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Paraná

Controle biológico: ferramenta de excelência na produção
Joaninha

6 de agosto 2019

Por: Comunicação Social - Sistema FAEP/SENAR-PR

Há pouco mais de um ano, o fruticultor Rodrigo Yoshio Kido, de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, estava desanimado. Há 10 anos cultivando morangos apenas com defensivos químicos, o produtor observou que uma determinada praga havia desenvolvido forte resistência aos produtos, independente da molécula ou da dose aplicada. “Eu estava aborrecido, disposto a parar de produzir, pois estava muito difícil controlar o ácaro rajado”, relembra. Neste momento de desesperança que Kido decidiu apostar no controle biológico de pragas, experiência que trouxe uma revolução aos seus canteiros.

Por meio de pesquisas na internet e troca de informações com outros produtores e especialistas, Kido aprendeu mais sobre essa técnica, que consiste no uso dos próprios organismos presentes nas lavouras (aracnídeos, insetos, microrganismos, etc.) para combater as pragas que trazem prejuízo à produção. “Eu digo que foi nesse ano que eu aprendi realmente a plantar morango”, afirma o produtor, que passou a apostar 100% no controle biológico. “Uso ácaro predador, percevejo, trichogramma, fora bactérias e outros microrganismos”, elenca.

Kido faz parte de um time que cresce ano a ano, formado por produtores que vem adotando o controle biológico de pragas como ferramenta de produção. De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Controle Biológico (ABCBio), as vendas de defensivos biológicos cresceram 77% em 2018, maior índice da história do segmento. De acordo com a diretora-executiva da entidade, Amália Piazentim Borsari, esse crescimento foi puxado por quatro principais culturas: soja, cana-de-açúcar, café e algodão. Embora nestas atividades a ado ção de produtos biológicos seja relativamente pequena, como se tratam de culturas muito grandes, a demanda tem grande impacto no mercado.

“Na soja, a taxa de adoção é de 5%, mas chega a 20% em algumas regiões”, afirma Amália, referindo-se ao percentual de produtores que adotaram o controle biológico naquele ano. “Em outros setores, como o de hortifrútis, a taxa de adoção é muito maior, entre 40% e 60%”, compara. No caso de frutas e legumes frescos, a produção sofre pressão por parte dos consumidores, cada vez mais preocupados com alimentos livres de agroquímicos. “No caso da soja, o que mais puxa esse mercado é o manejo de resistência ao agroquímico”, afirma Amália, referindo-se à seleção natural que o uso indiscriminado de agroquímicos provoca em determinadas espécies de insetos, criando gerações de pragas super-resistentes aos produtos, como as que vitimaram os canteiros de morango do fruticultor Kido, do início da matéria.

Esse crescimento acompanha uma expansão conjuntural deste setor. De acordo com relatório da ABCBio de outubro de 2018, o número de biofábricas praticamente duplicou no Brasil nos últimos cinco anos, passando de 39, em 2014, para 79 no ano da pesquisa. Também aumentou de maneira intensa os registros de novos produtos biológicos. Em 2009 havia apenas um produto biológico registrado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Hoje são mais de 200 (veja gráfico na página 19).

Pesquisa conduzida pela Associação durante a safra 2017/18 entrevistou 1.762 produtores rurais em todo país sobre a utilização destes produtos. Mais da metade dos entrevistados, 57% afirmaram desconhecer o uso de produtos biológicos. Dentre aqueles que já conheciam esses produtos, 39% declararam que utilizavam e dentre os que utilizaram ao longo do ano safra, 98% afirmaram que voltarão a utilizá-los na temporada seguinte. “Esse dado comprova que quem usa fica satisfeito com o resultado”, analisa Amália. Até 2021, a expectativa é que o setor cresça 40% na América Latina. Devido à relevância do tema, ele será discutido no V Congresso Brasileiro de Fitopatologia (Conbraf), que acontece entre os dias 7 e 9 de agosto, em Curitiba. O evento conta com apoio do Sistema FAEP/SENAR-PR.

Iniciativa paranaense

O trâmite legal para o registro de um produto biológico é menor do que o necessário para registro de um agroquímico sintético. Além do foco maior de pesquisas destes insumos, isto explica parte do crescimento exponencial do registro de novos produtos biológicos. Nesse ponto, os produtores paranaenses têm uma vantagem estratégica. A Universidade Federal do Paraná (UFPR) possui um projeto de extensão multidisciplinar denominado “Colhendo bons frutos”, onde duas das cinco linhas de pesquisa, entomologia e microbiologia ambiental, são voltadas para a geração de soluções biológicas no controle de pragas para a cultura do morangueiro.

De acordo com a coordenadora do projeto, a professora e pesquisadora Maria Aparecida Cassilha Zawadneak, o projeto existe desde 2009, mas somente a partir de 2013 que editais de fomento deram maior viabilidade a uma série de ações na área de fitossanidade. Um dos resultados da pesquisa foi o primeiro registro da praga exótica denominada Duponchelia fovealis descoberta pelo grupo de pesquisa da UFPR em 2010. “Não tinha registro da ocorrência [desta praga] em morangueiro e a partir de então esforços têm sido desenvolvidos para estudá-la. Atualmente, a linha mais forte de pesquisa é uso do controle biológico contra ela. Já temos agentes microbianos isolados da praga a campo, testados em laboratório e com potencial para controlá-la”, aponta a pesquisadora.

Segundo Maria Aparecida, a contrapartida do projeto à sociedade ocorre por meio da produção de livros, cartilhas e folders, de modo a divulgar e propagar informações a respeito do uso de agentes biológicos na produção de morangos.

Leia a matéria completa no Boletim Informativo da FAEP