Jovem, conectado e com maior presença feminina
Na esteira da tecnologia, campo vive tempos de otimismo em meio à crise e inova dentro e fora da porteira
Esqueça a imagem do produtor que vive isolado e só consegue se informar a respeito do que acontece no mundo quando vai à cidade fazer compras. O campo está cada vez mais conectado e a tecnologia auxilia tanto no manejo quanto na obtenção de informações no dia a dia. Além disso, o segmento está mais feminino e jovem. Essas são algumas das constatações da pesquisa Hábitos do Produtor Rural, conduzida pela Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA) e divulgada recentemente.
Para o estudo, foram entrevistados, in loco, 2.835 agricultores - 2.110 agricultores e 725 pecuaristas. Eles se dedicam a 11 culturas - algodão, arroz, batata, café, cana-de-açúcar, feijão, laranja, milho, soja, tomate e trigo - e quatro atividades animais - pecuária de corte, pecuária de leite, avicultura e suinocultura -, em 15 estados. A presença da mulher em funções de decisão nos empreendimentos rurais triplicou em relação a 2013, ano em que a última edição do levantamento foi realizada, e passou de 10% para 31%.
Já a idade média dos produtores rurais caiu 3,1%: hoje, é de 46,5 anos. Segundo a pesquisa, 21% dos entrevistados têm curso superior, especialmente agronomia (42%), veterinária (9%) e administração de empresas (7%). O trabalho também investigou os hábitos de compra, o envolvimento dos produtores com as novas tecnologias e as mídias que consultam para sua informação pessoal e profissional.
Nesse quesito, ficou claro que a inovação também está presente fora da porteira. Televisão e rádio, veículos de comunicação considerados tradicionais, abriram espaço para as redes sociais e para aplicativos de comunicação instantânea, como o WhatsApp. Entre as mídias digitais, o “zap” lidera a preferência dos produtores rurais com 96%, seguido pelo Facebook, com 67%. Depois, chegam YouTube, com 24%; o Messenger, com 20%; o Instagram, com 8%, e Skype, com 5%.
A televisão aberta perdeu espaço – mesmo que pequeno - na preferência dos produtores rurais. Ainda assim, permanece na liderança como o meio de comunicação mais usado. Pelo menos 92% dos respondentes da pesquisa têm na TV o principal meio de atualização e informação. Na pesquisa de 2013, o percentual dessa mídia era de 95%. Já o rádio cresceu 7% em relação ao levantamento de 2013. Hoje, é usado por 75% dos produtores. A internet também apresentou aumento de 7,7% e abocanhou 42% das referências. Os jornais têm 30%; a TV paga 28%; e as revistas, com 27%.
Otimismo, a marca do campo
A tecnologia crescente e a confiança na atividade refletiram no número de produtores que deixaram a cidade e se instalaram definitivamente no campo, segundo levantamento da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA). Em 2013, 47% dos entrevistados moravam na propriedade. Neste ano, o número subiu para 56%. Em relação à percepção da própria imagem, 68% se declararam otimistas em relação ao futuro da atividade agropecuária no Brasil e 91% disseram ter orgulho de ser produtor rural.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG), José Mário Schreiner, lembra que a agropecuária foi o único setor que conseguiu se manter, mesmo na crise. “Apesar do cenário nebuloso, o agro contribuiu para o desenvolvimento do interior e dos grandes centros brasileiros, dando sustentação na geração de renda e empregos, além de seu papel básico de provimento de alimentos a custos acessíveis a população”, frisa.
Apesar disso, os desafios do segmento são inúmeros. Entre os principais, a melhoria nas condições de logística - com modalidade mais acessíveis e menos onerosas de transporte, aumento e distribuição da capacidade armazenadora -, ampliação das fontes de crédito, desenvolvimento do seguro rural, melhores condições de segurança nas propriedades, ampliação da rede de assistência técnica e maior fomento à pesquisa.
Tecnologia e atualização são aliadas
Leilões e cursos têm sido uma constante na agenda do produtor Neto Baylão, 35 anos, desde que assumiu os negócios da família, em 2001. Filho de um médico, ele viu a única irmã também enveredar pelo caminho da Medicina. Coube ao rapaz a missão de tocar uma granja de suínos, em Mineiros, e de levar adiante a Fazenda Montes Claros/Lajeado, em Rio Verde, onde trabalha com gado de corte. O WhatsApp é aliado na hora de prospectar a compra de animais, com troca de fotos e vídeos.
Para superar os desafios que a pecuária enfrenta hoje – ele defende uma maior valorização do preço do animal – faz cursos e mantém contato com outros pecuaristas, nos leilões. “É um trabalho gratificante, me divido entre as atividades administrativas e as idas à fazenda”, conta. Hoje, o gado é criado em sistema de semi-confinamento a pasto. Os animais são comprados com entre oito e 11 meses e pesando cerca de oito arrobas. Um ano depois, são abatidos terminados: prontos para irem ao frigorífico.
Na pesquisa sobre Hábitos do Produtor Rural, conduzida pela Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA), esse tipo de evento é o preferido de 19% dos entrevistados que criam animais. Na liderança, os dias de campo – 36%. Feiras pecuárias atraem 18% dos entrevistados e as palestras técnicas, 17%. Entre os agricultores, os dias de campo (54%), as feiras agropecuárias (22%) e as palestras técnicas (16%) são os eventos preferidos.
No caso das tecnologias, entre os agricultores, há um destaque maior para aquelas voltadas à produtividade, como adubação (95%), pulverização (82%) e controle de pragas (80%). Já os pecuaristas investem preferencialmente em adubação das pastagens (57%), rotação de pastos (52%), controle de enfermidades (36%) e uso de cerca elétrica (35%). As maiores preocupações dos criadores são a saúde (41%), a nutrição animal (18%), a gestão das propriedades (13%) e a mão de obra (9%).
Desafios e conhecimento
Para a produtora Carol Palhares, 36 anos, o WhatsApp também é fundamental para conciliar as atividades diárias e a vida no campo. Junto com a mãe, a produtora Nelcy Palhares, 61, ela toca a Fazenda Brasília, em Inaciolândia, no Sul de Goiás, onde o foco é cultura canavieira e a pecuária, com o melhoramento genético do gado Nelore. “Os funcionários mandam fotos e vídeos do que está acontecendo. Em agosto, período em que começa a parição, trocamos muitas informações sobre os animais”, conta.
Mãe de um casal – Enrico, 9, e Helena, 5 -, ela se divide entre a rotina da propriedade e a cidade de Itumbiara, que fica a 40 minutos das terras da família. Além disso, o WhatsApp é aliado na hora de manter contato com outras mulheres que se dedicam à lida no campo. Em um grupo que reúne pecuaristas goianas, elas dividem dúvidas sobre o trabalho e os desafios enfrentados pelo segmento, atualmente. Os debates pautam o tema de uma reunião mensal, realizada em Goiânia, com a participação de um especialista.
Carol cresceu com uma forte ligação com o campo, por causa dos avós e do pai, pecuaristas. Ele morreu quando ela tinha apenas 16 anos. Na época, a família vivia em Uberlândia e a vida na cidade seguiu seu curso. Aos 22, graduada em Administração, precisou decidir: “Foi uma fase crucial. Fiquei entre continuar em Minas Gerais e arrumar um emprego ou voltar para a fazenda e cuidar do que era nosso”, recorda.
Inspirada principalmente na mãe, que já tinha uma vasta experiência, ela escolheu o caminho do campo. “Abracei a causa”, define. “Não foi difícil, porque sempre fui criada nesse meio e gosto. Infelizmente, a gente ainda vive em uma sociedade machista, mesmo com a mulher tomando frente em muitas atividades. A intuição feminina é um diferencial. A mulher não tem vergonha de perguntar”, analisa.
O economista Marcus Antônio Teodoro Batista, especialista em agribusiness, pondera que as novas gerações estão percebendo que o agronegócio pode ser um negócio mais seguro e rentável, embora esteja sujeito a riscos. “Se bem administrado, o agro pode dar resultados melhores do que carreiras tradicionais, pois tem muitas possibilidades de atuação, quer seja em commodities, em hortifrúti ou pecuária”, exemplifica.
O rejuvenescimento do campo, na visão dele, dá um novo impulso ao segmento, uma vez que há uma busca por resultados mais rápidos. Mas alerta: a inovação precisar estar associada à experiência de quem conhece o funcionamento do agronegócio. “A tecnologia é importante, mas não substitui o feeling humano, a capacidade de fazer uma boa negociação com o fornecedor. Ela é um meio”, defende.
O cenário político-econômico desafiador exige cada vez mais profissionalização do produtor, enfatiza o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG), José Mário Schreiner. “O planejamento e a estratégia são peças chaves no sucesso do produtor. Também é preciso cada vez mais participar ativamente da construção das políticas públicas e setoriais, para que junto às entidades representativas possamos suplantar os problemas políticos que tanto prejudicam nosso setor e nossa sociedade”, declara.
Assessoria de Comunicação do Sistema FAEG/SENAR Goiás
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