BPA: segurança e qualidade do leite
Curso do SENAR/PR prepara produtores a exigências de mercado, que começam a se tornar rotina na indústria de lácteos
As Boas Práticas Agropecuárias na Propriedade Leiteira (BPA-Leite) são uma sistematização de atividades destinada aos produtores para promover maior atenção com questões ligadas a produção, saúde, bem-estar e segurança dentro das propriedades rurais. Além de ajudarem a tornar o ambiente de trabalho e as tarefas do dia a dia mais organizadas, as técnicas ajudam na melhoria da gestão da propriedade leiteira, na diminuição de perdas de qualidade e especialmente na garantia da segurança do leite produzido.
Na propriedade com BPA há uma metodologia prévia para se realizar atividades do cotidiano. Com as rotinas devidamente adequadas ao padrão desejado, o produtor introduz a realização de checklists (lista de tarefas) e documenta as atividades críticas do negócio. Essa cultura de rastreabilidade torna possível medir de forma precisa não apenas despesas e receitas, mas aspectos como defensivos agrícolas usados de maneira eficiente, se a limpeza da sala de ordenha foi feita corretamente, quantas doses de medicamento tomou determinado animal e uma série de detalhes importantes.
Formação
O SENAR/PR inicia no segundo semestre deste ano o curso Boas Práticas Agropecuárias na Propriedade Leiteira, que tem o objetivo de incorporar à rotina procedimentos essenciais à garantia da produção de leite seguro e de qualidade, com dados devidamente documentados. O treinamento dos 26 instrutores que darão o curso foi realizado de 19 a 22 de junho, no Centro de Treinamento para Pecuaristas (CTP), em Castro, nos Campos Gerais. Após a finalização do material didático será iniciada a formação de turmas pelo estado.
A necessidade de se formular o curso surgiu com a tendência de a indústria, de modo geral, adotar boas práticas embasadas em certificações internacionais. Nesse contexto, as BPA começam a ser exigidas pelos grandes mercados agropecuários para que os bens produzidos no campo possam circular de acordo com padrões globais.
No caso do leite brasileiro, por exemplo, a multinacional Nestlé já exige que seus fornecedores utilizem as BPA, pagando 2,5% a mais pelo leite do produtor que já possui BPA implantada e inspecionada pela Genesis Group , empresa responsável pelas vistorias nas fazendas produtoras de SP, PR, SC e RS, que abastecem alguns dos maiores lacticínios participantes do programa Nestlé/DPA, como a Castrolanda, Cooperativa Batavo, Cooperativa Languiru entre outras.
Hoje, segundo a companhia, 90% do volume do produto comprado são de produtores certificados e a empresa não adquire mais leite de quem não tiver um plano para se adequar em um período de três meses. “O nosso checklist, com o passar do tempo, sofreu alterações para ser mais acessível. Nós não temos a
intenção de complicar, o que queremos é levar a consciência de registro, chegar a formas que nos garantam a qualidade do leite e a segurança do alimento”, salienta Barbara Sollero, coordenadora de qualidade e desenvolvimento de fornecedores de leite na empresa.
Parceria
A Nestlé é parceira do SENAR/PR na elaboração do material didático para o curso. Barbara Sollero explica que a contribuição vai ao encontro das premissas do desenvolvimento no campo. “Como empresa atuante no Estado e pioneiros dessa iniciativa no mercado lácteo brasileiro, acreditamos que essa parceria irá contribuir para a transformação da cadeia láctea do Paraná rumo a excelência em produção de leite com qualidade e segurança do alimento”, diz.
Lauren Roncato Macarri, sócia da consultoria Cambona Tecnologia Agroindustrial, é uma das autoras do material didático do curso. Ela chama a atenção para o fato de os próprios consumidores estarem preocupados com resíduos, contaminações e com o impacto ambiental e social na produção agropecuária. “Muito mais do que atender às exigências normativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e às legislações trabalhista e ambiental, a adoção das BPA é um modo eficaz de garantir a sustentabilidade na pecuária leiteira”, projeta.
Metodologia
As turmas do curso do SENAR/PR serão formadas por 14 a 18 propriedades. O método de trabalho do curso inclui atividades teóricas e práticas. Cada participante terá uma avaliação na sua fazenda no início e no final do curso para que sejam fornecidas instruções de acordo com as BPAs. Além disso, cada aula teórica será intercalada com visitas a propriedades (uma por vez), ocasiões nas quais serão dadas orientações para instruir os participantes.
O instrutor não tem papel de auditor e/ou de consultor. Para ilustrar a situação, o Boas Práticas Agropecuárias na Propriedade Leiteira seguem as diretrizes da certificação internacional Global G.A.P – um “título” exigido por mercados no mundo para provar a prática da agropecuária segura e sustentável. Participar da formação vai esclarecer o que é preciso para obter esse título, mas não dá direito a esse certificado automaticamente.
Lauren Macarri explica que o produtor que estiver disposto a seguir essas diretrizes precisa da consciência de que o primeiro passo é estar aberto a mudanças. “Nem sempre é fácil, muitos produtores ficam receosos, pois executam as tarefas da mesma forma há muito tempo, mesmo sem saber o porquê”, avalia. “Quando implantamos as BPA e o produtor participa das aulas e compreende o motivo de seguir um procedimento, de realizar registros, de fazer treinamentos, a mudança tem início”, completa.
Perguntas e respostas sobre BPA - Fonte: Lauren Roncato Macarri, especialista em boas práticas.
Para que servem as BPA?
O foco das BPA é garantir a produção de leite saudável, sem resíduos de agroquímicos ou de medicamentos e livre de macro-organismos prejudiciais ao ser humano. A ideia é organizar a propriedade como um todo, de modo que não haja risco ao ambiente, aos animais e ao ser humano. Isso inclui o atendimento às legislações sanitárias, ambientais e trabalhistas.
Há exemplos de outras cadeias?
Em cadeias produtivas como olericultura, cana-de-açúcar, fruticultura e erva-mate há exemplos de produtores que implantaram as boas práticas e alcançaram praticamente 100% de conformidade no prazo de quatro ou cinco meses. Nesses casos as rotinas e a gestão ficaram mais ágeis e tranquilas após a implantação das BPA.
É vantajoso adotar as BPA?
A adoção das BPAs é vantajosa para todos. Produtores e indústrias ganham com a melhoria do controle da produção, com a rastreabilidade, com o uso criterioso de medicamentos e produtos químicos e com a segurança do trabalhador. Além disso, as BPA levam à sustentabilidade, viabilizando a permanência na atividade leiteira. Os consumidores, por sua vez, têm garantias de alimento seguro, de proteção ambiental e de responsabilidade social.
O uso de BPA é uma tendência?
Os consumidores estão cada vez mais preocupados com a qualidade, com a segurança, e com a procedência dos alimentos. O consumidor passou a valorizar questões éticas, sociais e ambientais, e associá-las aos alimentos. Nesse contexto, a adoções as BPA é uma tendência que veio para ficar, pois não há como pensar em alimento que não seja seguro. Aquele produtor que se preocupa com o consumidor está agindo em prol da manutenção e do sucesso de sua atividade.
As boas práticas terminam dentro da propriedade rural?
Quando se fala em alimento seguro, em boas práticas, deve-se pensar em toda a cadeia produtiva. De nada adianta um
produtor adotar as BPA em sua atividade, dentro da porteira, se o transporte não é feito seguindo as boas práticas, ou se as indústrias também não as adotam (neste caso se chamam BPF – Boas Práticas de Fabricação). Produtor rural, transporte, indústria, distribuição, atacado, varejo, todos os elos da cadeia produtiva devem seguir as boas práticas para que o produto chegue seguro ao consumidor final.
Assessoria de Comunicação do Sistema FAEP/SENAR-PR
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