Paraná
Antigos aviários turbinam suinocultura de Piraí do Sul
Município dos Campos Gerais tem visto a produção de suínos crescer com o auxílio da adaptação das antigas estruturas, originalmente voltadas para aves
Historicamente, Piraí do Sul, nos Campos Gerais, tem no frango um dos seus principais carros-chefes. Em 2009, ano do maior rebanho nas últimas duas décadas, o município chegou a ter 12,4 milhões de aves. Depois disso, a atividade foi reduzindo de tamanho e, nos últimos quatro anos, apresenta uma condição estável, perto das 4 milhões de cabeças. O resultado dessa mudança de perfil nas atividades pecuárias locais trouxe um problema. O que fazer com os aviários que passaram a ser construções vazias?
Luiz Fernando Tonon, 57 anos, abandonou a avicultura e requalificou a antiga granja. Avicultor desde os anos 1990, na última década as empresas integradoras começaram a fazer exigências de reformas que estavam tornando inviável a atividade. Então, Tonon desativou os dois barracões destinados à criação de frango e resolveu apostar, em um deles, nos suínos. Hoje, o lugar que alojava frangos recebe 900 cabeças de suínos por lote. “Fiz adequações no antigo aviário e trabalhei por um tempo com a integradora Schoeller. De um tempo para cá, por uma mudança na minha estratégia, estou entregando para a cooperativa Capal”, conta Tonon.
Esse movimento de adaptar granjas de frango para a produção de suínos é um dos fatores que explica a expansão da cadeia produtiva do porco em Piraí do Sul. Em 2017, com uma conjuntura extremamente desfavorável, o rebanho do município despencou para 90,3 mil cabeças – pior nível desde 2002. Mas em 2018 e 2019, os números foram melhorando até que, em 2020, o município passou a deter o maior rebanho de suínos da sua história: 198,2 mil cabeças, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em termos de Valor Bruto de Produção (VBP) Agropecuário, a suinocultura de Piraí do Sul movimentou, em 2020, R$ 275,6 milhões. A maior parcela fica com os suínos para corte (R$ 178,28 milhões), seguido por leitões para recria (R$ 47,9 milhões), fêmeas para reprodução (R$ 43,8 milhões), machos para reprodução (R$ 4,6 milhões) e leitões para corte (R$ 900 mil). A cadeia como um todo movimenta mais recursos do que a avicultura, que no mesmo período gerou VBP Agropecuário de R$ 176,1 milhões, de acordo com informações do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab).
Especialista em adaptação
No município, há produtor que passou por duas adaptações produtivas nos seus barracões nas últimas décadas. Reinholdo Ruvinski (foto acima), 42 anos, trabalhava em chácaras de terceiros nos anos 1990, aprendendo a cuidar de aves. Tempos depois resolveu, no início dos anos 2000, se aventurar na criação de perus. Só que em 2007, a empresa acabou com o abate desses animais na região. Foi então que ocorreu a primeira adaptação na granja, que passou a ser destinada à criação de frangos. Em 2016, não estava mais valendo a pena para Ruvinski seguir com os frangos pelos mesmos motivos do colega Tonon, e então percebeu que podia fazer uma nova migração.
Hoje, na propriedade de nove hectares é possível tirar o sustento da família tendo na suinocultura o carro-chefe – um total de 1,5 mil animais por lote. O terreno pertence ao pai, Luis Ruvinski, para o qual o produtor paga aluguel para exercer a atividade. “A adaptação para suínos foi relativamente simples. Envolveu a construção de um piso, as divisões e a estrutura para levar água e ração aos animais de forma automatizada. Hoje está compensando, pois dá para tirar um bom salário da atividade”, revela.
Normas técnicas
O uso de barracões antigos de frango adaptados para suínos é algo recorrente em todo o Paraná, mais frequente na região dos Campos Gerais, como aponta Nicolle Wilsek, técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR. “A gente enxerga isso muito na região de Piraí e nas cidades ao redor, pelo fato de a suinocultura estar em movimento de expansão na região, já considerada um polo da cadeia produtiva. Como tem agroindústrias integradoras nas proximidades, é natural que aconteça esse movimento”, revela Nicolle. “Há algumas décadas isso já aconteceu na região de Toledo, que se tornou a maior região produtora do Paraná”, complementa.
Entre os benefícios apontados pela técnica sobre o uso dessas estruturas estão o fato de a atividade continuar na mesma propriedade, dar uma nova finalidade para um local que ficaria ocioso e a economia na construção da instalação. “Vemos que é possível transformar com uma reforma de custo menor. Em relação às questões técnicas, a instalação tem praticamente os mesmos equipamentos para ambiência. Pontos como telhas de barro ou zinco, um barracão alto e boa ventilação são aspectos atendidos sem grandes mudanças”, analisa.