Franco de Lima, pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura. Para o cientista, a descoberta deverá trazer um outro olhar para as vísceras resultantes do processamento de pescado. “O produtor deve ficar atento para não deixar o subproduto estragar com períodos longos de armazenamento, já que esses ácidos graxos encontrados podem gerar produtos de maior valor agregado”, aconselha o pesquisador.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2016 revelam que a produção nacional de tambaqui chega a 136.991 mil toneladas anuais e a de surubim alcança 15,86 mil toneladas. No entanto, o nível de desperdício e resíduos chega a mais da metade da produção, pois apenas cerca de 30% do total da carcaça é aproveitado em filés. Grandes empresas utilizam parte das sobras para produzir biodiesel ou ração animal.

Menos impacto ambiental e mais valor agregado

Segundo Kanamaru, o estudo da Embrapa busca apontar uma alternativa para cooperativas e pequenas empresas de processamento de pescado. “Se os resíduos sólidos, tais como carcaça e vísceras, fossem aproveitados pela pequena indústria para gerar um incremento para a ração de animais, por exemplo, a gente diminuiria o impacto ambiental e geraria maior valor agregado. O problema é que geralmente ele é descartado ou vira adubo”, ressalta ele acrescentando que, muitas vezes, devido aos custos de transporte, não é possível levar os resíduos para processamento em grandes empresas, gerando um problema para o entreposto e uma ameaça ao meio ambiente. Devido à baixa produção de vísceras, não compensa a montagem de uma graxaria para produzir biocombustível no próprio entreposto e os resíduos acabam voltando para o meio ambiente.

Silagem de pescado

Para minimizar o problema, a solução indicada é o reaproveitamento. “A silagem de pescado, que é um produto líquido produzido a partir de enzimas, é uma forma pouco onerosa e que independe da quantidade de sobras disponíveis. Para a sua elaboração, são utilizados os tecidos e as vísceras do pescado”, detalha Kanamaru, para quem a silagem pode se transformar em uma fonte proteica para a alimentação animal.

O pesquisador acrescenta que muitos frigoríficos nem aceitam receber as sobras de pequenas cooperativas porque não sabem as condições de conservação e armazenamento. “É um material muito perecível, e sua qualidade impacta diretamente no valor nutricional final”, explica.

Desperdício de material nobre

O pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Ricardo Borghesi, ressalta que além de uso na ração há ainda outras alternativas de utilização e transformação de dejetos da indústria pesqueira em produtos de alto valor agregado, oferecendo benefícios sociais, econômicos e ambientais. “Podemos citar como exemplo de uso de resíduos o aproveitamento da pele do peixe como couro; para tratamentos de queimaduras humanas; extração de colágenos; gelatinas; hidroxiapatita (mineral usado para substituição de ossos humanos); farinha de peixe; hidrolisados proteicos; extração de óleo; biocombustível; composto orgânico, entre outros”, enumera.

A tendência é que, no futuro, haja o aproveitamento total do pescado, tal ocorre com o boi, do qual nada é descartado. De acordo com Borghesi, as possibilidades são muito amplas, mas seu uso depende do tipo e das quantidades de resíduos gerados, da matéria-prima utilizada (espécie de peixe, por exemplo) e das etapas de processamento.

Para Borghesi, apesar do grande potencial de uso do material residual, algumas vezes esse recurso é desperdiçado pelos entrepostos de pescado. Ele acredita que essa pesquisa pode contribuir com a redução desse desperdício, pois o conhecimento gerado auxilia a direcionar melhor o reaproveitamento dos resíduos e contribui com o desenvolvimento de tecnologias que garantam produtos de alta qualidade e com maior valor agregado.

O engenheiro-agrônomo e instrutor do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) em Mato Grosso do Sul Maurício Xavier Curi destaca a importância da utilização de resíduos de peixes como forma de agregar valor aos produtos da piscicultura. “Infelizmente, os produtores da região do Mato Grosso do Sul não têm o hábito de aproveitar os resíduos. Aqui no estado, por exemplo, a maioria dos peixes produzidos é vendida para os frigoríficos e estes também não reaproveitam as sobras”, afirma.

Segundo Curi, algumas empresas vendem para outros estados e a cadeia produtiva local fica com uma lacuna no seu circuito produtivo. “As pesquisas desenvolvidas pela Embrapa abrem possibilidades de aproveitamento desses resíduos e podem contribuir com informações que venham a gerar mudanças relacionadas ao assunto”, acredita.

O estudo da Embrapa é parte de um projeto maior que analisou o gerenciamento hídrico da indústria do pescado, incluindo análise de efluentes líquidos e processamento, com análises microbiológicas e de resíduos sólidos. Os dados completos da pesquisa sobre análise nutricional dos resíduos estão disponíveis no Boletim de Pesquisa “Caracterização de Resíduos Gerados no Beneficiamento Industrial do Tambaqui (Colossoma macropomum) e do Surubim (Pseudoplatystoma sp.)”.

O projeto contou com recursos do extinto Ministério de Pesca e Aquicultura (MPA) e do Fundo de Recursos Hídricos (CT-HIDRO), com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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